26/12/2013

Leitura espiritual para 26 de Dez

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. 
O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.

Para ver, clicar SFF.

Evangelho: Mt 15, 21-39

21 Partindo dali, Jesus retirou-Se para a região de Tiro e de Sidónia. 22 E eis que uma mulher cananeia, que viera daqueles arredores, gritou: «Senhor, Filho de David, tem piedade de mim! Minha filha está cruelmente atormentada pelo demónio». 23 Ele, porém, não lhe respondeu palavra. Aproximando-se Seus discípulos, pediram-Lhe: «Despede-a, porque vem gritando atrás de nós». 24 Ele respondeu: «Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel». 25 Ela, porém, veio e prostrou-se diante d'Ele, dizendo: «Senhor, valei-me». 26 Ele respondeu: «Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cães». 27 Ela replicou: «Assim é, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos». 28 Então Jesus disse-lhe: «Ó mulher, grande é a tua fé! Seja-te feito como queres». E, desde aquela hora, a sua filha ficou curada. 29 Tendo Jesus saído dali, dirigiu-Se para o mar da Galileia; e, subindo a um monte, sentou-Se ali. 30 E veio até Ele uma grande multidão de povo, que trazia consigo coxos, cegos, mudos, estropiados e muitos outros. Lançaram-se a Seus pés, e Ele os curou; 31 de modo que as multidões se admiravam, vendo falar os mudos, andar os coxos, ver os cegos; e davam glória ao Deus de Israel. 32 Jesus, chamando os Seus discípulos, disse: «Tenho compaixão deste povo, porque há já três dias que não se afastam de Mim, e não têm que comer. Não quero despedi-los em jejum, para que não desfaleçam no caminho».33 Os discípulos disseram-Lhe: «Onde poderemos encontrar neste deserto pães bastantes para matar a fome a tão grande multidão?». 34 Jesus disse-lhes: «Quantos pães tendes?». Eles responderam: «Sete, e uns poucos peixinhos». 35 Ordenou então ao povo que se sentasse sobre a terra. 36 E, tomando os sete pães e os peixes, deu graças, partiu-os, deu-os aos Seus discípulos, e os discípulos os deram ao povo. 37 Comeram todos, e saciaram-se. E dos bocados que sobejaram levantaram sete cestos cheios. 38 Os que tinham comido eram quatro mil homens, sem contar mulheres e crianças. 39 Em seguida, despedindo o povo, Jesus entrou numa barca e foi para o território de Magadã.



Para santificar o mundo

Passaram 40 anos desde que São Josemaria celebrou a Santa Missa em Pamplona diante de um copioso número de fiéis e pronunciou uma homilia que perdurou no tempo. Publica-se um artigo sobre as palavras nas quais o Fundador do Opus Dei convidava a "Amar o mundo apaixonadamente".

Quando se contempla uma fotografia do lugar em tão histórico momento e se compara com outra actual, com idêntica perspectiva, podem observar-se muitos detalhes interessantes, embora um se destaque dentre todos, à primeira vista, as formosas árvores que adornam agora esse recanto entranhável do campus não existiam nessa altura ou, talvez, fossem pequenos arbustos rodeados de una mancha de relva, que os presentes naquela cerimónia litúrgica evitariam pisar.

Como eles, cresceu de forma notável a Universidade de Navarra e, paralelamente, foram desenvolvidas tantas outras iniciativas apostólicas que São Josemaria fundou, abençoou e amou. O Opus Dei, que naquele ano de 1967 já fazia chegar a sua eficácia santificadora aos quatro cantos da terra, experimentou também nestes 40 anos, pela graça de Deus e sob a orientação amorosa, sucessivamente, de São Josemaria, de D. Álvaro del Portillo e de D. Javier Echevarría, uma formidável expansão do seu serviço universal à Igreja e à sociedade.

A homilia [1] que São Josemaria proclamou naquele dia com voz firme, com tom vibrante e ao mesmo tempo moderado e sempre com a impressionante auctoritas da sua condição de Fundador e Pastor do Opus Dei, percorreu desde então um longo e fecundo caminho de influxo de maneira divina. Ao mesmo tempo que era pronunciada, via a luz a sua primeira edição escrita, pois ao terminar a Santa Missa, foram distribuídos alguns exemplares pelas autoridades e convidados. As sucessivas edições (quer da homilia em separado ou incluída no livro Temas Actuais do Cristianismo) superam na actualidade a centena, numa dúzia de línguas. A semente de amor a Deus, de vida corrente santificada, de generosidade apostólica, de serviço à Igreja, de amor cristão ao mundo que São Josemaria arremessava às mãos cheias diante duns milhares de pessoas, continua a florescer hoje por todos os cantos do mundo.

UM TEXTO NASCIDO NUM CLIMA DE ORAÇÃO E DE AFÃ DE ALMAS

Os participantes na II Assembleia de Amigos da Universidade de Navarra esperavam, com alegria e emoção, o momento em que teria lugar a Santa Missa do Grande Chanceler na explanada da Biblioteca. Estar perto de São Josemaria e, mais ainda, poder participar no Santo Sacrifício celebrado por ele, significava muito para as pessoas ali congregadas, entre as quais se contavam tantos filhos e filhas seus e tantos Cooperadores e amigos. Muitos deles – talvez a maioria, constituída por pessoas jovens – não o conheciam fisicamente e só uns poucos tinham tido a oportunidade de assistir alguma vez a uma Missa sua e gravaram-no no seu coração como uma prenda da Providência. Eram milhares de pessoas felizes e agradecidas por se encontrarem junto do Fundador do Opus Dei e sobretudo porque participavam com ele – e de certo modo, através dele – na “acção mais sagrada e transcendente que o homem, pela graça de Deus, pode realizar nesta vida” [2].

Não é possível descrever com palavras a força espiritual do momento. Ali tornava-se evidente aquele “Vive a Santa Missa!” [3], que tantos fiéis cristãos aprenderam a fazer seu, seguindo os ensinamentos de São Josemaria. Naquele “templo singular”, como o descrevia na sua homilia –“a nave é o campus universitário; o retábulo, a Biblioteca da Universidade; além, a maquinaria que levanta novos edifícios; e por cima, o céu de Navarra...” [4] – era patente a fé e a piedade de uma multidão em oração. “Ouviam-se ” com igual intensidade os diálogos e os silêncios litúrgicos. Com o olhar fixo no celebrante e no altar, vivia-se intensamente o Sagrado Rito.

Nesse ambiente espiritual, chegou, após as Leituras, o momento da homilia, que foi seguida do princípio ao fim com atento e respeitoso interesse. O Fundador do Opus Dei, de pé diante do altar e com os fólios da homilia nas suas mãos (tinha-lhos entregue D. Javier Echevarría, que permanecia delicadamente junto a ele), pronunciava o texto com a cadência e a modulação necessárias para que pudesse ser bem seguido naquele espaço aberto. Proclamava a doutrina – aspectos centrais do espírito que Deus lhe tinha entregue – com elegância e vigor, com essa força de atracção e convicção que sempre tinha a sua pregação. Lia o texto como que a dizê-lo, e percebia-se que o conhecia muito bem. Tinha-o preparado cuidadosamente nas semanas anteriores, durante a sua estadia em Elorrio (Biscaia) e tinha-o retocado dias antes das cerimónias de Pamplona. Cada parágrafo, cada palavra daquela homilia era fruto da sua meditação pessoal e do seu desejo de ajudar a todos distribuindo o bom espírito às mãos cheias.

  Esta homilia e todos os escritos pastorais que São Josemaria deixou em herança aos seus filhos e a toda a Igreja possuem, com efeito, com independência das suas concretas circunstâncias de tempo e de lugar e das suas diferentes características internas, uma importante qualidade comum. Vieram à luz num clima de oração, de compromisso com a missão e o espírito fundacionais, de plena fidelidade à doutrina de fé da Igreja Católica e de afã de almas. Nascidos no coração e na mente do Fundador, são a fonte de que brota incessante o espírito do Opus Dei, ao mesmo tempo que é motor de vida cristã para pessoas de todos os lugares e condições. É preciso aproximar-se deles, como é tradição na Obra, com gratidão e veneração, lê-los e meditá-los com uma disposição pessoal semelhante àquela com que foram escritos, num ambiente de oração, de compromisso com a tarefa apostólica encomendada, de fidelidade à Igreja.

Não é verdade que a homilia Amar o mundo apaixonadamente, relida num clima de oração e de afã de almas, como naquele em que foi pensada, volta sempre a impressionar pela força espiritual que encerra? São Josemaria quis que, poucos dias antes de ser por ele pronunciada no campus de Navarra, fosse lida na sua presença a um punhado de filhos seus. A impressão que neles deixou foi, de certo modo, como que uma antecipação da que ia transmitir dias mais tarde aos que a escutaram dos seus lábios em Pamplona e a que continua a proporcionar a quantos a leram ao longo destes anos.

VIVER SANTAMENTE A VIDA CORRENTE

A frase que dá título a este parágrafo é o leitmotiv da homilia, a sua verdadeira música de fundo. Essas cinco palavras sintetizam perfeitamente o seu conteúdo e inclusivamente, indo mais além, permitem formular, com brevidade e acerto, a substância da mensagem fundacional de São Josemaria, a vida corrente pode ser meio de santidade, Deus chama-nos a santificar-nos nela. “Com quanta força fez ressoar o Senhor essa verdade, ao inspirar a sua Obra! Viemos dizer, com a humildade de quem se sabe pecador e pouca coisa — homo peccator sum (Luc. V, 8), dizemos com São Pedro — mas com a fé de quem se deixa guiar pela mão de Deus, que a santidade não é coisa para privilegiados, que a todos nos chama o Senhor, que de todos espera Amor, de todos, estejam onde estiverem; de todos, qualquer que seja o seu estado, a sua profissão ou o seu ofício. Porque essa vida corrente, ordinária, sem aparência, pode ser meio de santidade; não é necessário abandonar o próprio estado no mundo, para buscar a Deus, se o Senhor não dá a uma alma a vocação religiosa, já que todos os caminhos da terra podem ser ocasião de um encontro com Cristo” [5].

A homilia faz finca-pé nessa doutrina fundamental e põe de manifesto as suas principais chaves teológicas e espirituais, como, por exemplo, o facto de acentuar já desde o princípio que a vida corrente é “o verdadeiro lugar da nossa existência cristã” [6]. O termo “lugar” indica o conjunto de realidades que constituem a nossa existência quotidiana, circunstâncias, desejos, acções, inquietações pessoais, relações com os outros, acontecimentos, etc. Todas as vicissitudes materiais e espirituais do nosso viver de pessoas correntes durante as vinte quatro horas do dia conformam, ao mesmo tempo e inseparavelmente, o marco necessário do ser cristão, que não consiste senão em viver a vida diária em referência a Cristo, como filhos de Deus. “Existência cristã” nada acrescenta a “vida quotidiana” salvo a intencionalidade de a viver, com ajuda da graça, em Cristo [7], quer dizer, deixando-se guiar pelo Espírito Santo [8]: com sentido sobrenatural, com caridade e verdade, com finura de consciência, com recto critério moral. Ou seja, como filhos de Deus. “Na linha do horizonte, meus filhos, parecem unir-se o céu e a terra. Mas não, onde se juntam deveras é nos vossos corações, quando viveis santamente a vida de cada dia...” [9]

No dom da adopção filial que Deus nos concedeu pelos méritos de Cristo e na chamada que nos dirige para que nos comportemos em tudo confortados com a graça, como seus filhos, radica a humilde grandeza da existência cristã, que é – enquanto não o ocultemos com acções impróprias – um imenso foco de luz no meio da sociedade. “Vós sois a luz do mundo” [10].

A voz de São Josemaria ressoava com extraordinária determinação naquela manhã de Outubro de 1967, “Não há outro caminho, meus filhos, ou sabemos encontrar Nosso Senhor na nossa vida corrente, ou nunca o encontraremos” [11]. Essa mesma voz, entranhável e paterna, continua a recordar a todos os cristãos que temos o dever de mostrar aos nossos concidadãos, a toda a sociedade contemporânea, o verdadeiro rosto amável e misericordioso de Cristo, a obrigação de que possa ser conhecido na e através da nossa vida. “Brilhe assim a vossa luz diante dos homens para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus” [12].

Viver santamente a vida corrente – “sem ruído, com simplicidade, com veracidade” [13] – é, como comprovámos na nossa própria existência, um ideal extraordinariamente atractivo. Mas só se consegue compreender plenamente a sua grandeza (“a grandeza da vida corrente” [14]) quando esse existir está empapado diariamente de espírito apostólico, de zelo pelas almas. “Santidade nas tarefas correntes, santidade nas coisas pequenas, santidade no trabalho profissional, nas ocupações de cada dia...; santidade, para santificar os outros” [15]. Os alicerces firmes do caminho do Opus Dei, queridos como tal por Deus, continuam a implantar-se e a estender-se todos os dias por todo o mundo sobre o fundamento da fé (pois “sem a fé, falta o próprio fundamento para a santificação da vida corrente” [16]), e de a pôr em prática – com naturalidade e audácia, com humildade e sem temores – com a liberdade do cristão (“não poderíeis realizar esse programa de viver santamente a vida diária, se não gozásseis de toda a liberdade que vos é reconhecida – simultaneamente – pela Igreja e pela vossa dignidade de homens e de mulheres criados à imagem de Deus” [17]).

AMAR O MUNDO APAIXONADAMENTE

Uma frase que o Fundador do Opus Dei escreveu na homilia do campus e que, uma vez chegado o momento da sua proclamação litúrgica, pronunciou com singular vibração, serviu para inspirar o título com o qual a homilia passou para a história: “Amar o mundo apaixonadamente”. A referida frase soa assim, “Sou sacerdote secular: sacerdote de Jesus Cristo, que ama apaixonadamente o mundo [18]”. Entre a frase e o título há um evidente parentesco, mas não é menos evidente que a frase diz mais que o expresso no título. Há nela um plus de significado, cujo peso teológico outorga também implicitamente ao título o seu autêntico alcance espiritual.

Quando a homilia saiu da pluma de São Josemaria não tinha propriamente um título, nem sequer o teve na sua primeira edição [19], ou nas suas primeiras reproduções nalguns meios de comunicação em língua castelhana. Somente ao ser traduzida e editada noutras línguas – como o francês e o italiano – recebeu, com aprovação do seu Autor, um título próprio [20]. Foi o italiano (Amare il mondo appassionatamente), directamente deduzido da frase mencionada antes, o que foi assumido nas sucessivas edições e traduções. Sob esse título, já definitivo, foi incluida a homilia no livro Temas Actuais do Cristianismo.

O amor ao mundo de que trata a homilia não é um amor simplesmente natural, como o que pudesse despontar em alguém que admirasse a sua harmonia e beleza numa perspectiva alheia ao sentido religioso, ou inclusivamente – mesmo sem excluir a sua referência a Deus – numa atitude religiosa genérica. São Josemaria, pelo contrário, está a falar na sua homilia do amor cristão ao mundo, contemplado por ele não só como criação de Deus – que é próprio de uma visão crente – mas sobretudo, indo mais além, como lugar do encontro pessoal com Cristo, como cenário no qual os cristãos estão chamados a “viver santamente a vida corrente”. O mundo que o Fundador do Opus Dei ama e ensina a amar é essencialmente amável “porque saiu das mãos de Deus, porque é uma criatura Sua, porque Iavé olhou para ele e viu que era bom (cfr. Gen 1, 7 y ss.)” [21]. No amor ao mundo de São Josemaria está latente o sublime ensinamento do Senhor a Nicodemos, “Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu Seu Filho Unigénito” (Jn 3, 16). Esse é o mundo que contempla e ama com amor sacerdotal, aquele que, amado eternamente pelo Criador, foi redimido e santificado por Cristo mediante a Sua vida humana, a Sua morte e a Sua gloriosa ressurreição e ascensão ao Céu.

O amor apaixonado de São Josemaria ao mundo está sempre inflamado na chama do amor a Cristo e à Sua obra de salvação. É um amor apostólico, um amor redentor e, nesse sentido, um amor também sacerdotal, mediador, sacrificado, participante do amor ao mundo do Sacerdote Eterno, Cristo Senhor Nosso. A referência pessoal do cristão ao mundo (o seu mundo, os seus afazeres, a sua quotidiana relação com as pessoas e as coisas) inclui substancialmente, em virtude do seu sacerdócio comum, uma dimensão de mediação e suscita, na alma aberta à graça, a intenção de conduzir a Deus todas as coisas, de as encaminhar para o seu destino, que é a glória de Deus. “Todas as coisas são vossas, vós sois de Cristo e Cristo é de Deus(1 Cor 3, 22-23). Trata-se de um movimento ascendente que o Espírito Santo, difundido nos nossos corações, quer provocar no mundo: da terra, até à glória de Nosso Senhor” [22]. Essas palavras trazem à mente aquelas outras em que fala da “corrente trinitária de amor pelos homens, que se perpetua de maneira sublime na Eucaristia” [23]. A corrente de amor de Deus que desceu sobre os cristãos e sobre toda a criação, perpetuada no Sacrifício do altar, pede para ser correspondida pelo movimento ascendente do amor a Deus e a todas as coisas criadas – quotidianamente inflamado na Eucaristia – para reconduzir toda a criação redimida ao seu Criador. É um ideal apaixonante, como o amor que o Espírito Santo induz e mantém em nós.

NO IMENSO PANORAMA DO TRABALHO

“Deus chama-vos a servi-Lo em e a partir das ocupações civis, materiais, seculares da vida humana: Deus espera-nos todos os dias no laboratório, no bloco operatório de um hospital, no quartel, na cátedra universitária, na fábrica, na oficina, no campo, no lar e em todo o imenso panorama do trabalho.” [24]. Aqueles milhares de pessoas que escutavam atentamente naquele 8 de Outubro de 1967 eram como uma pequena representação de todos aqueles que, desde 1928 e até ao fim dos tempos, tenham sido confortados com a sua mensagem de santidade. No campus de Pamplona, diante do Fundador do Opus Dei, achava-se de certo modo, como que em comprimida síntese, o imenso panorama do mundo do trabalho – o mundo dos homens e das mulheres correntes, o mundo do seu existir no dia a dia – no meio do qual Deus tinha feito brotar, na sua misericórdia, essa fonte permanente de luz e de sentido cristão que é o espírito do Opus Dei.

”Olhai para as aves do céu … Reparai nos lírios do campo …”, dizia Jesus às multidões que escutavam o Seu discurso no monte, fazendo-as meditar sobre a presença benfeitora de Deus entre nós, sobre a sua providência paterna [25]. Quis também o Senhor que, através de São Josemaria, ressoe no seio da Igreja e nas próprias entranhas do mundo um certo eco das suas palavras e não faltem pessoas que ao calor do espírito do Opus Dei saibam pôr em relevo o significado cristão do acontecer quotidiano. “Ficai a saber: escondido nas situações mais comuns há um quê de santo, de divino, que toca a cada um de vós descobrir” [26]. Esse quid divinum que compete a cada um descobrir, contribuindo, assim, para que também outros se animem a descobri-lo, é simplesmente “a vontade de Deus nesses aspectos pequenos e grandes da vida” [27], quer dizer, o que dá valor e significado transcendente à vida corrente é que, em e a partir dela, Deus diz o que espera de cada um.

“São muitos os aspectos do ambiente secular, em que vos moveis, que se iluminam a partir destas verdades” [28], repete novamente São Josemaria com as suas palavras de então. Na realidade, é a própria alma, a inteligência, a consciência que se iluminam em primeiro lugar a partir dessas verdades e com elas também se enche de nova luz e fica purificado o olhar sobre os acontecimentos e as coisas. O mundo em que vivemos e actuamos “como cidadãos na vida civil” [29], quando é contemplado com olhos cristãos, com olhar de filho de Deus, deixa ver através da sua beleza a Beleza do seu Autor, através da sua grandeza a grandeza do Amor Criador.

O mundo que Deus amorosamente criou e redimiu em Cristo para nós seus filhos, este mundo real do quotidiano que nos foi entregue para que o santifiquemos e o ponhamos aos pés do seu Senhor, desperta o amor, solicita o trabalho, premeia o zelo apostólico. Convoca, finalmente, a viver santamente a vida corrente com generosidade e audácia, com sentido apostólico, com intenção, “porque uma vida santa no meio da realidade secular (…) não é hoje, porventura a mais consoladora manifestação das magnalia Dei (Eccli 18, 4), dessas portentosas misericórdias que Deus sempre realizou, e não deixa de realizar, para salvar o mundo?” [30].

a. aranda.

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Notas:
[1] São Josemaria Escrivá, Amar o mundo apaixonadamente, em “Temas Actuais do Cristianismo”, nn. 113-123. (Passaremos a citar esse texto seguindo a numeração inserida à margem e indicando os parágrafos de cada número com letras minúsculas).
[2] Temas Actuais do Cristianismo, 113b.
[3] Cfr. Forja, 934.
[4] Temas Actuais do Cristianismo, 113d.
[5] Carta 24-III-1930, 2
[6] Temas Actuais do Cristianismo, 113e.
[7] Cfr. Gal 2, 20; 2 Cor 13, 5; Rm8, 10; Col 1, 27; Ef 3, 17; etc.
[8] Cfr. Rm 8, 14.
[9] Temas Actuais do Cristianismo, 116b.
[10] Mt 5, 14.
[11] Temas Actuais do Cristianismo, 114e.
[12] Mt 5, 16.
[13] Temas Actuais do Cristianismo, 123a.
[14] Cfr. Amigos de Dios, 1-22.
[15] Amigos de Dios, 18.
[16] Temas Actuais do Cristianismo, 117b.
[17] Temas Actuais do Cristianismo, 123d.
[18] TemasActuais do Cristianismo, 118b.
[19] Essa primera edição, impressa em “Ediciones Magisterio Español, S.A” (E.m.e.s.a.), Madrid, surgiu coincidindo com a Missa do nosso Padre em Pamplona. Na portada lê-se: “Homilía | pronunciada por el Excmo. y Revmo. Sr. | Mons. Josemaría Escrivá de Balaguer | Gran Canciller de la Universidad de Navarra | durante la Misa celebrada en el campus de la | Universidad, con ocasión de la Asamblea General de la Asociación de Amigos | 8 de octubre de 1967 | Pamplona | mcmlxvii”. Constava de 16 páginas.
[20] Os títulos, em ambos os casos, inspiravam-se em palavras do próprio texto da homilia. Em francês foi denominada: “Le matérialisme chrétien” (cfr. “La Table Ronde”, nº 239-240, Novembro-Dezembro 1967, pp. 231-241; em italiano recebeu o nome de “Amare il mondo apassionatamente” (cfr. “Studi Cattolici”, nº 80, Novembro 1967, pp. 35-40.
[21] Temas Actuais do Cristianismo, 114a.
[22] Temas Actuais do Cristianismo, 115c.
[23] Es Cristo que pasa, 85.
[24] Temas Actuais do Cristianismo, 114b.
[25] Cfr. Mt 6, 26-28.
[26] Temas Actuais do Cristianismo, 114b.
[27] Temas Actuais do Cristianismo, 116d.
[28] Temas Actuais do Cristianismo, 116d.
[29] Temas Actuais do Cristianismo, 116d.

[30] Temas Actuais do Cristianismo, 123a.

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