Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
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Evangelho: Jo 14, 1-31
1 «Não se perturbe o vosso
coração. Acreditais em Deus, acreditai também em Mim. 2 Na casa de Meu Pai há
muitas moradas. Se assim não fosse, Eu vo-lo teria dito. Vou preparar um lugar
para vós. 3 Depois que Eu tiver ido e vos tiver preparado um lugar, virei
novamente e tomar-vos-ei comigo, para que, onde estou, estejais vós também. 4 E
vós conheceis o caminho para ir onde Eu vou». 5 Tomé disse-Lhe: «Senhor, nós
não sabemos para onde vais; como podemos saber o caminho?». 6 Jesus disse-lhe:
«Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vai ao Pai senão por Mim. 7 Se
Me conhecesseis, também certamente conheceríeis Meu Pai; mas desde agora O
conheceis e já O vistes». 8 Filipe disse-Lhe: «Senhor, mostra-nos o Pai, e isso
nos basta». 9 Jesus disse-lhe: «Há tanto tempo que estou convosco, e ainda não
Me conheces, Filipe? Quem Me viu, viu também o Pai. Como dizes, pois:
Mostra-nos o Pai? 10 Não acreditais que Eu estou no Pai e que o Pai está em
Mim? As palavras que vos digo, não as digo por Mim mesmo. O Pai, que está em
Mim, Esse é que faz as obras.11 Crede em Mim: Eu estou no Pai e o Pai está em
Mim. 12 Crede-o ao menos por causa das mesmas obras. «Em verdade, em verdade
vos digo, que aquele que crê em Mim fará também as obras que Eu faço. Fará
outras ainda maiores, porque Eu vou para o Pai. 13 Tudo o que pedirdes em Meu
nome, Eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. 14 Se Me pedirdes
alguma coisa em Meu nome, Eu a farei. 15 «Se Me amais, observareis os Meus mandamentos; 16 e Eu rogarei ao
Pai e Ele vos dará um outro Paráclito, para que fique eternamente convosco, 17
o Espírito de verdade, a Quem o mundo não pode receber, porque não O vê, nem O
conhece; mas vós O conheceis, porque habita convosco e estará em vós. 18 «Não
vos deixarei órfãos; voltarei a vós. 19 Ainda um pouco, e depois já o mundo não
Me verá. Mas ver-Me-eis, porque Eu vivo e vós vivereis. 20 Naquele dia
conhecereis que estou em Meu Pai e vós em Mim e Eu em vós. 21 Aquele que aceita
os Meus mandamentos e os guarda, esse é que Me ama; e aquele que Me ama, será
amado por Meu Pai, e Eu o amarei, e Me manifestarei a ele». 22 Judas, não o
Iscariotes, disse-Lhe: «Senhor, qual é a causa por que Te hás-de manifestar a
nós e não ao mundo?». 23 Jesus respondeu-lhe: «Se alguém Me ama, guardará a
Minha palavra e Meu Pai o amará, e Nós viremos a ele, e faremos nele a Nossa
morada. 24 Quem não Me ama não observa as Minhas palavras. E a palavra que
ouvistes não é Minha, mas do Pai que Me enviou. 25 «Disse-vos estas coisas,
estando convosco. 26 Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em
Meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos recordará tudo o que vos disse. 27 «Deixo-vos a paz, dou-vos a Minha paz; não
vo-la dou como a dá o mundo. Não se perturbe o vosso coração, nem se assuste. 28
Ouvistes que Eu vos disse: Vou e voltarei a vós. Se vós Me amásseis, certamente
vos alegraríeis de Eu ir para o Pai, porque o Pai é maior do que Eu. 29 Eu
vo-lo disse agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, acrediteis. 30
Já não falarei muito convosco, porque vem o príncipe deste mundo. Ele não pode
nada contra Mim, 31 mas é preciso que o mundo conheça que amo o Pai e que faço
como Ele Me ordenou. Levantai-vos, vamo-nos daqui.
A
Universidade ao Serviço da Sociedade Actual
73
Monsenhor, gostaríamos que
nos dissesse quais são, no seu entender, os fins essenciais da Universidade e
como deve situar-se o ensino da religião dentro dos estudos universitários.
A
Universidade - como sabeis, porque o viveis ou o desejais viver - deve prestar
uma contribuição de primeira importância para o progresso humano. Como os
problemas que se apresentam na vida dos povos são múltiplos e complexos -
espirituais, culturais, sociais, económicos, etc. - a formação que a
Universidade deve proporcionar há-de abranger todos esses aspectos.
O
desejo de trabalhar pelo bem comum não basta; o caminho para que este desejo se
torne realidade é preparar homens e mulheres capazes de adquirirem uma boa
preparação e capazes de darem aos outros o fruto dessa plenitude que
adquiriram.
A
religião é a maior rebelião do homem que não quer viver como um animal, que não
se conforma, que não sossega, se não conhece e priva com o Criador; o estudo da
religião é portanto uma necessidade fundamental. Um homem que careça de
formação religiosa não está completamente formado. Por isso a religião deve
estar presente na Universidade e deve ensinar-se a nível superior, científico,
de boa teologia. Uma Universidade da qual a religião esteja ausente é uma
Universidade incompleta, porque ignora uma dimensão fundamental da pessoa
humana, que não exclui - antes exige - as outras dimensões.
Por
outro lado, ninguém pode violar a liberdade das consciências: o ensino da
religião deve ser livre, ainda que o cristão saiba que, se quer ser coerente
com a sua fé, tem obrigação grave de se formar bem nesse terreno, de possuir,
portanto, uma cultura religiosa, isto é, de adquirir doutrina, para poder viver
dela e para poder dar testemunho de Cristo com o exemplo e com a palavra.
74
No período da história que
vivemos há uma preocupação singular pela democratização do ensino, pela sua
acessibilidade a todas as classes sociais e não se pode conceber a instituição
universitária sem uma projecção ou função social. Em que sentido entende esta
democratização e de que modo pode a Universidade cumprir a sua função social?
É
necessário que a Universidade incuta nos estudantes uma mentalidade de serviço:
serviço à sociedade, promovendo o bem comum através do trabalho profissional e
da actuação pública. Os universitários devem ser responsáveis, sentir uma sã
inquietação pelos problemas dos outros e um espírito generoso que os leve a
enfrentar estes problemas e a procurar encontrar-lhes a melhor solução. É
missão da Universidade dar tudo isto aos estudantes.
Todos
aqueles que reunirem condições devem ter acesso aos estudos superiores, sejam
quais forem a sua origem social, os seus meios económicos, a sua raça ou
religião. Enquanto existirem barreiras desta natureza, a democratização do
ensino será apenas uma frase oca.
Em
resumo: a Universidade deve estar aberta a todos e, por outro lado, deve formar
os estudantes para que o seu futuro trabalho profissional venha a estar ao
serviço de todos.
75
Muitos estudantes desejam
adoptar uma atitude activa ante o panorama que observam em todo o mundo e
sentem-se solidários de tantas pessoas que sofrem física e moralmente ou que
vivem na indigência. Que ideias sociais proporia o senhor a esta juventude
intelectual de hoje?
O
ideal é, sobretudo, a realidade de um trabalho bem feito, a adequada preparação
científica durante os anos da Universidade. A partir desta base, há milhares de
lugares no mundo que precisam de braços, que esperam por um trabalho pessoal,
duro e sacrificado. A Universidade não deve formar homens que consumam
egoisticamente as vantagens alcançadas com os seus estudos; deve prepará-los
para uma tarefa de generosa ajuda ao próximo, de fraternidade cristã.
Muitas
vezes esta solidariedade esgota-se em manifestações orais ou escritas, quando
não em algazarras estéreis ou prejudiciais. A solidariedade, meço-a eu por
obras de serviço: conheço milhares de casos de estudantes, de muitos países,
que renunciaram ao seu pequeno mundo privado, dando-se aos outros mediante um
trabalho profissional que procuram fazer com perfeição humana, em obras de
ensino, de assistência, sociais, etc., com espírito sempre jovem e cheio de
alegria.
76
Perante a actualidade
sócio-política do nosso e dos restantes países, perante a guerra, a injustiça
ou a opressão, que responsabilidade atribui à Universidade como corporação, aos
professores e aos alunos? Pode a Universidade, seja como for, admitir dentro do
seu âmbito o desenvolvimento de actividades políticas por parte de estudantes e
professores?
Antes
de mais nada quero dizer que nesta conversa estou exprimindo uma opinião, a
minha, a de uma pessoa que desde os dezasseis anos - agora tenho sessenta e
cinco - não perdeu o contacto com a Universidade. Exponho o meu modo pessoal de
ver esta questão, não o modo de ver do Opus Dei, que em todas as coisas
temporais e discutíveis não quer nem pode ter opção nenhuma - cada sócio da
Obra tem e exprime livremente o seu próprio parecer pessoal, pelo qual é também
pessoalmente responsável - já que o fim do Opus Dei é exclusivamente
espiritual.
Voltando
à sua pergunta, parece-me que seria preciso, em primeiro lugar, chegar a um
acordo sobre o que significa política. Se por política se entende interessar-se
e trabalhar em favor da paz, da justiça social, da liberdade de todos - então,
todos na Universidade, e a Universidade como corporação, têm obrigação de
sentir esses ideais e de fomentar a preocupação de resolver os grandes
problemas da vida humana.
Se,
em vez disso, se entende por política a solução concreta de um determinado
problema, a par de outras soluções possíveis e legítimas, em confronto com os
que sustentam o contrário, penso que não é a Universidade a instância que tem
de pronunciar-se a esse respeito.
A
Universidade é o lugar onde as pessoas se preparam para dar soluções a esses
problemas; é a casa comum, lugar de estudo e de amizade; lugar onde devem
conviver em paz pessoas de diversas tendências que, em cada momento, sejam
expressão do legítimo pluralismo que existe na sociedade.
77
Se o condicionalismo
político de determinado país chegasse a tal situação que um universitário -
professor ou aluno - considerasse preferível, em consciência, politizar a
Universidade, por carecer de meios lícitos para evitar o mal geral da nação,
poderia, no uso da sua liberdade, fazê-lo?
Se
num país não existisse a mínima liberdade política talvez se produzisse uma
desnaturalização tal da Universidade, que, deixando de ser a casa comum, se
viesse a converter em campo de batalha de facções opostas.
Penso,
não obstante, que seria preferível dedicar esses anos a uma preparação séria, a
formar uma mentalidade social, para que aqueles que mais tarde houvessem de
mandar - os que agora estudam - não caíssem nessa aversão à liberdade pessoal
que é verdadeiramente patológica. Se a Universidade se converte no lugar onde
se debatem e se decidem problemas políticos concretos, é fácil que se perca a
serenidade académica e que os estudantes se formem num espírito de
partidarismo; e assim, a Universidade e o país arrastarão sempre esse mal
crónico que é o totalitarismo, seja qual for o seu sinal.
Quero,
no entanto, esclarecer, ao afirmar que a Universidade não é lugar para a
política, que não excluo, antes desejo, um estatuto político normal para todos
os cidadãos. E se bem que a minha opinião sobre este ponto seja muito concreta,
não quero acrescentar mais nada, porque a minha missão não é política, mas
sacerdotal. Tenho direito a dizer o que disse, porque me considero
universitário e tudo aquilo que se refere à Universidade me apaixona. Não faço,
nem quero, nem posso fazer política. Mas a minha mentalidade de jurista e de
teólogo - e a minha fé cristã também - levam-me a estar sempre ao lado da
legítima liberdade de todos os homens.
Ninguém
pode pretender, em questões temporais, impor dogmas que não existem. Ante um
problema concreto, qualquer que ele seja, a solução deve ser estudá-lo bem e,
depois, actuar em consciência, com liberdade e com responsabilidade também
pessoal.
78
Quais são, em sua opinião,
as funções que competem às associações ou sindicatos de estudantes? Como devem
ser as suas relações com as autoridades académicas?
Pede-se-me
um juízo sobre uma questão muito ampla. Não vou, por isso, descer a pormenores;
só algumas ideias gerais. Penso que as associações de estudantes devem intervir
nas tarefas universitárias específicas. Há-de haver representantes - eleitos
livremente pelos seus colegas - que entrem em relação com as autoridades
académicas, conscientes de que têm de trabalhar em uníssono, numa actividade
comum. É outra boa oportunidade de prestar um verdadeiro serviço.
É
necessário um estudo que estabeleça as regras a seguir para que esta actividade
se realize com eficácia, com justiça e de forma racional. Os assuntos devem ser
bem trabalhados, bem pensados; se as soluções que se propõem forem bem
estudadas, nascidas do desejo de construir e não do afã de criar conflitos,
adquirem uma autoridade interna que faz com que se imponham por si sós.
Para
tudo isto é preciso que os representantes das associações tenham uma formação
séria: que amem a liberdade dos outros em primeiro lugar e a sua própria
liberdade, com a consequente responsabilidade; que não desejem o brilho pessoal
nem se atribuam faculdades que não têm, mas busquem o bem da Universidade, que
é o bem dos seus companheiros de estudo. E que os eleitores escolham os seus
representantes por essas qualidades e não por razões alheias à eficácia da sua
Alma Mater: só assim a Universidade será o lugar de paz, remanso de serena e
nobre inquietação, que facilita o estudo e a formação de todos.
79
Em que sentido entende o
senhor a liberdade de ensino e em que condições a considera necessária? Neste
sentido, que atribuições se devem reservar ao Estado em matéria de ensino
superior? Considera que a autonomia é um princípio básico para a organização da
Universidade? Poder-nos-ia indicar as linhas mestras nas quais se deve fundar o
sistema de autonomia?
A
liberdade de ensino é apenas um aspecto da liberdade em geral. Considero a
liberdade pessoal necessária para todos e em tudo o que é moralmente lícito.
Liberdade de ensino, portanto, em todos os níveis e para todas as pessoas! Quer
isto dizer que toda a pessoa ou associação com capacidade para tal deve ter a
possibilidade de fundar centros de ensino em igualdade de condições e sem
impedimentos desnecessários.
A
função do Estado depende da situação social: é diferente na Alemanha ou na
Inglaterra, no Japão ou nos Estados Unidos, para citar países com estruturas
educacionais muito diversas. O Estado tem evidentemente funções de promoção, de
controle, de vigilância. E isso exige igualdade de oportunidades entre a
iniciativa privada e a do Estado: vigiar não é pôr obstáculos, nem impedir ou
coarctar a liberdade.
Por
isso considero necessária a autonomia docente: autonomia é outra forma de dizer
liberdade de ensino. A Universidade como corporação deve ter a independência
dum órgão num corpo vivo, liberdade na sua tarefa específica em favor do bem
comum.
Alguns
passos a dar para a efectiva realização desta autonomia podem ser: liberdade de
escolha do professorado e dos administradores; liberdade para o estabelecimento
dos planos de estudo; possibilidade de constituir o seu património e de o
administrar. Enfim, todas as condições necessárias para que a Universidade goze
de vida própria. Tendo esta vida própria, saberá dá-la, para bem de toda a
sociedade.
80
Descobre-se na opinião
estudantil uma crítica cada vez mais intensa ao sistema de cátedra
universitária vitalícia. Parece-lhe acertada esta corrente de opinião?
Parece.
Se bem que reconheça o alto nível científico e humano do professorado espanhol,
prefiro o sistema de contratar livremente os professores. Penso que este
sistema não prejudica economicamente o professor e constitui um incentivo para
que o catedrático não deixe nunca de investigar e de progredir na sua
especialidade. Evita também que as cátedras sejam tidas como feudos em vez de
lugares de serviço.
Não
excluo que o sistema de cátedra vitalícia possa dar bons resultados nalgum
país, nem que com esse sistema se verifiquem casos de catedráticos muito
competentes, que fazem da sua cátedra um verdadeiro serviço à Universidade. Mas
parece-me que o sistema de contratação livre permite que estes casos sejam em
maior número, até conseguir o ideal de que o sejam praticamente todos.
81
Não é de opinião que,
depois do Vaticano II, ficaram antiquados os conceitos de "colégios da
Igreja", "colégios católicos", "Universidades da
igreja", etc.? Não lhe parece que tais conceitos comprometem indevidamente
a Igreja ou soam a privilégio?
Não,
não me parece, se por colégios da Igreja, colégios católicos, etc., se entender
o resultado do direito que a Igreja e as Ordens e Congregações religiosas têm
de criar centros de ensino. Montar um colégio ou uma universidade não é um
privilégio, mas um encargo, quando se procura que seja um centro para todos, e
não apenas para os que dispõem de recursos económicos.
O
Concílio não pretendeu declarar superadas as instituições docentes
confessionais: só quis fazer ver que há outra forma - inclusivamente mais
necessária e universal, vivida há tantos anos pelos sócios do Opus Dei - de
presença cristã no ensino, que é a livre iniciativa dos cidadãos católicos que
têm profissões ligadas à educação, dentro e fora dos centros criados pelo
Estado. É mais uma manifestação da plena consciência que a Igreja tem, nestes
tempos, da fecundidade do apostolado dos leigos.
Tenho
de confessar, por outro lado, que não simpatizo com as expressões escola
católica, colégios da Igreja, etc., ainda que respeite todos aqueles que pensam
o contrário. Prefiro que as realidades se distingam pelos seus frutos, não
pelos seus nomes. Um colégio será efectivamente cristão quando, sendo como os
restantes e esmerando-se por progredir, realizar um trabalho de formação
completa - também cristã - respeitando a liberdade pessoal e promovendo a
urgente justiça social. Se faz isto realmente, o nome é de somenos.
Pessoalmente, repito, prefiro evitar esses adjectivos.
82
Como Grão-Chanceler da
Universidade de Navarra, desejaríamos que nos falasse dos princípios que a
inspiraram ao fundá-la e do seu significado actual no âmbito da Universidade
espanhola.
A
Universidade de Navarra surgiu em 1952 - depois de rezar durante anos e anos,
sinto alegria ao dizê-lo - com a aspiração de dar vida a uma instituição
universitária na qual se plasmassem os ideais culturais e apostólicos de um
grupo de professores profundamente interessados na missão docente. Desejou
então - e deseja agora - contribuir, lado a lado com as outras universidades,
para resolver os graves problemas educativos da Espanha e de muitos outros
países que necessitam de homens bem preparados para constituírem uma sociedade
mais justa.
Quando
foi fundada, aqueles que a iniciaram não eram estranhos à Universidade
espanhola: eram professores que se tinham formado e exercido o seu magistério
em Madrid, Barcelona, Sevilha, Santiago, Granada e em várias outras
universidades. Esta colaboração estreita - atrever-me-ia a dizer que mais
estreita que a que mantêm entre si universidades inclusivamente vizinhas - tem
continuado, mediante frequentes intercâmbios e visitas de professores,
congressos nacionais nos quais se trabalha em conjunto, etc. O mesmo contacto
se tem mantido com as melhores universidades de outros países, como foi
confirmado pelo recente doutoramento honoris causa de professores da Sorbonne,
Harvard, Coimbra, Munique e Lovaina.
A
Universidade de Navarra tem servido também para orientar a ajuda de tantas
pessoas que vêem nos estudos universitários uma base fundamental do progresso
do país, quando estão abertos a todos aqueles que merecem estudar, sejam quais
forem os seus recursos económicos. É uma realidade a Associação de Amigos da
Universidade de Navarra que, com a sua contribuição generosa, já conseguiu
distribuir um elevado número de bolsas de estudo. Este número aumentará cada
vez mais, como aumentará a afluência de estudantes afro-asiáticos e
latino-americanos.
83
Algumas pessoas escreveram
que a Universidade de Navarra é uma Universidade para ricos e que, ainda por
cima, recebe subsídios avultados do Estado. Quanto ao primeiro ponto, sabemos
que não é assim, porque somos também estudantes e conhecemos os nossos
companheiros; quais são, na realidade, esses subsídios estatais?
Existem
dados concretos, ao alcance de toda a gente, porque foram difundidos pela
imprensa, que permitem ver como - sendo o custo aproximadamente o mesmo das
restantes universidades - o número de universitários que recebem ajuda
económica para os seus estudos na Universidade de Navarra é superior ao de
qualquer outra Universidade do país. Posso dizer-vos que este número irá
aumentar para procurar alcançar uma percentagem mais alta ou, pelo menos,
semelhante à da Universidade não espanhola que mais se distinguir pelo seu
trabalho de promoção social.
Compreendo
que desperte as atenções ver a Universidade de Navarra como um organismo vivo
que funciona admiravelmente e que isto faça pensar na existência de ingentes
meios económicos. Mas não se tem em conta, ao discorrer assim, que não bastam
os recursos materiais para que uma iniciativa progrida com garbo: a vida deste
centro deve-se principalmente à dedicação, ao entusiasmo e ao trabalho que
professores, alunos, empregados, contínuos, estas benditas e queridíssimas
mulheres navarras que fazem a limpeza, todos, enfim, consagram à sua
Universidade. Não fora isto e a Universidade não teria podido aguentar-se.
A
Universidade tem sido financiada mediante subsídios. Em primeiro lugar, o da
Deputação Foral de Navarra, para despesas de manutenção. É preciso mencionar
também a cedência de terrenos por parte do Município de Pamplona, para a
construção dos edifícios, como é prática habitual dos municípios de tantos
países. Sabeis por experiência o interesse moral e económico que tem para uma
região como Navarra, e concretamente para Pamplona, contar com uma Universidade
moderna que abre, a todos, a possibilidade de receber um bom ensino superior.
Perguntais-me
por subsídios do Estado. O Estado espanhol não ajuda a cobrir as despesas de
sustentação da Universidade de Navarra. Concedeu apenas alguns subsídios para a
criação de novos postos escolares, os quais aliviam o grande esforço económico
requerido pelas novas instalações.
Outra
fonte de receitas, concretamente para a Escola Técnica Superior de Engenheiros
Industriais, são os subsídios da "Caja de Ahorros Provincial de
Guipúzcoa".
Tiveram
especial importância, desde os começos da Universidade, as ajudas prestadas por
fundações espanholas ou estrangeiras, estatais e privadas: assim, um vultoso
donativo oficial dos Estados Unidos, para dotar de aparelhagem científica a
Escola de Engenheiros Industriais; a contribuição da obra assistencial alemã
Misereor para o plano dos novos edifícios; a da Fundação Huarte para a investigação
sobre o cancro; as da Fundação Gulbenkian, etc.
Depois,
a ajuda que, se é possível, mais se agradece: a de milhares de pessoas de todas
as classes sociais, muitas delas de escassos recursos económicos, que em
Espanha e fora de Espanha, estão a colaborar, na medida das suas
possibilidades, na sustentação da Universidade.
Finalmente,
é preciso não esquecer as empresas que se interessam e cooperam nas tarefas de
investigação da Universidade, ou a ajudam de qualquer modo.
Talvez
penseis que, com tudo isto, o dinheiro acabe por sobrar. Não é assim: a
Universidade de Navarra continua a ser deficitária. Desejava que nos ajudassem
ainda mais pessoas e mais fundações, para podermos continuar com mais extensão
esta tarefa de serviço e de promoção social.
84
Como fundador do Opus Dei
e impulsionador de uma ampla gama de instituições universitárias em todo o
Mundo, poder-nos-ia descrever que motivações levaram o Opus Dei a criá-las e
quais são os traços principais do contributo do Opus Dei para este nível de ensino?
O
fim do Opus Dei é fazer com que muitas pessoas em todo o Mundo saibam, na
teoria e na prática, que é possível santificar a sua actividade corrente, o
trabalho de cada dia; que é possível buscar a perfeição cristã no meio da rua,
sem abandonar as actividades a que Nosso Senhor nos quis chamar. Por isso, o
apostolado mais importante do Opus Dei é aquele que é realizado individualmente
pelos seus sócios, através da sua actuação profissional exercida com a maior
perfeição humana - apesar dos meus erros pessoais e dos que cada um possa ter -
em todos os ambientes e em todos os países: porque pertencem ao Opus Dei
pessoas de umas setenta nações, de todas as raças e condições sociais.
Além
disso, o Opus Dei, como corporação, promove, com o concurso de um grande número
de pessoas que não estão associadas à Obra - e que muitas vezes não são cristãs
- trabalhos corporativos, com que procura contribuir para a resolução dos
problemas que o mundo actual enfrenta: centros educativos, assistenciais, de
promoção e habilitação profissional, etc.
As
instituições universitárias são apenas um aspecto destas actividades. As linhas
que as caracterizam podem resumir-se assim: educação na liberdade pessoal e na
responsabilidade também pessoal. Com liberdade e responsabilidade trabalha-se
com gosto, rende-se, não há necessidade de controles nem de vigilância, porque
todos se sentem em sua casa e basta um simples horário. Depois, o espírito de
convivência, sem discriminações de nenhuma espécie. É na convivência que se
formam as pessoas, até que cada qual aprenda que, para poder exigir que
respeitem a sua liberdade, deve saber respeitar a liberdade dos outros.
Finalmente, o espírito de fraternidade humana: os talentos próprios devem ser
postos ao serviço dos outros, pois sem isso de pouco valem. As obras
corporativas que o Opus Dei promove em todo o Mundo estão sempre ao serviço dos
outros, porque são um serviço cristão.
85
Em Maio, numa reunião que
teve com os estudantes da Universidade de Navarra, prometeu um livro sobre temas
estudantis e universitários. Poder-nos- -ia dizer se demorará muito a aparecer?
Permiti
a um velho de mais de sessenta anos esta pequena vaidade: confio em que o livro
sairá e poderá ser útil a professores e alunos. Pelo menos porei nele todo o
carinho que tenho pela Universidade, um carinho que nunca perdi desde que nela
pus os pés pela primeira vez há... tantos anos!
Talvez
demore ainda um pouco a aparecer, mas chegará. Prometi noutra ocasião, aos
estudantes de Navarra uma imagem da Santíssima Virgem para a colocar no meio do
campus, donde abençoasse o amor limpo, são, da vossa juventude. A estátua
demorou um pouco a chegar, mas chegou por fim: Santa Maria, Mãe do Amor
Formoso, benzida expressamente pelo Santo Padre para vós.
Acerca
do livro, devo dizer-vos que não espereis que agrade a todos. Exporei nele as
minhas opiniões, confiando em que serão respeitadas pelos que pensem o
contrário, como eu respeito todas as opiniões diferentes da minha, como
respeito aqueles que têm um coração grande e generoso, ainda que não
compartilhem comigo a fé de Cristo. Vou contar-vos uma coisa que me tem
sucedido muitas vezes, a última delas aqui, em Pamplona. Aproximou-se de mim um
estudante que queria cumprimentar-me.
-
"Monsenhor, eu não sou cristão" - disse-me - "sou
maometano" - "És filho de Deus como eu" - respondi- -lhe. E
abracei-o com toda a minha alma.
86
Finalmente, pode dizer-nos
alguma coisa a nós, que trabalhamos na imprensa universitária?
O
jornalismo é uma grande coisa, também o jornalismo universitário. Podeis
contribuir muito para promover entre os vossos companheiros o amor aos ideais
nobres, o afã de superação do egoísmo pessoal, a sensibilidade ante os afazeres
colectivos, a fraternidade. E agora, uma vez mais, não posso deixar de vos
convidar a amar a verdade.
Não
vos oculto que me repugna o sensacionalismo de alguns jornalistas que dizem a
verdade a meias. Informar não é ficar a meio caminho entre a verdade e a
mentira. Isso nem se pode chamar informação, nem é moral, nem se podem chamar
jornalistas aqueles que misturam, com poucas meias verdades, bastantes erros e
mesmo calúnias premeditadas; não se podem chamar jornalistas porque não são
mais do que as engrenagens - mais ou menos lubrificadas - de qualquer
organização propaladora de falsidades, que sabe que serão repetidas até à
saciedade sem má fé, pela ignorância e estupidez de muitos. Tenho de
confessar-vos que, pela minha parte, esses falsos jornalistas ficam a ganhar,
porque não há dia em que não reze carinhosamente por eles, pedindo a Nosso
Senhor que lhes esclareça as consciências.
Rogo-vos,
pois, que difundais o amor ao bom jornalismo, que é aquele que não se contenta
com rumores infundados, com os boatos inventados por imaginações febris.
lnformai com factos, com resultados, sem julgar as intenções, mantendo a
legítima diversidade de opiniões, num plano equânime, sem descer ao ataque
pessoal. É difícil que haja verdadeira convivência onde falte a verdadeira
informação; e a informação verdadeira é aquela que não tem medo à verdade e que
não se deixa levar por desejos de subir, de falso prestígio ou de vantagens
económicas.
(Entrevista realizada por Andrés
Garrigó, publicada em "Gaceta Universitaria" (Madrid, 5 de Outubro de
1967).
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