A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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16 Quando chegou a tarde, os Seus
discípulos desceram para junto do mar 17 e, tendo subido para uma
barca, atravessaram o mar em direcção a Cafarnaum. Era já escuro, e Jesus ainda
não tinha ido ter com eles. 18 Entretanto, o mar começava a
encrespar-se, por causa do vento forte que soprava. 19 Tendo remado
cerca de vinte e cinco ou trinta estádios, viram Jesus caminhando sobre o mar,
em direcção à barca, e ficaram atemorizados. 20 Mas Ele disse-lhes:
«Sou Eu, não temais». 21 Quiseram então recebê-l'O na barca e logo a
barca chegou à terra para onde iam. 22 No dia seguinte, a multidão,
que tinha ficado do outro lado do mar, advertiu que não havia ali mais que uma
barca e que Jesus não tinha entrado nela com os Seus discípulos, mas que os
Seus discípulos tinham partido sós. 23 Entretanto, arribaram de
Tiberíades outras barcas perto do lugar onde haviam comido o pão, depois de o
Senhor ter dado graças. 24 Tendo, pois, a multidão visto que lá não
estava nem Jesus nem os Seus discípulos, entrou naquelas barcas e foi a
Cafarnaum em busca de Jesus. 25 Tendo-O encontrado do outro lado do
mar, disseram-lhe: «Mestre, quando chegaste aqui?». 26 Jesus
respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: Vós buscais-Me não porque vistes
os milagres, mas porque comestes dos pães e ficastes saciados. 27
Trabalhai não pela comida que perece, mas pela que dura até à vida eterna, e
que o Filho do Homem vos dará. Porque n'Ele imprimiu Deus Pai o Seu selo». 28
Eles, então, disseram-Lhe: «Que devemos fazer para praticar as obras de Deus?».
29 Jesus respondeu: «A obra de Deus é esta: Que acrediteis n'Aquele
que Ele enviou». 30 Mas eles disseram-Lhe: «Que milagre fazes Tu,
para que o vejamos e acreditemos em Ti? Que fazes Tu? 31 Nossos pais
comeram o maná no deserto, segundo está escrito: “Deu-lhes a comer o pão do
céu”». 32 Jesus respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo:
Moisés não vos deu o pão do céu, mas Meu Pai é que vos dá o verdadeiro pão do
céu. 33 Porque o Pão de Deus é Aquele que desceu do céu e dá a vida
ao mundo». 34 Então disseram-Lhe: «Senhor, dá-nos sempre desse pão».
VIDA
CAPÍTULO
22.
7. Assim, V. Mercê,
senhor, não queira outro caminho, embora esteja no cume da contemplação; por
aqui vai seguro. É por este Senhor nosso que nos vêm todos os bens. Ele o
ensinará; olhando a Sua vida, é o melhor modelo. Que mais queremos com um tão
bom Amigo ao nosso lado, que não nos deixará nos trabalhos e tribulações, como
fazem os do mundo? Bem-aventurado quem de verdade O amar e sempre O trouxer ao
pé de si. Vejamos o glorioso São Paulo que, dir-se-ia, ter sempre na boca
Jesus, como quem O tinha bem no coração. Eu tenho reparado com cuidado, depois
que isto compreendi, em alguns santos grandes contemplativos, e não iam por
outro caminho. São Francisco dá mostras disto nas Chagas; Santo António de
Pádua no Menino; São Bernardo deleitava-se na Humanidade; Santa Catarina de
Sena e outros muitos que V. Mercê saberá melhor do que eu.
8. Isto de apartar-se do
que é corporal bom deve ser certamente, pois gente tão espiritual o diz; mas, a
meu parecer, há-de ser estando a alma muito aproveitada, porque até isto, claro
está, se há-de buscar ao Criador por meio das criaturas? Tudo é conforme à
mercê que o Senhor faz a cada alma: nisso não me intrometo. O que eu queria dar
a entender é que não há-de entrar nesta conta a Sacratíssima Humanidade de
Cristo. E entenda-se bem este ponto, em que eu quereria saber-me explicar.
9. Quando Deus quer
suspender todas as potências, como temos visto nos modos de oração que ficam
ditos," claro está que, embora não o queiramos, se nos tira esta presença.
Que se vá então em boa hora! Ditosa tal perda que é para se gozar mais do que
nos parece se ter perdido; porque então se emprega a alma toda em amar a Quem o
entendimento tem trabalhado por conhecer. Ama o que não compreendeu e goza do
que não poderia tão bem gozar se não se fosse perdendo a si mesma para, como
digo, mais ganhar.
Mas que nós, de propósito
e com cuidado, nos acostumemos a não procurar, com todas as nossas forças,
trazer sempre diante de nós - e prouvera ao Senhor que fosse sempre - esta
Sacratíssima Humanidade, isto digo que não acho bem: é andar a alma no ar, como
dizem; porque me parece não tem arrimo, por mais que imagine andar cheia de
Deus. É grande coisa, enquanto vivemos e somos humanos, trazer a Deus humanado
diante de nós. Não O querer trazer assim presente, é o outro inconveniente que
há. Do primeiro, já comecei a falar; há um pouco de falta de humildade, em
querer levantar a alma antes que o Senhor a levante e em não se contentar com
meditarem coisa tão preciosa e querer ser Maria antes de ter traba- lhado como
Marta. Quando o Senhor quer que o seja, até mesmo logo desde o primeiro dia,
não há que temer; façamos por ser comedidos, como creio já ter dito outra vez.
Este argueirito de pouca humildade, embora pareça que não é nada, causa muito
dano a quem quer aproveitar na contemplação.
10. Voltando ao segundo
ponto, não somos anjos, temos corpo. Querermos fazer de anjos estando na terra
- e tanto na terra como eu estava - é desatino. Pois que, normalmente, o
pensamento precisa de arrimo, se bem que algumas vezes a alma saia de si, e em
muitas outras ande tão cheia de Deus que não tenha necessidade de coisa criada
para se recolher. Isto, porém, não é tão habitual: e no meio de negócios e
perseguições e trabalhos, quando não se pode ter tanta quietação, e em tempo de
aridez, mui bom amigo é Cristo, porque O vemos Homem e com fraquezas e
trabalhos, e serve-nos de companhia. Havendo costume, é muito fácil supô-Lo ao
pé de nós, ainda que haverá ocasiões em que nem uma nem outra coisa se poderá
fazer.
Para isto, é bom o que
tenho dito: não nos apresentarmos a procurar consolações de espírito.
Abraçar-se com a cruz, venha o que vier, é grande coisa. Desamparado ficou este
Senhor de toda a consolação; sozinho O deixaram nos trabalhos. Não O deixemos
nós que, para mais subirmos, Ele nos dará melhor a mão, do que a nossa própria
diligência. Ausentar-se-á quando vir que assim convém e o Senhor queira
arrancar a alma a si mesma, como já disse.
11. Muito contenta a Deus
ver uma alma que, com humildade, mete por terceiro a Seu Filho e O ama tanto
que, mesmo querendo Sua Majestade elevá-la a muito grande contemplação - como
tenho dito - se reconhece indigna, dizendo com São Pedro: Apartai-Vos de mim,
Senhor, que sou um homem pecador.
Isto tenho-o eu
experimentado; desta arte tem Deus levado a minha alma. Outros irão - como
tenho dito por outro atalho. O que eu tenho entendido é que todo este edifício
da oração vai fundado em humildade e, quanto mais se abaixa uma alma na oração,
mais a levanta Deus. Não me recordo de haver-me Ele feito mercê muito
assinalada, das que adiante direi, que não fosse estando eu desfeita por me ver
tão ruim. E ainda procurava Sua Majestade dar-me a entender coisas para me
ajudar a conhecer, que eu nem saberia imaginar.
Tenho para mim que tudo
quanto a alma faça de sua parte para se ajudar nesta oração de união, embora
lhe pareça que logo, logo lhe aproveita, como coisa mal fundada, virá muito
depressa a cair. E tenho medo que assim nunca chegará à verdadeira pobreza de
espírito, que consiste não em buscar consolo e gosto na oração - que os da
terra já estão deixados -, mas sim em ter consolação nos trabalhos, por amor
d'Aquele que sempre viveu neles, e ficar aquietada no meio desses trabalhos e
securas. Pois, ainda que algo se sinta, não é para inquietar e dar pena, como
têm algumas pessoas que, se não estão sempre trabalhando com o entendimento e
sentindo devoção, julgam que tudo vai perdido; como se, pelo seu trabalho,
merecessem tão grande bem!
Não digo que não procurem
isto e não estejam com cuidado diante de Deus, mas que não se matem se não
puderem ter nem sequer um bom pensamento, como de outras vezes já tenho dito.
Somos servos sem proveito; o que é que julgamos poder?
12. Mais quer o Senhor que
conheçamos isto e andemos feitos uns asnozitos a puxar à nora da água, que fica
dita, porque, embora tapados os olhos e não entendendo o que fazem, tirarão
mais água do que o hortelão com toda a sua diligência. Com liberdade se há-de
andar neste caminho, entregues às mãos de Deus. Se Sua Majestade quiser
subir-nos a ser dos da Sua câmara e segredo, vamos de boa vontade; se não
quiser, sirvamos em ofícios baixos e não nos sentemos no primeiro lugar, como
tenho dito algumas vezes. Deus tem mais cuidado do que nós e sabe para o que
cada um é. De que serve governar-se a si quem tem já dada toda a sua vontade a
Deus?
A meu parecer, isto muito
menos se pode sofrer aqui do que no primeiro grau de oração e prejudica muito
mais, pois são bens sobrena turais. Se alguém tiver má voz, por muito que se
esforce por cantar, não se lhe tornará boa; se Deus quiser dar-lha, não
necessita dar vozes primeiro. Supliquemos-Lhe, pois, que sempre nos faça
mercês, rendida a alma, mas confiando na grandeza de Deus. E visto que lhe dão
licença para estar aos pés de Cristo, procure não se tirar dali; esteja como
quiser; imite a Mada lena que, quando estiver forte, Deus a levará ao deserto.
13. Assim, V. Mercê, até
que encontre quem tenha mais experiência do que eu e o saiba melhor, fique-se
nisto. Se são pessoas que começam a gostar de Deus, não as acredite, porque a
estas lhes parece aproveitarem e gozarem mais ajudando-se? Oh! quando Deus
quer, como vem a descoberto, sem estas ajudazitas! Por mais que façamos,
arrebata o espírito, tal como um gigante pegaria numa palha, e não há
resistência que valha! Como, pois, acreditar que, quando Deus quer, fique à
espera que voe o sapo por si mesmo! E ainda mais dificultoso e pesado me parece
levantar-se o nosso espírito, se Deus o não levanta, porque está carregado de
terra e de mil impedimentos. Aproveita-lhe pouco o querer voar; embora, por seu
natu ral, tenha mais capacidade para isso do que o sapo, está porém tão metido
em lama que a perdeu por sua culpa.
14. Pois quero concluir
com isto: sempre que pensarmos em Cristo, lembremo-nos do amor com que nos fez
tantas mercês e quão grande no-lo mostrou Deus em nos dar tal penhor do amor
que Ele nos tem, pois amor gera amor. E ainda que seja muito no princípio e nós
muito ruins, procuremos ir sempre vendo isto e despertando-nos para amar;
porque, uma vez que o Senhor nos faz mercê de que este amor se nos imprima no
coração, ser-nos-á tudo fácil e aproveitaremos muito em breve e mui sem
trabalho.
Dê-nos Sua Majestade -
pois sabe o muito que nos convém - pelo muito que Ele rios teve e pelo Seu
glorioso Filho, que, tanto à Sua custa, no-lo mostrou. Ámen.
15. Uma coisa quereria eu
perguntar a V. Mercê: como é que o Senhor, em começando a fazer mercês tão
sublimes a uma alma, como é pô-la em perfeita contemplação, não a deixa logo
perfeita de todo como, em boa razão, havia de ficar? Sim, de certo, em boa
razão, porque quem tão grande mercê recebe, não mais havia de querer consolos
da terra. Pois, no arroubamento, que parece traz consigo efeitos muito mais
subidos e quanto mais, mais desapegada a alma fica, e estando ela já mais
habituada a receber mercês, porque motivo não a deixa então logo o Senhor com
perfeição nas virtudes, como depois fará com o andar do tempo, se num momento o
mesmo Senhor, quando chega, a pode deixar santificada?
Isto quero eu saber, pois
não o sei. Mas bem compreendo que é diferente a fortaleza que Deus infunde a
princípio, quando a mercê não dura mais que um abrir e fechar de olhos e quase
só se sente pelos efeitos que deixa, ou quando ela vem mais à larga. Muitas
vezes, parece-me que talvez seja por a alma não se dispor então de pronto e
totalmente, até que o Senhor, pouco a pouco, a vai criando e faz com que ela se
determine e lhe dá forças de varão para que de todo dê com tudo no chão. E tal
como fez com a Madalena, num breve instante, fá-lo com outras pessoas, na
medida em que estas deixam operar Sua Majestade. Não acabamos de crer que,
ainda nesta vida, dá Deus cem por um.
16. Também me vinha ao
pensamento esta comparação: ainda que seja o mesmo, o que se dá aos que vão
mais adiantados e aos que estão no princípio, no entanto, é como um manjar de
que comem muitas pessoas: as que comem pouquito, ficam só com o bom sabor por
pouco tempo; às que comem mais, ajuda a sustentá-las; às que comem muito, dá
vida e força. E tantas vezes se pode comer e tão abundantemente deste manjar de
vida, que já se não coma de outra coisa, que saiba bem, afora ele. É que vêem o
proveito que lhes faz e têm já tão afeito o paladar a esta suavidade, que mais
quereriam não viver, a terem de comer outras coisas, que não servem senão para
tirar o bom sabor que o bom manjar lhes deixou.
Assim, também uma santa
companhia não produz, com a sua conversação, tanto fruto em um dia como em
muitos; e tantos podem estes ser, que fiquemos como ela, se Deus nos favorece.
Enfim, tudo depende do que Sua Majestade quer dar e a quem o quer dar. Mas vai
muito no determinar-se quem já começa a receber esta mercê, a desapegar-se de
todo, tendo-a no que é de razão.
17. Também me parece que
Sua Majestade anda a experimentar, ora a um, ora a outro, a ver quem Lhe tem
amor. E descobre-lhes Quem é, com um deleite tão soberano, capaz de avivar a
fé, se esta estiver amortecida, daquilo que um dia nos dará, dizendo: «Vede, que
isto é uma gota do grandíssimo mar de bens». Não deixa nada por fazer àqueles a
quem ama. Tal como vê que O recebem, assim dá e Se dá a Si mesmo. Quer a quem
Lhe quer. E como sabe querer bem! e que bom Amigo!
Oh! Senhor da minha alma;
quem tivesse palavras para dar a entender o que dais aos que se fiam de Vós, e
o que perdem os que chegam a este estado e se ficam apegados a si mesmos! Não
queirais Vós isto, Senhor; pois, mais do que isto fazeis Vós, vindo a uma pousada
tão ruim como a minha. Bendito sejais para sempre.
18. Torno a suplicar a V.
Mercê que, se tratar estas coisas de oração, que escrevi, com pessoas
espirituais, que elas o sejam de verdade. Porque, se não sabem mais do que um
caminho ou se nele se ficaram a meio, não poderão atinar. E há algumas almas a
quem Deus leva desde logo por caminho muito subido e parecer-lhes-á que assim
os outros também ali poderão tirar proveito, aquietando o entendimento sem se
aproveitarem do auxílio de coisas corpóreas, e quedar-se-ão secas como paus. E
algumas, tendo já gozado um pouco de quietude, logo pensam que, assim como têm
uma coisa, podem fazer a outra, e em lugar de aproveitar, desaproveitarão, como
tenho dito. Assim, para tudo é preciso experiência e discrição. O Senhor no-las
dê por Sua bondade.
santa
teresa de jesus
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