Evangelho: Jo 14, 7-14
7 Se Me conhecêsseis, também
certamente conheceríeis Meu Pai; mas desde agora O conheceis e já O vistes». 8
Filipe disse-Lhe: «Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta». 9 Jesus
disse-lhe: «Há tanto tempo que estou convosco, e ainda não Me conheces, Filipe?
Quem Me viu, viu também o Pai. Como dizes, pois: Mostra-nos o Pai? 10 Não
acreditais que Eu estou no Pai e que o Pai está em Mim? As palavras que vos
digo, não as digo por Mim mesmo. O Pai, que está em Mim, Esse é que faz as
obras. 11 Crede em Mim: Eu estou no Pai e o Pai está em Mim. 12 Crede-o ao
menos por causa das mesmas obras. «Em verdade, em verdade vos digo, que aquele
que crê em Mim fará também as obras que Eu faço. Fará outras ainda maiores,
porque Eu vou para o Pai. 13 Tudo o que pedirdes em Meu nome, Eu o farei, para
que o Pai seja glorificado no Filho. 14 Se Me pedirdes alguma coisa em Meu
nome, Eu a farei.
Comentário:
Temos muito que agradecer à humildade dos Apóstolos que sendo como
foram as colunas onde assentou a Igreja, desejaram que constasse nos Evangelhos
a sua natureza débil e cheia de incertezas.
Como agora, Filipe dá-nos a oportunidade de conhecer pela boca do
próprio Jesus Cristo algo mais sobre a Santíssima Trindade.
O mistério extraordinário que envolve Deus Uno e Trino que, nós
humanos, só conseguimos vislumbrar por meio da Fé e das luzes do Espírito
Santo.
Não precisamos de muito mais, um dia compreenderemos, agora, nesta
vida terrena basta-nos ouvir as palavras de Cristo que são Palavras de Vida
Eterna.
(ama,
comentário sobre Jo 14, 7-14, 2013.04.27)
Os sacramentos
Toda
a vida do cristão cresce, alimenta-se e desenvolve-se pela acção dos
Sacramentos. A Graça que recebemos nos Sacramentos vai tornando possível que em
nós cresça a nova criatura de “filhos de Deus em Cristo”. O homem não pode viver
verdadeiramente a vida cristã, que é viver toda a sua vida humana “em Cristo,
por Cristo, com Cristo”, sem receber os Sacramentos.
Os
sacramentos – temos de o recordar - “são sinais visíveis, instituídos por Nosso
Senhor Jesus Cristo, que produzem a Graça”. E tenhamos também presente que a Graça,
como repetiremos de vez em quando nestas reflexões, é “uma certa participação da
natureza divina”. A acção da Graça é a de converter o cristão em “filho de Deus
em Jesus Cristo”. Os Sacramentos são, portanto, o meio pelo qual o homem recebe
essa “participação na natureza-divina”.
Nestas
reflexões sobre os Sacramentos centrar-nos-emos exclusivamente na relação de
cada sacramento com a Graça, e na configuração dessa “nova criatura”, sem nos adentrarmos
em nenhum outro aspecto teológico, litúrgico, espiritual, que cada sacramento leva
consigo.
Até
à vinda de Cristo, Deus valia-se de sinais, cerimónias, para nos dar a conhecer
a sua benevolência e a sua presencia entre nós, a sua participação na história da
humanidade, e para nos deixar cientes de sua ajuda. Daí em diante, e como
consequência da nova vida estabelecida por Cristo das relações de Deus com os homens,
esses sinais e cerimónias deixaram de ter qualquer significado.
Os
Sacramentos convertem-se não já nas “marcas de Cristo na terra” e nem sequer
tampouco em “os caminhos que unem para sempre o céu e a terra”, senão no encontro
pessoal-vital de cada cristão com o próprio Cristo.
É
certo que, nos sacramentos, a Graça origina-se directamente pela acção do
ministro. Não esqueçamos, por sua vez, que, para que essa Graça seja eficaz na pessoa
que recebe o Sacramento, requere que não ponha obstáculo. Um penitente pode tornar
ineficaz o sacramento da Reconciliação, por exemplo, se não o recebe com as
disposições requeridas, e também, ainda que acolhendo-o em condições adequadas,
não permite que a graça produza nele uma conversão para Deus profunda e
permanente. No primeiro caso, a sua actuação torna em o sacramento inútil; no
segundo, torna-o ineficaz.
-
Sou consciente da necessidade que tenho de viver os Sacramentos?
-Medito
com frequência sobre a nova vida com Cristo: ser “filho de Deus em Cristo”, que
cresce em mim com a recepção dos Sacramentos?
-Dou
alguma vez, graças a Nosso Senhor Jesus Cristo por ter instituído os
Sacramentos?
“Os
sacramentos da Nova Lei foram instituídos por Cristo e são sete, a saber, Baptismo,
Confirmação, Eucaristia, Reconciliação, Unção dos Enfermos, Ordem sacerdotal e
Matrimónio. Os sete sacramentos correspondem a todas as etapas e todos os
momentos importantes da vida do cristão: do nascimento e crescimento, cura e missão
à vida de fé dos cristãos. Há aqui uma certa semelhança entre as etapas da vida
natural e as etapas da vida espiritual” (Catecismo da Igreja Católica, n.
1210).
Os
sacramentos são, em resumo, os caminhos ordinários para o encontro pessoal com
Cristo e para receber a Graça, que nos converte em “novas criaturas”, e nos torna
“filhos de Deus” em Cristo.
Antes
de seguir nossos raciocínios é preciso fazer uma aclaração prévia. A Graça que
se nos concede nos Sacramentos não supõe, de modo algum, o desaparecimento da graça,
a ajuda, que Deus concede todos os homens, inclusive ao que nada sabem de
Cristo nem da Igreja – e não receberão, portanto, nenhum Sacramento -, para que
alcancem a salvação por outros caminhos. Todos os caminhos da salvação passam
por Cristo – o Caminho, a Verdadeira Vida para todos -ainda que alguns não o conheçam
e não tenham, portanto, a Fé nele nem participem na vida sacramental.
O
desenvolvimento dos planos de salvação de cada um dos seres humanos, é um
mistério escondido em Deus até ao fim dos tempos.
Ao
referirmos de novo aos Sacramentos, vendo neles os caminhos ordinários pelos quais
o homem recebe a graça divina, convém desde o princípio que não esqueçamos a
“semelhança entre as etapas da vida natural e as etapas da vida sobrenatural”, já
sublinhado no Catecismo.
Com
efeito, é o próprio homem, criatura de Deus, quem há-de ser redimido, liberto do
pecado e convertido em “filho de Deus em Cristo”. E tudo, sem deixar, em absoluto
e sob nenhum conceito, de ser plena e naturalmente homem. A Graça jamais
destrói a natureza e, por outro lado, requere a cooperação da natureza e da
liberdade do homem, para produzir os seus frutos.
Os sacramentos da
iniciação cristã
O Baptismo (I)
Os
três primeiros Sacramentos – Baptismo, Confirmação, Eucaristia - denominam-se “da
iniciação cristã”, porque têm a principalíssima finalidade de nos converter em
“nova criatura”, em “filhos de Deus em Cristo”. O Baptismo é o nascimento para
a vida sobrenatural cristã; a Confirmação, o desenvolvimento e a consolidação na
alma dessa vida sobrenatural, pela acção do Espírito Santo; e a Eucaristia, o enraizamento
dessa vida de Cristo na alma, vivida mais pessoalmente com Ele.
“Mediante
os sacramentos da iniciação cristã, o Baptismo, a Confirmação e a Eucaristia, colocam-se
os fundamentos de toda a vida cristã. A participação na natureza divina que os homens
recebem como dom, mediante a graça de Cristo, tem certa analogia com a origem, o
crescimento e o sustento da vida natural. Com efeito, os fiéis renascidos no Baptismo
fortalecem-se com o sacramento da Confirmação e, finalmente, são alimentados na
Eucaristia com o manjar da vida eterna; assim, por meio destes sacramentos da
iniciação cristã, recebem cada vez com mais abundancia os tesouros da vida
divina e avançam para a perfeição da caridade” (Catecismo, 1212).
O
nascimento e a conversão à vida divina são o resultado de receber a Graça, “a
participação na natureza divina”, que enxerta em nós um principio de vida
sobrenatural. O cristão está verdadeeiramente “enxertado” em Cristo. Convertemo-nos
em “filhos de Deus em Cristo” sem deixar de ser seres humanos, e sendo “homens-filhos
de Deus em Cristo”, começamos a viver e actuar.
Este
processo, repetimos, começa com o Baptismo:
“O
santo Baptismo é o fundamento de toda a vida cristã, o pórtico da vida no Espírito
e a porta que abre o acesso aos outros sacramentos. Pelo Baptismo somos libertados
do pecado e regenerados como filhos de Deus, chegamos a ser membros de Cristo e
somos incorporados na Igreja e feitos partícipes de sua missão. O baptismo é o
sacramento do novo nascimento pela água e a palavra” (Catecismo, n. 1213).
O Baptismo (I)
“O Baptismo não só purifica de todos os
pecados, mas que também converte o neófito “numa nova criação”, um filho
adoptivo de Deus, que foi feito “partícipe da natureza divina”, membro de
Cristo, co-herdeiro com Ele e templo do Espírito Santo” (Catecismo, n.
1265).
A
acção da Graça na pessoa do baptizado pode resumir-se nestas palavras do
Catecismo, às quais teremos ocasião de referir-nos ao longo de estas reflexões:
-
Torna-o capaz de crer em Deus, de ter esperança nele e de amá-lo mediante as
virtudes teologais (Fé, Esperança, Caridade);
-
Concede-lhe poder viver e obrar sob a moção do Espírito Santo mediante os seus dons;
-
Permite-lhe crescer no bem mediante as virtudes morais.
Assim
todo o organismo da vida sobrenatural do cristão tem a sua raiz no santo Baptismo”
(Catecismo, n. 1266).
Com
o Baptismo, o baptizado deixa de ser só uma criatura “a imagem e semelhança”, e
converte-se em verdadeiro “filho de Deus em Cristo”, o actualizar-se, o fazer-se
“acto”, nessa “participação” a capacidade - potência - de ser “filho de Deus”, com
a qual todo ser humano chega a este mundo.
Esta
nova condição do homem baptizado não se perde jamais. “O Baptismo imprime no cristão
um selo espiritual indelével (carácter) de sua pertença a Cristo. Este selo não
é apagado por nenhum pecado, ainda que o pecado impeça o Baptismo de dar frutos
de salvação” (Catecismo, n. 1272).
Esta
afirmação significa que o baptizado nunca perde a sua condição de “filho de Deus
em Cristo”, raiz e fundamento da vida sobrenatural, do viver nós em Deus, com
Cristo, no Espírito Santo; e do viver Deus Pai, Filho e Espírito Santo em nós. É
o fundamento e a razão pela qual podemos dizer que todo o cristão está “enxertado”
em Cristo; e, com São Paulo, podemos também chegar a afirmar que “Cristo vive em
mim”.
-
Atraso sem necessidade o baptismo de um filho, de um neto?
-
Quando assisto e participo num baptizado, procuro reviver o meu próprio Baptismo,
e dar graças a Deus por tê-lo recebido?
-
Sou consciente de que com o Baptismo, o converter-me em “filho de Deus em
Cristo”, entro a formar parte da própria família de Deus?
O Baptismo (II)
Alguns
consideram que com o Baptismo o homem perde a sua liberdade, o não poder perder
jamais sua condição de “filho de Deus em Cristo”. A realidade é outra, e fica
claramente expressa na segunda parte do n. 1272 do Catecismo.
“Este
selo – ou carácter- não é borrado por nenhum pecado, ainda que o pecado impeça o
Baptismo de dar frutos de salvação”. Quer dizer, o homem nunca perde a liberdade
no plano do seu “actuar”, e, portanto, poderá opor-se não só à acção de Deus, mas
também rejeitar a sua realidade ante o próprio Deus, e reafirmar, em definitivo,
o seu próprio “eu”, com a sua oposição a Deus. Simplesmente, poderá paralisar
toda a possível acção da sua própria pessoa. A obstinação no pecado pode
debilitar a vontade do homem, mas nunca o impedirá do exercício de sua liberdade.
O melhor defensor da liberdade do homem é Deus.
Em
definitivo, salvo casos patológicos, o homem nunca deixa de ser livre, ainda
que no seu Espírito esteja indelével o “carácter” de “filho de Deus em Cristo Nosso
Senhor”.
Já
assinalámos que a única vida que Deus nos impõe é a vida humana, o ser
criaturas. Vida que, ainda que sendo recebida sem opção pela nossa parte de a
não aceitar, não deixa de ser um dom divino, origem e fundamento de toda a
grandeza humana.
A
“vida sobrenatural”, a realidade de “ser nova criatura”, é também um dom de Deus;
certamente configura-nos como “filhos seus” e não nos deixa indiferentes.
Podemos, todavia, rejeitá-lo se, ao ser conscientes do oferecimento que Deus
nos faz, não desejamos aceitá-lo, como é o caso das pessoas não baptizadas na sua
infância, e não aceitam receber o Baptismo tampouco na sua idade adulta.
ernesto julia, Os Sacramentos, Janeiro 28, 2011, trad, ama.
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