Capítulo 2: O
primeiro fruto que se há-de colher da consideração da primeira Palavra dita por
Cristo na Cruz 2
Verdadeiramente, ó
benigníssimo Jesus! a vossa caridade ultrapassa nosso entendimento. Observo o vosso
coração no meio de tal tormento de injúrias e sofrimentos, como uma rocha no
meio do oceano que permanece imutável e pacífica, ainda que as ondas choquem
furiosamente contra ela. Pois vedes que vossos inimigos não estão satisfeitos
com infligir ferimentos mortais a Vosso Corpo, senão que têm de escarnecer-vos
a paciência, e uivar triunfalmente com os maus tratos. E os olhais, digo eu,
não como um inimigo que mede o adversário, mas como um Pai que trata com os
extraviados filhos, como um médico que escuta os desvarios de um paciente que
delira. Vós não estais aborrecido com eles, mas os compadeceis, e os confiais
ao cuidado de Vosso Pai Todo-poderoso, para que Ele os cure e os deixe
inteiros. Este é o efeito da verdadeira caridade, estar de bem com todos os homens,
não considerando nenhum como inimigo, e vivendo pacificamente com aqueles que
odeiam a paz.
Isto é o que é cantado no
Cântico do amor acerca da virtude da perfeita caridade: “As muitas águas não
puderam extinguir o amor, nem os rios terão força para o submergir” 2. As
muitas águas são os muitos sofrimentos que nossas misérias espirituais, como
tormentas do inferno, infligem a Cristo através dos judeus e dos gentios, os
quais representavam as paixões obscuras de nosso coração. Ainda assim, esta
inundação de águas, quer dizer, de dores, não pode extinguir o fogo da caridade
que ardeu no peito de Cristo. Por isso a caridade de Cristo foi maior que tal
transbordamento de muitas águas, e resplandeceu brilhantemente em sua oração:
“Pai, perdoa-lhes”. E não só foram estas muitas águas incapazes de extinguir a
caridade de Cristo; também nem sequer depois de anos puderam as tormentas da
perseguição sobrepujar a caridade dos membros de Cristo. Assim, a caridade de
Cristo, que possuiu o coração de Santo Estêvão, não podia ser esmagada pelas
pedras com que foi martirizado. Estava viva então, e ele orou: “Senhor, não
lhes imputes este pecado” 3. Enfim, a perfeita e invencível caridade de Cristo,
que foi propagada nos corações de mártires e confessores, combateu tão tenazmente
os ataques de perseguidores, visíveis e invisíveis, que se pode dizer com
verdade, até o fim do mundo, que um mar de sofrimento não poderá apagar a chama
da caridade.
são
roberto belarmino
(Tradução:
Permanência, revisão ama).
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Notas:
2.Cant 8,7.
3.Atos 7,59.
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