Art. 4 — Se a tristeza é o sumo mal.
O quarto discute-se assim. ― Parece que a tristeza é o sumo mal.
2.
Demais. ― A beatitude é o sumo bem do homem, porque é o seu último fim. Ora,
ela consiste em termos tudo o que queremos e em não querermos mais nada, como
já dissemos 2. Logo, o sumo bem do homem é a satisfação completa da
sua vontade. Ora, a tristeza é causada pelo que acontece contra a nossa
vontade, como está claro em Agostinho 3. Logo, a tristeza é o sumo
mal do homem.
3.
Demais. ― Agostinho argumenta assim: Somos compostos de duas partes ― a alma e
o corpo, sendo este a inferior. Ora, o sumo bem é o que, na melhor parte é óptimo, e o sumo mal o que, na pior, é péssimo. Ora, o que tem de óptimo a alma é
a sabedoria, e o que tem de péssimo o corpo é a dor. Logo o sumo bem do homem é
saber e o sumo mal, sofrer a dor 4.
Mas,
em contrário. ― A culpa é maior que a pena, como estabelecemos na primeira
parte 5. Ora, a tristeza ou dor respeita a pena do pecado, assim
como gozar das coisas mutáveis é o mal da culpa. Pois, diz Agostinho: Que se
chama dor da alma senão o estar privado das coisas mutáveis, que gozava ou que
esperava gozar? E nisto consiste totalmente o chamado mal, i. é, o pecado e a
pena do pecado 6. Logo, a tristeza ou dor não é o sumo mal do homem.
É impossível seja qualquer tristeza ou dor o sumo mal do homem. Pois, toda
tristeza ou dor é causada por um verdadeiro mal ou por um mal aparente que é,
na realidade, bem. Ora, a dor ou tristeza provocada pelo verdadeiro mal não
pode ser o sumo mal, pois há algo de pior que ela, a saber, não considerar mal
o que verdadeiramente o é, ou não lhe oferecer resistência. Por outro lado, a
tristeza ou dor causada pelo mal aparente, que é um verdadeiro bem, não pode
ser o sumo mal, porque, pior seria alhearmo-nos de todo do verdadeiro bem. Por
onde, é impossível a tristeza ou dor ser o sumo mal do homem.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Há dois bens comuns ao prazer e à tristeza, a
saber: o verdadeiro juízo sobre o bem e o mal, e a ordem devida da vontade que
aprova aquele e rejeita este. Por onde é claro que há, na dor ou tristeza,
algum bem, cuja privação a tornaria pior, mas nem todo prazer encerra um mal
cuja remoção o tornasse melhor. E por isso há algum prazer capaz de ser o sumo
bem do homem, do modo pelo qual já dissemos 7, ao passo que a
tristeza não lhe pode ser o sumo mal.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― A própria repugnância da vontade pelo mal é um bem. E por isso, a
tristeza ou dor não pode ser o sumo mal, por nela haver mescla de bem.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― O nocivo ao melhor encerra maior mal do que o nocivo ao pior.
Pois, chama-se mal ao nocivo, como diz Agostinho 8. Por onde, o mal
da alma é pior que o do corpo. E portanto, não colhe o raciocínio introduzido
por Agostinho, de acordo, não com o seu sentir, mas com o de outrem.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
____________________
Notas:
1. VIII Ethic. (lect. X).
2. Q. 3, a. 4 arg. 5, q. 5, a.
8, arg. 3.
3.
XIV De civitate Dei (cap. XV).
4.
Soliloq. I (c. XII).
5.
Q. 48, a. 6.
6.
De Vera religione (cap. XII).
7.
Q. 34, a. 3.
8.
Enchir. Cap. XII.
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