29/07/2013

Leitura espiritual para 29 Jul

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.


Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Mc 4, 1-20

1 Começou de novo a ensinar à beira-mar; e juntou-se à Sua volta tão grande multidão que teve de subir para uma barca e sentar-Se dentro dela, no mar, enquanto toda a multidão estava em terra na margem. 2 E ensinava-lhes muitas coisas por meio de parábolas. Dizia-lhes segundo o Seu modo de ensinar: 3 «Ouvi: Eis que o semeador saiu a semear. 4 E ao semear, uma parte da semente caiu ao longo do caminho, e vieram as aves do céu e comeram-na. 5 Outra parte caiu entre pedregulhos, onde tinha pouca terra, e logo nasceu, por não ter profundidade a terra; 6 mas, quando saiu o sol, foi queimada pelo calor e, como não tinha raíz, secou. 7 Outra parte caiu entre espinhos; e os espinhos cresceram e sufocaram-na e não deu fruto. 8 Outra caiu em terra boa; e deu fruto que vingou e cresceu, e um grão deu trinta, outro sessenta e outro cem». 9 E acrescentava: «Quem tem ouvidos para ouvir, oiça». 10 Quando Se encontrou só, os doze, que estavam com Ele, interrogaram-n'O sobre a parábola. 11 Disse-lhes: «A vós é concedido conhecer o mistério do reino de Deus; porém, aos que são de fora, tudo se lhes propõe em parábolas, 12 para que, olhando não vejam, e ouvindo não entendam; não aconteça que se convertam, e lhes sejam perdoados os pecados». 13 E acrescentou: «Não entendeis esta parábola? Então como entendereis todas as outras?14 O que o semeador semeia é a palavra.15 Uns encontram-se ao longo do caminho onde ela é semeada; mas logo que a ouvem vem Satanás tirar a palavra semeada neles. 16 Outros recebem a semente em terreno pedregoso; ouvem a palavra, logo a recebem com alegria, 17 mas não têm raízes em si mesmos, são inconstantes; depois, levantando-se a tribulação ou a perseguição por causa da palavra, sucumbem imediatamente. 18 Outros recebem a semente entre espinhos; ouvem a palavra, 19 mas os cuidados mundanos, a sedução das riquezas e as outras paixões, entrando, afogam a palavra, e ela fica infrutuosa. 20 Aqueles que recebem a semente em terra boa, são os que ouvem a palavra, recebem-na, e dão fruto, um a trinta, outro a sessenta, e outro a cem por um».



CONFISSÕES SANTO AGOSTINHO

DE MAGISTRO (DO MESTRE)

CAPÍTULO XI

NÃO APRENDEMOS PELAS PALAVRAS QUE REPERCUTEM EXTERIORMENTE, MAS PELA VERDADE QUE ENSINA INTERIORMENTE

AGOSTINHO
– Limitado o valor das palavras, e delas direi, querendo valorizá-las, que apenas estimulam a procurar as coisas, sem porém mostrá-las para que as conheçamos.
No entanto, aquele que me apresenta alguma coisa, quer aos sentidos corporais, quer à mente, ensina-me de facto as coisas que quero conhecer.
Com as palavras não aprendemos senão palavras, de mais a mais, o som das palavras, pois se não for sinal tampouco é palavra, não vejo como possa ser palavra, som que ouvi pronunciado como sendo palavra, até que lhe conheça o significado.
O sentido completo das palavras, se consegue apenas depois de conhecer as coisas, e ao contrário, ouvindo somente as palavras, não aprendemos nem sequer estas.
De facto, não tivemos conhecimento das palavras que aprendemos senão depois de perceber seu significado, o que acontece não ouvindo as vozes que as proferem, mas pelo conhecimento das coisas significadas.
Ao ouvirmos palavras, é perfeitamente razoável saber ou não o que significam, se o sabemos, não foram elas que no-lo ensinaram, apenas o recordaram, se não o sabemos, nem sequer o recordam, mas talvez nos estimulem a procurá-lo.

Ora, daqueles objectos que servem para cobrir a cabeça e dos quais apenas ouvimos o nome (coifas), só podemos adquirir a noção depois de vê-los, portanto, nem sequer o seu nome conhecemos completamente, não antes de conhecermos os próprios objectos.
Todavia, podes afirmar que de nenhum modo senão pelas palavras, aprendemos o que se narra a respeito dos três jovens, aqueles que com sua fé e religião venceram o rei e as chamas, quais os hinos de louvor que cantaram a Deus, quais as honras que mereceram do próprio inimigo, responder-te-ei que já conhecíamos todas as coisas significadas por aquelas palavras. Pois eu já tinha na minha mente o que significa três jovens, o que é forno, o que é fogo, o que é rei, o que quer dizer ser preservado do fogo, e por fim, as demais coisas significadas por aquelas palavras.
Mas, como aquelas “saraballae” (coifas), ficam para mim desconhecidos os jovens Ananias, Azarias e Misael, nem os seus nomes me ajudaram a conhecê-los.
E confesso que, mais que saber, posso afirmar minha crença que tudo o que se lê naquela narração histórica tenha ocorrido naquele tempo assim como foi escrito, e os próprios historiadores a que emprestamos fé não ignoravam esta diferença.

Diz o profeta: “Se não credes, não entendereis”, e certamente não diria isto se não tivesse por necessário estabelecer uma diferença entre as duas coisas.

Por isso, creio tudo o que entendo, mas nem tudo o que creio entendo.
Conheço tudo o que compreendo, mas nem tudo o que creio, conheço.

Eu sei quanto é útil crer também em muitas coisas que não conheço, utilidade que se aplica também na história dos três jovens.
Como não posso saber a maioria das coisas, sei porém que é útil acreditar nelas.
Quanto às coisas que compreendemos, não consultamos a voz de quem fala, que é exterior, mas a verdade que dentro de nós reside, em nossa mente, estimulados talvez pelas palavras a consultá-la. Quem é consultado ensina em verdade, e este é o Cristo que habita, como foi dito, no homem interior, isto é, a virtude única de Deus e a eterna Sabedoria, que toda alma racional consulta, mas que se revela ao homem na medida da sua própria boa ou má vontade.
E se ocorre o erro, isto não acontece por falha da verdade consultada, como não é por erro da luz externa que os olhos se enganam, esta luz que consultamos a respeito das coisas visíveis, para que no-las torne claras na proporção em que nos é permitido distingui-las.

CAPÍTULO XII

CRISTO É A VERDADE QUE ENSINA INTERIORMENTE

AGOSTINHO
– Ora, se para as cores precisamos de luz, e para as outras coisas que o nosso corpo percebe, interpelamos os elementos do mundo, os objectos percebidos e os próprios sentidos são instrumentos de que a mente se serve para conhecer as coisas externas.
Todavia, para aquelas coisas que conhecemos pela inteligência consultamos, por meio da razão, a verdade interior, e o que diremos, para que fique claro, senão que, pelas palavras, nada mais aprendemos além do som que atinge nosso ouvido?
Pois todas as coisas que percebemos, ou são apanhadas pelos sentidos físicos ou pela mente.
Chamamos às primeiras “sensíveis”, e às segundas “inteligíveis” ou, para usar a linguagem de nossos autores, às primeiras “carnais” e às segundas “espirituais”.
Quanto às primeiras, se estiverem ao nosso alcance podemos responder, como quando estamos olhando a lua, e alguém nos pergunte o que é ou onde ela está.
Neste caso, quem pergunta, se não enxergam acredita ou não nas nossas palavras, mas não aprende de modo algum, a menos que também veja o que lhe está sendo afirmado e, nesse caso, não aprende pelo simples som das palavras, mas pelas coisas mesmas e que ferem seus sentidos.
As palavras, pois, têm o mesmo som para quem vê, como para quem não vê.
Se porém somos indagados, não sobre as coisas presentes, mas sobre as que percebemos outrora, respondendo, não fazemos referencias às mesmas, mas às suas imagens gravadas em nossa memória, não sei como poderíamos chamar tais imagens de verdadeiras, pois percebemos serem falsas, a não ser que acrescentemos que a sua visão e percepção não são atuais, mas pretéritas.
Portanto, nós gravamos nos meandros da memória as imagens como documentos das coisas que percebemos, contemplando-as com honestidade na nossa mente, não mentimos quando falamos.
Mas estes são documentos válidos só para nós, pois quem nos ouve, se as percebeu ou presenciou, não as aprende pelas minhas palavras, mas as reconhece nas imagens que também levou consigo, todavia, se nunca as percebeu, todos concordarão que ele mais do que aprender, crê nas palavras.

Tratando das coisas que percebemos pela mente, isto é, por meio do intelecto e da razão, estamos ainda tratando de coisas que temos como presentes, sob a luz interior da verdade, que ilumina o homem interior, que dela desfruta.
Mas também aqui o nosso interlocutor conhece o que eu digo pela sua própria contemplação, e não mediante as minhas palavras, posto que ele também veja por si a mesma coisa com olhos interiores e simples.

Portanto, nem sequer a este, que vê as coisas na verdade, ensino algo dizendo-lhe a verdade, uma vez que não aprende pelas minhas palavras, mas pelas próprias coisas que Deus a ele revela em seu interior, e ele, interrogado sobre elas, sem mais, poderia responder. Ora, haverá absurdo maior que acreditar que minhas palavras possam ter instruído aquele que, interrogado antes de minha preleção, poderia responder sobre o assunto?

O caso, que ocorre com frequência, de alguém interrogado negar algo e depois, estimulado por ulteriores perguntas, vir a concordar, depende da fraqueza da sua visão que não pode abarcar todas as coisas pela luz interior, e a isto sendo levado, por partes sucessivas, pelas perguntas inerentes às mesmas partes de uma verdade única, que ele não podia intuir, de uma só vez, no seu conjunto.
Se chegar isso por meio das perguntas, não significa que as palavras lhe ensinaram alguma coisa, mas apenas que lhe ofereceram um meio, uma capacitação para enxergar no seu interior.
Seria assim se eu te arguisse sobre o que estamos tratando agora, isto é, se é possível ensinar algo pelas palavras, e tu, na incapacidade de abranger com a mente a questão inteira, julgasses, no primeiro momento, absurda a pergunta.
Por isso, foi preciso apresentar a pergunta na medida da tua capacidade de ouvir o mestre interior, e dizer-te as coisas que, quando ouves, confessas com certeza serem verdadeiras e que afirmas conhecê-las bem, onde aprendeste?
Responderias, talvez, que fui eu quem tas ensinou?
E então eu perguntaria:
Como?
Se eu te afirmasse ter visto um homem voando, as minhas palavras dar-te-iam tanta certeza como se me ouvisses dizer que os homens sábios são melhores que os tolos?

Certamente, depois de negar, responderias não acreditar na primeira ou, mesmo que acreditasses, que ela é para ti completamente desconhecida, e no entanto que sabes com certeza a segunda.
Compreenderias pois com clareza que nada aprendeste com minhas palavras: nem aquilo que ignoravas, nem aquilo que já sabias otimamente, pois jurarias, ao ser interrogado parte por parte sobre as duas coisas, que a primeira te era desconhecida e a segunda, conhecida.
E então chegarias a admitir tudo o que antes negavas ao reconhecer como claras e certas as partes que compõem a questão, isto é, que a respeito de tudo o que falamos, quem nos está ouvindo ou desconhece se não verdadeiras, ou sabe que são falsas, ou sabe que são verdadeiras.

No primeiro caso, ou crê, ou opina, ou duvida, no segundo, nega, no terceiro, afirma, mas em nenhum dos três aprende.
Tanto aquele que depois de me ouvir ignora a coisa, como quem reconhece que ouviu falsidades e como quem, interrogado, poderia repetir o que foi dito, demonstra que nada aprendeu pelas minhas palavras.

(Revisão trad. portuguesa e grafismo por ama)


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