A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Jo 19, 1-24
1 Pilatos tomou então Jesus e mandou-O flagelar. 2 Depois,
os soldados, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-Lha sobre a cabeça e
revestiram-n'O com um manto de púrpura. 3 Aproximavam-se d'Ele e diziam-Lhe:
«Salve, rei dos judeus!», e davam-Lhe bofetadas. 4 Saiu Pilatos ainda outra vez
fora e disse-lhes: «Eis que vo-l'O trago fora, para que conheçais que não
encontro n'Ele crime algum».5 Saiu, pois, Jesus, trazendo a coroa de espinhos e
o manto de púrpura. Pilatos disse-lhes: «Eis aqui o Homem!». 6 Então os
príncipes dos sacerdotes e os guardas, quando O viram, gritaram: «Crucifica-O,
crucifica-O!». Pilatos disse-lhes: «Tomai-O e crucificai-O, porque eu não
encontro n'Ele motivo algum de condenação». 7 Os judeus responderam-lhe: «Nós
temos uma Lei e, segundo essa Lei, deve morrer, porque Se fez Filho de Deus». 8
Pilatos, tendo ouvido estas palavras, temeu ainda mais. 9 Entrou novamente no
Pretório e disse a Jesus: «Donde és Tu?». Mas Jesus não lhe deu resposta.10
Então Pilatos disse-Lhe: «Não me falas? Não sabes que tenho poder para Te
soltar e também para Te crucificar?». 11 Jesus respondeu: «Tu não terias poder
algum sobre Mim, se não te fosse dado do alto. Por isso, quem Me entregou a ti
tem maior pecado». 12 Desde este momento, Pilatos procurava soltá-l'O. Porém,
os judeus gritavam: «Se soltas Este, não és amigo de César!, porque todo aquele
que se faz rei, declara-se contra César». 13 Pilatos, tendo ouvido estas
palavras, conduziu Jesus para fora e sentou-se no seu tribunal, no lugar
chamado Litóstrotos, em hebraico Gábata. 14 Era o dia da Preparação da Páscoa,
cerca da hora sexta. Pilatos disse aos judeus: «Eis o vosso rei!».15 Mas eles
gritaram: «Tira-O, tira-O, crucifica-O!». Pilatos disse-lhes: «Hei-de
crucificar o vosso rei?». Os pontífices responderam: «Não temos outro rei senão
César». 16 Então entregou-Lho para que fosse crucificado. 17 Tomaram, pois,
Jesus que, carregando com a Sua cruz, saiu para o lugar chamado Calvário, em
hebraico Gólgota, 18 onde O crucificaram, e com Ele outros dois, um de cada
lado, e Jesus no meio. 19 Pilatos redigiu um título, que mandou colocar sobre a
cruz. Nele estava escrito: «Jesus Nazareno, Rei dos Judeus». 20 Muitos judeus
leram este título, porque o lugar onde foi crucificado ficava perto da cidade.
Estava redigido em hebraico, em latim e em grego. 21 Os pontífices dos judeus
diziam, porém, a Pilatos: «Não escrevas: Rei dos Judeus, mas: Este homem disse:
Eu sou o Rei dos Judeus». 22 Pilatos respondeu: «O que escrevi, está escrito!».
23 Os soldados, depois de terem crucificado Jesus, tomaram as Suas vestes e
fizeram delas quatro partes, uma para cada soldado. Tomaram também a túnica. A
túnica não tinha costura, era toda tecida de alto a baixo. 24 Disseram entre
si: Não a rasguemos, mas lancemos sortes sobre ela, para ver a quem tocará;
para que se cumprisse deste modo a Escritura, que diz: “Repartiram entre si as
Minhas vestes e lançaram sortes sobre a Minha túnica”. “Os soldados assim
fizeram.
CONFISSÕES SANTO AGOSTINHO
LIVRO SEGUNDO 2
CAPÍTULO III
Cegueira do pai, cuidados da mãe
Nesse mesmo ano tive de interromper meus estudos, quando voltei de
Madaura, cidade vizinha, onde fora estudar literatura e oratória, enquanto se
faziam os preparativos necessários para a minha viagem mais longa a Cartago,
levado mais pela ambição de meu pai que pelos seus parcos bens, pois, era mui
modesto cidadão de Tagaste.
Mas, a quem conto eu estes factos? Certamente, não a ti, meu Deus, mas
em tua presença conto estas coisas aos da minha estirpe, ao género humano,
ainda que estas páginas chegassem às mãos de poucos. E para que então? Para que
eu, e quem me ler, pensemos na profundeza do abismo de onde temos de clamar por
ti? E que há de mais próximo a teus ouvidos que o coração contrito e a vida que
procede da fé?
Quem então não cumulava a meu pai de louvores, pois excedendo até os seus
deveres familiares, gastava com o filho o necessário para tão longa viagem por
causa dos seus estudos?
Porquê muitos cidadãos, muito mais ricos do que ele, não mostravam para
com os filhos igual cuidado?
Contudo, este mesmo pai não se importava de saber se eu crescia para ti,
ou que fosse casto, contanto que fosse deserto, mas antes eu era deserto,
por carecer de teu cultivo, ó Deus, único, verdadeiro e bom senhor de teu campo,
o meu coração.
Porém, no meu décimo-sexto ano foi necessária uma interrupção nos meus
estudos por falta de recursos familiares e, livre da escola, passei a viver com
meus pais. Avassalaram então a minha cabeça os espinhos das minhas paixões, sem
que houvesse mãos que os arrancassem.
Pelo contrário, meu pai, certo dia, percebendo no banho sinais da minha
puberdade e vendo-me revestido de inquieta adolescência, como se já se
alegrasse pensando nos netos, foi contá-lo alegre à minha mãe. Alegria esta gerada
pela embriaguez com que este mundo se esquece de ti, seu criador, e em teu
lugar ama a tua criatura, embriaguez que nasce do vinho subtil da sua perversa
e mal inclinada vontade para as coisas baixas.
Mas, nessa época, já tinhas começado a levantar, no coração de minha
mãe, teu templo e os alicerces de tua santa morada, meu pai não era mais que
catecúmeno, recente ainda. Por isso minha mãe perturbou-se com santo temor.
Embora eu ainda não fosse baptizado, temia que eu seguisse as sendas tortuosas
por onde andam os que te voltam as costas, e não o rosto.
Ai de mim! Como me atrevo a dizer que te calavas quando me afastava de
ti? Seria verdade que então te calavas comigo? E de quem eram, senão tuas,
aquelas palavras que pela boca de minha mãe, tua serva fiel, sussurraste em
meus ouvidos, embora nenhuma delas penetrasse no meu coração, para que a
cumprisse?
Lembro bem que um dia me admoestou em segredo, com grande solicitude,
que me abstivesse da luxúria e, sobretudo, que não cometesse adultério com a
mulher de ninguém.
Porém, esses conselhos pareciam-me próprios de mulheres, e eu envergonhar-me-ia
segui-los.
Mas, na realidade, eram teus, embora eu não o soubesse, e por isso
julgava que te calavas, e que era ela quem me falava, e eu te desprezava em tua
serva, eu, seu filho, filho da tua serva e servo teu, a ti que não cessavas de
me falar pela sua boca.
Mas eu não o sabia, e precipitava-me com tanta cegueira, que me
envergonhava entre os companheiros da minha idade, de ser menos torpe do que
eles. Ouvia-os jactar-se das suas maldades, e gloriar-se tanto mais quanto mais
infames eram, assim eu gostava de fazer o mal, não só pelo prazer, mas ainda
por vaidade. O que há de mais digno de vitupério do que o vicio? E, contudo,
para não ser escarnecido, tornava-me mais viciado e, quando não houvesse
cometido pecado que me igualasse aos mais perdidos, fingia ter feito o que não
cometera, para que não parecesse mais abjecto quanto mais inocente, e tanto
mais vil quanto mais casto.
Eis com que companheiros eu andava pelas graças de Babilónia,
revolvendo-me na lama, como em cinamomo e unguentos preciosos. E, para que todo
esse lodo me pegasse bem firme, subjugava-me o inimigo invisível, e seduzia-me,
por eu ser presa fácil da sedução.
Nem então a minha mãe carnal, que já fugira do meio da Babilónia, mas
que noutras coisas caminhava mais devagar, cuidou – como fizera ao
aconselhar-me a castidade – de conter com os laços do matrimónio aquilo de que
seu marido lhe falara a meu respeito. Ela já percebera que me era pestilencial,
e que mais adiante me seria perigoso – já que essa paixão não podia ser cortada
pela raiz. Não pensou nisso, digo, por temer que o vínculo matrimonial
frustrasse a esperança que sobre mim acalentava, não a esperança da vida
futura, que ela já tinha posto em ti, mas a esperança das letras que ambos, meu
pai e minha mãe, desejavam ardentemente, meu pai, porque não pensava quase nada
de ti, mas apenas ambições vãs a meu respeito, minha mãe, porque considerava
que tais estudos tradicionais das letras não só não me seriam de estorvo, sendo
de não pouca ajuda para chegar a ti. Assim julgo eu, agora, enquanto me é
possível pela lembrança, o carácter de meus pais.
Por isso, soltavam-me as rédeas para o jogo mais do que o permite uma
moderada severidade, deixando-me cair na dissolução de várias paixões, e de
todas surgia uma obscuridade que me toldava, ó meu Deus, a luz da tua verdade,
e, por assim dizer, do meu corpo, brotava a minha iniquidade.
CAPÍTULO IV
O furto das peras
É certo, Senhor, que a tua lei pune o furto, lei tão arraigada no
coração dos homens que nem a própria iniquidade pode apagar. Que ladrão há que
suporte com paciência que o roubem? Nem o rico tolera isto a quem o faz forçado
pela indigência. Também eu quis roubar, e roubei não forçado pela necessidade,
mas por penúria, fastio de justiça e abundância de maldade, pois roubei o que
tinha em abundância, e muito melhor. Nem me atraía ao furto o gozo de seu resultado,
mas atraía-me o furto em si, o pecado.
Nas imediações de nossa vinha, havia uma pereira carregada de frutos,
que nem pelo aspecto, nem pelo sabor tinham algo de tentador. Alta noite – pois
até então ficaríamos jogando nas eiras, de acordo com o nosso mau costume –
dirigimo-nos ao local, eu e alguns jovens malvados, com o fim de sacudi-la e
colher-lhe os frutos. E levamos grande quantidade deles, não para saboreá-los,
mas para jogá-los aos porcos, embora comêssemos alguns, o nosso deleite era fazer
o que nos agradava justamente pelo facto de ser coisa proibida.
Aí está o meu coração, Senhor, o meu coração que olhaste com
misericórdia quando se encontrava na profundeza do abismo. Que este meu coração
te diga agora que era o que ali buscava, para fazer o mal gratuitamente, não
tendo minha maldade outra razão que a própria maldade. Era hedionda, e eu a
amei, amei a minha morte, amei o meu pecado, não o objecto que me fazia cair,
mas a minha própria queda. Ó minha alma torpe, que saltando para fora do santo
apoio, te lançavas na morte, não buscando na ignomínia senão a própria ignomínia?
CAPÍTULO V
A causa do pecado
Todos os corpos formosos, o ouro, a prata, e todos os demais têm, com
efeito, seu aspecto atraente. No contacto carnal intervém grandemente a
congruência das partes, e cada um dos sentidos percebe nos corpos certa
modalidade própria. Também a honra temporal e o poder de mandar e dominar têm
seu atractivo, de onde nasce o desejo de vingança.
Todavia, para obtermos estas coisas, não é necessário abandonarmos em
ti, nem nos desviar da tua lei. Também a vida que aqui vivemos tem os seus
encantos, por certa beleza que lhe é própria, e pela harmonia que tem com as
demais belezas terrenas. Cara é, finalmente, a amizade dos homens pela união
que une muitas almas com o doce laço do amor.
Por todos estes motivos, e outros semelhantes, pecamos quando, por
propensão imoderada para os bens ínfimos, são abandonados os melhores e mais
altos, como tu, Senhor, nosso Deus, a tua verdade e a tua lei.
É verdade que também esses bens ínfimos têm os seus deleites, porém, não
como os de Deus, criador de todas as coisas, porque nele se deleita o justo, e
nele acham as suas delícias os rectos de coração.
Portanto, quando indagamos a causa de um crime, não descansamos até
averiguar qual o apetite dos bens chamados ínfimos, ou que temor de perdê-los
foi capaz de provocá-lo. Sem dúvida são belos e atraentes, embora, comparados
com os bens superiores e beatíficos, sejam abjectos e desprezíveis. Alguém
comete um homicídio. Por quê? Porque desejou a esposa do morto, ou as suas
terras, ou porque quis roubar alguma coisa, ou então, ferido, ardeu em desejos
de vingança. Por acaso cometeria o crime sem motivo, apenas pelo gosto de
matar? Quem pode acreditar em semelhante coisa?
Mesmo de Catilina, homem sem entranhas e muito cruel, de quem se disse
que era mau e cruel sem razão, acrescenta o historiador um motivo: “Para que a
ociosidade não embotasse as suas mãos e sentimento”.
Todavia, se indagares porque agia assim, dir-te-ei que mediante o
exercício de crimes, depois de tomada a cidade, conseguisse honras, poderes e
riquezas, libertando-se do medo das leis e das dificuldades da vida, causados
pela pobreza de seu património e a consciência dos seus crimes. Logo, nem o
próprio Catilina amava os seus crimes, mas aquilo por cujo motivo os cometia.
(Revisão trad. portuguesa e grafismo por ama)
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