A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Jo 20, 1-31
1 No primeiro dia da semana, Maria
Madalena foi ao sepulcro, de manhã, sendo ainda escuro, e viu a pedra retirada
do sepulcro. 2 Correu então, e foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo
a quem Jesus amava, e disse-lhes: «Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos
puseram».3 Partiu, pois, Pedro com o outro discípulo e foram ao sepulcro. 4
Corriam ambos juntos, mas o outro discípulo corria mais do que Pedro e chegou
primeiro ao sepulcro. 5 Tendo-se inclinado, viu os lençóis no chão, mas não
entrou. 6 Chegou depois Simão Pedro, que o seguia, entrou no sepulcro e viu os
lençóis postos no chão, 7 e o sudário que estivera sobre a cabeça de Jesus, que
não estava com os lençóis, mas enrolado num lugar à parte. 8 Entrou também,
então, o outro discípulo que tinha chegado primeiro ao sepulcro. Viu e
acreditou. 9 Com efeito, ainda não entendiam a Escritura, segundo a qual Ele
devia ressuscitar dos mortos. 10 Depois os
discípulos voltaram para casa. 11
Entretanto, Maria estava da parte de fora do sepulcro a chorar. Enquanto
chorava, inclinou-se para o sepulcro 12 e viu dois anjos vestidos de branco,
sentados no lugar onde fora posto o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos
pés. 13 Eles disseram-lhe: «Mulher, porque choras?». Respondeu-lhes: «Porque
levaram o meu Senhor e não sei onde O puseram». 14 Ditas estas palavras,
voltou-se para trás e viu Jesus de pé, mas não sabia que era Jesus. 15 Jesus
disse-lhe: «Mulher, porque choras? A quem procuras?». Ela, julgando que era o
hortelão, disse-Lhe: «Senhor, se tu O levaste, diz-me onde O puseste; eu irei
buscá-l'O». 16 Jesus disse-lhe: «Maria!». Ela, voltando-se, disse-Lhe em
hebreu: «Rabboni!», 17 Jesus disse-lhe: «Não Me retenhas, porque ainda não subi
para Meu Pai; mas vai a Meus irmãos e diz-lhes que subo para Meu Pai e vosso
Pai, para Meu Deus e vosso Deus». 18 Foi Maria Madalena anunciar aos
discípulos: «Vi o Senhor!», e as coisas que Ele lhe disse. 19 Chegada a tarde
daquele mesmo dia, que era o primeiro da semana, e estando fechadas as portas
da casa onde os discípulos se encontravam juntos, por medo dos judeus, foi
Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco!». 20 Dito
isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se muito ao ver o
Senhor. 21 Ele disse-lhes novamente: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai
Me enviou, também vos envio a vós». 22 Tendo dito esta palavras, soprou sobre
eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo. 23 Àqueles a quem perdoardes os
pecados, ser-lhes-ão perdoados, àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão
retidos». 24 Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio
Jesus. 25 Os outros discípulos disseram-lhe: «Vimos o Senhor!». Mas ele
respondeu-lhes: «Se não vir nas Suas mãos a abertura dos cravos, se não meter a
minha mão no Seu lado, não acreditarei». 26 Oito dias depois, estavam os
discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas
fechadas, colocou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». 27 Em
seguida disse a Tomé: «Mete aqui o teu dedo e vê as Minhas mãos, aproxima
também a tua mão e mete-a no Meu lado; e não sejas incrédulo, mas fiel!». 28
Respondeu-Lhe Tomé: «Meu Senhor e Meu Deus!». 29 Jesus disse-lhe: «Tu
acreditaste, Tomé, porque Me viste; bem-aventurados os que acreditaram sem
terem visto». 30 Outros muitos prodígios
fez ainda Jesus na presença de Seus discípulos, que não foram escritos neste
livro. 31 Estes, porém, foram escritos a fim de que acrediteis que Jesus é o
Messias, Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em Seu nome.
CONFISSÕES SANTO AGOSTINHO
LIVRO TERCEIRO
CAPÍTULO I
O gosto do amor
Cheguei a Cartago, e por toda parte fervilhava a sertã de amores
impuros. Ainda não amava, mas já gostava de amar, secretamente sedento,
aborrecia a mim próprio por não me sentir mais indigente de amor. Gostando do
amor buscava o que amar, e odiava a segurança e os meus caminhos sem perigos,
porque tinha dentro de mim fonte de alimento interior, de ti mesmo, ó meu Deus.
Eu não sentia essa fonte como tal, antes, estava sem apetite algum dos manjares
incorruptíveis, não porque estivesse saciado deles, mas porque, quanto mais
vazio, tanto mais enfastiado me sentia.
E por isso a minha alma não estava bem e, ferida, voltava-se para fora
de si, ávida de se roçar miseravelmente às coisas sensíveis, se porém não
tivessem alma, não seriam certamente amadas.
Amar e ser amado era para mim a coisa mais doce, sobretudo se podia
gozar do corpo da criatura amada. Deste modo manchava com torpe concupiscência
a fonte da amizade, e obscurecia o seu candor com os vapores infernais da
luxúria. E apesar de tão torpe e impuro, desejava com afã e cheio de vaidade,
passar por afável e cortês.
Caí por fim no amor, em que desejava ser colhido. Porém, ó meu Deus,
misericórdia minha, quanto fel não misturaste àquela suavidade, e quão bom
foste ao fazê-lo! Fui amado, e cheguei secretamente aos laços do prazer, e deixei-me
alegremente enredar em trabalhosos laços, para ser logo açoitado com as varas
de ferro ardente do ciúme, das suspeitas, dos temores, das iras e das
contendas.
CAPÍTULO II
A paixão dos espectáculos
Arrebatavam-me os espectáculos teatrais, cheios das imagens das minhas
misérias e de alimento para o fogo de minha paixão. Mas, por que quer o homem
condoer-se ao contemplar coisas tristes e trágicas, que de modo algum gostaria
de suportar? Contudo, o espectador deseja sofrer com elas, e até essa mesma dor
é seu deleite. Que é isso, senão rematada loucura? De facto, tanto mais se
comove alguém com elas quanto menos livre se está de tais afectos, embora chamemos
misérias os sofrimentos próprios, e compaixão a comiseração do mal alheio.
Porém, que compaixão pode haver em coisas fictícias e representadas?
Nelas não se incita o espectador a que socorra a alguém, senão que o mesmo é
convidado apenas à angústia, apreciando tanto mais o autor daquelas histórias
quanto maior é o sentimento que elas nos inspiram. De onde resulta que, se tais
desgraças humanas – quer das histórias antigas, quer sejam inventadas – são
representadas de forma a não excitarem sofrimento ao expectador, este sai
aborrecido e murmurando, se porém, pelo contrário, é levado à tristeza, fica
atento e chora satisfeito.
Quer isso dizer que amamos as lágrimas e a dor? Sem dúvida que todo o
homem busca o gozo, mas como não agrada a ninguém ser miserável, e sendo grato
a todos ser misericordioso, e como a piedade é inseparável da dor, não seria
esta a causa verdadeira para que apreciemos essas emoções dolorosas?
Também isso provém da amizade. Mas para onde se dirige? Para onde vai?
Por que se atira à torrente da pez ardente, às vagas horrendas de negras
leviandades em que a amizade se transforma voluntariamente, afastada e privada
de sua celestial serenidade que o homem repudia?
Deve, pois, repelir-se a compaixão? De modo algum. Convém, pois, que
alguma vez se amem as dores. Mas evita nisso a impureza, ó minha alma, sob
proteção de Deus, do Deus de nossos pais, louvado e exaltado por todos os
séculos, cuidado com a impureza. Porque nem agora me fecho a tal compaixão. Mas
naquele tempo comprazia-me no teatro com os amantes, quando eles se gozavam em
suas torpezas – embora estas não passassem de encenações. E quando um deles se
perdia, eu quase piedosamente me contristava, e sentia prazer numa e noutra
coisa.
Hoje, porém, tenho mais compaixão do homem que se alegra nos seus
vícios, que do que sofre pela perda de um prazer funesto ou pela perda de uma
mísera felicidade. Esta misericórdia é certamente mais verdadeira, mas nela a
dor não encontra nenhum prazer. E embora seja certo que se aprove quem por
caridade se compadece do miserável, contudo, quem é fraternalmente compassivo
preferiria que não houvesse razões para se compadecer. Porque assim como não é possível
que exista uma benevolência malévola, tampouco o é que haja miseráveis para
deles se compadecer.
Há, pois, dores que merecem compaixão, porém, nenhuma que mereça amor.
Por isso tu, Deus, que amas as almas muito mais elevadamente que nós, te
compadeces delas de modo muito mais puro, porque não sentes nenhuma dor. Mas
quem será capaz de chegar a isso?
Mas eu, desventurado, amava então a dor, e buscava motivos para
senti-la. Naquelas desgraças alheias, falsas e mímicas, agradava-me tanto mais
a acção do actor, e mantinha-me tanto mais atento quanto mais copiosas lágrimas
me fazia derramar.
Mas, que admira que eu, infeliz ovelha transviada de teu rebanho, por
não aceitar a tua proteção, estivesse atacado de ronha asquerosa? Daqui
nasciam, sem dúvida, os desejos daquelas emoções de dor que, todavia, não
queria que fossem muito profundas em mim, porque não desejava padecer coisas
como as que via representadas. Comprazia-me que aquelas coisas, ouvidas ou
fingidas, me tocassem só superficialmente. Mas, como acontece aos que coçam a ferida
com as unhas, terminava por provocar em mim mesmo um tumor abrasador, podridão
e pus repelente.
Tal era minha vida. Mas, seria isto vida, meu Deus?
CAPÍTULO III
O estudo da retórica e os demolidores
Entretanto, a tua misericórdia, fiel, de longe pairava sobre mim. Em
quantas iniquidades não me corrompi, meu Deus, levado por sacrílega curiosidade
que, separando-me de ti, conduzia-me aos mais baixos, desleais e enganosos
serviços aos demónios, a quem sacrificava as minhas más acções, sendo em todas
flagelado com duro açoite por ti!
Também ousei apetecer ardentemente e procurar meios para conseguir os
frutos da morte na celebração dos teus mistérios, dentro dos muros de tua
igreja. Por isso me açoitaste com duras penas, que nada eram comparadas com as minhas
culpas, ó Deus, misericórdia infinita, e meu refúgio contra os terríveis
malfeitores, com os quais vaguei de cabeça erguida, afastando-me cada vez mais
de ti, preferindo os meus caminhos aos teus, amando a liberdade fugitiva!
Os estudos a que era entregue, que se denominavam honestos ou nobres,
tinham por objectivo as contendas do foro, nas quais deveria distinguir-me com
tanto maior louvor quanto mais hábeis fossem as mentiras. Tal é a cegueira dos
homens, que até da sua própria cegueira se gloriam!
Eu já conseguira, naquele tempo, ser o primeiro da escola de retórica, e
por isso me vangloriava soberbamente, e me inflava de orgulho. Contudo, tu
sabes, Senhor, que eu era muito mais sossegado que os demais, e totalmente
alheio às turbulências dos eversores – ou demolidores – nome sinistro e
diabólico que eles consideravam distintivo de urbanidade, entre os quais vivia
com imprudente pudor por não pertencer a seu grupo. É verdade que andava com eles,
e que me deleitava, às vezes, com a sua amizade, porém, sempre aborreci o que
faziam, como as troças e a insolência com que surpreendiam e ridicularizavam a
timidez dos novatos, sem outra finalidade senão rir de suas trapalhadas,
fazendo disso alimento para suas malévolas alegrias. Nada há mais parecido a
estas ações que as dos demónios, pelo que nenhum nome lhes cai melhor que o de eversores
ou demolidores, por serem transformados e pervertidos totalmente pelos
espíritos malignos, que assim os burlam e enganam, sem que o saibam,
justamente no que eles gostam de ludibriar ou enganar os demais.
CAPÍTULO IV
O Hortênsio de Cícero
Entre essa gente estudava eu, em tão tenra idade, os livros da eloquência,
na qual desejava sobressair com o fim condenável e vão de satisfazer à vaidade
humana. Mas, seguindo o programa usado no ensino desses estudos, cheguei a um
livro de Cícero, cuja linguagem, mais do que seu conteúdo, quase todos admiram.
Esse livro contém uma exortação à filosofia, e se chama Hortênsio. Esse livro
mudou os meus sentimentos, e transferiu para ti, Senhor, as minhas súplicas, e
fez com que mudassem os meus votos e desejos. Subitamente, tornou-se vil a meus
olhos toda a vã esperança, e com incrível ardor do meu coração suspirava pela
sabedoria imortal, e comecei a reerguer-me para voltar a ti. Não era para limar
a linguagem – aperfeiçoamento que, parece, eu compraria com o dinheiro da minha
mãe, naquela idade de meus dezanove anos, fazendo dois que morrera meu pai –
não era, repito, para limar o estilo que eu me dedicava à leitura daquele
livro, nem era o seu estilo o que a ela me incitava, mas o que ele dizia.
Como ardiam, meu Deus, como ardiam os meus desejos de voar para ti das
coisas terrenas, sem que eu soubesse o que obravas em mim! Porque em ti está a
sabedoria, pela qual aquelas páginas me apaixonavam. Não faltam os que nos
iludam servindo-se da filosofia, colocando ou encobrindo os seus erros com nome
tão grande, tão doce e honesto. Mas quase todos os que assim fizeram em seu
tempo e em épocas anteriores, são apontados e refutados nesse livro. Também se
encontra ali bem claro aquele salutar aviso do teu Espírito, dado por meio de
teu servo bom e piedoso (Paulo): Vede que ninguém vos engane com vãs filosofias
e argúcias sedutoras, de acordo com a tradição dos homens e os ensinamentos
deste mundo, e não de acordo com Cristo, porque é nele que habita corporalmente
toda a plenitude da divindade.
Mas então – tu bem o sabes, luz de meu coração – eu ainda não conhecia o
pensamento de teu Apóstolo. Só me deleitava naquelas palavras de exortação, o facto
de me excitarem fortemente, inflamando-me a amar, a buscar, a conquistar, a
reter e a abraçar não a esta ou àquela seita, senão à própria Sabedoria, onde
quer que estivesse. Só uma coisa me arrefecia tão grande ardor: não ver ali o
nome de Cristo. Porque este nome, Senhor, este nome de meu Salvador, teu filho,
por tua misericórdia eu o bebera piedosamente com o leite materno, e o conservava,
no mais profundo do meu coração, em alto apreço, e assim, tudo quanto fosse
escrito sem este nome, por mais verídico, elegante e erudito que fosse, não me
arrebatava totalmente.
(Revisão trad. portuguesa e grafismo por ama)
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