Pentecostess
Evangelho: Jo 17, 11-19.
11 Já não estou no
mundo, mas eles estão no mundo, e Eu vou para Ti. Pai Santo, guarda em Teu nome
aqueles que Me deste para que sejam um, assim como Nós. 12 Quando Eu estava com
eles, os guardava em Teu nome. Conservei os que Me deste; nenhum deles se
perdeu, excepto o filho da perdição, cumprindo-se a Escritura. 13 Mas agora vou
para Ti e digo estas coisas, estando ainda no mundo, para que eles tenham em si
mesmos a plenitude da Minha alegria. 14 Dei-lhes a Tua palavra, e o mundo
odiou-os, porque não são do mundo, como também Eu não sou do mundo. 15 Não peço
que os tires do mundo, mas que os guardes do mal. 16 Eles não são do mundo,
como Eu também não sou do mundo. 17 Santifica-os na verdade. A Tua palavra é a
verdade. 18 Assim como Tu Me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo. 19
Por eles Eu santifico-Me a Mim mesmo, para que também sejam santificados na
verdade.
Comentário:
O discurso da unidade!
Assim poderíamos chamar a
este trecho de São João.
Mas também o discurso da
santidade pessoal.
Esta sem dúvida que
depende daquela e ambas da Verdade a única Verdade, aquela que Cristo - Ele
próprio a Verdade - nos veio trazer com a Redenção operada na Cruz.
(ama, comentário sobre Jo 17, 11-19, 2015.05.10)
Leitura espiritual
a beleza de
ser cristão
SEGUNDA PARTE
COMO SER CRISTÃOS
I A VIDA CRISTÃ PESSOAL
o ser «nova criatura»
…/3
disposições necessárias para crescer na fé
Pela Fé sabemos que essa conversão se
realizará: «Como o homem terreno, assim são os homens terrenos, como o homem
celeste assim serão os homens celestes.
E do mesmo
modo que revestimos a imagem do homem terreno revestiremos também a imagem do
homem celeste» [1].
E que se
levará a cabo paulatinamente num movimento da nossa liberdade que vive na
liberdade do amor de Deus, na liberdade dos filhos de Deus.
«Porque o Senhor é o Espírito e onde
está o Espírito do Senhor aí está a liberdade.
Mas todos nós
que com o rosto descoberto reflectimos como um espelho a glória do Senhor vamos
transformando-nos nessa mesma imagem cada vez mais gloriosos conforme a acção
do Senhor que é Espírito» [2].
A Fé é que abre caminho e permite que o
nosso espírito descubra que foram ditas para ele as palavras de São Paulo:
«Pois o mesmo Deus que disse: ‘Do seio das trevas brilhe a luz e fez a luz
brilhar nos nossos corações para irradiar o conhecimento da glória de Deus que
está na face de Cristo» [3].
O primeiro acto livre do homem em
relação a Deus, ed para aceitar essa vida que se lhe oferece, é precisamente o
acto de Fé.
Só é válido o
acto de Fé feito em pleno exercício da liberdade pessoa.
O homem
configura o acto de Fé no meio de uma certa obscuridade da sua inteligência.
A luz da Graça
ilumina a inteligência sem a confundir nem a submeter.
Mais,
prepara-a para que, em todo o esplendor da Fé, mova a vontade para que esteja
em melhores condições de actuar em liberdade.
Na liberdade
assim exercida o homem reafirma-se em saber que a sua pessoa, ele, é um «ser
para a eternidade de Deus».
E ao mesmo tempo o actuar do homem
iluminado pela Fé requere o concurso e a participação da razão.
No acto de Fé
o homem descobre e aprecia que tanto a inteligência como a Fé são «dons de
Deus».
«A pessoa humana participa da luz e da
força do Espírito divino.
Pela razão de
que é capaz de compreender a ordem das coisas estabelecidas pelo Criador.
Pela sua
vontade é capaz de dirigir-se por si mesmo ao seu bem verdadeiro.
Encontra a sua
perfeição na procura do amor da verdade e do bem» [4].
O homem que de alguma forma se relaciona
com Deus abre horizontes nunca suspeitados e ainda quando considera que essa
relações são mais rotineiras que vividas, mais fruto do costume que de um verdadeiro
e renovado acto de amor.
Para onde nos
dirigem esses horizontes?
Ou melhor
dizendo em que consistem esses horizontes quel é a sua verdadeira riqueza e
mistério?
Penetrar na mente de Deus, nos caminhos
de Deus sobre o mundo, sobre a criação, é certamente difícil mas nem por isso
devemos deixar de lado o esforço que implica conscientes para além do mais de
que para esse fim fomos criados por Deus.
O homem e só
se descobre incapaz para algumas coisas, para alguns voos da inteligência, do
coração, quando se põe em contacto directamente com Deus.
Então
torna-se-lhe evidente que o seu ser é limitado e que as suas capacidades estão
encerradas nos estreitos limites do seu ser.
Podemos dizer que a Fé é a luz divina na
inteligência que mantém o homem aberto à perspectiva do infinito impulsionando
a sua inteligência a perguntar-se a razão de tudo quanto existe.
O acto de Fé
orienta o inquirir e permite vislumbrar o esplendor da verdade.
O homem é consciente das dificuldades
com que se encontra e das limitações que descobre ainda que mantendo viva a Fé
na divindade de Jesus Cristo e na sua Ressurreição, desenvolver a capacidade
espiritual que tem para se dirigir a Deus.
A vida da Graça, e o desenvolvimento da
«participação da natureza divina» que o cristão está chamado a viver comporta a
actuação livre do homem.
Actuação livre
desde o primeiro instante em que decide «viver em Cristo, com Cristo e por
Cristo».
Entende-se que
um viver livre só possível em união com a Graça e em cooperação livre em Cristo,
com Deus, movidos pelo Espírito Santo.
Já comentámos a acção do Espírito Santo
nas almas que se manifesta nos Dons e nos Frutos.
Agora é o
momento de sublinhar que a vida de Jesus Cristo sobre a terra, a acção de Deus
Pai na Criação e na Providência do mundo só são possíveis de descobrir e
saborear espiritualmente sob aluz do
Espírito Santo que torna possível que o crente não se deixe enganar pelas
trevas em que o pecado envolve as obras de Deus.
O homem há-de conseguir vislumbrar Deus,
a verdade de Deus, a Jesus Cristo Filho de Deus feito homem sem se deixar
dominar pelas trevas originadas na sua mente pelo pecado.
Além disso
há-de sobrepor-se ao estado de desalento e desânimo que experimenta ao ser
consciente do seu pecado, conseguir que a memória dos seus pecados não o abata
nem o desespere e possa dizer com serenidade: «Sem cessar o meu pecado está
diante de mim, contra ti e só contra ti pequei, cometi os mal aos teus olhos» [5].
E também
necessita de recuperar um certo amor a Deus mas também a consciência de se
saber querido e amado por Deus.
Essa irradiação de luz coloca no cristão
a convicção de ser chamado a uma vida de união com Deus, a uma vida já não
somente compartilhada com Deus mas vivida em e por Cristo em Deus pelo Espírito
Santo; essa vida é o que se chama a santidade da que estamos tratando nestas
páginas.
Deus não impõe esta chamada à santidade
a nenhum ser humano, de forma semelhante como lhe impôs o acto de nascer, a
vida natural.
A Fé descobre
ao homem, esse anseio de Deus e Deus espera do homem uma resposta de aceitação.
«Deus
espera-nos nesse instante decisivo, diz-nos Endokimov, espera da nossa fé um
acto de afirmação de aceitação consciente do nosso destino (que é a santidade),
e roga-nos que o assumamos livremente.
Ninguém pode
fazê-lo em nosso lugar nem sequer Deus» [6].
«Todos os fiéis cristãos, de qualquer
condição e estado, fortalecidos com tantos e tão poderosos meios de salvação
são chamados pelo Senhor cada um pelo seu caminho, à perfeição daquela santidade
com que o próprio Pai é perfeito» [7].
«Se bem que na Igreja nem todos vão pelo
mesmo caminho, todavia todos estão chamados à santidade e alcançaram fé
idêntica pela justiça de Deus» [8].
»Convence-te bem: há muitos homens e
mulheres no mundo e nem a um só deles o Mestre deixa de chamar.
Chama-os a uma
vida cristã, a uma vida de santidade, a uma vida de eleição, a uma vida eterna»
[9].
Como consegue o homem começar esse
caminhar que o levará à sua conversão a manter na sua alma sempre vivo o desejo de ser «nova criatura» em Cristo, a
aceitar que Deus o chame a ele pessoalmente a viver em santidade?
O primeiro passo que manifesta o
enraizamento da Fé no espírito e o homem andar para Deus é a oração.
A oração leva
à vida sacramental e os sacramentos impelem o espírito para a oração.
Em suma, a
oração é «tratar» a Quem recebemos nos sacramentos.
Veremos em seguida o que é a oração e
como vivê-la.
Agora
adiantamos que é uma acção do homem em que confluem a Fé, a Esperança e a
Caridade e para que o homem possa orar – vê-lo-emos com detalhe mais adiante –
das três claras disposições que já mencionámos e que uma vez mais recordamos
hão-de permanecer desperta e activas ao longo de toda a vida verdadeiramente
cristã.
Essas disposições são: de humildade na
inteligência, de arrependimento no coração, de docilidade em toda a pessoa,
para receber e acolher a Palavra de Deus, para acolher o próprio Jesus Cristo
Nosso Senhor.
(cont)
ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)
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