Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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22 Então trouxeram-Lhe um endemoninhado,
cego e mudo, e Ele curou-o, de modo que falava e via. 23 E as
multidões ficaram admiradas e diziam: «Não será este o Filho de David?». 24
Mas os fariseus, ouvindo isto, disseram: «Este não expulsa os demónios senão
por virtude de Belzebu, príncipe dos demónios». 25 Porém, Jesus,
conhecendo os pensamentos deles, disse-lhes: «Todo o reino dividido contra si
mesmo será destruído; e toda a cidade ou família dividida contra si mesma não
subsistirá. 26 Ora, se Satanás expulsa a Satanás, está dividido
contra si mesmo; como subsistirá, então, o seu reino? 27 E se Eu
expulso os demónios por virtude de Belzebu, por virtude de quem os expulsam os
vossos filhos? Por isso é que eles serão os vossos juízes. 28 Se Eu,
porém, expulso os demónios pela virtude do Espírito de Deus, chegou a vós o
reino de Deus. 29 Como pode alguém entrar na casa de um valente, e
saquear os seus móveis, se antes não prender o valente? Só então lhe poderá
saquear a casa. 30 Quem não é comigo é contra Mim; e quem não junta
comigo, desperdiça. 31 «Por isso vos digo: Todo o pecado e blasfémia
será perdoado aos homens, mas a blasfémia contra o Espírito Santo não será perdoada.
32 Todo aquele que disser alguma palavra contra o Filho do Homem,
ser-lhe-á perdoado; porém, o que a disser contra o Espírito Santo, não se lhe
perdoará, nem neste mundo nem no futuro. 33 Ou dizeis que a árvore é
boa e o seu fruto bom, ou dizeis que a árvore é má e o seu fruto mau, porque
pelo fruto se conhece a árvore. 34 Raça de víboras, como podeis
dizer coisas boas, vós que sois maus? Porque a boca fala da abundância do
coração. 35 O homem bom tira boas coisas do seu bom tesouro, e o
homem mau tira coisas más do seu mau tesouro. 36 Ora Eu digo-vos que
de qualquer palavra inútil que tiverem proferido os homens, darão conta dela no
dia do juízo. 37 Porque pelas suas palavras será justificado ou
condenado». 38 Então replicaram-Lhe alguns dos escribas e fariseus,
dizendo: «Mestre, nós desejávamos ver algum prodígio Teu». 39 Ele
respondeu-lhes: «Esta geração má e adúltera pede um prodígio, mas não lhe será
dado outro prodígio senão o prodígio do profeta Jonas. 40 Porque,
assim como Jonas esteve no ventre da baleia três dias e três noites, assim
estará o Filho do Homem três dias e três noites no seio da terra. 41
Os habitantes de Nínive se levantarão no dia do juízo contra esta geração, e a
condenarão, porque se converteram com a pregação de Jonas. Ora aqui está Quem é
mais do que Jonas. 42 A rainha do Meio-Dia levantar-se-á no dia do
juízo contra esta geração e a condenará, porque veio dos confins da terra para
ouvir a sabedoria de Salomão. Ora aqui está Quem é mais do que Salomão. 43
«Quando o espírito imundo saiu de um homem, anda errando por lugares áridos, à
busca de repouso, e não o encontra. 44 Então diz: Voltarei para
minha casa, donde saí. E, quando vem, a encontra desocupada, varrida e adornada.
45 Então vai e toma consigo outros sete espíritos piores do que ele
e, entrando, habitam ali; e o último estado daquele homem torna-se pior que o
primeiro. Assim também acontecerá a esta geração perversa». 46
Estando Ele ainda a falar ao povo, eis que Sua mãe e Seus irmãos se achavam
fora, desejando falar-Lhe. 47 Alguém disse-Lhe: «Tua mãe e Teus
irmãos estão ali fora e desejam falar-Te». 48 Ele, porém, respondeu
ao que falava: «Quem é a Minha mãe e quem são os Meus irmãos?» 49 E,
estendendo a mão para os Seus discípulos, disse: «Eis Minha mãe e Meus irmãos.50
Porque todo aquele que fizer a vontade de Meu Pai que está nos céus, esse é Meu
irmão e Minha irmã e Minha mãe».
CONFISSÕES SANTO AGOSTINHO
LIVRO OITAVO
CAPÍTULO VI
A narração de Ponticiano
Agora contarei de que modo me arrancaste do vínculo do desejo carnal,
que me prendia fortemente, e da servidão dos negócios do mundo, e confessarei
teu nome, ó Senhor, meu auxílio e minha redenção.
Levava a minha vida habitual com angústia crescente, todos os dias
suspirava por ti, frequentava a tua igreja, quando me deixavam livre os negócios,
cujo peso me fazia sofrer.
Comigo estava Alípio, desonerado do cargo de jurisconsulto, depois de
ter sido assessor pela terceira vez. Ele aguardava a quem vender de novo os seus
conselhos, como eu vendia a arte da eloquência, se é que pelo ensino a podemos
transmitir.
Nebrídio, por sua vez, acedendo às nossas solicitações amigas, auxiliava
na escola o nosso amigo íntimo, Verecundo, este, gramático e cidadão milanês,
desejava enormemente, e instava-nos em nome da amizade, que um de nós lhe
prestasse uma fiel colaboração, pois dela muito necessitava.
Não foi, pois, o interesse que moveu a Nebrídio – que poderia auferir
bem mais vantagens se ensinasse as letras – mas, como grande amigo que era, não
quis recusar o nosso pedido em obséquio à amizade.
Agia, porém, com muita prudência, evitando fazer-se conhecido dos poderosos
deste mundo, para evitar as inquietações do espírito que ele queria manter o
mais possível livre e desocupado para investigar, ler ou ouvir algo sobre a
sabedoria.
Certo dia em que Nebrídio estava ausente, não sei por que motivo, Alípio
e eu recebemos a visita de um tal Ponticiano, nosso compatriota da África, que
servia em alto cargo do palácio.
Não sei mais o que queria de nós.
Sentamo-nos para conversar, e, por acaso, deu com os olhos num livro que
estava sobre a mesa de jogo, à nossa frente. Pegou nele, abriu-o, viu que eram
as epístolas de Paulo e ficou surpreso, pois pensava que se tratasse de algum
dos livros cujo estudo me preocupava.
Então sorriu para mim e, cumprimentando-me, manifestou-me a sua
admiração por ter encontrado aquele livro, e só aquele, ao alcance dos seus
olhos.
Ponticiano era um cristão fiel, e muitas vezes prostrava-se diante de
ti, nosso Deus, na igreja, em frequentes e prolongadas orações.
E quando lhe declarei que aquele livro ocupava o melhor da minha
atenção, tomando a palavra, começou a falar-nos de Antão, monge do Egipto, cujo
nome era celebrado entre teus fiéis, mas que nós desconhecíamos até aquela
hora. Informado disto, continuou a falar, revelando esse grande homem à nossa
ignorância, que ele muito admirou.
Ouvíamos, estupefactos, tuas autênticas maravilhas, realizadas na
verdadeira fé, na Igreja Católica, tão recentes e quase contemporâneas. Todos
nos admirávamos, nós, por serem coisas tão grandes, e ele, por ser-nos tão
desconhecidas.
Depois, passou a falar das multidões que vivem em mosteiros, e dos seus
costumes, que trazem o teu doce perfume, e da fecunda solidão do ermo, tudo coisas
que desconhecíamos.
Até em Milão havia, fora dos muros, um mosteiro cheio de bons irmãos sob
a direcção de Ambrósio, que também desconhecíamos.
Ponticiano prosseguia, e falava sempre mais, e nós o ouvíamos atentos e
calados. E assim veio a contar-nos que um dia, não sei quando, estando em
Tréveris, saiu em companhia de três companheiros, enquanto o imperador se
concentrava nos jogos circenses da tarde, para dar um passeio pelos jardins que
rodeavam os muros da cidade. Distraidamente passeando dois a dois, um com
Ponticiano, e os outros dois juntos, separaram-se e tomaram caminhos
diferentes.
Caminhando a esmo, estes últimos deram com uma cabana, habitada por
alguns servos teus, pobres de espírito, a quem pertence o reino dos céus. Lá
encontraram um exemplar manuscrito da Vida de Santo Antão. Um deles começou a
lê-lo, e, admirado e arrebatado cogitou, enquanto lia, em abraçar aquele género
de vida, abandonando o serviço do mundo, para servir unicamente a ti.
Estes dois eram os chamados agentes de negócios do imperador.
De repente, tomado de amor santo e casto pudor, irado consigo mesmo,
olha para o companheiro, e diz-lhe: “Diz-me, te peço, onde pretendemos chegar
com todos estes nossos trabalhos?
Que buscamos?
Qual a finalidade do nosso labor?
Podemos aspirar mais no palácio do que ser amigos do imperador?
E mesmo nisto, quanta incerteza, quantos perigos!
E quantos perigos teremos de passar para chegar a um perigo ainda maior?
E quando chegaremos a isso?
Mas, se eu quiser ser amigo de Deus, posso sê-lo agora mesmo”.
Disse essas palavras, e exaltado pela gestação da nova vida voltou os
olhos para o livro, ao ler, transformava-se interiormente, o que só tu sabias,
e seu espírito se despia do mundo, como logo se evidenciou.
Enquanto lia, o coração tornou-se-lhe um mar tempestuoso, sentiu um
estremecimento e, intuindo o melhor caminho a tomar, resolveu abraçá-lo, dizendo
ao amigo:
“Já rompi com nossos sonhos: decidi dedicar-me ao serviço de Deus, e
isso quero começar aqui e agora. Se não me queres imitar, ao menos não me
contraries”.
O amigo respondeu que desejava ficar com ele, e ser companheiro de tão
nobre mercê e de tão grande combate. Ambos já te pertenciam, e começavam a
construir, com capital suficiente, uma torre de salvação, a tudo renunciando
para te seguir.
Então Ponticiano e o seu companheiro, que passeavam noutro local do
jardim, procurando-os, deram também com a mesma cabana, e os avisaram para que
voltassem, pois já entardecia. Mas eles, relataram-lhes a sua determinação e
propósito, e o modo como nascera e se fixara neles tal desejo, pediram-lhes
que, se não quisessem juntar-se a eles, que não os molestassem.
Mas estes, sem se converterem, lamentaram-se a si mesmos, no dizer de
Ponticiano, e felicitando-os piedosamente, recomendaram-se às suas orações,
depois, arrastando o coração pela terra, voltaram ao palácio, enquanto que os
convertidos, fixando seu coração no céu, ficaram na cabana.
Ambos eram noivos, mas, quando as suas noivas ouviram o sucedido, também
te consagraram a sua virgindade.
CAPÍTULO VII
A reação de Agostinho
Eis o que Ponticiano nos relatou.
E tu, Senhor, enquanto ele falava, me fazias refletir, tirando-me da
posição de costas, em que me colocara para não me ver a mim mesmo.
Tu me colocavas diante do meu próprio rosto para que visse como estava
indigno, disforme, sórdido, manchado e ulceroso.
Eu via-me, e enchia-me de horror, mas não tinha para onde fugir de mim
mesmo.
Se tentava afastar o olhar de mim mesmo, Ponticiano prosseguia com a
narração, e de novo me punhas diante de mim, e me empurravas diante dos meus
olhos, para que eu descobrisse a minha iniquidade e a odiasse.
Eu bem a conhecia, mas dissimulava-a, fingia não ver, esquecia.
E quanto mais ardentemente amava aqueles jovens, cuja salutar decisão
ouvia relatar, por se terem entregue completamente a ti para que os curasses,
tanto mais acerbamente me odiava ao comparar-me com eles. Com efeito, já tinham
decorrido muitos anos – talvez uns doze – desde que, ao dezanove anos, lendo o
Hortênsio de Cícero, me sentira atraído para o estudo da sabedoria.
Ia adiando a hora de abandonar a felicidade meramente terrena, quando
não somente a sua descoberta, mas a sua própria busca, deveria ser preferida
aos maiores tesouros do mundo e aos maiores prazeres corporais, que a um aceno,
afluíam a meu redor.
Mas eu, jovem miserável, sim, miserável desde o despertar da juventude,
já te havia pedido a castidade, dizendo:
“Dá-me castidade e continência, mas não agora” – pois temia que me
atendesse muito depressa, e que me curasses logo da doença da minha
concupiscência, que eu mais queria saciar do que extinguir.
E caminhei pelas sendas ruins de uma superstição sacrílega, não porque
estivesse certo dela, mas porque a preferia às demais doutrinas, que eu não
estudava piedosamente, mas que hostilmente combatia.
Acreditava que o motivo por que adiava dia a dia o desprezo das
promessas seculares, para te seguir apenas a ti, era o não ter descoberto uma
claridade capaz de dirigir meus passos.
Veio, então, o dia em que me vi nu, a ouvir as repreensões de minha
consciência:
“Onde está a tua palavra?
Não dizias que tua indecisão para lançar longe o fardo de tua vaidade se
devia à incerteza?
Agora tens a certeza, e não obstante, ainda te oprime esse fardo,
outros, no entanto, que não se consumiram tanto em procurá-la, nem meditaram
dez anos ou mais sobre tais problemas, vêm nascer asas em seus ombros mais
livres”.
Assim me roía interiormente, devorado por enorme e terrível vergonha,
enquanto Ponticiano contava aquilo tudo.
Finda a conversa, e resolvida a questão a que viera, Ponticiano voltou
para sua casa, e eu para dentro de mim.
Que coisas não disse contra mim?
Com que açoite de palavras não flagelei a minha alma, para obrigá-la a seguir-me
nos meus esforços para te alcançar!
Ela resistia, recusava-se, sem se desculpar.
Todos os argumentos já estavam esgotados e refutados.
Nada lhe restava, senão uma angústia muda:
tinha medo, como da morte, de ser tolhida à corrente do vício, onde se
corrompia mortalmente.
(Revisão trad. portuguesa e grafismo por ama)
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