Em
seguida devemos tratar dos frutos.
E
sobre esta questão quatro artigos se discutem:
Art.
1 — Se os frutos do Espírito Santo, enumerados pelo Apóstolo em Galat. V, são actos.
Art.
2 — Se os frutos diferem das bem-aventuranças.
Art.
3 — Se o Apóstolo enumera convenientemente os doze frutos.
Art.
4 — Se os frutos do Espírito Santo contrariam as obras da carne, que o Apóstolo
enumera.
Art. 1 — Se os frutos do
Espírito Santo, enumerados pelo Apóstolo em Galat. V, são actos.
O
primeiro discute-se assim. — Parece que os frutos do Espírito Santo, enumerados
pelo Apóstolo, não são actos.
1.
— Pois, o que produz fruto não deve ser considerado como tal, porque então
iríamos ao infinito. Ora, há um fruto proveniente dos nossos actos, conforme a
Escritura (Sb 3, 15): o fruto dos bons trabalhos é glorioso, e ainda (Jo 4, 36):
o que sega recebe galardão e junta fruto para a vida eterna. Logo, os nossos actos
não podem, em si mesmos, ser considerados frutos.
2.
Demais. — Como diz Agostinho, gozamos como os objectos conhecidos, como os
quais a própria vontade se compraz e neles descansa 1. Ora, a nossa
vontade não deve descansar nos nossos actos em si mesmos considerados. Logo,
estes não devem ser considerados frutos.
3.
Demais. — Entre os frutos do Espírito Santo são enumeradas pelo Apóstolo certas
virtudes, a saber, a caridade, a mansidão, a fé e a castidade. Ora, as virtudes
não são actos, mas hábitos, como já dissemos 2. Logo, os frutos não
são actos.
Mas,
em contrário, diz a Escritura (Mt 12, 33): pelo fruto é que a árvore se
conhece, i. é, o homem, pelas suas obras, como o expõem os Santos Doutores.
Logo, os actos humanos, em si mesmos, chama-se frutos.
O nome fruto foi transferido das coisas corpóreas para as espirituais. Ora,
corporalmente falando, fruto é o produzido pela planta chegada ao seu pleno
desenvolvimento, e traz em si uma certa suavidade. E fruto, neste sentido,
mantém dupla relação: com a árvore produtora e com a pessoa que dela o colhe. Donde,
neste duplo sentido, também esse nome pode ser espiritualmente considerado,
primeiro, denominando fruto do homem o que ele produz como se fosse uma árvore,
e depois, assim chamando o que o homem colhe.
Mas,
nem tudo o que ele colhe pode ser considerado fruto, senão só o que é último e
inclui em si a deleitação. Pois, pode o homem possuir um campo ou uma árvore,
que não se consideram frutos, senão só o que ele entende colher deles, como
resultado último. E neste sentido chama-se fruto do homem ao seu último fim, do
qual ele deve fruir.
Se
porém considerarmos fruto do homem o que ele produz, então os seus actos consideram-se
frutos, em si mesmos. Pois, a obra é um acto segundo de quem obra, e traz
consigo o prazer, se mantiver conveniência com o seu autor. Se pois o acto
proceder da faculdade racional do homem, será chamado fruto da razão. Se porém
proceder do homem por uma virtude mais alta, a do Espírito Santo, então,
chamar-se-á ao acto do homem fruto do Espírito Santo, procedente de uma quase semente
divina, conforme a Escritura (1 Jo 3, 9): Todo o que é nascido de Deus não
comete o pecado, porque a semente de Deus permanece nele.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Como o fruto é, de certo modo, o que vem em
último lugar e é o fim, nada impede que haja fruto de outro fruto, assim como
um fim se pode ordenar a outro. Assim pois as nossas obras, enquanto certos
efeitos do Espírito Santo, que obra em nós, podem ser consideradas frutos, mas
enquanto ordenadas ao fim da vida eterna, são antes flores. Por isso, diz a
Escritura (Ecle 24, 23): as minhas flores são frutos de honra e de honestidade.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — Podemos entender de dois modos que a vontade se deleita com um objecto,
em si mesmo considerado. A expressão — em si mesmo ou exprime a causa final, e
então ninguém se deleita a não ser com o último fim, ou a causa formal, e então
podemos deleitar-nos em tudo o que é formalmente deleitável. Assim, um enfermo compraz-se
com a saúde considerada em si mesma, como fim, com um remédio suave, não como
fim, mas como com o que tem sabor deleitável, e com um remédio desagradável só
por causa de outro fim e, de nenhum modo em si mesmo. — Por onde, devemos
concluir que o homem deve deleitar-se em Deus, em si mesmo, como último fim, e
com os actos virtuosos, não como fins, mas por causa da honestidade que contém,
agradável aos virtuosos. Por isso Ambrósio diz, que os actos virtuosos se
chamam frutos, porque com santa e pura deleitação confortam os que os praticam 3.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — Os nomes das virtudes são às vezes tomados, pelos actos das
mesmas, assim, como diz Agostinho, a fé consiste em crer o que não vês 4,
e a caridade é o movimento da alma para amar a Deus e ao próximo 5.
E deste modo são aplicados os nomes das virtudes, na enumeração dos frutos.
Revisão da tradução portuguesa por ama
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Notas:
1.
X De trinit., cap. X.
2.
Q. 55, a. 1.
3.
lib. De Paradisco, cap. XIII.
4.
Tract. XL in Ioan.
5. Lib. III De doct. Christ.,
cap. X.
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