Sofres!
– Pois olha: "Ele" não tem o coração mais pequeno do que o nosso. –
Sofres? É porque convém. (Caminho, 230)
Advirto-te
que as grandes penitências são compatíveis também com as quedas espalhafatosas,
provocadas pela soberba. Em contrapartida, com esse desejo contínuo de agradar
a Deus nas pequenas batalhas pessoais – como sorrir quando não se tem vontade:
asseguro-vos, aliás, que em certas ocasiões torna-se mais custoso um sorriso do
que uma hora de cilício – é difícil alimentar o orgulho, a ridícula ingenuidade
de nos considerarmos heróis notáveis: ver-nos-emos como uma criança que apenas
consegue oferecer ninharias ao seu pai, que as recebe, no entanto, com imensa
alegria.
Então,
um cristão há-de ser sempre mortificado? Sim, mas por amor. (…)Talvez até agora
não nos tivéssemos sentido urgidos a seguir tão de perto os passos de Cristo.
Talvez não nos tivéssemos apercebido de que podemos unir ao seu sacrifício
reparador as nossas pequenas renúncias: pelos nossos pecados, pelos pecados dos
homens de todas as épocas, por esse trabalho malvado de Lúcifer que continua a
opor a Deus o seu non serviam! Como nos atreveremos a clamar sem hipocrisia:
Senhor, doem-me as ofensas que ferem o teu Coração amabilíssimo, se não nos
decidimos a privar-nos de uma ninharia ou a oferecer um sacrifício minúsculo em
honra do seu Amor? A penitência – verdadeiro desagravo – lança-nos pelo caminho
da entrega, da caridade. Entrega para reparar e caridade para ajudar os outros,
como Cristo nos ajudou a nós.
De
agora em diante, tende pressa de amar. O amor impedir-nos-á a queixa e o
protesto. Porque com frequência suportamos a contrariedade, sim; mas
lamentamo-nos; e então, além de desperdiçar a graça de Deus, cortamos-lhe as
mãos para futuros pedidos. Hilarem enim datorem diligit Deus. Deus ama o que dá
com alegria, com a espontaneidade que nasce de um coração enamorado, sem os espalhafatos
de quem se entrega como se prestasse um favor. (Amigos de Deus, nn.
139–140)
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