Em
seguida devemos tratar da distinção entre os pecados ou vícios. E sobre esta
questão discutem-se nove artigos:
Art.
1 ― Se os pecados diferem especificamente pelos seus objectos.
Art.
2 ― Se convenientemente se distinguem os pecados espirituais, dos carnais.
Art.
3 ― Se os pecados se distinguem especificamente pelas suas causas.
Art.
4 ― Se convenientemente os pecados se distinguem em pecados contra Deus, o
próximo e nós mesmos.
Art.
5 ― Se a divisão dos pecados, fundada no reato em venial e mortal, lhes
diversifica a espécie.
Art.
6 ― Se os pecados de comissão e omissão diferem especificamente.
Art.
7 ― Se o pecado se divide acertadamente em pecado por pensamentos, palavras e
obras.
Art.
8 ― Se a superabundância e o defeito diversificam as espécies de pecados.
Art.
9 ― Se os vícios e os pecados se diversificam especificamente segundo as
circunstâncias diversas.
Art. 1 ― Se os pecados
diferem especificamente pelos seus objectos.
O
primeiro discute-se assim. ― Parece que os pecados não diferem especificamente
pelos seus objectos.
1.
― Pois, os actos humanos consideram-se precipuamente bons ou maus, em relação
ao fim, conforme já se demonstrou (q. 18, a. 6). Ora, como o pecado não é mais
do que o acto humano mau, conforme já se disse (q. 71, a. 1), resulta o deverem
os pecados distinguirem-se, especificamente, antes pelos fins que pelos objectos.
2.
Demais. ― O mal, sendo privação, distingue-se especificamente pelas diversas
espécies dos contrários. Ora, o pecado é um certo mal, no género dos actos
humanos. Logo, os pecados distinguem-se especificamente antes pelos contrários
do que pelos objectos.
3.
Demais. ― Se os pecados diferissem especificamente pelos seus objectos, seria
impossível o mesmo pecado, especificamente, recair sobre diversos objectos.
Ora, tal dá-se com alguns deles. Assim, a soberba tem como objecto tanto o
espiritual como o corporal, segundo Gregório 1, e a avareza também
incide sobre vários géneros de objectos. Logo, especificamente, os pecados não
se distinguem pelos seus objectos.
Mas,
em contrário, pecado é o dito, feito ou desejado contra a lei de Deus. Ora, o
dito, feito ou desejado distingue-se, especificamente, pelos objectos diversos,
pois, pelos objectos é que se distinguem os actos, como já se disse (q. 18, a.
5). Logo, também os pecados se distinguem especificamente pelos seus objectos.
Como já dissemos (q. 71, a. 6), dois elementos concorrem na essência do
pecado: o acto voluntário e a sua desordem, pelo afastamento da lei de Deus.
Ora, destes dois elementos, um é relativo ao pecador, que intenciona praticar
tal acto voluntário, numa determinada matéria, o outro, i. é, a desordem do acto,
refere-se, acidentalmente, à intenção do pecador, pois, como diz Dionísio 2,
ninguém pratica o mal intencionalmente. Ora, é manifesto que cada ser se
especifica pelo essencial, e não pelo acidental, porque este é estranho à
essência da espécie. Donde, os pecados distinguem-se, especificamente, mais
pelos actos voluntários do que pela desordem existente no pecado. Ora, os actos
voluntários distinguem-se, especificamente, pelos seus objectos, como já
demonstramos antes (q. 18, a. 5). Donde se segue que os pecados, própria e
especificamente, se distinguem pelos seus objecctos.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― O fim, principalmente, tem a essência de bem,
e por isso se refere como objecto ao acto da vontade, que é primordial em todo
pecado. Donde, vem a dar no mesmo que os pecados se diferenciem pelos seus
objetos ou pelos seus fins.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― O pecado não é pura privação, mas, sim, um acto privado da ordem
devida. E por isso os pecados especificamente distinguem-se, antes, pelos objectos
dos actos do que pelos contrários. Contudo viria a dar no mesmo se se
distinguissem pelas virtudes opostas, pois as virtudes distinguem-se,
especificamente pelos seus objectos, como já estabelecemos antes (q. 60, a. 5).
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― Nada impede, em diversas coisas, específica ou genericamente
diferentes, haver uma razão formal do objecto por onde o pecado se especifica.
E deste modo a soberba busca a excelência relativamente a coisas diversas, ao
passo que a avareza busca a abundância do que é destinado ao uso humano.
Revisão da tradução portuguesa por ama
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Notas:
1.
Lib. XXXIV Moral. (c. XXIII).
2.
IV cap. De div. nom. (lect. XIV, XXII).
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