«Falta-te
apenas uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás
um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me.» **
Mas,
Senhor, Tu sabes que depois de todos aqueles problemas porque passei, fiquei
praticamente sem nada! E sabes também que de algum modo ainda tento dar alguma
coisa do pouco que me ficou e vou conseguindo ganhar, que, reconheço, é apesar
de tudo bem mais do que o que muitos têm!
Eu
sei que tu já não tens esses bens, que também já não tens essa tal posição
social que esses bens te davam, que vives com o que tens e que ainda partilhas
alguma coisa daquilo que possuis, mas meu filho, continuas agarrado ao que
tiveste, de tal modo que colocas em tudo isso, numa qualquer possibilidade da recuperação
de tudo o que possuíste, a tua felicidade no futuro!
Mas,
Senhor, é errado sonhar com voltar a ter aquilo que já tive?
Não,
meu filho, não é errado! Mas ganhas alguma coisa em sonhar assim? Afinal em que
acreditas tu? Acreditas que são os bens do mundo que te levam à felicidade, à
vida eterna, ou que esse caminho é seguires-me com a vida que Eu te dou - agora
- e encho do meu amor, aceitando o teu dia-a-dia no trabalho que coloco nas
tuas mãos?
Mas
sabes, Senhor, por vezes tenho medo do futuro, tenho medo de ficar sem o pouco
que ainda tenho, tenho medo de não saber como fazer, de não saber como viver!
Alguma
vez te faltei? Alguma vez te faltei naquilo que é realmente importante na tua
vida? Alguma vez não me sentiste ao teu lado? Até mesmo naqueles momentos de
secura, não acreditaste sempre que Eu estava ali contigo, embora não Me
sentisses?
Não,
Senhor, sempre acreditei que estavas comigo em todos os momentos, embora por
vezes me sentisse só!
Lembras-te
quando tudo aconteceu, como sentiste o teu mundo desmoronar-se? Lembras-te como
Me procuraste em cada momento, em cada palavra, em cada sinal, em cada
celebração? Lembras-te que Me procuravas, mais procurando o meu amor para
alcançares a paz, a aceitação de tudo, do que para pedires o retrocesso do que
tinha acontecido? Naquela altura querias sentir apenas o meu amor, a minha
presença junto de ti. Porque é que agora não te chega o meu amor?
É
que tenho medo, Senhor! Ou será orgulho e vaidade? Ou será tudo misturado?
Parece-me que aquilo que tinha era meu por direito, que fazia parte tão
importante da minha vida que me é impossível separar-me de tudo, nem que seja
mesmo só sonhando!
Não
vês, meu filho, que todos aqueles bens são perecíveis, são efémeros? Não
percebes que te entregas agora muito mais a Mim do que naquele tempo? Podes por
acaso comprar nem que seja um pouco da vida eterna com aqueles bens? O que te
falta? Falta-te amor? Falta-te a família? Faltam-te amigos verdadeiros? Falta-te
algo verdadeiramente imprescindível na tua vida? Não me tens a Mim sempre junto
de ti e entregando-me a ti e por ti na Eucaristia?
Vai,
repousa no meu amor, confia em Mim, recorda o teu passado como algo de muito
bom que te dei, mas confia agora apenas no futuro que em ti coloco, em tudo o
que te dou, e … «depois, vem e segue-me.»
*Mc 10,17
** Mc
10, 21
Marinha
Grande, 13 de Novembro de 2014
Joaquim
Mexia Alves
“Remeditado”
e reescrito com base num texto de 2012
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