Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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9 Partindo
dali, foi à sinagoga deles, 10 onde se encontrava um homem que tinha
atrofiada uma das mãos; e, eles, para terem de que O acusar, perguntaram-Lhe:
«É permitido curar aos sábados?». 11 Ele respondeu-lhes: «Que homem
haverá entre vós que, tendo uma ovelha, se esta cair no dia de sábado a uma
cova, não a agarre, e não a tire de lá? 12 Ora quanto mais vale um
homem do que uma ovelha? Logo, é permitido fazer bem no dia de sábado». 13 Então disse ao homem: «Estende a tua mão». Ele estendeu-a, e ela
tornou-se sã como a outra. 14 Os fariseus, saindo dali, tiveram
conselho contra Ele sobre o modo de O levarem à morte. 15 Jesus,
sabendo isto, retirou-Se daquele lugar. Muitos seguiram-n'O, e curou-os a
todos. 16 Ordenou-lhes que não O descobrissem, 17 para
que se cumprisse o que tinha sido anunciado pelo profeta Isaías: 18
“Eis o Meu servo, que Eu escolhi, o Meu amado, em Quem a Minha alma pôs as suas
complacências. Farei repousar sobre Ele o Meu Espírito, e Ele anunciará a
justiça às nações. 19 Não discutirá, nem clamará, nem ouvirá
alguém a Sua voz nas praças; 20 não quebrará a cana rachada, nem
apagará a torcida que fumega, até que faça triunfar a justiça; 21 e
as nações esperarão no Seu nome”.
CONFISSÕES SANTO AGOSTINHO
LIVRO OITAVO
CAPÍTULO III
A alegria das coisas perdidas
Bom Deus, que se passa no homem para que se alegre mais com a salvação
de uma alma desesperada, quando salva de grande perigo, do que se ela sempre
tivesse tido esperança, ou se o perigo tivesse sido menor?
Também tu, Pai misericordioso, sentes mais alegria por um pecador
arrependido do que por noventa e nove justos que não têm necessidade de
penitência.
Grande é o nosso prazer ao falar da alegria do pastor trazendo de volta
sobre os ombros a ovelha desgarrada, e da mulher que repõe em seus tesouros,
para satisfação geral dos vizinhos, a dracma perdida. E nos arranca lágrimas a
alegria das festas da tua casa quando lemos que o teu filho menor estava morto
e reviveu, estava perdido e foi encontrado.
Tu te alegras em nós e em teus anjos, santificados pelo santo amor, pois
és sempre o mesmo, e conheces do mesmo modo e sempre as coisas que nem sempre
existem, nem da mesma maneira.
Mas, que se passa na alma, para que se alegre mais com as coisas que
estima, encontradas ou reavidas, do que se sempre as tivesse possuído?
Na verdade, tudo o atesta, e há inúmeros testemunhos que afirmam: “É
assim mesmo!”
O general celebra o triunfo da vitória, e não teria vencido sem combate,
e quanto mais foi árdua a batalha, tanto maior é o gozo no triunfo.
A tempestade cai sobre os navegantes com ameaça de naufrágio.
Todos empalidecem diante da morte iminente. O céu e o mar se acalmam, é
grande sua alegria, e nasce do muito que temeram.
Adoece uma pessoa amiga: o seu pulso revela um desfecho fatal.
Todos os que desejam a sua cura sofrem com ela, por simpatia.
Havendo melhora, embora ainda não recuperado o vigor de outrora, já
reina tal alegria como não existia antes, quando andava sadia e forte.
Até os prazeres da vida humana, não só compensam os homens de desgraças
casuais e involuntárias, mas também de moléstias premeditadas e desejadas. Não
há prazer algum em beber ou comer sem que haja antes o estímulo da sede ou da
fome.
Os ébrios costumam comer antes alguma coisa salgada, que lhes cause sede
ardente e que se transformará em prazer quando acalmada com a bebida.
O costume quer que as esposas não sejam entregues imediatamente
aos maridos: o marido desprezaria a noiva se não tivesse que esperar e
suspirar por ela.
Assim ocorre tanto na alegria torpe e vil, como na alegria lícita e
permitida, na mais sincera e honesta amizade, como na aventura daquele que
estava morto e tornou a viver, que se havia perdido e foi encontrado, em todos
os casos uma alegria maior é precedida de uma dor também maior.
Por que isto, Senhor, meu Deus, quando tu mesmo és tua própria alegria
eterna, e as criaturas à tua volta em ti se alegram?
Por que esta parte do universo sofre as alternâncias de progressos e
quedas, de uniões e separações?
Será este o modo de ser que lhe concedeste quando, do mais alto dos céus
até às profundezas da terra, desde o princípio dos tempos até ao fim dos
séculos, desde o anjo até o pequenino verme, e desde o primeiro movimento até o
último, dispuseste todos os géneros de bens e todas as tuas obras justas, cada
uma em seu lugar e tempo?
Ai de mim! Quão alto és nas alturas e quão profundo nos abismos!
Jamais te afastas de nós e, contudo, quanta dificuldade para voltar a
ti!
CAPÍTULO IV
A conversão dos grandes
Vamos pois, Senhor, mãos à obra! Desperta-nos, chama-nos, inflama-nos,
arrebata-nos, derrama as tuas doçuras, encanta-nos: amemos, corramos!
Não é verdade que muitos voltam a ti, saindo de um abismo de cegueira mais
profundo que o de Vitorino, e se aproximam de ti, e são iluminados pela tua
luz, junto da qual recebem o poder de se fazerem teus filhos?
Mas se estes são menos conhecidos pelo mundo dos homens, mesmo os que os
conhecem se alegram menos, mas quando a alegria é partilhada por muitos, ainda
é maior em cada um, porque se aquece e inflama de uns para os outros.
Ademais, os que são conhecidos de muitos, arrastam à salvação muitos
outros, e caminham adiante seguidos dos que os imitam. Por isso, grande é a alegria
dos que os precederam, por que não se regozijam só consigo.
Mas, longe de mim pensar que no teu tabernáculo são mais aceites os
ricos que os pobres, e os nobres mais do que os plebeus, porque escolheste os
fracos segundo o mundo para confundir os fortes, o que é vil e desprezível
segundo o mundo, a que não é nada, para aniquilar o que é.
Contudo, o menor de teus apóstolos, por cuja boca pronunciaste essas
palavras, quando suas armas abateram o orgulhoso procônsul Paulo, sujeitando-o
ao leve jugo de teu Cristo e fizeram dele um súbdito do grande Rei, quis, parar
de comemorar tão grande triunfo, mudar o seu nome de Saulo pelo de Paulo. De facto,
o adversário é mais completamente vencido naquilo em que tinha maior domínio e
por meio do que retém maior número de sequazes.
Ora, o inimigo domina com mais força os soberbos pela nobreza do seu
nome e, graças a estes, número maior pelo prestígio de sua autoridade.
Assim, na medida em que o coração de Vitorino era tido como fortaleza
inexpugnável antes ocupada pelo demónio, e a sua língua como dardo poderoso e
agudo, que tantas vezes havia dado a morte às almas, tanto mais copiosamente
deviam exultar os teus filhos, ao verem que o nosso Rei agrilhoara o forte, e
que os seus vasos roubados, eram agora purificados e destinados à tua honra,
convertendo-se em instrumentos úteis ao Senhor para toda obra boa.
CAPÍTULO V
As duas vontades
Mal teu servo Simpliciano me contou a conversão de Vitorino, ardi no
desejo de imitá-lo, aliás, era esta a finalidade da narração de Simpliciano.
Depois acrescentou que nos tempos do imperador Juliano, uma lei proibia
aos cristãos ensinar literatura e oratória, e Vitorino, dócil à lei,
preferiu abandonar a escola de palradores a abandonar o teu Verbo, que
torna eloquentes as línguas dos meninos. Não só me pareceu corajoso como
afortunado, por ter encontrado ocasião de se consagrar por ti.
Por isso eu suspirava, acorrentado não com os ferros de uma vontade
estranha, mas por minha férrea vontade.
O inimigo dominava o meu querer, e dele forjava uma corrente com a qual
me mantinha cativo.
Da vontade perversa nasce a paixão, e desta satisfeita procede o hábito,
e do hábito não contrariado provém a necessidade, e com estes anéis enlaçados entre
si – por isso lhes chamei corrente – me mantinha preso em dura servidão.
A nova vontade, que despontava em mim, de te servir sem interesse, de me
alegrar em ti, ó meu Deus, única alegria verdadeira, ainda não era capaz de
vencer a vontade antiga e inveterada.
Deste modo as minhas duas vontades, a velha e a nova, a carnal e a
espiritual, lutavam entre si e, nessa luta, dilaceravam-me a alma.
Entendi, por experiência própria, o que havia lido: a carne tem desejos
contra o espírito, e o espírito contra a carne.
Eu vivia ambos ao mesmo tempo, embora mais o que aprovava em mim do que
o que em mim desaprovava.
Com efeito, nesta última parte de mim eu era passivo e constrangido,
mais do que activo e livre.
E, contudo, o hábito que se impunha contra mim vinha de mim mesmo, pois
fora voluntariamente que eu chegara onde não queria.
E quem poderia protestar legitimamente, se um castigo justo segue o
pecador?
Eu já não tinha aquela desculpa, com a qual me persuadia de que, se
ainda não desprezava o mundo para te servir, era porque não tinha visão clara
da verdade, uma vez que agora já a conhecia de modo indiscutível.
Mas, ainda apegado à terra, recusava-me a combater nas tuas fileiras, e
temia ver-me livre dos teus laços, quando devia temer estar por eles atado.
Assim, sentia-me docemente oprimido pelo peso do mundo, como num sonho,
e os pensamentos com que meditava em ti eram semelhantes aos esforços dos que
desejam despertar, mas, vencidos pela sonolência, voltam dormir.
Não há ninguém que queira dormir sempre, e segundo dita o bom senso, é
melhor estar desperto que dormir. Contudo, às vezes retarda-se o despertar,
quando o torpor torna os membros pesados, e, mesmo a contragosto, continua-se a
dormir mesmo depois de chegada a hora de despertar.
Assim eu estava certo que era melhor entregar-me ao teu amor que ceder à
minha paixão.
O primeiro agradava-me, dominava-me, o segundo encantava-me, prendia-me.
Já não tinha o que responder quando me dizias: “Desperta, ó tu que
dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo te há-de iluminar”.
E quando por todos os meios me mostrava a verdade do que dizias, e de
que eu estava convencido, não tinha absolutamente nada para responder, senão
umas palavras preguiçosas e sonolentas:
Um momento... Depois... Um pouquinho mais...
Mas este pouquinho não tinha fim, e este momento ia-se prolongando.
Em vão me deleitava na tua lei, segundo o homem interior, porque nos
meus membros outra lei combatia a lei do meu espírito, mantendo-me cativo sob a
lei do pecado que estava nos meus membros.
Com efeito, a lei do pecado é a violência do hábito, pelo qual a alma é
arrastada e presa, mesmo contra sua vontade, merecidamente porém, pois se deixa
arrastar por vontade própria.
Pobre de mim!
Quem poderia libertar-me deste corpo de morte senão tua graça, por Cristo,
nosso Senhor?
(Revisão trad. portuguesa e grafismo por ama)
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