19/01/2014

Tratado dos dons do Espírito Santo 05


Questão 68: Dos dons.


Art. 5 — Se os dons são conexos.



(III Sent., dist. XXXVI, a. 3).

O quinto discute-se assim. — Parece que os dons não são conexos.


1. — Pois, diz o Apóstolo (1 Cor 12, 8): Porque a um pelo Espírito é dada a palavra de sabedoria, a outro porém a palavra de ciência, segundo o mesmo Espírito. Ora, a sabedoria e a ciência incluem-se entre os dons do Espírito Santo. Logo, esses dons são atribuídos a diversos e não têm conexão mútua, num mesmo sujeito.

2. Demais. — Agostinho diz, que muitos fiéis, embora possuam a fé, não possuem a ciência 1. Ora, a fé é acompanhada por algum dom, ao menos pelo temor. Logo, os dons não estão necessariamente conexos num mesmo sujeito.

3. Demais. — Gregório diz: a sabedoria será menor se estiver privada do intelecto, e este será muito inútil, se não subsistir pela sabedoria, vil é o conselho a que falta a robustez da fortaleza, e esta será completamente destruída, se não se apoiar no conselho, a ciência será nula se não tiver a utilidade da piedade, e esta será de todo inútil, se carecer do discernimento da ciência, e também o próprio temor, sem as virtudes supra enumeradas, deixará de servir a realização de qualquer boa acção 2. Donde, podemos ter um dom sem ter os outros, Logo, os dons do Espírito Santo não são conexos.

Mas, em contrário, o que antes já havia dito Gregório: Nesse convívio de filhos, devemos perscrutar como se nutrem mutuamente 3. Ora, por filhos de Job, de que agora fala, entendem-se os dons do Espírito Santo. Logo, estes são conexos por se alimentarem uns dos outros.

A verdade sobre esta questão pode facilmente presumir-se do já dito. Pois, como já dissemos 4, assim como as potências apetitivas se dispõem, pelas virtudes morais, dependentemente do regime da razão, assim, todas as virtudes da alma se dispõem pelos dons, dependentemente da moção do Espírito Santo. Ora, este habita em nós pela caridade, conforme Escritura (Rm 5, 5): a caridade de Deus está derramada nos nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi dado, assim como a nossa razão se aperfeiçoa pela prudência. Donde, assim como as virtudes morais se ligam umas às outras por meio da prudência, assim os dons do Espírito Santo, pela caridade, de modo tal que, quem tiver tem todos os dons do Espírito, e ninguém os pode ter sem a caridade.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Num sentido, a sabedoria e a ciência podem ser consideradas graças dadas gratuitamente, i. é, de tal modo que tenhamos tanta abundância do conhecimento das coisas divinas e humanas, que possamos instruir os fiéis e refutar os adversários. E é nesse sentido que o Apóstolo, no passo aduzido, considera a sabedoria e a ciência, sendo, por isso que, assinaladamente, se refere a palavra da sabedoria e da ciência. — Noutro sentido, essas palavras podem ser tomadas como exprimindo dons do Espírito Santo. E então, não significam senão certas perfeições da mente humana que a dispõem bem para seguir o instinto do Espírito Santo, no conhecimento das causas divinas e humanas. Donde é claro que tais dons existem em todos os que têm caridade.

RESPOSTA À SEGUNDA. — No lugar citado, Agostinho refere-se à ciência, expondo o passo aduzido do Apóstolo. E por isso, ele toma-a no primeiro sentido exposto, i. é, como graça dada gratuitamente. E isso é claro pelo que acrescenta: Uma coisa é saber só o que o homem deve crer para alcançar a vida feliz, que não é senão a eterna, outra, como há-de proporcioná-lo às piedosas e defendê-lo contra os ímpios, e isto é ao que o Apóstolo chama propriamente ciência.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Assim como, de um modo, a conexão das virtudes cardeais se prova por se aperfeiçoarem, de certo modo, umas às outras, como já dissemos 5, assim também Gregório pretende provar a conexão dos dons por não poder um ser perfeito sem o outro. E por isso dissera antes: Cada uma das virtudes desaparecerá de todo, se não se auxiliarem todas entre si: Donde não se conclui que um dom possa existir sem os outros, mas que o intelecto não seria dom, se existisse sem a sabedoria, assim como sem a justiça, a temperança não seria virtude.

(Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama)
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Notas:
1. XIV De Trinit. (cap. I).
2. I Moral. (c. XXXII).
3. Ibidem.
4. Q. 68, a. 3.

5. Q. 65, a. 1.

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