A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Mt 12, 9-21
9 Partindo
dali, foi à sinagoga deles, 10 onde se encontrava um homem que tinha
atrofiada uma das mãos; e, eles, para terem de que O acusar, perguntaram-Lhe:
«É permitido curar aos sábados?». 11 Ele respondeu-lhes: «Que homem
haverá entre vós que, tendo uma ovelha, se esta cair no dia de sábado a uma
cova, não a agarre, e não a tire de lá? 12 Ora quanto mais vale um
homem do que uma ovelha? Logo, é permitido fazer bem no dia de sábado». 13 Então disse ao homem: «Estende a tua mão». Ele estendeu-a, e ela
tornou-se sã como a outra. 14 Os fariseus, saindo dali, tiveram
conselho contra Ele sobre o modo de O levarem à morte. 15 Jesus,
sabendo isto, retirou-Se daquele lugar. Muitos seguiram-n'O, e curou-os a
todos. 16 Ordenou-lhes que não O descobrissem, 17 para
que se cumprisse o que tinha sido anunciado pelo profeta Isaías: 18
“Eis o Meu servo, que Eu escolhi, o Meu amado, em Quem a Minha alma pôs as suas
complacências. Farei repousar sobre Ele o Meu Espírito, e Ele anunciará a
justiça às nações. 19 Não discutirá, nem clamará, nem ouvirá
alguém a Sua voz nas praças; 20 não quebrará a cana rachada, nem
apagará a torcida que fumega, até que faça triunfar a justiça; 21 e
as nações esperarão no Seu nome”.
CAMINHO DE PERFEIÇÃO
CAPÍTULO 39.
Prossegue a mesma
matéria e dá avisos sobre tentações, sendo algumas de diversos modos, e propõe
remédios para que se possam livrar delas.
1. Pois,
guardai-vos também, filhas, de umas humildades que infunde o demónio com grande
inquietação sobre a gravidade de nossos pecados. Costuma apertar aqui de muitas
maneiras, até apartar a alma das comunhões e de ter oração particular (por o
não merecerem, sugere-lhes aqui o demónio); e, quando se aproximam do Santíssimo
Sacramento, em pensar se se prepararam bem ou não, se lhes vai o tempo em que
haviam de receber mercês. Chega a coisa a ponto de fazer parecer à alma que,
por ser assim, está abandonada de Deus e quase põe em dúvida a Sua
misericórdia. Tudo quanto trata lhe parece perigo, e sem fruto tudo quanto faz,
por bom que seja. Põe-lhe uma tal desconfiança que lhe caem os braços para
fazer qualquer bem, porque se lhe afigura que o que é bem nos outros, nela é
mal.
2. Olhai muito,
filhas, a isto que vos direi, porque algumas vezes poderá ser humildade e
virtude o terdes-vos assim por tão ruins e outra grandíssima tentação! Porque
eu passei por isso, o conheço. A humildade não inquieta, nem desassossega, nem
alvorota a alma, por grande que seja; mas vem com paz e gozo e sossego. Ainda
que alguém, por se ver ruim, entenda claramente que merece estar no inferno, e
se aflija, e lhe pareça de justiça que todos o hajam de aborrecer, e não ouse
quase pedir misericórdia, se for boa a humildade, esta pena traz em si uma
suavidade e contentamento que não nos quereríamos ver sem ela. Não alvorota nem
aperta a alma; antes a dilata e torna apta para melhor servir a Deus. Essa
outra pena tudo perturba, tudo alvorota, revolve toda a alma; é penosíssima.
Creio que pretende o demónio que pensemos ter humildade e, se pudesse, a voltas
com isto, desconfiássemos de Deus.
3. Quando assim
vos achardes, atalhai o pensamento da vossa miséria o mais que puderdes, e
ponde-o na misericórdia de Deus, no que Ele nos ama e padeceu por nós. E, se é
tentação, até nem isto podereis fazer, pois o demónio não vos deixará sossegar
o espírito nem pensar em nada, senão naquilo que mais vos afligir: Muito será
se conhecerdes que é tentação.
O mesmo fará
sugerindo penitências desmedidas, para dar a entender que somos mais penitentes
do que as outras e fazemos alguma coisa. Se vos andais escondendo do confessor
ou da prelada, ou se, dizendo-vos eles que deixeis essas penitências não fazeis
caso, é clara tentação. Procurai, por mais pena que vos dê - obedecer, pois nisto
está a maior perfeição.
4. O demónio ainda
vem com outra bem perigosa: uma segurança em nos parecer que, de maneira
nenhuma, voltaríamos às culpas passadas e prazeres do mundo; «já compreendi e
sei que tudo acaba e que mais gosto me dão as coisas de Deus». Esta, se é no
princípio, é muito má, porque, com esta segurança, não se lhes dá nada de se
porem de novo nas ocasiões, e faz-lhes fechar os olhos, e praza a Deus que não
seja muito pior a recaída. Porque o demónio, quando vê que lhe pode causar dano
uma alma, fugindo-lhe e dar proveito a outras, faz tudo quanto pode para que
ela não se levante.
Assim, por mais
gostos e provas de amor que o Senhor vos dê, nunca andeis tão seguras que
deixeis de temer o poderdes tornar a cair, e guardai-vos das ocasiões.
5. Procurai muito
consultar sobre essas mercês e regalos com quem vos esclareça, sem ocultar
coisa nenhuma. E tende esse cuidado: no princípio e fim da oração, por subida
contemplação que seja, acabai sempre no conhecimento próprio. E se é de Deus,
ainda que não queiras nem tenhais este aviso, o fareis ainda muitas vezes,
porque traz consigo humildade e deixa sempre mais luz para conhecermos o pouco
que somos.
Não me quero deter
mais nisto, porque achareis muitos livros com estes avisos. Tudo o que disse é por
ter passado por isso e me ter visto em trabalhos algumas vezes. Tudo quanto se
possa dizer, não pode dar absoluta garantia.
6. Pois, Pai
Eterno, que havemos de fazer senão recorrer a Vós e suplicar-Vos que estes
nossos inimigos não nos tragam em tentação? Venham antes coisas públicas, pois,
com o Vosso favor, melhor nos livraremos. Mas estas tentações, quem as
entenderá, Deus meu? Sempre temos necessidade de Vos pedir remédio. Dizei-nos,
Senhor, alguma coisa para que nos entendamos e descansemos. Já sabeis que, por
este caminho, não vai a maior parte, e se têm de ir com tantos medos, irão
ainda muitos menos.
7. Coisa estranha
é esta; como se aos que não vão por caminho de oração não tentasse o demónio! e
que todos se espantem mais que ele engane a um só dos mais chegados à
perfeição, do que de cem mil que vêm cair em enganos e pecados manifestos, que
nem é preciso andar a ver se é bem ou mal, porque a mil léguas se vê ser de
Satanás.
Na verdade, têm
razão, porque são tão poucochinhos os que engana o demónio dos que rezarem o
Pai Nosso do modo que fica dito, que, como coisa nova e não usada, causa
admiração. É coisa muito própria dos mortais passar facilmente pelo que vêm
continuadamente, e espantar-se muito do que acontece muito poucas vezes ou quase
nenhuma. E os próprios demónios os fazem espantar, porque lhes convém a eles,
pois perdem muitos com um que chega à perfeição.
CAPÍTULO 40.
Diz como,
procurando andar sempre em amor e temor de Deus, iremos seguras entre tantas
tentações.
1. Pois, nosso bom
Mestre, dai-nos algum remédio para vivermos sem muito sobressalto em guerra tão
perigosa.
Aquele que podemos
ter, filhas, e por Sua Majestade nos foi dado, é «amor e temor». O amor nos
fará apressar o passo; o temor nos fará ir vendo onde pomos os pés para não
cair em caminho onde há tanto em que tropeçar, como é este em que caminhamos
todos os que vivemos. E com isto é bem certo não sermos enganados.
2. Dir-me-eis:
como saberemos se temos estas duas virtudes tão grandes, tão grandes? E tendes
razão, porque sinal muito certo e determinada não o pode haver; porque se o
tivéssemos de ter amor, ficaríamos certos à que estamos em graça. Mas olhai,
irmãs, há sinais que parece até os cegos vêm; não ficam secretos; e, mesmo que
não os queirais entender, ele darão vozes que fazem muito ruído, porque não são
muitos os que os têm com perfeição, e assim se notam mais. É como quem não diz
nada: amor temor de Deus! São dois castelos fortes donde se faz guerra ao mundo
e aos demónios.
3. Quem deveras
ama a Deus, todo o bem ama, todo o bem quer, todo e bem favorece, todo o bem
louva, com os bons se junta sempre e os favorece e defende; não ama senão
verdades e coisa que seja digna de se amai Pensais que é possível, a quem mui
deveras ama a Deus, amar vaidades, oi riquezas, ou coisas de deleites do mundo,
ou honras, ou tenha contendas ou invejas? Não, que nem pode; e tudo, porque não
pretende outra coisa senã, contentar ao Amado. Andam estes morrendo para que
Ele os ame, e assar dariam a vida para entender como mais Lhe hão-de agradar.
Que o amor de
Deus, se deveras é amor, é impossível que estej muito encoberto. Senão, olhai
um São Paulo, uma Madalena: em três dias um começou a dar mostras de estar
enfermo de amor: foi São Paulo. A Madalena, desde o primeiro dia; e como o deu
bem a entender! Que isttem o amor: há mais e menos; e assim se dá a conhecer
conforme a forç que ele tem. Se é pouco, dá-se pouco a conhecer; se é muito,
muito; mas pouco ou muito, como haja amor de Deus, sempre se conhece.
4. Mas, do que
agora mais tratamos, que é dos enganos e ilusões que demónio arma aos
contemplativos, não há pouco: aqui sempre o amor muito - ou eles não serão
contemplativos -, e se dá a conhecer muito e de muitas maneiras. É grande fogo,
não pode deixar de dar grande resplendor. E, se não há isto, andem com grande
receio; creiam que têm bem que temer, procurem entender o que é, orem por essa
intenção, andem com humildade e supliquem ao Senhor que não os traga em
tentação; que, certo é, não havendo este sinal, eu temo que andemos nela. Mas,
andando com humildade, procurando saber a verdade, sujeitas ao confessor e
tratando com ele com sinceridade e franqueza, - conforme está dito -, aquilo
mesmo com que o demónio pensa dar-vos a morte, vos dará a vida, por mais
ciladas e ilusões que vos queira fazer.
5. Mas se sentis
este amor de Deus que digo, e o temor que agora direi, andai alegres e
sossegadas; pois, para vos perturbar a alma a fim de não gozar tão grandes
bens, o demónio meter-vos-á mil temores falsos e fará com que outros também
vo-los metam. Já que não pode apanhar-vos, ao menos procura fazer-vos perder
alguma coisa, assim como aos que poderiam lucrar muito se acreditassem serem de
Deus as tão grandes mercês feitas a uma criatura tão ruim, e julgassem ser isso
possível. Parece algumas vezes que esquecemos as Suas antigas misericórdias.
6. Pensais que
importa pouco ao demónio meter estes temores? - Não! mas muito, porque causa
dois danos, Um, é atemorizar os que o escutam e temem assim de se chegarem à
oração, pensando poderem também ser enganados. O outro, é que muitos se
chegariam mais a Deus, vendo que é tão bom, - como digo - e que é possível
comunicar-se agora tanto aos pecadores, desperta-lhes o desejo da mercê e têm
razão que eu conheço algumas pessoas a quem isto animou e começaram a ter
oração e em pouco tempo saíram verdadeiros contemplativos, fazendo-lhes o
Senhor grandes mercês.
7. Assim, irmãs,
quando virdes entre vós alguma a quem o Senhor as faça, louvai muito ao Senhor,
mas não penseis por isso que está segura, antes ajudai-a com mais oração,
porque ninguém o pode estar enquanto vive e anda engolfado nos perigos deste
mar tempestuoso.
Assim, não
deixareis de entender este amor onde o houver, nem sei como se possa encobrir. Aqui
na terra, quando amamos as criaturas, dizem ser impossível e que quanto mais
fazem por encobri-lo mais se descobre, sendo coisa tão baixa que nem merece o
nome de amor, porque se baseia num mero nada. E havia de se poder encobrir um
amor tão forte, tão justo, que vai sempre crescendo, que não vê coisa para
deixar de amar, assente sobre tal alicerce como é o ser pago com outro amor, do
qual já não se pode duvidar, pois está posto à vista tão a descoberto, por tão
grandes dores e trabalhos e derramamento de sangue até perder a vida, para que
não nos ficasse nenhuma dúvida desse amor? Oh! valha-me Deus! Que coisa tão diferente
deve ser o outro amor a quem este tenha experimentado!
8. Praza a Sua
Majestade nos dê o Seu antes de nos tirar desta vida, porque será grande coisa,
à hora da morte, ver que vamos ser julgados por Aquele a quem temos amado sobre
todas as coisas. Poderemos ir seguras do pleito de nossas dívidas; não vamos
para terra estranha, mas para a nossa própria, pois é a d'Aquele a quem tanto
amamos e nos ama Lembrai-vos, aqui, filhas minhas, do lucro que traz consigo
este amor, e da perda de o não ter, que nos põe nas mãos do tentador, em mãos
tão cruéis, mãos tão inimigas de todo o bem, e tão amigas de todo o mal.
9. Que será da
pobre alma que, acabada de sair de tais dores e trabalhos, como são os da
morte, cai logo nelas? Que mau descanso lhe vem! Que despedaçada irá para o
inferno! Que multidão de serpentes de toda a espécie! Que temeroso lugar! Que
desventurada hospedagem! Pois, se para uma noite mal se sofre uma má pousada, se
são pessoas dadas a regalos (como o são os que para lá mais devem ir), que
pensais, pois, que sentirá aquela triste alma em pousada que é para sempre, que
não terá fim?
Oh! Não queiramos
regalos, filhas; estamos bem aqui; tudo é uma noite numa má pousada. Louvemos a
Deus, esforcemo-nos por fazer penitência nesta vida. Mas, que doce será a morte
para quem já a fez de todos os seus pecados e não tem de ir ao Purgatório! E como
até poderá ser que, ainda neste mundo, comece a gozar da glória, não verá em si
temor, senão inteira paz
10. Mas já que não
chegaremos a isto, irmãs, supliquemos a Deus que, se formos logo receber penas,
seja onde, com a esperança de sair delas, as soframos de boa vontade e onde não
percamos a Sua amizade e graça, e que no-la dê nesta vida para não andarmos em
tentação sem o entendermos.
santa teresa de
jesus
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