Questão 31: Do prazer em
si mesmo.
Art. 2 ― Se o prazer se realiza no tempo.
(IV Sent., dist. XLIX,
q. 3, a . 1, qª 3, De Verit., q. 8, a . 14, ad 2).
O
segundo discute-se assim. ― Parece que o prazer se realiza no tempo.
1. ― Pois, o prazer é um movimento, como diz o Filósofo 1. Ora, todo movimento se realiza no tempo. Logo, também o prazer.
2.
Demais. ― Chama-se diuturno ou moroso o que se realiza no tempo. Ora, certos
prazeres consideram-se morosos. Logo, o prazer realiza-se no tempo.
3.
Demais. ― As paixões da alma são do mesmo género. Ora, há algumas que existem
no tempo. Logo, também o prazer.
Mas,
em contrário, diz o Filósofo, que o prazer não se produz em nenhum determinado
tempo 2.
Uma coisa pode estar no tempo de duplo modo: em si e por outra coisa e quase
por acidente. Pois, sendo o tempo o número das posições sucessivas, diz-se que
estão, em si, no tempo, as coisas sujeitas por essência à sucessão ou ao que
quer que à sucessão respeite, como o movimento, o repouso, o falar e coisas
semelhantes. Noutro sentido, diz-se que estão, não em si mesmas, no tempo, as
coisas cuja essência não implica nenhuma sucessão, mas que estão sujeitas a
algo de sucessivo. Assim, ser homem, por essência, não implica sucessão, pois
não é movimento, mas termo do movimento ou da mutação, ou da geração. Mas,
enquanto sujeito a causas transmutáveis, ser homem implica o tempo.
Donde,
o prazer, em si mesmo, depende do tempo, porque supõe o bem já alcançado, que é
quase o termo do movimento. ― Mas se esse bem alcançado estiver sujeito à
transmutação, o prazer se realizará, acidentalmente no tempo. Se porém for
absolutamente intransmutável, o prazer não decorrerá no tempo, nem essencial
nem acidentalmente.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Como diz Aristóteles, o movimento tem dupla
acepção 3. Numa, é o acto do que é imperfeito, isto é, existente em
potência, como tal, e esse movimento é sucessivo e temporal. Noutra, é o acto
do que é perfeito, i. é, existente em acto, como inteligir, sentir, querer e actos
semelhantes, entre os quais também deleitar-se, e tal movimento não é
sucessivo, nem em si temporal.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― Chama-se moroso ou diuturno o prazer acidentalmente temporal.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― As outras paixões não têm por objecto, como o prazer, o bem já
alcançado. Donde, tem, mais que ele, a natureza do movimento imperfeito. E por
conseguinte, ao prazer convém, mais que a elas, não estar no tempo.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. I Rhet., cap. XI.
2. X Ethic., lect. V.
3.
III De anima, lect. XII.
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