Epifania
14 Voltou Jesus, sob
o impulso do Espírito, para a Galileia, e a Sua fama divulgou-se por toda a
região circunvizinha. 15 Ensinava nas suas sinagogas e era aclamado
por todos. 16 Foi a Nazaré, onde Se tinha criado, entrou na
sinagoga, segundo o Seu costume, em dia de sábado, e levantou-Se para fazer a
leitura. 17 Foi-Lhe dado o livro do profeta Isaías. Quando
desenrolou o livro, encontrou o lugar onde estava escrito: 18 “O
Espírito do Senhor repousou sobre Mim; pelo que Me ungiu para anunciar a boa
nova aos pobres; Me enviou para anunciar a redenção aos cativos, e a
recuperação da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, 19
a pregar um ano de graça da parte do Senhor”. 20 Tendo enrolado o
livro, deu-o ao encarregado, e sentou-Se. Os olhos de todos os que se
encontravam na sinagoga estavam fixos n'Ele. 21 Começou a
dizer-lhes: «Hoje cumpriu-se este passo da Escritura que acabais de ouvir». 22
E todos davam testemunho em Seu favor, e admiravam-se das palavras de graça que
saíam da Sua boca, e diziam: «Não é este o filho de José?».
Comentário:
É interessante verificar que o
Evangelista não menciona que alguém dos que estavam presentes tivesse colocado
alguma questão.
Ao mesmo tempo, quendo dizem «Não é este o filho de José?», percebe-se
que entenderam perfeitamente o que Jesus Cristo queria significar com a
sentença que proferiu: «Hoje cumpriu-se
este passo da Escritura que acabais de ouvir».
De facto, não fazem nenhuma pergunta,
não solicitam qualquer esclarecimento. Gostam do que ouvem e da forma como
Jesus Cristo fala sobre as Escrituras mas… ficam-se por aí porque, a
incredulidade começa a instalar-se nos seus espíritos e, o que se passará a
seguir, será a prova concludente disto mesmo.
Talvez com algum de nós aconteça o
mesmo, interessam-se pelo que dizemos e como dizemos mas… não nos levam a
sério, têm-nos numa conta que não confere autoridade ao que dizemos e, então,
porquê espantar-nos?
(ama comentário sobre Lc 4,
14-22, 2014.01.09)
Leitura espiritual
São Josemaria Escrivá
Amigos de Deus 289 a 300
289
Nossa Mãe
Os
filhos, especialmente quando são ainda pequenos, costumam pensar no que hão-de
fazer por eles os seus pais, esquecendo-se das suas obrigações de piedade
filial. Nós, os filhos, somos geralmente muito interesseiros, embora esta nossa
conduta - já o fizemos notar - não pareça incomodar muito as mães, porque têm
suficiente amor nos seus corações e querem com o melhor carinho: aquele que se
dá sem esperar correspondência.
Assim
acontece também com Santa Maria. Mas hoje, na festa da sua Maternidade divina,
temos de nos esforçar por fazer uma reflexão mais profunda. Hão-de doer-nos, se
as encontrarmos, as nossas faltas de delicadeza com esta boa Mãe. Pergunto-vos
e pergunto-me a mim mesmo: como a honramos?
Voltemos
mais uma vez à experiência de cada dia, ao modo de tratar com as nossas mães na
terra. Acima de tudo, que desejam dos seus filhos, que são carne da sua carne e
sangue do seu sangue? O seu maior desejo é tê-los perto. Quando os filhos
crescem e não é possível continuarem a seu lado, aguardam com impaciência as
suas notícias, emocionam-se com tudo o que lhes acontece, desde uma ligeira
doença até aos acontecimentos mais importantes.
290
Olhai:
para a nossa Mãe, Santa Maria, jamais deixamos de ser pequenos, porque Ela nos
abre o caminho até ao Reino dos Céus, que será dado aos que se tornam meninos.
De Nossa Senhora nunca nos devemos afastar. Como a honraremos? Tendo intimidade
com Ela, falando com Ela, manifestando-lhe o nosso carinho, ponderando no nosso
coração os episódios da sua vida na terra, contando-lhes as nossas lutas, os
nossos êxitos e os nossos fracassos.
Descobriremos
assim, como se as recitássemos pela primeira vez, o sentido das orações
marianas, que sempre se rezaram na Igreja. O que são a Ave-Maria e o Angelus,
senão louvores calorosos à Maternidade divina? E no Santo Rosário - essa maravilhosa
devoção, que nunca me cansarei de aconselhar a todos os cristãos - passam pela
nossa cabeça e pelo nosso coração os mistérios da conduta admirável de Maria,
que são os próprios mistérios fundamentais da fé.
291
O
ano litúrgico aparece engalanado de festas em honra de Santa Maria. O
fundamento deste culto é a Maternidade divina de Nossa Senhora, origem da
plenitude dos dons naturais e da graça com que a Santíssima Trindade a adornou.
Demonstraria escassa formação cristã - e muito pouco amor de filho - quem
temesse que o culto da Santíssima Virgem pudesse diminuir a adoração que se
deve a Deus. A Nossa Mãe, modelo de humildade, cantou: chamar-me-ão
bem-aventurada todas as gerações, porque fez em mim grandes coisas aquele que é
Todo-poderoso, cujo nome é santo e cuja misericórdia se estende de geração em
geração, a todos os que o temem .
Nas
festas de Nossa Senhora não regateemos as demonstrações de carinho; elevemos
com mais frequência o coração pedindo-lhe aquilo de que necessitamos, agradecendo-lhe
a sua solicitude maternal e constante, encomendando-lhe as pessoas que
estimamos. Mas, se pretendemos comportar-nos como filhos, todos os dias serão
ocasiões propícias de amor a Maria, como o são para os que se querem deveras.
292
Talvez
agora algum de vós possa pensar que o dia ordinário, o habitual ir e vir da
nossa vida, não se presta muito a manter o coração numa criatura tão pura como
Nossa Senhora. Convidar-vos-ia a reflectir um pouco. Que procuramos sempre,
mesmo sem especial atenção, em tudo o que fazemos? Quando nos move o amor de
Deus e trabalhamos com rectidão de intenção, procuramos o que é bom, o que é
limpo, o que dá paz à consciência e felicidade à alma. Também cometemos muitos
erros? Sim, mas precisamente reconhecer esses erros é descobrir com maior
clareza que a nossa meta é esta: uma felicidade que não passe, profunda,
serena, humana e sobrenatural.
Existe
uma criatura que conseguiu nesta terra essa felicidade, porque é a obra-prima
de Deus: a Nossa Mãe Santíssima, Maria. Ela vive e protege-nos; está junto do
Pai e do Filho e do Espírito Santo, em corpo e alma. É Aquela mesma que nasceu
na Palestina, que se entregou ao Senhor desde menina, que recebeu a anunciação
do Arcanjo Gabriel, que deu à luz o Nosso Salvador, que esteve junto d'Ele ao
pé da Cruz.
N'Ela
se tornam realidade todos os ideais, mas não devemos concluir daí que a sua
sublimidade e grandeza no-la apresentem inacessível e distante. É a cheia de
graça, a suma de todas as perfeições; e é Mãe. Com o seu poder diante de Deus
conseguirá o que lhe pedirmos; como Mãe, quer conceder-no-lo. E, também como
Mãe, entende e compreende as nossas fraquezas, anima-nos, desculpa-nos,
facilita o caminho, tem sempre o remédio preparado, mesmo quando parece que já
nada é possível.
293
Quanto
cresceriam em nós as virtudes sobrenaturais se conseguíssemos verdadeira
devoção a Maria, que é Nossa Mãe! Não nos importemos de lhe repetir durante
todo o dia - com o coração, sem necessidade de palavras - pequenas orações,
jaculatórias. A devoção cristã reuniu muitos desses elogios carinhosos na
Ladainha que acompanha o Santo Rosário. Mas cada um de nós tem a liberdade de
os aumentar, dirigindo-lhe novos louvores, dizendo-lhe o que - por um santo
pudor que Ela entende e aprova - não nos atreveríamos a pronunciar em voz alta.
Aconselho-te
- para terminar - que faças, se o não fizeste ainda, a tua experiência
particular do amor materno de Maria. Não basta saber que Ela é Mãe,
considerá-la deste modo, falar assim d'Ela. É tua Mãe e tu és seu filho;
quer-te como se fosses o seu único filho neste mundo. Trata-a de acordo com
isso: conta-lhe tudo o que te acontece, honra-a, ama-a. Ninguém o fará por ti,
tão bem como tu, se tu não o fizeres.
Asseguro-te
que, se empreenderes este caminho, encontrarás imediatamente todo o amor de
Cristo; e ver-te-ás metido na vida inefável de Deus Pai, Deus Filho e Deus
Espírito Santo. Conseguirás forças para cumprir bem a Vontade de Deus,
encher-te-ás de desejos de servir todos os homens. Serás o cristão que às vezes
sonhas ser: cheio de obras de caridade e de justiça, alegre e forte,
compreensivo com os outros e exigente contigo mesmo.
Este
e não outro é o carácter da nossa fé. Recorramos a Santa Maria, que Ela nos
acompanhará com um passo firme e constante.
294
Sentimo-nos
tocados, com o coração a bater com mais força, quando ouvimos com toda a
atenção este brado de S. Paulo: esta é a vontade de Deus: a vossa santificação.
Hoje, mais uma vez o repito a mim mesmo e também o recordo a cada um e à
Humanidade inteira: esta é a vontade de Deus, que sejamos santos.
Para
pacificar as almas com uma paz autêntica, para transformar a Terra, para
procurar Deus Nosso Senhor no mundo e através das coisas do mundo, é
indispensável a santidade pessoal. Nas minhas conversas com gente de tantos
países e dos ambientes sociais mais diversos, perguntam-me com frequência: -
Que diz aos casados? E aos que trabalhamos no campo? E às viúvas? E aos jovens?
Respondo
sistematicamente que tenho uma só panela. E costumo fazer notar que Jesus
Cristo Nosso Senhor pregou a Boa Nova para todos, sem qualquer distinção. Uma
só panela e um único alimento: o meu alimento é fazer a vontade d'Aquele que me
enviou e dar cumprimento à sua obra. Chama cada um à santidade, pede amor a
cada um: jovens e velhos, solteiros e casados, sãos e doentes, cultos e
ignorantes, trabalhem onde quer que trabalhem, estejam onde quer que estejam.
Há um único modo de crescer na familiaridade e na confiança com Deus: a
intimidade da oração, falar com Ele, manifestar-Lhe - de coração a coração - o
nosso afecto.
295
Falar com Deus
Invocar-me-eis
e Eu vos ouvirei. E invocamo-lo conversando, dirigindo-nos a Ele. Por isso
temos de pôr em prática a exortação do Apóstolo: sine intermissione orate;
rezai sempre, aconteça o que acontecer. Não apenas de coração, mas com todo o
coração .
Talvez
pensemos que a vida nem sempre é suportável, que não faltam dissabores, nem
mágoas, nem tristezas. Responderei também com S. Paulo que nem a morte nem a
vida, nem anjos, nem principados, nem virtudes; nem o presente, nem o futuro,
nem a força, nem o que há de mais alto, nem de mais profundo, nem nenhuma outra
criatura poderá jamais separar-nos do amor de Deus, que se fundamenta em Jesus
Cristo, Nosso Senhor. Nada nos pode afastar da caridade de Deus, do Amor, da
relação constante com o nosso Pai.
Mas
recomendar esta união contínua com Deus não será apresentar um ideal tão
sublime, que se torna impraticável à maioria dos cristãos? Na verdade a meta é
alta, mas não impraticável. O caminho que conduz à santidade é o caminho da
oração; e a oração deve enraizar-se a pouco e pouco na alma, como a pequena
semente que se tornará mais tarde árvore frondosa.
296
Começamos
com orações vocais, que muitos de nós repetimos desde crianças: são frases
ardentes e simples, dirigidas a Deus e à Sua Mãe, que é nossa Mãe. De manhã e à
tarde, não um dia, mas habitualmente, ainda renovo aquele oferecimento que os
meus pais me ensinaram: Ó Senhora minha, ó minha mãe, eu me ofereço todo a Vós.
E, em prova da minha devoção para convosco, Vos consagro neste dia os meus
olhos, os meus ouvidos, a minha boca, o meu coração... Não será isto, de algum
modo, um princípio de contemplação, uma demonstração evidente de confiante
abandono? Que dizem aqueles que se querem, quando se encontram? Como se
comportam? Sacrificam tudo o que são e tudo o que possuem pela pessoa que amam.
Primeiro
uma jaculatória, e depois outra e outra... Até que parece insuficiente esse
fervor, porque as palavras se tornam pobres...: e abrem-se as portas à
intimidade divina, com os olhos postos em Deus sem descanso e sem cansaço.
Vivemos então como cativos, como prisioneiros. Enquanto realizamos com a maior
perfeição possível, dentro dos nossos erros e limitações, as tarefas próprias
da nossa condição e do nosso ofício, a alma anseia escapar-se. Vai até Deus
como o ferro atraído pela força do íman. Começa-se a amar Jesus de forma mais
eficaz, com um doce sobressalto.
297
Libertar-vos-ei
do cativeiro, onde quer que estiverdes. Livramo-nos da escravidão com a oração:
sabemo-nos livres, voando num epitalâmio de alma enamorada, num cântico de
amor, que nos leva a desejar não nos afastarmos de Deus... Um novo modo de
andar na terra, um modo divino, sobrenatural, maravilhoso! Recordando tantos
escritores quinhentistas castelhanos, talvez nos agrade saborear frases como
esta: Eu vivo, porque não vivo; é Cristo que vive em mim.
Aceita-se
com todo o gosto a necessidade de trabalhar neste mundo, durante muitos anos,
porque Jesus tem poucos amigos cá em baixo. Não recusemos a obrigação de viver,
de nos gastarmos - bem espremidos- ao serviço de Deus e da Igreja. Desta
maneira, em liberdade: in libertatem gloriae filiorum Dei, qua libertate
Christus nos liberavit; com a liberdade dos filhos de Deus, que Jesus Cristo
nos alcançou morrendo no madeiro da Cruz.
298
É
possível que logo desde o princípio se levantem nuvens de poeira e que, ao
mesmo tempo, os inimigos da nossa santificação empreguem uma técnica de
terrorismo psicológico - de abuso de poder - tão veemente e bem orquestrada,
que arrastem na sua absurda direcção inclusivamente aqueles que durante muito
tempo mantinham uma conduta mais lógica e mais recta. E apesar de a sua voz
soar a sino rachado, não fundido em bom metal e bem diferente do assobio do
pastor, rebaixam a palavra, que é um dos dons mais preciosos que o homem
recebeu de Deus, presente belíssimo destinado a manifestar altos pensamentos de
amor e de amizade ao Senhor e às suas criaturas, até fazer com que se entenda
por que motivo disse S. Tiago que a língua é um mundo de iniquidade. Tantos
danos pode, realmente produzir! Mentiras, difamações, desonras, intrigas,
insultos, murmurações tortuosas...
299
A Humanidade Santíssima de
Cristo
Como
poderemos superar estes inconvenientes? Como conseguiremos fortalecer-nos nessa
decisão que começa a parecer-nos muito pesada? Inspirando-nos no modelo que nos
apresenta a Virgem Santíssima, nossa Mãe: uma rota muito ampla, que passa
necessariamente através de Jesus.
Para
nos aproximarmos de Deus temos de empreender o caminho certo, que é a
Humanidade Santíssima de Cristo. Por isso, aconselho sempre a leitura de livros
que narram a Paixão do Senhor. Esses escritos, cheios de sincera piedade, trazem-nos
à mente o Filho de Deus, Homem como nós e Deus verdadeiro, que ama e que sofre
na sua carne pela Redenção do mundo.
Consideremos
uma das devoções mais arreigadas entre os cristãos, o Santo Rosário. A Igreja
anima-nos à contemplação dos mistérios: para que se gravem na nossa mente e na
nossa imaginação a alegria, a dor e a glória de Santa Maria, o exemplo
admirável de Nosso Senhor, nos seus trinta anos de obscuridade, nos seus três
anos de pregação, na sua Paixão afrontosa e na sua gloriosa Ressurreição.
Seguir
Cristo: é este o segredo. Acompanhá-lo tão de perto, que vivamos com Ele, como
os primeiros doze; tão de perto, que com Ele nos identifiquemos. Se não
levantarmos obstáculos à graça, não tardaremos a afirmar que nos revestimos de
Nosso Senhor Jesus Cristo. Nosso Senhor reflecte-se na nossa conduta como num
espelho. Se o espelho for como deve ser, captará o rosto amabilíssimo do nosso
Salvador sem o desfigurar, sem caricaturas: e os outros terão a possibilidade
de O admirar, de O seguir.
300
Neste
esforço por nos identificarmos com Cristo, costumo falar de quatro degraus:
procurá-lo, encontrá-lo, conhecê-lo, amá-lo. Talvez pareça que estamos na
primeira etapa... Procuremo-lo com fome, procuremo-lo dentro de nós com todas
as forças! Se o fizermos com este empenho, atrevo-me a garantir que já O
encontrámos e que já começámos a conhecê-lo e a amá-lo e a ter a nossa conversa
nos céus. Rogo a Nosso Senhor que nos decidamos a alimentar nas nossas almas a
única ambição nobre, a única que merece a pena: ir ter com Jesus Cristo, como
fizeram a sua Bendita Mãe e o Santo Patriarca, com ânsia, com abnegação, sem
descuidos. Participaremos na dita da amizade divina - num recolhimento
interior, compatível com os nossos deveres profissionais e sociais - e
agradecer-Lhe-emos a delicadeza e a caridade com que Ele nos ensina a cumprir a
Vontade do Nosso Pai que está nos céus.
(cont)
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