20/11/2013

Tratado dos hábitos 20


Questão 53: Da diminuição e da corrupção dos hábitos.
Art. 3 — Se o hábito se destrói ou diminui só pelo cessar da actividade.

(IIª-IIªe, q. 24, a. 10, I Sent., dist. XVII, q. 2, a. 5).

O terceiro discute-se assim. — Parece que o hábito não se destrói ou diminui só pelo cessar da actividade.

1. — Pois, os hábitos são mais permanentes que as qualidades passivas, como resulta do sobredito 1. Ora, as qualidades passivas não se destroem nem diminuem pela cessação do acto, assim, a brancura não diminui, embora não imute a vista, nem o calor, mesmo que não aqueça. Logo, também os hábitos não diminuem nem se destroem pela cessação do acto.

2. Demais — A corrupção e a diminuição são mutações. Ora, nada se muda sem uma causa motora. Logo, como a cessação do acto não implica nenhuma causa motora, conclui-se que essa cessação não pode causar a diminuição ou destruição do hábito.

3. Demais — Os hábitos da ciência e da virtude residem na alma intelectiva, que está fora do tempo. Ora, o que está fora do tempo não se destrói nem diminui pela diuturnidade temporal. Logo, nem os referidos hábitos se destroem ou diminuem embora possam permanecer muito tempo sem se exercitarem.

Mas, em contrário, diz o Filósofo que a disparição da ciência não é só é o engano, mas também, o esquecimento 2, e ainda: a falta de exercício dissolve muitas amizades 3. E pela mesma razão os outros hábitos das virtudes diminuem ou desaparecem pela cessação do acto.

Como já se disse 4, um motor pode sê-lo de duplo modo. Por si mesmo, quando move em razão da própria forma, assim, o fogo aquece. Ou por acidente, como o que remove um obstáculo, e deste modo a cessação do acto causa a destruição ou a diminuição dos hábitos, enquanto remove o acto que impedia as causas destrutivas ou diminuidoras do hábito. Pois, como já dissemos 5, os hábitos, em si mesmos, desvanecem-se ou diminuem por obra do agente contrário. Donde, os hábitos, cujos contrários aumentam no decurso do tempo e deviam ser eliminados pelo acto procedente do hábito, diminuem ou mesmo desaparecem totalmente pela diuturna cessação do acto, como bem o demonstram a ciência e a virtude.

Pois é manifesto que o hábito da virtude moral torna o homem pronto no escolher o meio, nas acções e nas paixões. Ora, quem não emprega o hábito da virtude para moderar as paixões ou as próprias actividades, dá lugar necessariamente ao nascimento de muitas paixões e actos contrários ao modo da virtude, pela inclinação do apetite sensitivo e de outros móveis externos. Por isso, a virtude desaparece ou diminui pela cessação do acto.

E o mesmo se dá por parte dos hábitos intelectuais, que tornam o homem pronto a julgar rectamente das coisas imaginadas. Se pois cessarmos o uso desses hábitos, surgem as imaginações estranhas, que às vezes levam ao termo oposto, e a ponto tal que, se não forem de certo modo cortadas ou comprimidas, nos tornam menos aptos para julgar rectamente, dispondo-nos mesmo, por vezes e totalmente, ao contrário. Assim que, pela cessação do acto, o hábito intelectual diminui ou mesmo se destrói.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Cessando de aquecer, também o calor desapareceria se isso provocasse o aumento do frio, que elimina o calor.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A cessação do acto leva à destruição ou diminuição, porque remove o obstáculo, como já se disse.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A parte intelectiva da alma, em si mesma, está fora do tempo, mas a sensitiva está-lhe sujeita. Donde, no decurso do tempo, transmuta-se quanto às paixões da parte apetitiva, e mesmo quanto às virtudes apreensivas, Donde, diz o Filósofo, que o tempo é causa do esquecimento 6.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Q. 50, a. 1.
2. De longitudine et brevitate vitae (cap. III).
3. VIII Ethic., lect. V.
4. VIII Physic., lect. VII.
5. Q. 53, a. 1.
6. IV Physic. (lect. XX, XXII).


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