A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Jo 17, 1-26
17 1 Assim falou Jesus; depois, levantando os olhos ao
céu, disse: «Pai, chegou a hora: Glorifica o Teu Filho, para que Teu Filho Te
glorifique a Ti 2 e, pelo poder que Lhe deste sobre toda a criatura, dê a vida
eterna a todos os que lhe deste. 3 Ora a vida eterna é esta: Que Te conheçam a
Ti como o único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo a Quem enviaste. 4
Glorifiquei-Te sobre a terra; acabei a obra que Me deste a fazer. 5 E agora,
Pai, glorifica-Me junto de Ti mesmo, com aquela glória que tinha em Ti antes
que houvesse mundo. 6 «Manifestei o Teu nome aos homens que Me deste do meio do
mundo. Eram Teus e Tu Mos deste; e guardaram a Tua palavra. 7 Agora sabem que
todas as coisas que Me deste vêm de Ti, 8 porque lhes comuniquei as palavras
que Me confiaste; eles as receberam, e conheceram verdadeiramente que Eu saí de
Ti e creram que Me enviaste. 9 «É por eles que Eu rogo; não rogo pelo mundo,
mas por aqueles que Me deste, porque são Teus. 10 Todas as Minhas coisas são
Tuas e todas as Tuas coisas são Minhas; e neles sou glorificado. 11 Já não
estou no mundo, mas eles estão no mundo, e Eu vou para Ti. Pai Santo, guarda em
Teu nome aqueles que Me deste para que sejam um, assim como Nós. 12 Quando Eu
estava com eles, os guardava em Teu nome. Conservei os que Me deste; nenhum
deles se perdeu, excepto o filho da perdição, cumprindo-se a Escritura. 13 Mas
agora vou para Ti e digo estas coisas, estando ainda no mundo, para que eles
tenham em si mesmos a plenitude da Minha alegria.1 4 Dei-lhes a Tua palavra, e
o mundo odiou-os, porque não são do mundo, como também Eu não sou do mundo. 15
Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do mal. 16 Eles não são do
mundo, como Eu também não sou do mundo. 17 Santifica-os na verdade. A Tua
palavra é a verdade. 18 Assim como Tu Me enviaste ao mundo, também Eu os enviei
ao mundo. 19 Por eles Eu santifico-Me a Mim mesmo, para que também sejam
santificados na verdade. 20 «Não rogo somente por eles, mas também por aqueles
que hão-de acreditar em Mim por meio da sua palavra, 21 para que todos sejam
um, como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti, para que também eles sejam um em
Nós, a fim de que o mundo acredite que Me enviaste. 22 Dei-lhes a glória que Me
deste, para que sejam um, como também Nós somos um: 23 Eu neles e Tu em Mim,
para que a sua unidade seja perfeita e para que o mundo conheça que Me enviaste
e que os amaste como Me amaste. 24 Pai, quero que, onde Eu estou, estejam
também comigo aqueles que Me deste, para que contemplem a Minha glória, a
glória que Me deste, porque Me amaste antes da criação do mundo .25 Pai justo,
o mundo não Te conheceu, mas Eu conheci-Te e estes conheceram que Me enviaste. 26
Dei-lhes e dar-lhes-ei a conhecer o Teu nome, a fim de que o amor com que Me
amaste, esteja neles e Eu neles».
CONFISSÕES SANTO AGOSTINHO
LIVRO PRIMEIRO 2
CAPÍTULO VII
Os pecados da primeira infância
Escuta-me, ó meu Deus! Ai dos pecados dos homens! E quem isto te diz é
um homem, e tu te compadeces dele porque o criaste, e não foste autor do pecado
que nele existe.
Quem me poderá lembrar o pecado da infância, já que ninguém está diante
de ti limpo de pecado, nem mesmo a criança cuja vida conta um só dia sobre a
terra?
Quem mo recordará?
Acaso alguma criança pequena de hoje, em quem vejo a imagem do que não
recordo de mim?
E em que eu poderia pecar nesse tempo?
Acaso por desejar o peito da nutriz, chorando?
Se agora eu suspirasse com a mesma avidez, não pelo seio materno, mas
pelo alimento próprio da minha idade, seria justamente escarnecido e censurado.
Logo, era então digno de repreensão o meu proceder, mas como não podia entender
a censura, nem o costume nem a razão permitiam que eu fosse repreendido. Está
provado que, ao crescermos, extirpamos e afastamos de nós essa sofreguidão, e
jamais vi homem sensato que, para limpar uma coisa viciosa, a prive do que tem de
bom.
Acaso, mesmo para aquela idade, era bom pedir chorando o que não se me
podia dar sem dano, indignar-me acremente com as pessoas livres que não se
submetiam, assim como as pessoas respeitáveis, e até com meus próprios pais, e
com muitos outros que, mais sensatos, não davam atenção aos sinais dos meus
caprichos, enquanto eu me esforçava por agredi-los com os meus golpes, quanto
podia, por não obedecerem às minhas ordens, que me teriam sido danosas?
Daqui se segue que o que é inocente nas crianças é a debilidade dos
membros infantis, e não a alma.
Certa vez, vi e observei um menino invejoso. Ainda não falava, e já
olhava pálido e com rosto amargurado para o irmãozinho colaço. Quem não terá testemunhado
isso?
Dizem que as mães e as amas tentam esconjurar este defeito com não sei
que práticas. Mas poder-se-á considerar inocência o não suportar que se
partilhe a fonte do leite, que mana copiosa e abundante, com quem está tão
necessitado do mesmo socorro, e que sustenta a vida apenas com esse alimento?
Mas costuma-se tolerar indulgentemente essas faltas, não porque sejam insignificantes,
mas porque espera-se que desapareçam com os anos. Por isso, sendo tais coisas perdoáveis
num menino, quando se acham num adulto, mal as podemos suportar.
Assim, pois, meu Senhor e meu Deus, tu que me deste a vida e o corpo, o
qual dotaste, como vemos, de sentidos e proveste de membros, adornando-o de
beleza e de instintos naturais, com os quais pudesse defender a sua integridade
e conservação, tu me mandas que te louve por esses dons e te confesse e cante o
teu nome altíssimo. Serias Deus omnipotente e bom ainda que só tivesses criado
apenas estas coisas, que nenhum outro pode fazer senão tu, ó Unidade, origem de
todas as variedades, ó Beleza, que dás forma a todas as coisas, e com a tua lei
as ordenas!
Tenho vergonha, Senhor, de ter de somar à vida terrena que vivo, aquela
idade que não recordo ter vivido, na qual acredito pelo testemunho de outros,
por vê-lo assim em outras crianças, embora essa conjectura mereça toda a fé. As
trevas em que está envolto o meu esquecimento a seu respeito assemelham-se à
vida que vivi no ventre de minha mãe.
Assim, se fui concebido em iniquidade, e se em pecado me alimentou minha
mãe, onde, suplico-te, meu Deus, onde, Senhor, eu, teu servo, onde e quando fui
inocente?
Mas eis que silencio sobre esse tempo.
Para que ocupar-me dele, se dele já não conservo nenhuma lembrança?
CAPÍTULO VIII
As primeiras palavras
Acaso não foi caminhando da infância até aqui que cheguei à puerícia?
Ou melhor, esta veio a mim e suplantou a infância sem que esta se fosse
embora, pois, para onde poderia ir?
Contudo deixou de existir, porque eu já não era um bebezinho que não
falava, mas um menino que aprendia a falar. Disso me recordo, mas como aprendi
a falar, só mais tarde é que vim a perceber. Não mo ensinaram os mais velhos
apresentando-me as palavras com certa ordem e método, como logo depois fizeram-no
com as letras, mas foi por mim mesmo, com o entendimento que me deste, meu
Deus, quando queria manifestar os meus sentimentos com gemidos, gritinhos, e vários
movimentos do corpo, a fim de que atendessem os meus desejos, e também ao ver
que não podia exteriorizar tudo o que queria, nem ser compreendido por todos
aqueles a quem me dirigia.
Assim, pois, quando chamavam alguma coisa pelo nome, eu retinha-a na
memória e, ao pronunciar-se de novo a tal palavra, moviam o corpo na direcção
do objecto, eu entendia e notava que aquele objecto era o denominado com a
palavra que pronunciavam, porque assim o chamavam quando o desejavam mostrar.
Que esta fosse sua intenção, era-me revelado pelos movimentos do corpo,
que são como uma linguagem universal, feita com a expressão do rosto, a atitude
dos membros e o tom da voz, que indicam os afectos da alma para pedir, reter,
rejeitar ou evitar alguma coisa. Deste modo, das palavras usadas e colocadas em
várias frases e ouvidas repetidas vezes, ia eu aos poucos notando o significado
e, domada a dificuldade da minha boca, comecei a dar a entender as minhas vontades
por meio delas.
Foi assim que comecei a comunicar os meus desejos às pessoas entre as
quais vivia, e entrei a fazer parte do tempestuoso mundo da sociedade,
dependendo da autoridade dos meus pais e obedecendo às pessoas mais velhas.
CAPÍTULO IX
Estudos e jogos
Ó meu Deus, meu Deus!
Que de misérias e enganos não experimentei então, quando se me propunha,
em criança, como norma de bem viver, obedecer aos mestres que me instigavam a brilhar
neste mundo, e ilustrar-me nas artes da língua, fiel instrumento para obter
honras humanas e satisfazer a cobiça!
Mandaram-me à escola, para que aprendesse as letras, nas quais eu, miserável,
desconhecia o que havia de útil. Contudo, se era preguiçoso para aprendê-las,
era fustigado, num sistema louvado pelos mais velhos, muitos deles, que levavam
esse género de vida antes de nós, nos traçaram caminhos tão dolorosos pelos
quais éramos obrigados a caminhar, multiplicando assim o trabalho e a dor aos
filhos de Adão.
Mas, por sorte, encontrei homens que te invocavam, Senhor, e com eles
aprendi a sentir-te, quanto possível, como a um Ser grande que podia
escutar-nos e vir em nosso auxílio, embora sem a percepção dos sentidos. Ainda
menino, pois, comecei a invocar-te como refúgio e amparo e, para te invocar,
desatei os nós da minha língua, e, embora pequeno, já te rogava com grande
fervor para que não me açoitassem na escola. E quando não me escutavas, o que
servia para meu proveito, os mestres assim como meus próprios pais, que
certamente não desejavam o meu mal, riam-se daquele castigo, que então era para
mim grave suplício.
Porventura, Senhor, haverá alguma alma tão grande, unida a ti com tão
ardente afecto, pois isto também pode ser produzido pela estultice – repito,
uma alma que alcance tal grandeza de ânimo que despreze os cavaletes e garfos
de ferro, e os demais instrumentos de martírio – para fugir dos quais te
dirigem súplicas de todas as partes do mundo?
Haverá uma alma que assim os despreze – rindo-se dos que têm deles tanto
horror – como se riam os nossos pais dos tormentos com que éramos castigados pelos
nossos mestres quando meninos? Porque, na verdade, não os temíamos menos, nem
te rogávamos com menor fervor para que nos livrasses deles.
Contudo, pecávamos por negligencia escrevendo ou lendo, estudando menos
do que nos era exigido, e não era por falta de memória ou de inteligência, que
para aquela idade, Senhor, me deste de modo suficiente, senão porque eu gostava
de brincar, embora os que nos castigavam não fizessem outra coisa. Mas os jogos
dos mais velhos chamavam-se negócios, enquanto os dos meninos eram por eles
castigados, sem que ninguém se compadecesse de uns e de outros, ou melhor, de
ambos. Um juiz sensato poderia aprovar os castigos que eu, menino, recebia porque
jogava bola, e porque com este jogo atrasava o aprendizado das letras, com as
quais, adulto haveria de jogar menos inocentemente?
Acaso fazia outra coisa naquele que me castigava?
Se nalguma questiúncula era vencido por algum colega seu, não era mais
atormentado pela cólera e pela inveja do que eu, quando numa partida de bola
era vencido pelo meu companheiro?
CAPÍTULO X
Amor ao jogo
Contudo, Senhor meu, ordenador e criador da natureza, mas do pecado
somente ordenador, eu pecava, pecava desobedecendo às ordens dos meus pais e
mestres, uma vez que podia no futuro fazer bom uso das letras que desejavam
ensinar-me, qualquer que fosse sua intenção.
E não era desobediente para me ocupar de coisas melhores, mas por amor
ao jogo, buscava nos combates orgulhosas vitórias, deleitava-me com histórias
frívolas, com as quais incentivava sempre mais minha curiosidade. Igualmente
curiosos, meus olhos abriam-se sempre mais para os jogos e espectáculos dos
adultos, jogos que dão tao grande dignidade a quem os oferece, que quase todos
desejam as mesmas dignidades para seus filhos. Contudo, gostam de os castigar
se com tais espectáculos fogem dos estudos, por meio dos quais desejam que eles
venham um dia a oferecer espectáculos semelhantes.
Senhor, olha misericordiosamente para essas coisas, e livra-nos delas a
nós que já te invocamos, mas livra também os que ainda não te invocam, a fim de
que te invoquem, e sejam igualmente libertados.
CAPÍTULO XI
O batismo diferido
Ainda menino, ouvi falar da vida eterna, que nos está prometida pela
humildade de Jesus, nosso Senhor, que desceu até à nossa soberba, e fui marcado
com o sinal da cruz, sendo-me dado saborear do seu sal logo que saí do ventre
de minha mãe, que sempre esperou muito em ti.
Tu viste, Senhor, que numa ocasião, ainda menino, me atacou
repentinamente uma dor de estômago que me abrasava, e que me aproximou da
morte. Tu viste também, meu Deus, pois já me tinhas sob a tua guarda, com que
fervor de espírito e com que fé pedi à piedade de minha mãe, e da mãe de todos
nós, a tua Igreja, o baptismo do teu Cristo, meu Deus e Senhor. Perturbou-se minha
mãe carnal, pois que me criava com mais amor em seu casto coração em tua fé
para a vida eterna e, solícita, já havia cuidado de que me iniciasse e
purificasse com os sacramentos da salvação, confessando-te, ó meu Senhor Jesus,
em remissão de meus pecados, quando, de repente, comecei a melhorar. Em vista
disso, diferiu-se a minha purificação, considerando que seria impossível, se eu
vivesse, que não me tornasse a manchar, pois a culpa dos pecados cometidos depois
do baptismo é muito maior e mais perigosa.
Nesta época eu já tinha fé verdadeira, juntamente com a minha mãe e com
todos da casa, à excepção do meu pai, que, porém, não pôde vencer em mim a
ascendência da piedade materna, para que deixasse de acreditar em Cristo, tal
como ele não acreditava, minha mãe, solícita, cuidava de que tu, meu Deus,
fosses mais pai para mim do que ele, e a ajudavas a triunfar do marido, a quem
servia melhor, porque nele te servia a ti e às tuas ordens.
Mas, meu Deus, suplico-te que me mostres, se te apraz, por que motivo se
diferiu então meu baptismo, se foi ou não para meu bem que me soltaram as
rédeas do pecado. Por que razão ainda hoje se diz de uns e de outros, como
ouvimos em muitos lugares: “Deixe que faça o que quiser, porque ainda não está
batizado” – embora não digamos da saúde do corpo: “Deixe que receba ainda mais
feridas, porque ainda não está curado?”
Quanto melhor teria sido para mim receber logo a saúde, e que os meus
cuidados e os dos meus fossem empregados em conservar intacta debaixo da tua
proteção a saúde da minha alma, que me havias concedido!
Melhor fora, certamente, porém, como minha mãe, sem dúvida, já previa
quantas e quão grandes ondas de tentações me ameaçariam depois da meninice,
preferiu expor-me a elas como terra grosseira que depois receberia forma, do
que expor-me já como imagem tua.
(Revisão trad. portuguesa e grafismo por ama)
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