Questão 17: Dos actos
ordenados pela vontade.
Art. 6 ― Se um acto da razão pode ser ordenado.
(De
Vertut., q. 1, a . 7).
O
sexto discute-se assim. ― Parece que um acto da razão não pode ser ordenado.
1. ― Pois, é inadmissível que alguém ordene a si mesmo. Ora, é a razão que ordena, como já se disse 1. Logo, o seu acto não pode ser ordenado.
2.
Demais. ― O essencial é diverso do participado. Ora, a potência, cujo acto é
ordenado pela razão, é razão participativamente, com diz o Filósofo 2.
Logo, não pode ser ordenado o acto da potência que é, por essência, razão.
3.
Demais. ― É ordenado o acto que está em nosso poder. Ora, conhecer e julgar a
verdade, acto da razão, não está sempre em nosso poder. Logo, o acto da razão
não pode ser ordenado.
Mas,
em contrário. ― O que fazemos livremente, podemos ordenar. Ora, o acto da razão
exerce-se livremente, pois, como diz Damasceno, o homem procura, perscruta,
julga e dispõe livremente 3. Logo, o acto da razão pode ser
ordenado.
A razão podendo refletir sobre si mesma, ordena não só os actos das outras
potências mas, o seu próprio, e portanto, este pode ser ordenado. Devemos porém
atender a que o acto da razão pode ser considerado sob duplo aspecto:
relativamente ao seu exercício, e então pode sempre ser ordenado, como quando
se indica a alguém que preste atenção e use da razão, e relativamente ao
objeto, e então ele se desdobra em dois. Ou, se trata da apreensão de uma
verdade qualquer, e isso não está em nosso poder, pois depende de luz natural
ou sobrenatural, de que dispomos, e portanto, neste caso, o acto da razão não
está em nosso poder e não pode ser ordenado. Ou se trata de dar a razão o seu
assentimento ao que apreende aquilo a que o nosso intelecto assente
naturalmente, como os primeiros princípios, dar o assentimento ou o
dissentimento não depende de nós, mas, da ordem da natureza, e portanto,
propriamente falando, isso não pode ser ordenado por nós. Há porém certas
verdades apreendidas que não convencem o intelecto de tal modo, que não possa
assentir ou dissentir ou, pelo menos, suspender o assentimento ou o
dissentimento, por uma causa qualquer, e em tais casos, assentir ou dissentir
está em nosso poder e cai sob nossa ordem.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A razão ordena a si mesma como a vontade a si
mesma se move, conforme já se disse 4, e isso se dá porque essas
duas faculdades podem refletir sobre o próprio acto e passar de um para outro.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― Por causa da diversidade dos objectos, submetidos ao acto da
razão, nada impede que esta participe de si mesma, assim como o conhecimento
das conclusões participa do conhecimento dos princípios.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― Resulta clara do que foi dito.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Q. 17, a. 1.
2. I Ethic., lect. XX.
3. II Orth. Fid., cap. XXII.
4.
Q. 9 a. 3.
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