Art. 3 — Se o hábito se
destrói ou diminui só pelo cessar da actividade.
(IIª-IIªe, q. 24, a. 10, I Sent., dist. XVII, q. 2, a. 5).
O
terceiro discute-se assim. — Parece que o hábito não se destrói ou diminui só
pelo cessar da actividade.
1.
— Pois, os hábitos são mais permanentes que as qualidades passivas, como
resulta do sobredito 1. Ora, as qualidades passivas não se destroem
nem diminuem pela cessação do acto, assim, a brancura não diminui, embora não
imute a vista, nem o calor, mesmo que não aqueça. Logo, também os hábitos não
diminuem nem se destroem pela cessação do acto.
2.
Demais — A corrupção e a diminuição são mutações. Ora, nada se muda sem uma
causa motora. Logo, como a cessação do acto não implica nenhuma causa motora,
conclui-se que essa cessação não pode causar a diminuição ou destruição do
hábito.
3.
Demais — Os hábitos da ciência e da virtude residem na alma intelectiva, que
está fora do tempo. Ora, o que está fora do tempo não se destrói nem diminui
pela diuturnidade temporal. Logo, nem os referidos hábitos se destroem ou
diminuem embora possam permanecer muito tempo sem se exercitarem.
Mas,
em contrário, diz o Filósofo que a disparição da ciência não é só é o engano,
mas também, o esquecimento 2, e ainda: a falta de exercício dissolve
muitas amizades 3. E pela mesma razão os outros hábitos das virtudes
diminuem ou desaparecem pela cessação do acto.
Como já se disse 4, um motor pode sê-lo de duplo modo. Por si
mesmo, quando move em razão da própria forma, assim, o fogo aquece. Ou por
acidente, como o que remove um obstáculo, e deste modo a cessação do acto causa
a destruição ou a diminuição dos hábitos, enquanto remove o acto que impedia as
causas destrutivas ou diminuidoras do hábito. Pois, como já dissemos 5,
os hábitos, em si mesmos, desvanecem-se ou diminuem por obra do agente
contrário. Donde, os hábitos, cujos contrários aumentam no decurso do tempo e
deviam ser eliminados pelo acto procedente do hábito, diminuem ou mesmo
desaparecem totalmente pela diuturna cessação do acto, como bem o demonstram a
ciência e a virtude.
Pois
é manifesto que o hábito da virtude moral torna o homem pronto no escolher o
meio, nas acções e nas paixões. Ora, quem não emprega o hábito da virtude para
moderar as paixões ou as próprias actividades, dá lugar necessariamente ao
nascimento de muitas paixões e actos contrários ao modo da virtude, pela
inclinação do apetite sensitivo e de outros móveis externos. Por isso, a
virtude desaparece ou diminui pela cessação do acto.
E
o mesmo se dá por parte dos hábitos intelectuais, que tornam o homem pronto a
julgar rectamente das coisas imaginadas. Se pois cessarmos o uso desses
hábitos, surgem as imaginações estranhas, que às vezes levam ao termo oposto, e
a ponto tal que, se não forem de certo modo cortadas ou comprimidas, nos tornam
menos aptos para julgar rectamente, dispondo-nos mesmo, por vezes e totalmente,
ao contrário. Assim que, pela cessação do acto, o hábito intelectual diminui ou
mesmo se destrói.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Cessando de aquecer, também o calor
desapareceria se isso provocasse o aumento do frio, que elimina o calor.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — A cessação do acto leva à destruição ou diminuição, porque remove
o obstáculo, como já se disse.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — A parte intelectiva da alma, em si mesma, está fora do tempo, mas
a sensitiva está-lhe sujeita. Donde, no decurso do tempo, transmuta-se quanto
às paixões da parte apetitiva, e mesmo quanto às virtudes apreensivas, Donde,
diz o Filósofo, que o tempo é causa do esquecimento 6.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
____________________
Notas:
1. Q. 50, a. 1.
2. De longitudine et brevitate
vitae (cap. III).
3. VIII Ethic., lect. V.
4. VIII Physic., lect. VII.
5. Q. 53, a. 1.
6. IV Physic. (lect. XX, XXII).
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