Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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1 Começou de novo a ensinar à beira-mar; e juntou-se à Sua volta tão
grande multidão que teve de subir para uma barca e sentar-Se dentro dela, no
mar, enquanto toda a multidão estava em terra na margem. 2 E
ensinava-lhes muitas coisas por meio de parábolas. Dizia-lhes segundo o Seu
modo de ensinar: 3 «Ouvi: Eis que o semeador saiu a semear. 4
E ao semear, uma parte da semente caiu ao longo do caminho, e vieram as aves do
céu e comeram-na. 5 Outra parte caiu entre pedregulhos, onde tinha
pouca terra, e logo nasceu, por não ter profundidade a terra; 6 mas,
quando saiu o sol, foi queimada pelo calor e, como não tinha raíz, secou. 7
Outra parte caiu entre espinhos; e os espinhos cresceram e sufocaram-na e não deu
fruto. 8 Outra caiu em terra boa; e deu fruto que vingou e cresceu,
e um grão deu trinta, outro sessenta e outro cem». 9 E acrescentava:
«Quem tem ouvidos para ouvir, oiça». 10 Quando Se encontrou só, os
doze, que estavam com Ele, interrogaram-n'O sobre a parábola. 11
Disse-lhes: «A vós é concedido conhecer o mistério do reino de Deus; porém, aos
que são de fora, tudo se lhes propõe em parábolas, 12 para que,
olhando não vejam, e ouvindo não entendam; não aconteça que se convertam, e
lhes sejam perdoados os pecados». 13 E acrescentou: «Não entendeis
esta parábola? Então como entendereis todas as outras?14 O que o
semeador semeia é a palavra.15 Uns encontram-se ao longo do caminho
onde ela é semeada; mas logo que a ouvem vem Satanás tirar a palavra semeada
neles. 16 Outros recebem a semente em terreno pedregoso; ouvem a
palavra, logo a recebem com alegria, 17 mas não têm raízes em si
mesmos, são inconstantes; depois, levantando-se a tribulação ou a perseguição
por causa da palavra, sucumbem imediatamente. 18 Outros recebem a
semente entre espinhos; ouvem a palavra, 19 mas os cuidados mundanos,
a sedução das riquezas e as outras paixões, entrando, afogam a palavra, e ela
fica infrutuosa. 20 Aqueles que recebem a semente em terra boa, são
os que ouvem a palavra, recebem-na, e dão fruto, um a trinta, outro a sessenta,
e outro a cem por um».
CONFISSÕES SANTO
AGOSTINHO
DE MAGISTRO (DO MESTRE)
CAPÍTULO XI
NÃO APRENDEMOS
PELAS PALAVRAS QUE REPERCUTEM EXTERIORMENTE, MAS PELA VERDADE QUE ENSINA
INTERIORMENTE
AGOSTINHO
– Limitado o
valor das palavras, e delas direi, querendo valorizá-las, que apenas estimulam a
procurar as coisas, sem porém mostrá-las para que as conheçamos.
No entanto,
aquele que me apresenta alguma coisa, quer aos sentidos corporais, quer à mente,
ensina-me de facto as coisas que quero conhecer.
Com as palavras
não aprendemos senão palavras, de mais a mais, o som das palavras, pois se não
for sinal tampouco é palavra, não vejo como possa ser palavra, som que ouvi
pronunciado como sendo palavra, até que lhe conheça o significado.
O sentido
completo das palavras, se consegue apenas depois de conhecer as coisas, e ao
contrário, ouvindo somente as palavras, não aprendemos nem sequer estas.
De facto, não
tivemos conhecimento das palavras que aprendemos senão depois de perceber seu
significado, o que acontece não ouvindo as vozes que as proferem, mas pelo
conhecimento das coisas significadas.
Ao ouvirmos
palavras, é perfeitamente razoável saber ou não o que significam, se o sabemos,
não foram elas que no-lo ensinaram, apenas o recordaram, se não o sabemos, nem
sequer o recordam, mas talvez nos estimulem a procurá-lo.
Ora, daqueles objectos
que servem para cobrir a cabeça e dos quais apenas ouvimos o nome (coifas), só
podemos adquirir a noção depois de vê-los, portanto, nem sequer o seu nome conhecemos
completamente, não antes de conhecermos os próprios objectos.
Todavia, podes afirmar
que de nenhum modo senão pelas palavras, aprendemos o que se narra a respeito
dos três jovens, aqueles que com sua fé e religião venceram o rei e as chamas,
quais os hinos de louvor que cantaram a Deus, quais as honras que mereceram do
próprio inimigo, responder-te-ei que já conhecíamos todas as coisas significadas
por aquelas palavras. Pois eu já tinha na minha mente o que significa três
jovens, o que é forno, o que é fogo, o que é rei, o que quer dizer ser preservado
do fogo, e por fim, as demais coisas significadas por aquelas palavras.
Mas, como aquelas
“saraballae” (coifas), ficam para mim desconhecidos os jovens Ananias,
Azarias e Misael, nem os seus nomes me ajudaram a conhecê-los.
E confesso que,
mais que saber, posso afirmar minha crença que tudo o que se lê naquela
narração histórica tenha ocorrido naquele tempo assim como foi escrito, e os
próprios historiadores a que emprestamos fé não ignoravam esta diferença.
Diz o profeta:
“Se não credes, não entendereis”, e certamente não diria isto se não tivesse
por necessário estabelecer uma diferença entre as duas coisas.
Por isso, creio
tudo o que entendo, mas nem tudo o que creio entendo.
Conheço tudo o
que compreendo, mas nem tudo o que creio, conheço.
Eu sei quanto é
útil crer também em muitas coisas que não conheço, utilidade que se aplica
também na história dos três jovens.
Como não posso
saber a maioria das coisas, sei porém que é útil acreditar nelas.
Quanto às coisas
que compreendemos, não consultamos a voz de quem fala, que é exterior, mas a
verdade que dentro de nós reside, em nossa mente, estimulados talvez pelas palavras
a consultá-la. Quem é consultado ensina em verdade, e este é o Cristo que
habita, como foi dito, no homem interior, isto é, a virtude única de Deus e a
eterna Sabedoria, que toda alma racional consulta, mas que se revela ao homem
na medida da sua própria boa ou má vontade.
E se ocorre o
erro, isto não acontece por falha da verdade consultada, como não é por erro da
luz externa que os olhos se enganam, esta luz que consultamos a respeito das
coisas visíveis, para que no-las torne claras na proporção em que nos é
permitido distingui-las.
CAPÍTULO XII
CRISTO É A
VERDADE QUE ENSINA INTERIORMENTE
AGOSTINHO
– Ora, se para
as cores precisamos de luz, e para as outras coisas que o nosso corpo percebe,
interpelamos os elementos do mundo, os objectos percebidos e os próprios
sentidos são instrumentos de que a mente se serve para conhecer as coisas
externas.
Todavia, para
aquelas coisas que conhecemos pela inteligência consultamos, por meio da razão,
a verdade interior, e o que diremos, para que fique claro, senão que, pelas
palavras, nada mais aprendemos além do som que atinge nosso ouvido?
Pois todas as
coisas que percebemos, ou são apanhadas pelos sentidos físicos ou pela mente.
Chamamos às
primeiras “sensíveis”, e às segundas “inteligíveis” ou, para usar a linguagem
de nossos autores, às primeiras “carnais” e às segundas “espirituais”.
Quanto às
primeiras, se estiverem ao nosso alcance podemos responder, como quando estamos
olhando a lua, e alguém nos pergunte o que é ou onde ela está.
Neste caso, quem
pergunta, se não enxergam acredita ou não nas nossas palavras, mas não aprende
de modo algum, a menos que também veja o que lhe está sendo afirmado e, nesse
caso, não aprende pelo simples som das palavras, mas pelas coisas mesmas e que
ferem seus sentidos.
As palavras,
pois, têm o mesmo som para quem vê, como para quem não vê.
Se porém somos
indagados, não sobre as coisas presentes, mas sobre as que percebemos outrora,
respondendo, não fazemos referencias às mesmas, mas às suas imagens gravadas em
nossa memória, não sei como poderíamos chamar tais imagens de verdadeiras, pois
percebemos serem falsas, a não ser que acrescentemos que a sua visão e
percepção não são atuais, mas pretéritas.
Portanto, nós gravamos
nos meandros da memória as imagens como documentos das coisas que percebemos, contemplando-as
com honestidade na nossa mente, não mentimos quando falamos.
Mas estes são
documentos válidos só para nós, pois quem nos ouve, se as percebeu ou
presenciou, não as aprende pelas minhas palavras, mas as reconhece nas imagens
que também levou consigo, todavia, se nunca as percebeu, todos concordarão que
ele mais do que aprender, crê nas palavras.
Tratando das
coisas que percebemos pela mente, isto é, por meio do intelecto e da razão, estamos
ainda tratando de coisas que temos como presentes, sob a luz interior da
verdade, que ilumina o homem interior, que dela desfruta.
Mas também aqui o
nosso interlocutor conhece o que eu digo pela sua própria contemplação, e não
mediante as minhas palavras, posto que ele também veja por si a mesma coisa com
olhos interiores e simples.
Portanto, nem
sequer a este, que vê as coisas na verdade, ensino algo dizendo-lhe a verdade,
uma vez que não aprende pelas minhas palavras, mas pelas próprias coisas que
Deus a ele revela em seu interior, e ele, interrogado sobre elas, sem mais,
poderia responder. Ora, haverá absurdo maior que acreditar que minhas palavras
possam ter instruído aquele que, interrogado antes de minha preleção, poderia responder
sobre o assunto?
O caso, que ocorre
com frequência, de alguém interrogado negar algo e depois, estimulado por
ulteriores perguntas, vir a concordar, depende da fraqueza da sua visão que não
pode abarcar todas as coisas pela luz interior, e a isto sendo levado, por
partes sucessivas, pelas perguntas inerentes às mesmas partes de uma verdade
única, que ele não podia intuir, de uma só vez, no seu conjunto.
Se chegar isso
por meio das perguntas, não significa que as palavras lhe ensinaram alguma
coisa, mas apenas que lhe ofereceram um meio, uma capacitação para enxergar no
seu interior.
Seria assim se
eu te arguisse sobre o que estamos tratando agora, isto é, se é possível
ensinar algo pelas palavras, e tu, na incapacidade de abranger com a mente a
questão inteira, julgasses, no primeiro momento, absurda a pergunta.
Por isso, foi
preciso apresentar a pergunta na medida da tua capacidade de ouvir o mestre
interior, e dizer-te as coisas que, quando ouves, confessas com certeza serem
verdadeiras e que afirmas conhecê-las bem, onde aprendeste?
Responderias,
talvez, que fui eu quem tas ensinou?
E então eu
perguntaria:
Como?
Se eu te
afirmasse ter visto um homem voando, as minhas palavras dar-te-iam tanta
certeza como se me ouvisses dizer que os homens sábios são melhores que os tolos?
Certamente,
depois de negar, responderias não acreditar na primeira ou, mesmo que acreditasses,
que ela é para ti completamente desconhecida, e no entanto que sabes com
certeza a segunda.
Compreenderias
pois com clareza que nada aprendeste com minhas palavras: nem aquilo que
ignoravas, nem aquilo que já sabias otimamente, pois jurarias, ao ser
interrogado parte por parte sobre as duas coisas, que a primeira te era
desconhecida e a segunda, conhecida.
E então
chegarias a admitir tudo o que antes negavas ao reconhecer como claras e certas
as partes que compõem a questão, isto é, que a respeito de tudo o que falamos,
quem nos está ouvindo ou desconhece se não verdadeiras, ou sabe que são falsas,
ou sabe que são verdadeiras.
No primeiro
caso, ou crê, ou opina, ou duvida, no segundo, nega, no terceiro, afirma, mas
em nenhum dos três aprende.
Tanto aquele que
depois de me ouvir ignora a coisa, como quem reconhece que ouviu falsidades e
como quem, interrogado, poderia repetir o que foi dito, demonstra que nada aprendeu
pelas minhas palavras.
(Revisão trad.
portuguesa e grafismo por ama)
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