Em
seguida devemos tratar do sujeito da virtude.
E
sobre esta questão seis artigos se discutem:
Art.
1 — Se a virtude existe na potência da alma como sujeito.
Art.
2 — Se uma virtude pode existir em duas potências.
Art.
3 — Se o intelecto é o sujeito da virtude.
Art.
4 — Se o irascível e o concupiscível podem ser sujeitos da virtude.
Art.
5 — Se nas potências sensitivas apreensivas internas pode haver virtude.
Art.
6 — Se a vontade é sujeito de alguma virtude.
Art. 1 — Se a virtude
existe na potência da alma como sujeito.
(III Sent., dist. XXXIII, q. 1,
a. 4, qª 1, De Virtut., q. 1 a. 3).
O
primeiro discute-se assim. — Parece que a virtude não existe na potência da
alma como sujeito.
1.
— Pois, diz Agostinho, que a virtude é que nos leva a viver rectamente 1.
Ora, nós não vivemos pela potência da alma, mas pela sua essência. Logo, a
virtude tem sua sede nesta e não naquela.
2.
Demais. — O Filósofo diz: a virtude torna bom tanto quem a possui, como as suas
obras 2. Ora, como a obra é realizada pela potência, assim o
virtuoso o é pela essência da alma. Logo, a virtude não reside antes na
potência que na essência da alma.
3.
Demais. — A potência pertence à segunda espécie de qualidade. Ora, a virtude é
uma qualidade, como já se disse 3. E como não pode haver qualidade
de qualidade, a virtude não pode existir na potência da alma, como sujeito.
Mas,
em contrário. — A virtude é o que, na potência, é último, como se disse 4.
Ora, o que em alguma coisa é último nessa existe. Logo, a virtude existe na
potência da alma.
Por três razões pode-se tornar manifesto que a virtude pertence à potência da
alma. A primeira funda-se na própria essência da virtude, que implica a perfeição
da potência, ora, a perfeição existe naquilo a que pertence. A segunda, naquilo
mesmo que constitui um hábito operativo, como já dissemos 5. Ora,
toda operação procede da alma mediante alguma potência. A terceira, na
disposição para o que é óptimo, ora, este é o fim que é, ou uma operação do
ser, ou algo consecutivo à operação procedente da potência. Donde, a virtude
humana existe na potência da alma como sujeito.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O termo — viver pode ser tomado em duplo
sentido. Às vezes significa o próprio ser que vive, e assim, pertence à
essência da alma, que é, para o vivente, o princípio do existir. Outras vezes
viver significa a operação do ser vivo, e assim vivemos rectamente pela
virtude, enquanto por ela obramos rectamente.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — O bem ou é o fim ou é considerado como ordenado para o fim. Logo,
como o bem do operador consiste na operação, esse mesmo efeito da virtude, que
é tornar bom o operador, é relativo à operação, e por consequente à potência.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — Quando se diz que um acidente existe noutro como num sujeito isto
não significa que um, por si mesmo, pode sustentar outro, mas que um existe na
substância mediante outro, assim, a cor existe no corpo mediante a superfície,
e por isso dizemos que esta é o sujeito da cor. E desse mesmo modo, dizemos que
a potência da alma é sujeito da virtude.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
____________________
Notas:
1. II lib. De libero arbit. (cap.
XIX).
2. II Ethic., lect. IV.
3.
Q. 55 a. 4.
4.
I De caelo, lect. XXV.
5.
Q. 55, a. 2.
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