Vede agora o mestre reunido com os
seus discípulos na intimidade do Cenáculo. Ao aproximar-se o momento da sua
Paixão, o Coração de Cristo, rodeado por aqueles que ama, abre-se em inefáveis
labaredas: dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros e que, do
mesmo modo que eu vos amei, vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos
que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros. (Ioh XIII, 34–35.)
(...).
Senhor, porque chamas novo a este
mandamento? Como acabamos de ouvir, o amor ao próximo estava prescrito no
Antigo Testamento e recordareis também que Jesus, mal começa a sua vida
pública, amplia essa exigência com divina generosidade: ouvistes que foi dito:
amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo. Eu peço-vos mais: amai os
vossos inimigos, fazei bem aos que vos aborrecem e orai pelos que vos perseguem
e caluniam.
Senhor, deixa-nos insistir: porque
continuas a chamar novo a este preceito? Naquela noite, poucas horas antes de
te imolares na Cruz, durante aquela conversa íntima com os que - apesar das
suas fraquezas e misérias pessoais, como as nossas - te acompanharam até
Jerusalém. Tu revelaste-nos a medida insuspeitada da caridade: como eu vos
amei. Como não haviam de te entender os Apóstolos, se tinham sido testemunhas
do teu amor insondável!
Se professamos essa mesma fé, se
ambicionamos verdadeiramente seguir as pegadas, tão nítidas, que os passos de
Cristo deixaram na terra, não podemos conformar-nos com evitar aos outros os
males que não desejamos para nós mesmos. Isto é muito, mas é muito pouco,
quando compreendemos que a medida do nosso amor é definida pelo comportamento
de Jesus. Além disso, Ele não nos propõe essa norma de conduta como uma meta
longínqua, como o coroamento de toda uma vida de luta. É – e insisto que deve
sê-lo para que o traduzas em propósitos concretos – o ponto de partida, porque
Nosso Senhor o indica como sinal prévio: nisto conhecerão que sois meus
discípulos. (Amigos de Deus, nn. 222-223)
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