
Em
seguida devemos tratar da causa do pecado por parte do apetite sensitivo, se a
paixão da alma é causa do pecado.
E
nesta questão, discutem-se oito artigos:
Art.
1 ― Se a vontade é movida pela paixão do apetite sensitivo.
Art.
2 – Se a razão pode ser travada pela paixão contrária à sua ciência.
Art.
3 ― Se o pecado causado pela paixão, deve ser tido como causado pela fraqueza.
Art.
4 ― Se o amor-próprio é o princípio de todo o pecado.
Art.
5 ― Se se consideram convenientemente como causas dos pecados a concupiscência
da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida.
Art.
6 ― Se o pecado fica atenuado pela paixão.
Art.
7 ― Se a paixão isenta totalmente do pecado.
Art.
8 ― Se o pecado provocado pela paixão pode ser mortal.
Art. 1 ― Se a vontade é
movida pela paixão do apetite sensitivo.
(Supra,
q. 9, a. 2 ; q. 10, a. 3 ; De Verit., q. 22, a. 9, ad 6).
O
primeiro discute-se assim. ― Parece que a vontade não é movida pela paixão do
apetite sensitivo.
1.
― Pois, nenhuma potência passiva é movida senão pelo seu objecto. Ora, a
vontade é uma potência, passiva e activa ao mesmo tempo, enquanto motora e movida,
como diz o Filósofo, em universal, a respeito da potência apetitiva 1.
E como o objecto da vontade não é a paixão do apetite sensitivo, mas antes, o
bem da razão, resulta que a paixão desse apetite não move a vontade.
2.
― Demais. ― O motor superior não é movido pelo inferior, assim como a alma não
é movida pelo corpo. Ora, a vontade, apetite racional, está para o apetite
sensitivo, como o motor superior para o inferior. Pois, segundo o Filósofo, o
apetite racional move o sensitivo, assim como, nos corpos celestes, uma esfera
move outra 2. Logo, a vontade não pode ser movida pela paixão do
apetite sensitivo.
3.
― Demais. ― Nada de imaterial, pode ser movido pelo material. Ora, a vontade é
uma potência imaterial, pois, sendo racional, não se serve de nenhum órgão
material, como diz Aristóteles 3. Ao passo que o apetite sensitivo é
uma potência material, dependente, como é, de um órgão corpóreo. Logo, a paixão
do apetite sensitivo não pode mover o apetite intelectivo.
Mas,
em contrário, diz a Escritura (Dn 13, 56): a concupiscência te perverteu o
coração.

De
outro modo, por parte do objecto da vontade, que é o bem apreendido pela razão.
Pois, o juízo e a apreensão da razão ficam impedidos pela veemente e
desordenada apreensão da imaginação e pelo juízo da faculdade estimativa, como
se vê claramente nos dementes. Ora, é manifesto, a apreensão da imaginação e o
juízo da estimativa dependem da paixão do apetite sensitivo, assim como a
apreciação do gosto depende da disposição da língua. Por isso notamos que os
lesados por uma paixão não desviam facilmente a imaginação do objecto do seu
afecto. Portanto e consequentemente, o juízo da razão quase sempre é
consecutivo à paixão do apetite sensitivo, e, por conseguinte, também o
movimento da vontade, ao qual é natural obtemperar sempre ao juízo da razão.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― A paixão do apetite sensitivo causa imutação
no juízo relativo ao objecto da vontade, como já se disse, embora a paixão própria
do apetite sensitivo não seja directamente objecto da vontade.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― O superior não é movido pelo inferior, directamente, mas, indirectamente,
pode, de certo modo, ser movido, como já se disse.
E,
o mesmo, devemos responder à TERCEIRA OBJEÇÃO.
Revisão da tradução portuguesa por ama
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Notas:
1.
III De anima (lect. XV).
2.
III De anima (lect. XVI).
3.
III De anima, XIV.
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