TEMA 31. O Decálogo. O primeiro mandamento
2. O primeiro mandamento
O
primeiro mandamento é duplo: o amor a Deus e o amor ao próximo por amor de
Deus. «”Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?” Jesus disse-lhe: “Amarás ao
Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua
mente. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante: Amarás
ao teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e
os Profetas”» (Mt 22,36-40).
Este
amor chama-se caridade. Com este termo também se designa a virtude teologal
cujo acto é o amor a Deus e aos outros por Deus. A caridade é um dom que o
Espírito Santo infunde naqueles que são filhos adoptivos de Deus (cf. Rm
5,5). A caridade há-de crescer ao longo da vida nesta terra por acção do
Espírito Santo e com a nossa cooperação: crescer em santidade é crescer na
caridade. A santidade não é outra coisa senão a plenitude da filiação divina e
da caridade. Esta pode diminuir pelo pecado venial e mesmo perder-se pelo
pecado mortal. A caridade tem uma ordem: Deus, os outros (por amor de Deus) e
nós mesmos (por amor de Deus).
O amor de Deus
Amar
a Deus como filhos significa:
a)
Escolhê-Lo como o fim último de tudo o que fazemos. Actuar em tudo por amor e
para a sua glória: «Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa,
fazei tudo para glória de Deus» (1 Cor 10,31). «Deo omnis gloria. -
Para Deus toda a glória» 3. Não deve haver um fim mais elevado do
que este. Nenhum amor se pode colocar acima do amor de Deus: «Quem amar o pai
ou a mãe mais do que a mim, não é digno de mim. Quem amar o filho ou filha mais
do que a mim, não é digno de mim» (Mt 10,37). «Não há amor, senão o
Amor!» 4. Não pode existir um verdadeiro amor que exclua ou
postergue o amor de Deus.
b)
Cumprir a vontade de Deus com obras: «Nem todo o que me diz: ‘Senhor, Senhor’
entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está
no Céu» (Mt 7,21). A vontade de Deus é que sejamos santos (cf.
1 Ts 4,3), que sigamos Cristo (cf. Mt 17,5), cumprindo os seus
mandamentos (cf. Jo 14,21). «Queres deveras ser santo? – Cumpre o
pequeno dever de cada momento faz o que deves e está no que fazes» 5.
Cumpri-la também quando exige sacrifício: «Não se faça a minha vontade, mas a
tua» (Lc 22,42).
c)
Corresponder ao seu amor por nós. Ele amou-nos primeiro, criou-nos livres e
fez-nos seus filhos (cf. 1 Jo 4,19). O pecado é rejeitar o amor de
Deus (cf. Catecismo, 2094); todavia Ele perdoa sempre, entrega-se
continuamente a cada um de nós. «É nisto que está o amor: não fomos nós que
amámos a Deus, mas foi Ele mesmo que nos amou e enviou o seu Filho como vítima
de expiação pelos nossos pecados» (1 Jo 4,10; cf. Jo 3,16). Ele
«amou-me e a si mesmo entregou-se por mim» (Gl 2,20). «Para
corresponder a tanto amor, é preciso que haja da nossa parte uma entrega total
do corpo e da alma» 6. Não se trata de um sentimento, mas de uma
determinação da vontade que pode estar ou não acompanhada de afectos.
O
amor a Deus leva-nos a procurar o diálogo pessoal com Ele. Esse diálogo é
oração que por sua vez é amor. Pode revestir diversas formas 7:
a)
«A adoração é a primeira atitude do homem que se reconhece criatura diante do
seu Criador (Catecismo, 2628). É a atitude mais fundamental da
religião (cf. Catecismo, 2095). «Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só
a Ele prestarás culto» (Mt 4,10). A adoração a Deus liberta-nos das
diversas formas de idolatria que conduzem à escravidão. «Que a tua oração seja
sempre um sincero e real acto de adoração a Deus» 8.
b)
A acção de graças (cf. Catecismo, 2638), porque tudo o que temos e
somos, d’Ele o recebemos para Lhe dar glória: «Que tens tu que não tenhas
recebido? E, se o recebeste, porque te glorias, como se não o tivesses
recebido?» (1 Cor 4,7).
c)
A petição, a qual tem dois modos: o pedido de perdão pelo que nos separa de
Deus (o pecado) e o pedido de ajuda para nós mesmos e para os outros, bem como
para toda a Igreja e a humanidade inteira. Estas duas formas de petição
manifestam-se no Pai Nosso: «…o pão nosso de cada dia nos dai hoje; perdoai-nos
as nossas ofensas…». A petição do cristão está cheia de segurança, porque «foi
na esperança que fomos salvos» (Rm 8,24) e porque é um rogo filial,
por meio de Cristo: «se pedirdes alguma coisa ao Pai em meu nome, Ele vo-la
dará» (Jo 16,23; cf. 1 Jo 5,14-15).
O
amor manifesta-se também com o sacrifício, inseparável da oração: «a oração
valoriza-se com o sacrifício» 9. O sacrifício é o oferecimento a
Deus de um bem sensível, em sua homenagem, como expressão da entrega interior
da própria vontade, quer dizer, da obediência a Cristo. Cristo redimiu-nos pelo
Sacrifício da Cruz, que manifesta a sua perfeita obediência até à morte (cf.
Fl 2,8). Os cristãos como membros de Cristo, podem co-redimir com Ele,
unindo os nossos sacrifícios aos seus na Santa Missa (cf. Catecismo, 2100).
A
oração e o sacrifício constituem o culto a Deus. Chama-se culto de latria ou
adoração, para o distinguir do culto aos anjos e aos santos, que é de dulia ou
veneração, e do culto com que se honra Nossa Senhora, chamado hiperdulia (cf.
Catecismo, 971). O acto de culto por excelência é a Santa Missa,
prenúncio da liturgia celeste. O amor de Deus deve manifestar-se na dignidade
do culto: observância das prescrições da Igreja, «urbanidade da piedade» 10,
cuidado e limpeza dos objectos. «Aquela mulher que, em casa de Simão o leproso,
em Betânia, unge com rico perfume a cabeça do Mestre, recorda-nos o dever de
sermos magnânimos no culto de Deus. – Todo o luxo, majestade e beleza me
parecem pouco» 11.
javier lópez
Bibliografia
básica:
Catecismo
da Igreja Católica, 2064-2132.
Leituras
recomendadas:
Bento
XVI, Enc. Deus Caritas est, 1-18, 25-XII-2005.
Bento
XVI, Enc. Spe Salvi, 30-XI-2007.
S.
Josemaria, Homilias «Vida de Fé», «A Esperança do cristão», «Com a força do
amor», em Amigos de Deus.
(Resumos
da Fé cristã: © 2013, Gabinete de Informação do Opus Dei na Internet)
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Notas:
3
S. Josemaria, Caminho, 780.
4
Ibidem, 417.
5
Ibidem, 815; cf. Ibidem 933.
6
S. Josemaria, Cristo que Passa, 87.
7
Cf. S. Josemaria, Caminho, 91.
8
S. Josemaria, Forja, 263.
9
S. Josemaria, Caminho, 81.
10
Ibidem, 541.
11
Ibidem, 527; cf. Mt 26, 6-13.
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