08/01/2015

Tratado do verbo encarnado 84

Questão 12: Da ciência adquirida da alma de Cristo

Art. 3 — Se Cristo aprendia dos homens.

O terceiro discute-se assim. — Parece que Cristo aprendia dos homens.

1 — Pois, diz o Evangelho que o encontravam no templo, no meio dos Doutores, respondendo-lhes e fazendo-lhes perguntas. Ora, perguntar e responder é próprio de quem aprende. Logo, Cristo aprendia dos homens.

2. Demais. — Adquirir a ciência de um mestre é mais nobre que adquiri-la pelos sentidos, porque a alma do docente tem as espécies inteligíveis em acto, ao passo que nas coisas sensíveis só estão em potência. Ora, Cristo hauria a ciência experimental nas coisas sensíveis, como se disse. Logo, com muito maior razão, podia adquirir a ciência, aprendendo-a dos homens.

3. Demais. — Cristo não sabia tudo, desde o princípio, por uma ciência experimental, mas progredia nela, como se disse. Ora, quem quer que ouça uma palavra significativa, de outrem, pode aprender o que não sabe. Logo, Cristo podia aprender algumas coisas, dos homens, que por essa ciência não sabia.

Mas, em contrário, a Escritura: Eis aí o dei por testemunha aos povos, por capitão e por mestre às gentes. Ora, não é próprio do mestre ser ensinado, mas, ensinar. Logo, Cristo não recebeu, pela doutrina, nenhuma ciência, de ninguém.

Em qualquer género, o primeiro motor não é movido por aquela forma de movimento, assim, o princípio primeiro de uma alteração não é alterado. Ora, Cristo foi constituído cabeça da Igreja, ou melhor, de todos os homens, como se disse, de modo que não somente todos recebessem dele a graça, mas ainda, que todos haurissem nele a doutrina da verdade. Por isso, ele próprio diz: Eu para isso nasci e ao que vim ao mundo foi para dar testemunho da verdade. Donde, não era conveniente à sua dignidade que fosse ensinado por qualquer homem.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Como diz Orígenes, o Senhor interrogava, não para aprender mas para ensinar o interrogado. Pois, é de uma mesma fonte de doutrina que emana o interrogar e o responder com sabedoria. Por isso, no mesmo lugar o Evangelho acrescenta, que todos os que o ouviram estavam pasmados da sua inteligência e das suas respostas.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Quem aprende de outrem, não recebe imediatamente a ciência, das espécies inteligíveis, que estão na mente do que ensina, mas, mediante as palavras sensíveis, como sinais das concepções inteligíveis. Ora, como as palavras pronunciadas são os sinais da ciência intelectual de quem as pronuncia, assim as criaturas feitas por Deus são sinais da sua sabedoria. Donde o dizer a Escritura: Ele difundiu a sabedoria por todas as suas obras. Ora, como é mais digno ser ensinado por Deus que pelos homens, assim é mais digno receber a ciência mediante as criaturas sensíveis que mediante o ensino humano.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Jesus progredia na ciência experimental, como também em idade, segundo se disse. Ora, assim como é necessária uma idade oportuna para o homem adquirir a ciência por invenção, assim também o é para a adquirir pela aprendizagem. Ora, o Senhor não fazia nada que não lhe conviesse à idade. Logo, não se pôs a ouvir as palavras do ensino senão no tempo em que podia, também por via da experiência, atingir ao grau dessa ciência. Donde o dizer Gregório: No duodécimo ano da sua idade dignou-se interrogar os homens na terra, pois, conforme o desenvolvimento da razão, o ensino não é próprio senão à idade perfeita.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


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