Evangelho: Mc 1 40-45
40 Foi ter com Ele um leproso que,
suplicando e pondo-se de joelhos, Lhe disse: «Se quiseres podes limpar-me». 41
Jesus, compadecido dele, estendeu a mão e, tocando-o, disse-lhe: «Quero, fica
limpo». 42 Imediatamente desapareceu dele a lepra e ficou limpo. 43
E logo mandou-o embora, dizendo-lhe com tom severo: 44 «Guarda-te de
o dizer a alguém, mas vai, mostra-te ao sacerdote, e oferece pela purificação o
que Moisés ordenou, para que lhes sirva de testemunho». 45 Ele,
porém, retirando-se, começou a contar e a divulgar o sucedido, de modo que
Jesus já não podia entrar abertamente numa cidade, mas ficava fora nos lugares
desertos, e de toda a parte vinham ter com Ele.
Comentário:
O mais empedernido dos homens não pode deixar de sentir uma vibração
interior ao ler este trecho de São Marcos.
A humanidade de Jesus manifesta-se de forma tão evidente quanto carinhosa, dando-nos muito que pensar nas nossas próprias atitudes e reacções perante as carências e necessidades do nosso próximo.
A humanidade de Jesus manifesta-se de forma tão evidente quanto carinhosa, dando-nos muito que pensar nas nossas próprias atitudes e reacções perante as carências e necessidades do nosso próximo.
(ama, comentário sobre MC 1,
40 - 50 2014.01.16)
Leitura espiritual
São Josemaria Escrivá
Amar a Igreja 40 a 50
40
Sacerdócio comum e
sacerdócio ministerial
Nem
como homem, nem como fiel cristão, o sacerdote é mais do que o leigo. Por isso
é muito conveniente que o sacerdote professe uma profunda humildade, para
entender como também no seu caso se cumprem plenamente, de modo especial,
aquelas palavras de S. Paulo: que possuís que não tenhais recebido? O
recebido... é Deus! O recebido é poder celebrar a Sagrada Eucaristia, a Santa
Missa - fim principal da ordenação sacerdotal -, perdoar os pecados,
administrar outros sacramentos e pregar com autoridade a Palavra de Deus, dirigindo
os outros fiéis nas coisas que se referem ao Reino dos Céus.
41
O
sacerdócio dos presbíteros, que pressupõe os sacramentos da iniciação cristã,
confere-se mediante um Sacramento particular, pelo qual os presbíteros, pela
unção do Espírito Santo, são selados com um carácter especial e se configuram
com Cristo Sacerdote de tal modo que podem actuar na pessoa de Cristo cabeça. A
Igreja é assim, não por capricho dos homens, mas por expressa vontade de Jesus
Cristo, seu Fundador. O sacrifício e o sacerdócio estão tão unidos, por
determinação de Deus, que em toda a Lei, na Antiga e na Nova Aliança, existiram
os dois. Tendo, pois, recebido a Igreja Católica no Novo Testamento, por
instituição do Senhor, o sacrifício visível da Eucaristia, deve-se também
confessar que há n'Ele um novo sacerdócio, visível e externo, no qual se
transformou o antigo.
Nos
que são ordenados este sacerdócio ministerial soma-se ao sacerdócio comum de
todos os fiéis. Portanto, seria um erro defender que um sacerdote é mais
cristão do que qualquer outro fiel, mas pode afirmar-se que é mais sacerdote:
pertence, como todos os cristãos, ao povo sacerdotal redimido por Cristo e,
além disso, está marcado com o carácter do sacerdócio ministerial, que se
diferencia essencialmente, e não apenas em grau, do sacerdócio comum dos fiéis.
42
Não
compreendo o empenho de alguns sacerdotes em se confundirem com os outros
cristãos esquecendo ou descuidando a sua missão específica na Igreja, para a
qual foram ordenados. Pensam que os cristãos desejam ver no sacerdote um homem
mais Não é verdade. No sacerdote querem admirar as virtudes próprias de
qualquer cristão e de qualquer homem honrado: a compreensão, a justiça, a vida
de trabalho - trabalho sacerdotal neste caso -, a caridade, a educação, a
delicadeza no trato. Mas, juntamente com isto, os fiéis pretendem que se
destaque claramente o carácter sacerdotal: esperam que o sacerdote reze, que
não se negue a administrar os Sacramentos, que esteja disposto a acolher a
todos sem se constituir chefe ou militante de partidarismos humanos, sejam de
que tipo forem; que ponha amor e devoção na celebração da Santa Missa, que se
sente no confessionário, que conforte os doentes e os atormentados, que ensine
catequese às crianças e aos adultos, que pregue a Palavra de Deus e não
qualquer tipo de ciência humana, que - mesmo que a conhecesse perfeitamente -
não seria a ciência que salva e leva à vida eterna; que saiba aconselhar e ter
caridade com os necessitados.
43
Numa
palavra: pede-se ao sacerdote que aprenda a não estorvar em si a presença de Cristo
nele, especialmente no momento em que realiza o Sacrifício do Corpo e Sangue e
quando, em nome de Deus, na Confissão sacramental auricular e secreta, perdoa
os pecados. A administração destes dois Sacramentos é tão capital na missão do
sacerdote, que tudo o mais deve girar à sua volta. As outras tarefas
sacerdotais - a pregação e a instrução na fé - careceriam de base, se não
estivessem dirigidas a ensinar a ter intimidade com Cristo, a encontrar-se com
Ele no tribunal amoroso da Penitência e na renovação incruenta do Sacrifício do
Calvário, na Santa Missa.
Deixai
que me detenha ainda um pouco na consideração do Santo Sacrifício: porque, se
para nós é o centro e a raiz da vida cristã, deve sê-lo, de modo especial, na
vida do sacerdote. Um sacerdote que, culpavelmente, não celebrasse diariamente
o Santo Sacrifício do Altar, demonstraria pouco amor de Deus; seria como lançar
em cara a Cristo que não compartilha da ânsia de Redenção, que não compreende a
sua impaciência em se entregar, inerme, como alimento da alma.
44
Sacerdote para a Santa
Missa
Convém
recordar, com importuna insistência, que todos nós, sacerdotes, quer sejamos
pecadores quer santos, quando celebramos a Santa Missa não somos nós próprios.
Somos Cristo, que renova no altar o seu divino Sacrifício do Calvário. A obra
da nossa Redenção cumpre-se continuamente no mistério do Sacrifício
Eucarístico, no qual os sacerdotes exercem o seu principal ministério, e por
isso recomenda-se encarecidamente a sua celebração diária pois, mesmo que os fiéis
não possam estar presentes, é um acto de Cristo e da sua Igreja.
Ensina
o Concilio de Trento que na Missa se realiza, se contém e incruentamente se
imola aquele mesmo Cristo que uma só vez se ofereceu Ele mesmo cruentamente no
altar da Cruz... Com efeito, a vítima é uma e a mesma: e O que agora se oferece
pelo ministério dos sacerdotes, é O mesmo que então se ofereceu na Cruz, sendo
apenas diferente a maneira de se oferecer.
A
assistência ou a falta de assistência de fiéis à Santa Missa não altera em nada
esta verdade de fé. Quando celebro rodeado de povo, sinto-me satisfeito, sem
necessidade de me considerar presidente de nenhuma assembleia. Sou, por um
lado, um fiel como os outros, mas sou, sobretudo, Cristo no Altar! Renovo
incruentamente o divino Sacrifício do Calvário e consagro in persona Christi,
representando realmente Jesus Cristo, porque lhe empresto o meu corpo, a minha
voz e as minhas mãos, o meu pobre coração, tantas vezes manchado, que quero que
Ele purifique.
Quando
celebro a Santa Missa apenas com a participação daquele que ajuda à Missa,
também aí há povo. Sinto junto de mim todos os católicos, todos os crentes e
também os que não crêem. Estão presentes todas as criaturas de Deus - a terra,
o céu, o mar, e os animais e as plantas -, dando glória ao Senhor da Criação
inteira.
45
E
especialmente - di-lo-ei com palavras do Concilio Vaticano II - unimo-nos no
mais alto grau ao culto da Igreja celestial, comunicando e venerando sobretudo
a memória da gloriosa sempre Virgem Maria, de S. José, dos santos Apóstolos e
Mártires e de todos os santos.
Peço
a todos os cristãos que rezem muito por nós, sacerdotes, para que saibamos
realizar santamente o Santo Sacrifício. Rogo-lhes que mostrem um amor tão
delicado à Santa Missa, que nos leve, a nós, sacerdotes, a celebrá-la com
dignidade - com elegância - humana e sobrenatural: com asseio nos paramentos e
nos objectos destinados ao culto, com devoção, sem pressas.
Porquê
pressa? Têm-na por acaso os namorados ao despedir-se? Parece que se vão embora
e não vão: voltam uma e outra vez, repetem palavras correntes como se acabassem
de as descobrir... Não receeis aplicar exemplos do amor humano, nobre, limpo,
às coisas de Deus. Se amarmos o Senhor com este coração de carne - não temos
outro - não sentiremos pressa em terminar esse encontro, essa entrevista
amorosa com Ele.
Alguns
vivem com calma e não se importam de prolongar até ao cansaço leituras, avisos,
anúncios Mas, ao chegarem ao momento principal da Santa Missa, ao Sacrifício
propriamente dito, precipitam-se, contribuindo assim para que os outros fiéis
não adorem com piedade Cristo, Sacerdote e Vítima; nem aprendam a dar-lhe
graças depois - com pausa, sem precipitações -, por ter querido vir de novo até
nós
Todos
os afectos e necessidades do coração do cristão encontram na Santa Missa o
melhor caminho: aquele que, por Cristo, chega ao Pai no Espirito Santo. O
sacerdote deve pôr especial empenho em que todos o saibam e vivam. Não há
actividade alguma que possa antepor-se normalmente à de ensinar e fazer amar e
venerar a Sagrada Eucaristia.
46
O
sacerdote exerce dois actos: um, principal, sobre o Corpo de Cristo verdadeiro;
outro, secundário, sobre o Corpo Místico de Cristo. O segundo acto ou
ministério depende do primeiro, e não ao contrário . Por isso, o que há de
melhor no ministério sacerdotal é procurar que todos os católicos se aproximem
do Santo Sacrifício cada vez com mais pureza, humildade e veneração. Se o
sacerdote se esforça nesta tarefa, não ficará defraudado, nem defraudará as consciências
dos seus irmãos cristãos.
Na
Santa Missa adoramos, cumprindo amorosamente o primeiro dever da criatura para
com o seu Criador: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás. Não adoração
fria, exterior, de servo; mas íntima estima e acatamento, que é amor profundo
de filho.
Na
Santa Missa encontramos a oportunidade perfeita de expiar os nossos pecados e
os de todos os homens: para poder dizer, como S. Paulo, que estamos cumprindo
na nossa carne o que falta padecer a Cristo. Ninguém caminha sozinho no mundo,
ninguém deve considerar-se livre de uma parte de culpa no mal que se comete
sobre a terra, consequência do pecado original e também da soma de muitos
pecados pessoais. Amemos o sacrifício, procuremos a expiação. Como? Unindo-nos
na Santa Missa a Cristo, Sacerdote e Vítima; será sempre Ele quem carregará com
o peso imenso das infidelidades das criaturas; das tuas e das minhas...
47
O
Sacrifício do Calvário é uma prova infinita a generosidade de Cristo. Nós -
cada um - somos sempre muito interesseiros; mas Deus Nosso Senhor não se
importa de que na Santa Missa Lhe apresentemos todas as nossas necessidades.
Quem não tem coisas a pedir? Senhor, aquela doença... Senhor, esta tristeza...
Senhor, aquela humilhação, que não sei suportar por amor de Ti... Queremos o
bem, a felicidade e a alegria das pessoas da nossa casa; oprime-nos o coração a
sorte dos que padecem fome e sede de pão e de justiça; dos que sentem a
amargura da solidão; dos que, no termo dos seus dias, não recebem um olhar de
carinho nem um gesto de ajuda
Mas
a grande miséria que nos faz sofrer, a grande necessidade a que queremos pôr
remédio é o pecado, o afastamento de Deus, o risco de que as almas se percam
para toda a eternidade. Levar os homens à glória eterna no amor de Deus: esta é
a nossa aspiração fundamental ao celebrar a Missa, como o foi a de Cristo ao
entregar a sua vida no Calvário.
Acostumemo-nos
a falar com esta sinceridade ao Senhor, quando desce, vítima inocente, até às
mãos do sacerdote. A confiança no auxílio do Senhor dar-nos-á essa delicadeza
de alma, que se traduz sempre em obras de bem e de caridade, de compreensão, de
profunda ternura com os que sofrem e com os que vivem artificialmente fingindo
uma satisfação oca, tão falsa, que depressa se converte em tristeza.
48
Agradeçamos,
finalmente, tudo o que Deus Nosso Senhor nos concede, pelo facto maravilhoso de
Se nos entregar Ele mesmo. Que venha ao nosso peito o Verbo Encarnado!... Que
se encerre, na nossa pequenez, Aquele que criou céus e terra!... A Virgem Maria
foi concebida imaculada para albergai Cristo no seu seio. Se a acção de graças
há-de ser proporcional à diferença entre o dom e os méritos, não devíamos
converter todo o nosso dia numa Eucaristia contínua? Não saiais do templo, mal
acabeis de receber o Santo Sacramento. Tão importante é o que vos espera que
não podeis dedicar ao Senhor dez minutos para lhe dizer obrigado? Não sejamos
mesquinhos. Amor com amor se paga.
49
Sacerdote para a
Eternidade
Um
sacerdote que vive deste modo a Santa Missa adorando, expiando, impetrando,
dando graças, identificando-se com Cristo -, e que ensina os outros a fazer do
Sacrifício do Altar o centro e a raiz da vida do cristão, demonstrará realmente
a grandeza incomparável da sua vocação, esse carácter com que foi selado, e que
não perderá por toda a eternidade. Sei que me compreendeis quando vos afirmo
que, ao lado de um sacerdote assim, se pode considerar um fracasso - humano e
cristão - a conduta de alguns que se comportam como se tivessem de pedir
desculpa por ser ministros de Deus. É uma desgraça, porque os leva a abandonar
o ministério, a arremedar os leigos, a procurar uma segunda ocupação que a
pouco e pouco suplanta a que lhes é própria por vocação e por missão.
Frequentemente, ao fugir do trabalho de cuidar espiritualmente das almas,
tendem a substituí-lo por uma intervenção em campos próprios dos leigos - nas
iniciativas sociais, na política -, aparecendo então esse fenómeno do clericalismo,
que é a patologia da verdadeira missão sacerdotal.
50
Não
quero terminar com esta nota sombria, que pode parecer pessimismo. Não
desapareceu na Igreja de Deus o autêntico sacerdócio cristão; a doutrina é
imutável, ensinada pelos lábios divinos de Jesus. Há muitos milhares de
sacerdotes em todo o mundo que cumprem plenamente a sua missão, sem
espectáculo, sem cair na tentação de lançar pela borda fora um tesouro de
santidade e de graça, que existe na Igreja desde o princípio.
Aprecio
a dignidade da finura humana e sobrenatural destes meus irmãos, espalhados por
toda a terra. É de justiça que se vejam já agora rodeados pela amizade, a ajuda
e o carinho de muitos cristãos. E quando chegar o momento de se apresentarem
diante de Deus, Jesus Cristo irá ao seu encontro, para glorificar eternamente
aqueles que, no tempo, actuaram em seu nome e na sua Pessoa, derramando com
generosidade a graça de que eram administradores.
Voltemos de novo, em
pensamento, aos membros do Opus Dei que serão sacerdotes no próximo Verão. Não
deixeis de pedir por eles, para que sejam sempre sacerdotes fiéis, piedosos,
doutos, entregues, alegres! Encomendai-os especialmente a Santa Maria, que
torna ainda mais generosa a sua solicitude de Mãe com aqueles que se empenham,
para toda a vida, em servir de perto o seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo,
Sacerdote Eterno.
(cont)
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