Art.
3 — Se Cristo aprendia dos homens.
O terceiro discute-se assim. — Parece
que Cristo aprendia dos homens.
1 — Pois, diz o Evangelho que o
encontravam no templo, no meio dos Doutores, respondendo-lhes e fazendo-lhes
perguntas. Ora, perguntar e responder é próprio de quem aprende. Logo, Cristo
aprendia dos homens.
2. Demais. — Adquirir a ciência de um
mestre é mais nobre que adquiri-la pelos sentidos, porque a alma do docente tem
as espécies inteligíveis em acto, ao passo que nas coisas sensíveis só estão em
potência. Ora, Cristo hauria a ciência experimental nas coisas sensíveis, como
se disse. Logo, com muito maior razão, podia adquirir a ciência, aprendendo-a
dos homens.
3. Demais. — Cristo não sabia tudo,
desde o princípio, por uma ciência experimental, mas progredia nela, como se
disse. Ora, quem quer que ouça uma palavra significativa, de outrem, pode
aprender o que não sabe. Logo, Cristo podia aprender algumas coisas, dos
homens, que por essa ciência não sabia.
Mas, em contrário, a Escritura: Eis aí
o dei por testemunha aos povos, por capitão e por mestre às gentes. Ora, não é
próprio do mestre ser ensinado, mas, ensinar. Logo, Cristo não recebeu, pela
doutrina, nenhuma ciência, de ninguém.
Em qualquer género, o
primeiro motor não é movido por aquela forma de movimento, assim, o princípio
primeiro de uma alteração não é alterado. Ora, Cristo foi constituído cabeça da
Igreja, ou melhor, de todos os homens, como se disse, de modo que não somente
todos recebessem dele a graça, mas ainda, que todos haurissem nele a doutrina
da verdade. Por isso, ele próprio diz: Eu para isso nasci e ao que vim ao mundo
foi para dar testemunho da verdade. Donde, não era conveniente à sua dignidade
que fosse ensinado por qualquer homem.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Como diz Orígenes, o Senhor interrogava, não para aprender mas para ensinar o
interrogado. Pois, é de uma mesma fonte de doutrina que emana o interrogar e o
responder com sabedoria. Por isso, no mesmo lugar o Evangelho acrescenta, que
todos os que o ouviram estavam pasmados da sua inteligência e das suas
respostas.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Quem aprende de
outrem, não recebe imediatamente a ciência, das espécies inteligíveis, que
estão na mente do que ensina, mas, mediante as palavras sensíveis, como sinais
das concepções inteligíveis. Ora, como as palavras pronunciadas são os sinais
da ciência intelectual de quem as pronuncia, assim as criaturas feitas por Deus
são sinais da sua sabedoria. Donde o dizer a Escritura: Ele difundiu a
sabedoria por todas as suas obras. Ora, como é mais digno ser ensinado por Deus
que pelos homens, assim é mais digno receber a ciência mediante as criaturas
sensíveis que mediante o ensino humano.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Jesus progredia
na ciência experimental, como também em idade, segundo se disse. Ora, assim
como é necessária uma idade oportuna para o homem adquirir a ciência por invenção,
assim também o é para a adquirir pela aprendizagem. Ora, o Senhor não fazia
nada que não lhe conviesse à idade. Logo, não se pôs a ouvir as palavras do
ensino senão no tempo em que podia, também por via da experiência, atingir ao
grau dessa ciência. Donde o dizer Gregório: No duodécimo ano da sua idade
dignou-se interrogar os homens na terra, pois, conforme o desenvolvimento da
razão, o ensino não é próprio senão à idade perfeita.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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