Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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22 Imediatamente Jesus obrigou os Seus
discípulos a subir para a barca e a passarem antes d'Ele à outra margem do
lago, enquanto despedia a multidão. 23 Despedida esta, subiu a um
monte para orar a sós. Quando chegou a noite, achava-Se ali só. 24
Entretanto a barca no meio do mar era batida pelas ondas, porque o vento era
contrário. 25 Ora, na quarta vigília da noite, Jesus foi ter com
eles, andando sobre o mar. 26 Os discípulos, quando O viram andar
sobre o mar, assustaram-se e disseram: «É um fantasma». E, com medo, começaram
a gritar. 27 Mas Jesus falou-lhes imediatamente dizendo: «Tende
confiança: sou Eu, não temais». 28 Pedro, tomando a palavra, disse:
«Senhor, se és Tu, manda-me ir até onde estás por sobre as águas». 29
Ele disse: «Vem!». Descendo Pedro da barca, caminhava sobre as águas para ir
ter com Jesus. 30 Vendo, porém, que o vento era forte, teve medo e,
começando a afundar-se, gritou, dizendo: «Senhor salva-me!». 31
Imediatamente Jesus, estendendo a mão, segurou-o e disse-lhe: «Homem de pouca
fé, porque duvidaste?». 32 Depois que subiram para a barca, o vento
cessou. 33 Os que estavam na barca prostraram-se diante d'Ele,
dizendo: «Verdadeiramente Tu és o Filho de Deus». 34 Tendo
atravessado o lago, foram para a terra de Genesaré. 35 Tendo-O
reconhecido o povo daquele lugar, mandaram prevenir toda aquela região, e
apresentaram-Lhe todos os doentes. 36 Estes rogavam-Lhe que os
deixasse tocar, ao menos, a orla do Seu vestido. E todos os que a tocaram
ficaram curados.
CONFISSÕES SANTO AGOSTINHO
LIVRO NONO
CAPÍTULO IX
Esposa e mãe exemplar
Educada assim na modéstia e na temperança, mais sujeita a seus pais pela
tua mão que por seus pais a ti, logo que chegou à idade núbil, foi dada em matrimónio
a um homem, a quem serviu como a senhor. Procurou conquistá-lo para ti,
falando-lhe de ti com as suas virtudes, com as quais tu a tornavas bela e
reverentemente amável e admirável ante seus olhos. Suportou as suas infidelidades
conjugais com tanta paciência, que jamais teve com ele a menor briga por isso,
pois esperava que a tua misericórdia viria sobre ele, e que lhe trouxesse, com
a fé, a castidade.
O seu marido, se de um lado era sumamente afectuoso, por outro era
extremamente colérico, mas ela tinha o cuidado de não contrariá-lo nem com acções,
nem com palavras, se o visse irado.
Logo que o via calmo e sossegado, oportunamente, mostrava-lhe o que
havia feito, se por acaso se tivesse irritado desmedidamente.
Muitas senhoras, embora tendo maridos mais calmos, traziam no rosto as
marcas das pancadas que as desfiguravam. Conversando entre amigas, lamentavam a
conduta dos maridos.
Minha mãe reprovava-lhes a língua e, como por gracejo, lembrava-lhes
que, desde a leitura do contrato matrimonial, deviam considerá-lo como
documento que as tornava servas, e portanto proibia-lhes de serem altivas com os
seus senhores. Essas senhoras, que conheciam o mau génio do seu marido,
admiravam-se de que jamais ninguém tivesse ouvido ou percebido qualquer indício
que Patrício maltratasse a mulher, nem sequer que algum dia tivessem brigado
por questões domésticas. E como lhe pedissem confidencialmente a razão disso,
minha mãe expunha-lhes seu agir habitual, como acima mencionei. Algumas, após
experimentar, punham-no em prática e davam-lhe graças, as que não a imitavam
continuavam a sofrer humilhações e violências.
A sua sogra, a princípio irritara-se contra ela por causa dos mexericos
de criadas malévolas.
Mas conseguiu conquistá-la com respeito, contínua tolerância e mansidão,
que ela mesma, espontaneamente, denunciou ao filho as línguas intrigantes das
criadas, que perturbavam a paz doméstica entre ela e a nora, e pediu que as
castigasse.
Ele, em obediência à mãe, para manter a disciplina familiar e a harmonia
entre os seus, mandou açoitar as acusadas, segundo a vontade da acusante, e
esta prometeu-lhes ainda que esse era o prémio que devia esperar quem, querendo
agradá-la, lhe dissesse mal da nora. E ninguém mais se atreveu a fazê-lo, e
viveram as duas em doce e memorável harmonia.
A esta tua boa serva, em cujo seio me criaste, ó meu deus, minha
misericórdia, dotaste de outra grande virtude: a de intervir como pacificadora,
sempre que podia, nas discórdias e querelas.
Daquilo que ouvia de queixas amargas, vomitadas com animosidade
ressentida, quando na presença de uma amiga os ódios mal digeridos se desafogam
em amargas confidencias a respeito de uma amiga ausente, ela nada referia uma à
outra, senão o que poderia servir para a reconciliação.
Este dom parecer-me-ia de pouca monta se uma triste experiência não me
houvesse mostrado grande número de pessoas – por não sei que horrível contagio
de pecados, espalhados por toda parte – que não só revelam as palavras pesadas
de inimigos irados, mas que ainda acrescentam coisas que não foram ditas. Quem
fosse realmente humano, deveria ter em pouca conta ou não excitar nem fomentar
as inimizades dos homens, e melhor ainda procurar extingui-las com boas
palavras.
Assim era minha mãe, ensinada por ti, mestre interior, na escola de seu
coração.
Por fim, conquistou para ti o seu marido, já no fim da vida, não tendo
que lamentar no cristão o que havia tolerado no infiel.
Ela era verdadeiramente a serva de teus servos, e todos os que a
conheciam te louvavam, honravam, te amavam em sua pessoa, porque percebiam tua
presença em seu coração, confirmada pelos frutos de uma vida santa.
Havia sido mulher de um só homem, cumprira sua dívida de gratidão com os
pais, governara sua casa piedosamente e dava testemunho com suas boas obras.
Educara os filhos, dando-os à luz tantas vezes quantas os via apartarem-se de
ti.
E de nós, que nos chamamos teus servos por liberalidade tua, nós que
vivemos em comum na graça de teu baptismo, antes de adormecer em tua paz, ela
cuidou de nós como se todos fôssemos seus filhos, e de tal modo nos serviu como
se fosse filha de cada um de nós.
CAPÍTULO X
O êxtase de Óstia
Estando já próximo o dia em que teria de partir desta vida – que tu,
Senhor, conhecias, e nós ignorávamos – sucedeu, creio, por disposição de teus
ocultos desígnios – que nos encontrássemos sós, eu e ela, apoiados numa janela
que dava para o jardim interior da casa em que morávamos. Era em Óstia, sobre a
foz do Tibre, onde, longe da multidão, depois do cansaço de uma longa viagem,
recobrávamos forças para a travessia do mar.
Ali, sozinhos, conversávamos com grande doçura, esquecendo o passado,
ocupados apenas no futuro, indagávamos juntos, na presença da Verdade, que és
tu, qual seria a vida eterna dos santos, que nem os olhos viram, nem os ouvidos
ouviram, nem o coração do homem pode conceber. Abríamos ansiosos os lábios do
nosso coração ao jorro celeste de tua fonte – da fonte da vida que está em ti –
para que, banhados por ela, pudéssemos de algum modo meditar sobre coisa tão
transcendente.
A nossa conversa chegou à conclusão que nenhum prazer dos sentidos
carnais, por maior que seja, e por mais brilhante e maior que seja a luz
material que a cerca, não parece digno de ser comparado à felicidade daquela
vida em ti. Elevando nosso sentimento para mais alto, mais ardentemente em
direção ao próprio Ser, percorremos uma a uma todas as coisas corporais, até o próprio
céu, de onde o sol, a luz e as estrelas iluminam a terra.
E subimos ainda mais em espírito, meditando, celebrando e admirando tuas
obras, e chegamos até o íntimo de nossas almas. E fomos além delas, para
alcançar a região da abundância inesgotável, onde apascentas eternamente a
Israel com o alimento da verdade, lá onde a vida é a própria Sabedoria, por
quem foram criadas todas as coisas, as que já existem e as vindouras, sem que
ela própria se crie a si mesma, pois existe agora como antes existiu e como
sempre existirá. Antes, nela não há nem passado, nem futuro: ela apenas é, porque
é
eterna, mas ter sido ou haver de ser não é próprio do ser eterno.
E enquanto assim falávamos dessa Sabedoria e por ela suspirávamos,
chegamos a tocá-la momentaneamente com supremo ímpeto de nosso coração, e,
suspirando, deixando ali atadas as primícias do nosso espírito, e voltamos ao
ruído vazio dos nossos lábios, onde nasce e morre a palavra humana, em nada
semelhante ao teu Verbo, Senhor nosso, que subsiste em si sem envelhecer,
renovando todas as coisas!
E dizíamos: Suponhamos que se calasse o tumulto da carne, as imagens da
terra, da água, do ar e até dos céus, e que a própria alma se calasse, e se
elevasse sobre si mesma não pensando mais em si, se calassem os sonhos e
revelações imaginarias e, por fim, se calasse por completo toda língua, todo
sinal, e tudo o que é fugaz – uma vez que todas as coisas dizem a quem sabe
ouvi-las: Não nos fizemos a nós mesmas, fez-nos o que permanece eternamente –
se, dito isto, todas se calassem, atentas a seu Criador, e se só ele falasse,
não por suas obras, mas por si mesmo, de modo que ouvíssemos sua palavra, não
por uma língua material, nem pela voz de um anjo, nem pelo ruído do trovão, nem
por parábolas enigmáticas, mas o ouvíssemos a ele mesmo, a quem amamos nas suas
criaturas, mas sem o intermédio delas, como agora acabamos de experimentar,
atingindo em um relance a eterna Sabedoria, que permanece imutável sobre toda realidade,
e supondo que essa visão se prolongasse, que todas as outras visões cessassem,
e unicamente esta arrebatasse a alma de seu contemplador, e a absorvesse e
abismasse em íntimas delícias, de modo que a vida eterna seja semelhante a este
momento de intuição que nos fez suspirar, não seria isto a realização do entrar
em gozo de teu Senhor?
Mas quando se dará isto?
Por acaso quando todos ressuscitarmos?
Mas então não seremos todos transformados?
Tais coisas dizíamos, embora não deste modo, nem com estas palavras.
Mas tu sabes, Senhor, que naquele dia, à medida que falávamos dessas
coisas, quanto nos parecia vil este mundo, com todos os seus deleites –
disse-me minha mãe:
“Filho, quanto a mim, já nada me atrai nesta vida. Não sei o que faço
ainda aqui, nem por que ainda estou aqui, se já se desvaneceram para mim todas
as esperanças do mundo.
Uma só coisa me fazia desejar viver um pouco mais, e era ver-te católico antes de morrer.
Deus concedeu-me esta graça superabundantemente, pois te vejo desprezar
a felicidade terrena para servi-lo. Que faço, pois, aqui?”
CAPÍTULO XI
A morte de MÓNICA
Não me lembro bem o que respondi a tais palavras. Mas cerca de cinco
dias mais tarde, ou pouco mais, caiu de cama, com febre. Durante a doença, teve
um dia um desmaio, ficando por pouco tempo sem sentidos e sem reconhecer os
presentes. Acudimos de imediato, e logo voltou a si. Vendo-nos a seu lado, a
mim e a meu irmão (chamava-se Navígio, e era o mais velho dos irmãos),
perguntou-nos, como quem procura algo: “Onde estava eu?” – Depois, vendo-nos
atónitos de tristeza, disse-nos: “Sepultareis aqui a vossa mãe” – Eu calava-me,
retendo as lágrimas, mas meu irmão disse umas palavras em que desejava vê-la
morrer na pátria e não em terras distantes. Ao ouvi-lo, minha mãe repreendeu-o
com o olhar, e aflita por ter pensado em tais coisas, depois, olhando para mim,
disse: “Vê o que ele diz” – E depois para ambos: “Sepultem este corpo em
qualquer lugar, e não se preocupem mais com ele. Peço apenas que se lembrem de
mim diante do altar do Senhor, onde quer que estejam”.
E tendo-nos exposto o seu pensamento com as palavras que pôde, calou-se,
a sua moléstia agravou-se e suas dores aumentaram.
Mas eu, ó Deus invisível, meditando nos dons que infundes no coração dos
teus fiéis, e nas admiráveis colheitas que deles brotam, alegrava-me e dava-te
graças. Lembrava-me do grande cuidado que sempre demonstrara acerca de sua
sepultura, adquirida e preparada junto ao corpo do marido. Tendo vivido com ele
na maior concórdia, assim também queria – visão própria da alma humana incapaz
das coisas divinas – ter a felicidade de que os homens recordassem que, depois
de sua viagem para além-mar, lhe fora concedida a graça de a mesma terra cobrir
o pó de ambos os cônjuges.
Quando esta vaidade havia deixado de existir no seu coração, pela
plenitude de tua bondade, eu não o sabia, mas alegrava-me com admiração ao
ouvi-la falar assim. No entanto, naquela conversa à janela quando me disse:
“Que faço eu aqui?” – já estava patente que não mais desejava morrer na pátria.
Soube também depois que em Óstia, estando eu ausente, falou certo dia
com alguns amigos meus, com maternal confiança, sobre o desprezo desta vida e o
benefício da morte. Eles, maravilhados da coragem dessa mulher – dádiva tua –
perguntaram-lhe se não temia deixar o corpo tão longe da pátria. “Nada está
longe para Deus – disse ela – nem preciso temer que ele ignore, no fim dos
tempos, o lugar onde me ressuscitará”.
Por fim, nove dias após cair enferma, aos cinquenta e seis anos de idade
e aos trinta e três da minha, aquela alma santa e piedosa libertou-se do corpo.
(Revisão trad. portuguesa e grafismo por ama)
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