Art.
2 — Se Cristo estava necessariamente sujeito às misérias humanas.
O segundo discute-se assim. — Parece
que Cristo não estava necessariamente sujeito às misérias humanas.
1. — Pois, diz a Escritura: Foi
oferecido porque ele mesmo quis, referindo-se à oblação à paixão. Ora, a
vontade opõe-se à necessidade. Logo, Cristo não estava necessariamente sujeito
às misérias do corpo.
2. Demais. — Damasceno diz: Cristo não
fez nada coagido, mas tudo fez voluntariamente. Ora, o voluntário não é
necessário. Logo, Cristo não estava necessariamente sujeito às referidas
misérias.
3. Demais. — A necessidade é imposta
por quem é mais poderoso. Ora, nenhuma criatura é mais poderosa que a alma de
Cristo, a quem pertencia conservar o próprio corpo. Logo, essas misérias ou
fraquezas Cristo não as sofreu necessariamente.
Mas, em contrário, o Apóstolo: Enviou
Deus o seu Filho em semelhança de carne de pecado. Ora, é condição da carne de
pecado estar sujeita à necessidade de morrer e de padecer outros sofrimentos
semelhantes. Logo, a carne de Cristo estava sujeita a sofrer necessariamente
essas misérias.
Há duas espécies de
necessidade. — Uma de coacção, proveniente de um agente extrínseco. E essa
necessidade contraria a natureza e a vontade, pois, tanto esta como aquela
implicam um princípio intrínseco. — Outra é necessidade natural, resultante dos
princípios naturais, por exemplo, a forma e, assim, o fogo aquece
necessariamente, ou a matéria e, assim, necessariamente se dissolve o corpo
composto de elementos contrários.
Ora, pela necessidade resultante da
matéria, o corpo de Cristo tinha necessariamente de morrer e sofrer misérias
semelhantes, pois, como dissemos, por beneplácito da divina vontade era
permitido à carne de Cristo agir e sofrer como lhe era apropriado. E essa
necessidade é causada pelos princípios da natureza humana, segundo dissemos. —
Se nos referimos, porém, à vontade de coacção, na medida em que repugna à
natureza corpórea, então, de novo, o corpo de Cristo, pela condição da sua
própria natureza, estava necessariamente sujeito à perfuração do cravo e às
dores da flagelação. Mas, na medida em que essa necessidade repugna à vontade,
é manifesto que Cristo não padeceu necessariamente as referidas misérias, nem
relativamente à vontade divina, nem relativamente à sua vontade, em sentido
absoluto, enquanto dependente da deliberação da razão, mas só quanto ao
movimento natural da vontade, pelo qual ela naturalmente procura evitar a morte
e os sofrimentos do corpo.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Quando a Escritura diz que Cristo foi oferecido porque ele mesmo quis, isso
refere-se à sua vontade divina, e à sua vontade humana enquanto dependente da
deliberação, embora a morte lhe fosse contra o movimento natural da sua vontade
humana, como diz Damasceno.
RESPOSTA À SEGUNDA. — A resposta
resulta do que foi dito.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Nada era mais
poderoso que a alma de Cristo, absolutamente falando. Mas nada impede que
houvesse um poder maior para produzir tal efeito particular, assim, o cravo,
para perfurar. E isto digo, considerando unicamente a alma de Cristo na sua
natureza e vontade próprias.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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