Sem grande dificuldade, poderíamos
encontrar na nossa família, entre os nossos amigos e companheiros – para não me
referir já ao imenso panorama do mundo – tantas pessoas mais dignas do que nós
de receber o chamamento de Cristo. Mais simples, mais sábias, mais influentes,
mais importantes, mais gratas, mais generosas...
Eu, ao pensar nisto, fico
envergonhado. Mas compreendo também que a nossa lógica humana não serve para
explicar as realidades da graça. Deus costuma procurar instrumentos fracos para
que se manifeste com evidente clareza que a obra é sua. O próprio S. Paulo
evoca com estremecimento a sua vocação; e por último, depois de todos, foi
também visto por mim, como por um aborto. Porque eu sou o mínimo dos apóstolos,
que não sou digno de ser chamado apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus.
Assim escreve Paulo de Tarso, homem de uma personalidade e de um vigor que a
história não fez mais do que engrandecer.
Fomos chamados sem mérito algum da
nossa parte, dizia-vos. Realmente, na base da nossa vocação está o conhecimento
da nossa miséria, a consciência de que as luzes que iluminam a alma – a fé – o
amor com que amamos – a caridade – e o desejo que nos mantém – a esperança –
são dons gratuitos de Deus. Por isso, não crescer em humildade significa perder
de vista o objectivo da escolha divina: ut essemus sancti, a santidade pessoal.
Agora, tomando como ponto de partida
essa humildade, podemos compreender toda a maravilha da chamada divina. A mão
de Cristo colheu-nos num trigal: o semeador aperta na sua mão chagada o punhado
de trigo; o sangue de Cristo banha a semente, empapa-a. Depois, o Senhor lança
ao ar esse trigo, para que, morrendo, seja vida e, afundando-se na terra, seja
capaz de multiplicar-se em espigas de oiro. (Cristo que passa, 3)
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