A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
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Evangelho: Jo 10, 22-42
22
Celebrava-se em Jerusalém a festa da Dedicação. Era Inverno. 23 Jesus andava a
passear no templo, no pórtico de Salomão. 24 Rodearam-n'O os judeus e
disseram-Lhe: «Até quando nos manterás em suspenso? Se és o Messias, di-no-lo
claramente». 25 Jesus respondeu-lhes: «Já vo-lo disse, e vós não Me credes. As
obras que faço em nome de Meu Pai, essas dão testemunho de Mim; 26 porém vós
não credes, porque não sois das Minhas ovelhas. 27 As Minhas ovelhas ouvem a
Minha voz, e Eu conheço-as, e elas seguem-Me. 28 Eu dou-lhes a vida eterna;
elas jamais hão-de perecer, e ninguém as arrebatará da Minha mão. 29 Meu Pai,
que Mas deu, é maior que todas as coisas; e ninguém pode arrebatá-las da mão de
Meu Pai. 30 Eu e o Pai somos um». 31 Os judeus, então, pegaram em pedras para O
apedrejarem. 32 Jesus disse-lhes: «Tenho-vos mostrado muitas obras boas que fiz
por virtude de Meu Pai; por qual destas obras Me apedrejais?». 33 Os judeus
responderam-Lhe: «Não é por causa de nenhuma obra boa que Te apedrejamos, mas
pela blasfémia, porque sendo homem, Te fazes Deus». 34 Jesus respondeu-lhes:
«Não está escrito na vossa Lei: “Eu disse: Vós sois deuses”? 35 Se ela chamou
deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida, e a Escritura não pode
ser anulada, 36 a Mim, a Quem o Pai santificou e enviou ao mundo, vós dizeis:
Tu blasfemas!, por Eu ter dito: Sou Filho de Deus? 37 Se Eu não faço as obras
de Meu Pai, não Me acrediteis; 38 mas se as faço, mesmo que não queirais crer
em Mim, crede nas Minhas obras, para que saibais e reconheçais que o Pai está
em Mim, e Eu no Pai». 39 Então os judeus procuravam novamente prendê-l'O, mas
Ele escapou-Se das suas mãos. 40 Retirou-Se novamente para o outro lado do
Jordão, para o lugar em que João tinha começado a baptizar; e ficou lá. 41
Foram muitos ter com Ele e diziam: «João não fez nenhum milagre, 42 mas tudo o
que disse d'Este era verdade». E muitos acreditaram n'Ele.
Demonstraria
pouca maturidade aquele que, na presença de defeitos e misérias que encontrasse
em alguma pessoa pertencente à Igreja - por mais alto que estivesse colocada em
virtude da sua função -, sentisse diminuir a sua fé na Igreja e em Cristo. A
Igreja não é governada por Pedro, João ou Paulo; é governada pelo Espírito
Santo e o Senhor prometeu que permanecerá a seu lado todos os dias, até à
consumação dos séculos.
Escutai
o que diz São Tomás, que tanto se debruçou sobre este ponto, a respeito da
recepção dos Sacramentos, que são causa e sinal da graça santificante: o que se
abeira dos Sacramentos, recebe-os certamente do ministro da Igreja, não
enquanto é tal pessoa, mas enquanto ministro da Igreja. Por isso, enquanto a
Igreja lhe permitir exercer o seu ministério., o que receber das suas mãos o
Sacramento, não participa do pecado do ministro indigno, mas comunica com a
Igreja, que o tem por ministro . Quando o Senhor permitir que a fraqueza humana
apareça, a nossa reacção há-de ser a mesma que teríamos se víssemos a nossa mãe
doente ou tratada com frieza. amá-la mais, ter para com ela mais manifestações
externas e internas de carinho.
Se
amamos a Igreja, nunca aparecerá em nós o interesse mórbido de pôr à mostra,
como culpa da Mãe, as misérias de alguns dos seus filhos. A Igreja, Esposa de
Cristo, não tem por que entoar nenhum mea culpa. Nós sim: mea culpa, mea culpa,
mea maxima culpa! Este é o verdadeiro meaculpismo, o pessoal, e não o que ataca
a Igreja, apontando e exagerando os defeitos humanos, que, na Mãe Santa, são
uma consequência da acção n'Ela exercida pelos homens. Acção que, aliás, só vai
até onde os homens podem, porque nunca chegarão a destruir - nem sequer a tocar
- aquilo a que chamávamos a santidade original e constitutiva da Igreja.
Por
isso, Deus Nosso Senhor comparou, com toda a propriedade, a Igreja à eira onde
se amontoa a palha e o trigo, de que sairá o pão para a mesa e para o altar;
comparou-a também a uma rede varredeira ex omni genere piscium congreganti,
capaz de apanhar peixes bons e maus que depois serão separados.
8
O
mistério da santidade da Igreja - essa luz original, que pode ficar oculta pela
sombra das baixezas humanas - exclui todo e qualquer pensamento de suspeita ou
de dúvida sobre a beleza da nossa Mãe. Nem se pode tolerar, sem protesto, que
outros a insultem. Não procuremos na Igreja os lados vulneráveis para a
crítica, como alguns que não demonstram ter fé nem ter amor. Não posso conceber
como é possível ter um carinho verdadeiro pela nossa mãe e falar dela com
frieza.
A
nossa Mãe é Santa, porque nasceu pura e continuará sem mácula por toda a
eternidade.
Se,
por vezes, não soubermos descobrir o seu rosto formoso, limpemos nós os olhos;
se notamos que a sua voz não nos agrada, tiremos dos nossos ouvidos a dureza
que nos impede de ouvir, no seu tom, os assobios do Pastor amoroso. A nossa Mãe
é Santa, com a santidade de Cristo, à qual está unida no corpo - que somos
todos nós - e no espírito, que é o Espírito Santo, assente também no coração de
cada um de nós, se nos conservamos na graça de Deus.
Santa,
Santa, Santa!, ousamos cantar à Igreja, evocando o hino em honra da Santíssima
Trindade. Tu és Santa, Igreja, minha Mãe, porque foste fundada pelo Filho de
Deus, Santo; és Santa, porque assim o dispôs o Pai, fonte de toda a santidade;
és Santa, porque te assiste o Espírito Santo que mora na alma dos fiéis, a fim
de reunir os filhos do Pai, que hão-de habitar na Igreja do Céu, a Jerusalém
eterna.
9
A Igreja é católica
Deus
quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. Porque
há um só Deus, e há um só mediador entre Deus e os homens, que é Jesus Cristo
Homem, o qual se deu a si mesmo em resgate de todos e para testemunho no tempo
oportuno. Jesus Cristo institui uma única Igreja, a sua Igreja; por isso, a
Esposa de Cristo é Una e Católica: universal, para todos os homens.
Desde
há séculos que a Igreja está estendida por todo o mundo, contando com pessoas
de todas as raças e condições sociais. Mas a catolicidade da Igreja não depende
da extensão geográfica, mesmo que isto seja um sinal visível e um motivo de
credibilidade. A Igreja era Católica já no Pentecostes; nasce Católica no
Coração chagado de Jesus, como um fogo que o Espírito Santo inflama.
No
século II, os cristãos definiam como Católica a Igreja, para a distinguir das
seitas que, utilizando o nome de Cristo, traíam nalgum ponto a sua doutrina.
Chamamos-lhe Cató1ica, escreve São Cirilo, quer porque se encontra difundida
por todo o orbe da Terra, dum confim ao outro, quer porque ensina de modo
universal e sem defeito todos os dogmas que os homens devem conhecer, do
visível e do invisível, do celestial e do terreno. Também porque submete ao
recto culto todo o tipo de homens, governantes e cidadãos, doutos e ignorantes.
E, finalmente, porque cura e sana todo o género de pecados, da alma, ou do
corpo, possuindo além disso - seja qual for o nome com que se designe - todas
as formas de virtude, em factos, em palavras e em toda a espécie de dons
espirituais.
A
catolicidade da Igreja não depende de que os não católicos a aclamem ou tenham
consideração por Ela. Nem se relaciona com o facto de que, em assuntos não
espirituais, as opiniões de algumas pessoas, dotadas de autoridade na Igreja,
sejam consideradas - e às vezes instrumentalizadas - por meios de opinião
pública de correntes afins ao seu pensamento. Acontecerá frequentemente que a
parte de verdade que se defende em qualquer ideologia humana, encontre no
ensino perene da Igreja algum eco ou algum fundamento; isto é, em certa medida,
um sinal da divindade da Revelação que esse Magistério guarda. Mas a Esposa de
Cristo é Católica mesmo quando for deliberadamente ignorada por muitos, e
inclusivamente ultrajada e perseguida, como acontece hoje por desgraça em
tantos sítios.
10
A
Igreja não é um partido político, nem uma ideologia social, nem uma organização
mundial de concórdia ou de progresso material, mesmo reconhecendo a nobreza
dessas e doutras actividades. A Igreja realizou sempre e continua a realizar um
imenso trabalho em benefício dos necessitados, dos que sofrem e de todos
aqueles que, de alguma maneira, padecem as consequências do único e verdadeiro
mal, que é o pecado. E a todos - aos que são de qualquer forma indigentes e aos
que julgam gozar da plenitude dos bens da terra - a Igreja vem confirmar uma
única coisa essencial, definitiva: que o nosso destino é eterno e sobrenatural;
que só em Jesus Cristo nos salvamos para sempre; e que só n'Ele alcançamos, já
nesta vida, de algum modo, a paz e a felicidade verdadeiras.
Pedi
agora comigo a Deus Nosso Senhor que nós, os católicos, nunca nos esqueçamos
destas verdades e que nos decidamos a pô-las em prática. A Igreja Católica não
precisa do "visto bom" dos homens, porque é obra de Deus.
Católicos
nos mostraremos pelos frutos de santidade que dermos, visto que a santidade não
admite fronteiras nem é património de nenhum particularismo humano. Católicos
nos mostraremos se rezarmos, se continuamente procurarmos dirigir-nos a Deus,
se nos esforçarmos, sempre e em tudo, por ser justos - no mais amplo alcance do
termo justiça, não raramente utilizado nestes tempos com um matiz materialista
e erróneo -, se amarmos e defendermos a liberdade pessoal dos outros homens.
Lembro-vos
também outro sinal claro da catolicidade da Igreja: a fiei conservação e
administração dos Sacramentos como foram instituídos por Jesus Cristo, sem
tergiversações humanas nem más tentativas de os condicionar psicológica ou
sociologicamente. Pois ninguém pode determinar o que está sob a potestade de
outrem, a não ser aquilo que está em seu poder. E como a santificação do homem
está sob a potestade de Deus santificante, não compete ao homem estabelecer,
segundo o seu critério, quais as coisas que o hão-de santificar, mas isto há-de
ser determinado por instituição divina. Essas tentativas de tirar a universalidade
à essência dos Sacramentos, poderiam ter talvez uma justificação se se tratasse
apenas de sinais, de símbolos, que actuassem por leis naturais de compreensão e
entendimento. Mas, os Sacramentos da Nova Lei são ao mesmo tempo causas e
sinais. Por isso comummente se ensina que causam o que significam. Daí que
conservem perfeitamente a razão de Sacramento, enquanto se ordenam a algo
sagrado, não só como sinal, mas também como causas.
11
Esta
Igreja Católica é romana. Eu saboreio esta palavra: romana! Sinto-me romano,
porque romano quer dizer universal, católico; porque me leva a amar
carinhosamente o Papa, il dolce Cristo in terra, como gostava de repetir Santa
Catarina de Sena, a quem tenho como amiga amadíssima.
Desde
este centro católico romano - sublinhou Paulo VI no discurso de encerramento do
Concílio Vaticano II - ninguém é, em teoria, inalcançável; todos podem e devem
ser alcançados. Para a Igreja Católica ninguém é estranho, ninguém está
excluído, ninguém se considera afastado. Venero com todas as minhas forças a
Roma de Pedro e de Paulo, banhada pelo sangue dos mártires, centro donde tantos
saíram para propagar por todo o mundo a palavra salvadora de Cristo. Ser romano
não implica nenhum particularismo, mas ecumenismo autêntico. Representa o
desejo de dilatar o coração, de abri-lo a todos com as ânsias redentoras de
Cristo, que a todos procura e a todos acolhe, porque a todos amou primeiro.
Santo
Ambrósio escreveu umas breves palavras, que compõem uma espécie de cântico de
alegria: onde está Pedro, aí está a Igreja, e onde está a Igreja não reina a
morte, mas a vida eterna. Porque onde estão Pedro e a Igreja está Cristo, e Ele
é a salvação, o único caminho.
12
A Igreja é Apostó1ica
Nosso
Senhor funda a sua Igreja sobre a debilidade - mas também sobre a fidelidade -
de alguns homens, os Apóstolos, aos quais promete a assistência constante do
Espírito Santo. Leiamos outra vez o texto conhecido, que é sempre novo e
actual: Foi-me dado todo o poder no céu e na terra. Ide, pois, ensinai todas as
gentes, baptizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo,
ensinando-as a observar todas as coisas que vos mandei, e eis que eu estou
convosco todos os dias, até à consumação dos séculos.
A
pregação do Evangelho não surge na Palestina pela iniciativa pessoal de umas
tantas pessoas fervorosas. Que podiam fazer os Apóstolos? Não valiam
absolutamente nada no seu tempo; não eram ricos, nem cultos, nem heróis do
ponto de vista humano. Jesus lança sobre os ombros deste punhado de discípulos
uma tarefa imensa, divina. Não fostes vós que me escolhesses, mas fui eu que
vos escolhi a vós, e que vos destinei para que vades e deis fruto, e para que o
vosso fruto permaneça, a fim de que tudo o que pedirdes a meu Pai em meu nome,
ele vo-lo conceda.
Através
de dois mil anos de história, conserva-se na Igreja a sucessão apostólica. Os
bispos, declara o Concilio de Trento, sucederam no lugar dos Apóstolos e estão
colocados, como diz o próprio Apóstolo (Paulo), pelo Espírito Santo para reger
a Igreja de Deus (Act. XX, 28). E, entre os Apóstolos, o próprio Cristo tornou
Simão objecto duma escolha especial: Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei
a minha Igreja. Eu roguei por ti, também acrescenta, para que a tua fé não
pereça; e tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos.
Pedro
muda-se para Roma e fixa ali a sede do primado, do Vigário de Cristo. Por isso,
é em Roma onde melhor se adverte a sucessão apostólica, e por isso é chamada a
Sé apostólica por excelência. Proclamou o Concilio Vaticano II, com palavras de
um Concilio anterior, o de Florença, que todos os fiéis de Cristo devem crer
que a Santa Sé Apostólica e o Romano Pontífice possuem o primado sobre todo o
orbe, e que o próprio Romano Pontífice é sucessor do bem-aventurado Pedro,
príncipe dos Apóstolos, verdadeiro vigário de Jesus Cristo, cabeça de toda a
Igreja e pai e mestre de todos os cristãos. A ele foi entregue por Nosso Senhor
Jesus Cristo, na pessoa do bem-aventurado Pedro, plena potestade de apascentar,
reger e governar a Igreja universal.
13
A
suprema potestade do Romano Pontífice e a sua infalibilidade, quando fala ex
cathedra, não são uma invenção humana, pois baseiam-se na explícita vontade
fundacional de Cristo. Que pouco sentido tem enfrentar o governo do Papa com o
dos bispos, ou reduzir a validade do Magistério pontifício ao consentimento dos
fiéis! Nada mais alheio à Igreja do que o equilíbrio de poderes; não nos servem
esquemas humanos, por mais atractivos ou funcionais que sejam. Ninguém na
Igreja goza por si mesmo de potestade absoluta, enquanto homem; na Igreja não
há outro chefe além de Cristo; e Cristo quis constituir um Vigário seu - o
Romano Pontífice - para a sua Esposa peregrina nesta terra.
A
Igreja é Apostólica por constituição: a que verdadeiramente é e se chama Católica,
deve ao mesmo tempo brilhar pela prerrogativa da unidade, santidade e sucessão
apostólica. Assim, a Igreja é Una, com unidade esclarecida e perfeita de toda a
terra e de todas as nações, com aquela unidade da qual é princípio, raiz e
origem indefectível a suprema autoridade e mais excelente primazia do
bem-aventurado Pedro, príncipe dos Apóstolos, e dos seus sucessores na cátedra
romana. E não existe outra Igreja Católica, senão aquela que, edificada sobre o
único Pedro, se levanta pela unidade da fé e pela caridade num único corpo
conexo e compacto.
Contribuímos
para tornar mais evidente essa apostolicidade aos olhos de todos, manifestando
com requintada fidelidade a união com o Papa, que é união com Pedro. O amor ao
Romano Pontífice há-de ser em nós uma formosa paixão, porque nele vemos a
Cristo. Se tivermos intimidade com o Senhor na nossa oração, caminharemos com
um olhar desanuviado que nos permitirá distinguir, mesmo nos acontecimentos que
às vezes não compreendemos ou que nos causam pranto ou dor, a acção do Espírito
Santo.
14
A missão apostólica de
todos os católicos
A
Igreja santifica-nos, depois de entrarmos no seu seio pelo Baptismo.
Recém-nascidos para a vida natural, podemos logo acolher-nos à graça
santificante. A fé duma pessoa, mais ainda, a fé de toda a Igreja, beneficia a
criança pela acção do Espírito Santo, que dá unidade à Igreja e comunica os
bens duns para os outros . É uma maravilha esta maternidade sobrenatural da
Igreja, que o Espirito Santo lhe confere. A regeneração espiritual, que se
opera pelo Baptismo, é de alguma maneira semelhante ao nascimento corporal.
Assim como as crianças que se encontram no seio da mãe não se alimentam por si
mesmas, porque se nutrem do sustento da mãe, também os pequeninos que não têm
uso da razão, se encontram como crianças no seio da sua Mãe, a Igreja, pois
recebem a salvação pela acção da Igreja, e não por si mesmos.
Manifesta-se
assim em toda a sua grandeza o poder sacerdotal da Igreja, que procede
directamente de Cristo. Cristo é a fonte de todo o sacerdócio, visto que o
sacerdote da Lei Antiga era como a sua figura. Mas o sacerdote da Nova Lei age
na pessoa de Cristo, segundo o que se diz em 2 Cor. II, 10: pois eu também o
que perdoo, se alguma coisa perdoo, por amor de vós o perdoo na pessoa de
Cristo.
A
mediação salvadora entre Deus e os homens perpetua-se na Igreja através do
Sacramento da Ordem, que capacita - pelo carácter e pela graça consequentes -
para agir como ministros de Jesus Cristo em favor de todas as almas. Que um
possa realizar um acto que outro não pode, não provém da diversidade na bondade
ou na malícia, mas da potestade adquirida, que um possui e outro não. Por isso,
como o leigo não recebe a potestade de consagrar, não pode fazer a consagração,
seja qual for a sua bondade pessoal.
15
Na
Igreja há diversidade de ministérios, mas um só é o fim: a santificação dos
homens. Nesta tarefa participam de algum modo todos os cristãos, pelo carácter
recebido com os Sacramentos do Baptismo e da Confirmação. Todos temos de nos
sentir responsáveis por essa missão da Igreja, que é a missão de Cristo. Quem
não tem zelo pela salvação das almas, quem não procura com todas as suas forças
que o nome e a doutrina de Cristo sejam conhecidos e amados, não compreende a
apostolicidade da Igreja.
Um
cristão passivo não é capaz de entender o que Cristo quer de todos nós. Um
cristão que se preocupa com as suas coisas e se desentende da salvação dos
outros, não ama com o Coração de Jesus.
O
apostolado não é missão exclusiva da Hierarquia, nem dos sacerdotes ou dos
religiosos. A todos nos chama o Senhor para sermos instrumentos, com o exemplo
e com a palavra, dessa corrente de graça que salta até à vida eterna.
Sempre
que lemos os Actos dos Apóstolos, emocionam-nos a audácia, a confiança na sua
missão e a sacrificada alegria dos discípulos de Cristo. Não pedem multidões.
Ainda que as multidões venham, eles dirigem-se a cada alma em concreto, a cada
homem, um por um: Filipe ao etíope; Pedro ao centurião Cornélio: Paulo a Sérgio
Paulo.
Tinham
aprendido do Mestre. Recordai aquela parábola dos operários que aguardam
trabalho, no meio da praça da aldeia. Quando o dono da vinha foi à procura de
empregados, com o dia já bem entrado, descobriu que ainda havia homens sem
fazer nada: porque estais aqui todo o dia ociosos? Eles responderam: porque
ninguém nos contratou. Isto não deve suceder na vida do cristão; não deve
encontrar-se ninguém à sua volta que possa afirmar que não ouviu falar de
Cristo, porque ninguém lh'O anunciou.
Os
homens pensam frequentemente que nada os impede de prescindir de Deus.
Enganam-se. Apesar de não o saberem, jazem como o paralítico da piscina
probática, incapazes de se deslocarem até às águas que salvam, até à doutrina
que dá alegria à alma. A culpa é muitas vezes dos cristãos, porque essas
pessoas poderiam repetir hominem non habeo não tenho sequer uma pessoa para me
ajudar. Todo o cristão deve ser apóstolo, porque Deus, que não precisa de
ninguém, precisa, contudo, de nós. Conta connosco e com a nossa dedicação para
propagar a sua doutrina salvadora.
16
Estamos
a contemplar o mistério da Igreja Una, Santa, Católica, Apostólica. É hora de
nos perguntarmos: compartilho com Cristo do seu afã de almas? Peço por esta
Igreja de que faço parte, onde hei-de realizar uma missão específica, que
ninguém pode fazer por mim? Estar na Igreja é já muito, mas não basta. Devemos
ser Igreja, porque a nossa Mãe nunca há-de ser para nós estranha, exterior,
alheia aos nossos mais profundos pensamentos.
Acabamos
aqui estas considerações sobre as notas da Igreja. Com a ajuda do Senhor, terão
ficado impressas na nossa alma e confirmar-nos-emos num critério claro, seguro,
divino, para amarmos mais esta Mãe Santa, que nos trouxe à vida da graça e nos
alimenta dia a dia com solicitude inesgotável.
Se
porventura ouvirdes palavras ou gritos de ofensa à Igreja, manifestai, com
humanidade e caridade, a essa gente sem amor, que não se pode maltratar assim
uma Mãe. Agora atacam-na impunemente, porque o seu reino, que é o do seu Mestre
e Fundador, não é deste mundo. Enquanto gemer o trigo entre a palha, enquanto
suspirarem as espigas entre a cizânia, enquanto chorar o lírio entre os
espinhos, não faltarão inimigos que digam: quando morrerá e perecerá o seu
nome? Ou seja, vede que virá tempo em que hão-de desaparecer e já não haverá
mais cristãos... Mas, quando dizem isto, eles morrem sem remédio. E a Igreja
permanece.
Aconteça
o que acontecer, Cristo não abandonará a sua Esposa. A Igreja triunfante está
já junto d'Ele à direita do Pai. E daí nos chamam os nossos irmãos cristãos,
que glorificam a Deus por esta realidade que nós ainda só podemos ver através
da clara penumbra da fé: a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica.
17
Para
começar, gostaria de vos recordar umas palavras de S. Cipriano: A Igreja
universal apresenta-se-nos como um povo cuja unidade é obtida a partir da
unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Não estranhem, portanto, que
nesta festa da Santíssima Trindade a homilia trate da Igreja, tanto mais que a
Igreja tem as suas raízes no mistério fundamental da nossa fé católica: o de
Deus uno em essência e trino em pessoas.
A
Igreja centrada na Trindade: eis como sempre a consideraram os Padres. Reparem
como são claras as palavras de Santo Agostinho: Deus habita no seu templo; não
apenas o Espírito Santo, mas igualmente o Pai e o Filho... Por isso, a Santa
Igreja é o templo de Deus, ou seja, de toda a Trindade.
Ao
reunirmo-nos de novo no próximo Domingo, consideraremos outro dos aspectos
maravilhosos da Santa Igreja: essas notas que recitaremos dentro de pouco, no
Credo, depois de cantar a nossa fé no Pai, no Filho e no Espírito Santo. Et in
Spiritum Sanctum, dizemos. E, logo a seguir, et unam, sanctam catholicam et
apostolicam Ecclesiam, confessamos que há uma só Igreja, Santa, Católica e
Apostólica.
Todos
aqueles que amaram verdadeiramente a Igreja souberam relacionar estas quatro
notas com o mais inefável mistério da nossa santa religião: a Santíssima
Trindade. Nós cremos na Igreja de Deus, Una, Santa, Católica e Apostólica, na
qual recebemos a doutrina; conhecemos o Pai, o Filho e o Espírito Santo e somos
baptizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo .
18
Momentos difíceis
É
necessário meditarmos frequentemente, para não corrermos o risco de nos
esquecermos, que a Igreja é um mistério grande, profundo. Nunca poderá ser
abarcado nesta terra. Se a razão tentasse explicá-lo por si só, veria apenas a
reunião de pessoas que cumprem certos preceitos, que pensam de forma parecida.
Mas isso não seria a Santa Igreja.
Na
Santa Igreja os católicos encontramos a nossa fé, as nossas normas de conduta,
a nossa oração, o sentido de fraternidade, a comunhão com todos os irmãos que
já desapareceram e que estão a purificar-se no Purgatório - Igreja padecente-,
ou com os que já gozam da visão beatífica - Igreja triunfante-, amando
eternamente Deus, três vezes Santo. É a Igreja que permanece aqui e, ao mesmo
tempo, transcende a história. A Igreja que nasceu sob o manto de Santa Maria e
continua a louvá-la como Mãe na terra e no céu.
Confirmemos
em nós mesmos o carácter sobrenatural da Igreja; confessemo-lo aos gritos, se
for preciso, porque nestes momentos são muitos aqueles que - embora fisicamente
dentro da Igreja, e até em altas posições - se esqueceram destas verdades
capitais e pretendem apresentar uma imagem da Igreja que não é Santa, que não é
Una, que não pode ser Apostólica porque não se apoia na rocha de Pedro, que não
é Católica porque está sulcada por particularismos ilegítimos, por caprichos de
homens.
Não
é novidade. Desde que Jesus Cristo fundou a Santa Igreja, esta Mãe, que é nossa
Mãe, sofreu uma perseguição constante. Talvez noutras épocas as agressões se
organizassem abertamente; agora, em muitos casos, trata-se de uma perseguição
camuflada. Seja como for, hoje, como ontem, há quem continue a combater a
Igreja.
Repetirei
mais uma vez que não sou pessimista, nem por temperamento nem por hábito. Como
é possível ser pessimista se Nosso Senhor prometeu que estará connosco até ao
fim dos séculos?. A efusão do Espírito Santo plasmou, na reunião dos discípulos
no Cenáculo, a primeira manifestação pública da Igreja.
O
nosso Pai Deus - Pai amoroso que cuida de nós como da menina dos olhos,
conforme nos diz a Escritura com uma expressão tão gráfica, para podermos
perceber - não cessa de santificar, pelo Espírito Santo, a Igreja fundada pelo
seu Filho muito amado. Mas a Igreja vive actualmente dias difíceis: são anos de
grande desconcerto para as almas. O clamor da confusão levanta-se por toda a
parte e renascem com estrondo todos os erros que houve ao longo dos séculos.
19
Fé.
Precisamos de fé. Se olharmos com olhos de fé, descobrimos que a Igreja contém
em si mesma e difunde à sua volta a sua própria apologia. Quem a contempla,
quem a estuda com olhos de amor à verdade, deve reconhecer que ela,
independentemente dos homens que a compõem, e das modalidades práticas com que
se apresenta, leva em si mesma uma mensagem de luz universal e única,
libertadora e necessária, divina.
Quando
ouvimos vozes de heresia - porque são exactamente isso, nunca me agradaram os
eufemismos-, quando observamos que se ataca impunemente a santidade do
matrimónio e do sacerdócio; a concepção imaculada da Nossa Mãe Santa Maria e a
sua virgindade perpétua, com todos os restantes privilégios e excelências com
que Deus a adornou; o milagre perene da presença real de Jesus Cristo na
Sagrada Eucaristia, o primado de Pedro, a própria Ressurreição de Nosso Senhor,
como não sentir a alma cheia de tristeza? Mas tenham confiança: a Santa Igreja
é incorruptível. A Igreja vacilará se o seu fundamento vacilar, mas poderá
Cristo vacilar? Enquanto Cristo não vacilar, a Igreja jamais fraquejará até ao
fim dos tempos .
20
O humano e o divino na
Igreja
Assim
como em Cristo há duas naturezas - a humana e a divina - também, por analogia,
podemos referir-nos à existência na Igreja de um elemento humano e de um
elemento divino. A ninguém passa despercebida a evidência dessa parte humana. A
Igreja, neste mundo, está composta por homens e para homens, e dizer homem é
falar da liberdade, da possibilidade de actos grandes e de actos mesquinhos, de
heroísmos e de claudicações.
Se
só admitíssemos essa parte humana da Igreja nunca conseguiríamos compreendê-la,
pois não teríamos chegado à porta do mistério. A Sagrada Escritura utiliza
muitos termos - tirados da experiência terrena - para os aplicar ao Reino de
Deus e à sua presença entre nós, na Igreja. Compara-a ao redil, ao rebanho, à
casa, à semente, à vinha, ao campo onde Deus planta ou edifica. Mas destaca uma
expressão que compendia tudo: a Igreja é o Corpo de Cristo.
E
Ele a uns constituiu Apóstolos, a outros profetas, a outros evangelistas, a
outros pastores e doutores, para o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do
ministério, para a edificação do Corpo de Cristo. São Paulo escreve também que
somos um só corpo em Cristo, e cada um de nós membros uns dos outros. Como é
luminosa a nossa fé! Todos somos em Cristo, porque Ele é a Cabeça do corpo da
Igreja.
21
É
a fé que os cristãos sempre confessaram. Ouçam comigo estas palavras de Santo
Agostinho: e desde então Cristo está formado pela cabeça e pelo corpo, verdade
que, não duvido, conheceis bem. A cabeça é o nosso próprio Salvador, que
padeceu sob Pôncio Pilatos e agora, depois de ressuscitar de entre os mortos,
está sentado à direita do Pai. E o Seu corpo é a Igreja. Não esta ou aquela
igreja, mas a que se encontra espalhada por todo o mundo. Nem sequer é apenas a
que existe entre os homens actuais, uma vez que a ela pertencem também os que
viveram antes de nós e os que hão-de existir depois, até ao fim do mundo.
Assim, toda a Igreja, formada pela reunião dos fiéis - e porque todos os fiéis
são membros de Cristo-, possui Cristo como Cabeça, que governa do Céu o Seu
corpo. E, embora esta Cabeça se encontre fora da vista do corpo, está unida
pelo amor.
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