Art.
10 — Se é falsa a proposição – Cristo, enquanto homem, é criatura, ou começou a
existir.
O décimo discute-se assim. — Parece
falsa a proposição: Cristo, enquanto homem, é criatura, ou, começou a existir.
1. — Pois, nada há de criado em
Cristo, senão a natureza humana. Ora, é falsa a proposição: Cristo, enquanto
homem é a natureza humana. Logo, também esta outra o é: Cristo, enquanto homem,
é criatura.
2. Demais. — O predicado aplica-se mais
estreitamente a um termo restritivo do sujeito do que ao próprio sujeito da
proposição. Assim, se dissermos — o corpo, enquanto colorido, é visível —
segue-se que o colorido é visível. Ora, como foi dito, não podemos conceder em
sentido absoluto a proposição — o homem Cristo é uma criatura. Logo, nem esta:
Cristo enquanto homem é criatura.
3. Demais. — Tudo o predicado de um
homem, como tal, é dele predicado essencial e absolutamente, pois, falar de uma
coisa, considerada como tal e de maneira essencial, é o mesmo, como diz Aristóteles.
Ora, é falsa a proposição: Cristo é, em si e absolutamente considerado,
criatura. Logo, também esta outra é falsa: Cristo, enquanto homem, é criatura.
Mas, em contrário. — Tudo o existente
ou é o Criador ou é criatura. Ora, é falsa a proposição: Cristo, enquanto
homem, é Criador. Logo é verdadeira a outra: Cristo, enquanto homem, é
criatura.
Quando dizemos — Cristo,
enquanto homem — a palavra homem pode ser retomada na explicação, em razão do
suposto ou em razão da natureza. Se for em razão do suposto, sendo o suposto da
natureza humana em Cristo eterno e incriado, será falsa a proposição: Cristo,
enquanto homem, é criatura. Se porém o for em razão da natureza humana, então é
verdadeira, pois, em razão da natureza humana, ou segundo a natureza humana,
convêm-lhe ser criatura, como dissemos.
Devemos porém saber, que o nome, assim
retomado na explicação, mais propriamente é tomado pela natureza que pelo
suposto, pois, é reaplicado com força de predicado, que é tomado formalmente.
Pois, a expressão — Cristo enquanto homem — equivale a esta — Cristo, segundo é
homem. Logo, é mais para conceder que para negar a proposição: Cristo, segundo
é homem, é uma criatura. Se, porém, fizéssemos alguns acréscimo, donde o termo
se referisse ao suposto, a proposição deveríamos antes negá-la que concedê-la,
por exemplo, se disséssemos: Cristo, enquanto um determinado homem, é uma
criatura.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Embora Cristo não seja a natureza humana, contudo tem a natureza humana. Ora,
o nome de criatura, por natureza, predica-se não só em abstracto, mas ainda em
concreto, assim, dizemos que a humanidade é criatura, e que o homem é uma
criatura.
RESPOSTA À SEGUNDA. — A palavra homem,
aplicada ao sujeito, refere-se mais ao suposto, mas, quando usada em sentido
restrictivo, refere-se, antes, à natureza, como se disse. Ora, sendo a natureza
criada, e o suposto incriado, embora não concedamos em sentido absoluto a
proposição — Este homem não é criatura concedemos porém esta outra: Cristo,
segundo é homem, é criatura.
RESPOSTA À TERCEIRA. — A todo homem,
que é suposto só da natureza humana, é-lhe natural não existir senão segundo a
natureza humana. Donde, de qualquer suposto tal segue-se, se segundo é homem é
uma criatura, que é criatura absolutamente falando. Ora, Cristo, não somente é
o suposto da natureza humana, mas também da divina, segundo a qual tem o ser
incriado. Donde, pois, não se segue, se, enquanto homem é uma criatura, que o
seja absolutamente falando.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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