A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Lc 12, 42-59; 13, 1-5
42 O Senhor
respondeu: «Quem é o administrador fiel e prudente que o senhor estabelecerá
sobre as pessoas da sua casa, para dar a cada um, a seu tempo, a ração
alimentar? 43 Bem-aventurado aquele servo a quem o senhor, quando
vier, achar procedendo assim. 44 Na verdade vos digo que o
constituirá administrador de tudo quanto possui. 45 Porém, se aquele
servo disser no seu coração: O meu senhor tarda em vir, e começar a espancar os
criados e as criadas, a comer, a beber e a embriagar-se, 46 chegará
o senhor desse servo, no dia em que ele não o espera, e na hora em que ele não
sabe; castigá-lo-á severamente e pô-lo-á à parte com os infíeis. 47
Aquele servo, que conheceu a vontade do seu senhor e nada preparou, e não
procedeu conforme a sua vontade, levará muitos açoites. 48 Quanto
àquele que, não a conhecendo, fez coisas dignas de castigo, levará poucos
açoites. Porque a todo aquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e
aquele a quem muito confiaram, mais contas lhe pedirão. 49 Eu vim
trazer fogo à terra; e como desejaria que já estivesse ateado! 50 Eu
tenho de receber um baptismo; e quão grande é a minha ansiedade até que ele se
conclua! 51 Julgais que vim trazer paz à terra? Não, vos digo Eu,
mas separação; 52 porque, de hoje em diante, haverá numa casa cinco
pessoas, divididas três contra duas e duas contra três.53 Estarão
divididos: o pai contra o filho e o filho contra o pai; a mãe contra a filha e
a filha contra a mãe; a sogra contra a nora e a nora contra a sogra». 54
Dizia também às multidões: «Quando vós vedes uma nuvem levantar-se no poente,
logo dizeis: Aí vem chuva; e assim sucede.55 E quando sentis soprar
o vento do sul, dizeis: Haverá calor; e assim sucede.56 Hipócritas,
sabeis distinguir os aspectos da terra e do céu; como, pois, não sabeis
reconhecer o tempo presente? 57 E porque não discernis também por
vós mesmos o que é justo? 58 Quando, pois, fores com o teu
adversário ao magistrado, faz o possível por fazer as pazes com ele pelo
caminho, para que não suceda que te leve ao juiz, e o juiz te entregue ao
guarda, e o guarda te meta na cadeia. 59 Digo-te que não sairás de
lá, enquanto não pagares até o último centavo».
13 1 Neste mesmo tempo chegaram alguns a
dar-Lhe a notícia de certos galileus, cujo sangue Pilatos misturara com o dos
sacrifícios deles. 2 Jesus respondeu-lhes: «Vós julgais que aqueles
galileus eram maiores pecadores que todos os outros galileus, por terem sofrido
tal sorte? 3 Não, Eu vo-lo digo; mas, se não fizerdes penitência,
todos perecereis do mesmo modo. 4 Assim como também aqueles dezoito
homens sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou; julgais que eles também
foram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? 5
Não, Eu vo-lo digo; mas, se não fizerdes penitência, todos perecereis do mesmo
modo».
C. I. C. nr. 2514
a 2557
O NONO MANDAMENTO
«Não
cobiçarás a casa do teu próximo, não desejarás a mulher do próximo, nem o seu
servo, nem a sua serva, nem o seu boi, ou o seu jumento, nem nada que lhe
pertença» (Ex 20, 17).
«Todo
aquele que olhar para uma mulher, desejando-a, já cometeu adultério com ela no
seu coração» (Mt 5, 28).
2514.
São João distingue três espécies de cupidez ou concupiscência: a concupiscência
da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida (253). Segundo a
tradição catequética católica, o nono mandamento proíbe a concupiscência
carnal; e o décimo, a cobiça dos bens alheios.
2515.
Em sentido etimológico, «concupiscência» pode designar todas as formas
veementes de desejo humano. A teologia cristã deu-lhe o sentido particular de
impulso do apetite sensível, contrário aos ditames da razão humana. O apóstolo
São Paulo identifica-a com a revolta que a «carne» instiga contra o «espírito»
(254). Procede da desobediência do primeiro pecado (255). Desregra as
faculdades morais do homem e, sem ser nenhuma falta em si mesma, inclina o
homem para cometer pecado (256).
2516.
No homem, porque é um ser integrado de espírito e corpo, já existe uma certa
tensão. Trava-se nele uma certa luta de tendências entre o «espírito» e a
«carne». Mas esta luta, de facto, faz parte da herança do pecado, é uma
consequência dele e, ao mesmo tempo, uma sua confirmação. Faz parte da
experiência quotidiana do combate espiritual:
«Para
o Apóstolo, não se trata de desprezar e condenar o corpo que, com a alma
espiritual, constitui a natureza do homem e a sua personalidade de sujeito;
pelo contrário, ele fala das obras, ou antes, das disposições estáveis,
virtudes e vícios, moralmente boas ou más, que são o fruto da submissão (no
primeiro caso) ou, pelo contrário, da resistência (no segundo caso) à acção
salvadora do Espírito Santo. É por isso que o Apóstolo escreve: "Se
vivemos pelo Espírito, caminhemos também segundo o espírito" (Gl 5, 25)»
(257).
I. A purificação do
coração
2517.
O coração é a sede da personalidade moral: «Do coração procedem as más
intenções, os assassínios, os adultérios, as prostituições» (Mt 15, 19). A luta
contra a concupiscência carnal passa pela purificação do coração e pela prática
da temperança:
«Mantém-te
na simplicidade, na inocência, e serás como as criancinhas que ignoram o mal,
destruidor da vida dos homens» (258).
2518.
A sexta bem-aventurança proclama: «Bem-aventurados os puros de coração, porque
verão a Deus» (Mt 5, 8). Os «puros de coração» são os que puseram a
inteligência e a vontade de acordo com as exigências da santidade de Deus,
principalmente em três domínios: a caridade (259); a castidade ou rectidão
sexual (260); o amor da verdade e a ortodoxia da fé (261), Existe um nexo entre
a pureza do coração, do corpo e da fé:
Os
fiéis devem crer nos artigos do Credo, «para que, crendo, obedeçam a Deus;
obedecendo a Deus, vivam como deve ser; vivendo como deve ser, purifiquem o seu
coração; e purificando o seu coração, compreendam aquilo em que crêem» (262).
2519.
Aos «puros de coração» é prometido que verão a Deus face a face e serão
semelhantes a Ele (263). A pureza do coração é condição prévia para a visão. Já
desde agora, permite-nos ver segundo Deus, aceitar o outro como um «próximo» e
compreender o corpo humano, o nosso e o do próximo, como um templo do Espírito
Santo, uma manifestação da beleza divina.
II. O combate pela pureza
2520.
O Baptismo confere a quem o recebe a graça da purificação de todos os pecados.
Mas o baptizado tem de continuar a lutar contra a concupiscência da carne e os
desejos desordenados. Com a graça de Deus, consegui-lo-ei:
–
pela virtude e pelo dom da castidade, pois a castidade permite amar com um
coração recto e sem partilha;
–
pela pureza de intenção, que consiste em ter em vista o verdadeiro fim do
homem: com um olhar simples, o baptizado procura descobrir e cumprir em tudo a
vontade de Deus (264);
–
pela pureza do olhar, exterior e interior; pela disciplina dos sentidos e da
imaginação; pela rejeição da complacência em pensamentos impuros que o levariam
a desviar-se do caminho dos mandamentos divinos: «a vista excita a paixão dos
insensatos» (Sb 15, 5).
–
pela oração:
«Eu
pensava que a continência dependia das minhas próprias forças, forças que em
mim não conhecia. E era suficientemente louco para não saber [...] que ninguém
pode ser continente, se Tu lho não concederes. E de certo Tu o terias concedido,
se com gemido interior eu chamasse aos teus ouvidos e se com fé sólida lançasse
em Ti o meu cuidado» (265).
2521.
A pureza exige o pudor. O pudor é parte integrante da temperança. O pudor
preserva a intimidade da pessoa. Designa a recusa de mostrar o que deve ficar
oculto. Ordena-se à castidade e comprova-lhe a delicadeza. Orienta os olhares e
as atitudes em conformidade com a dignidade das pessoas e com a união que
existe entre elas.
2522.
O pudor protege o mistério da pessoa e do seu amor. Convida à paciência e à
moderação na relação amorosa e exige que se cumpram as condições do dom e do
compromisso definitivo do homem e da mulher entre si. O pudor é modéstia.
Inspira a escolha do vestuário, mantém o silêncio ou o recato onde se adivinha
o perigo duma curiosidade malsã. O pudor é discrição.
2523.
Existe um pudor dos sentimentos, tal como existe um pudor corporal. Ele
protesta, por exemplo, contra as explorações exibicionistas do corpo humano em
certa publicidade, ou contra a solicitação de certos meios de comunicação em ir
longe demais na revelação de confidências íntimas. O pudor inspira um modo de
viver que permite resistir às solicitações da moda e à pressão das ideologias
dominantes.
2524.
As formas de que o pudor se reveste variam de cultura para cultura. No entanto,
ele continua a ser, em toda a parte, o pressentimento duma dignidade espiritual
própria do homem. Nasce com o despertar da consciência pessoal. Ensinar o pudor
às crianças e adolescentes é despertá-los para o respeito pela pessoa humana.
2525.
A pureza cristã exige uma purificação do ambiente social. Exige dos meios de
comunicação social uma informação preocupada com o respeito e o recato. A
pureza de coração liberta do erotismo difuso e afasta dos espectáculos que
favorecem a curiosidade mórbida e a ilusão.
2526.
A chamada permissividade dos costumes assenta numa concepção errónea da
liberdade humana; para se edificar, esta precisa de se deixar educar
previamente pela lei moral. Deve pedir-se aos responsáveis pela educação que
ministrem à juventude um ensino respeitador da verdade, das qualidades do
coração e da dignidade moral e espiritual do homem.
2527.
«A boa-nova de Cristo renova constantemente a vida e a cultura do homem
decaído; combate e repele os erros e os males provenientes da sedução sempre
ameaçadora do pecado. Purifica e eleva sem cessar a moralidade dos povos. Com
as riquezas do alto, fecunda, consolida, completa e restaura em Cristo, como
que a partir de dentro, as qualidades espirituais e os dotes de todos os povos
e eras» (266)
Resumindo:
2528.
«Todo aquele que olhar para uma mulher,
desejando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração» (Mt 5, 28).
2529.
O nono mandamento acautela-nos contra a
cupidez ou concupiscência carnal.
2530.
A luta contra a concupiscência carnal
passa pela purificação do coração e pela prática da temperança.
2531.
A pureza de coração permitir-nos-á ver a
Deus: desde já, permite-nos ver tudo segundo Deus.
2532.
A purificação do coração exige a oração,
a prática da castidade, a pureza de intenção e do olhar.
2533.
A pureza do coração requer o pudor que é
paciência, modéstia e discrição. O pudor preserva a intimidade da pessoa.
O DÉCIMO MANDAMENTO
«Não
cobiçarás [...] nada que pertença [ao teu próximo]» (Ex 20, 17). «Não cobiçarás
a casa [do teu próximo], nem o seu campo, nem o seu servo nem a sua serva, o
seu boi, ou o seu jumento, nem nada que lhe pertença» (Dt 5, 21).
«Onde
estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração» (Mt 6, 21).
2534.
O décimo mandamento desdobra e completa o nono, que tem por objecto a
concupiscência da carne. Proíbe cobiçar o bem de outrem, raiz de onde procede o
roubo, a rapina e a fraude, proibidos pelo sétimo mandamento. A «concupiscência
dos olhos» (1 Jo 2, 16) conduz à dolência e à injustiça, proibidas pelo quinto
mandamento (267). A cobiça, bem como a fornicação, tem a sua origem na
idolatria, proibida nos três primeiros mandamentos da Lei (268). O décimo
mandamento incide sobre a intenção do coração e resume, com o nono, todos os
preceitos da Lei.
I. A desordem das cobiças
2535.
O apetite sensível leva-nos a desejar as coisas agradáveis que não possuímos.
Exemplo disso é desejar comer quando se tem fome ou aquecer-se quando se tem
frio. Estes desejos são bons em si mesmos; muitas vezes, porém, não respeitam
os limites da razão e levam-nos a cobiçar injustamente o que não é nosso e que
pertence, ou é devido, a outrem.
2536.
O décimo mandamento condena a avidez e o desejo duma apropriação desmesurada
dos bens terrenos; e proíbe a cupidez desregrada, nascida da paixão imoderada
das riquezas e do seu poder. Interdita também o desejo de cometer uma injustiça
pela qual se prejudicaria o próximo nos seus bens temporais:
«Quando
a Lei nos diz: "Não cobiçarás", diz-nos, por outras palavras, que
afastemos os nossos desejos de tudo o que não nos pertence. Porque a sede da
cobiça dos bens alheios é imensa, infindável e insaciável, conforme está
escrito: "O avarento nunca se fartará de dinheiro" (Sir 5, 9)» (269).
2537.
Não é violar este mandamento desejar obter coisas que pertencem ao próximo,
desde que seja por meios legítimos. A catequese tradicional menciona, com
realismo, «os que têm que lutar mais contra as suas cobiças criminosas» e que,
portanto, precisam de ser «exortados com mais insistência a observarem este
preceito»:
«São
[.. .] os comerciantes que desejam a falta ou carestia das coisas, que vêem com
pena não serem eles os únicos a comprar e a vender, o que lhes permitiria
vender mais caro e comprar mais barato; os que desejam ver o seu semelhante na
miséria, para obterem maiores lucros, quer vendendo quer comprando [...]. Os
médicos, que desejam que haja doentes; os advogados, que reclamam causas e
processos importantes e numerosos...» (270).
2538.
O décimo mandamento exige que seja banida a inveja do coração humano. Quando o
profeta Natan quis estimular o arrependimento do rei David, contou-lhe a
história do pobre que só possuía uma ovelha, tratada como se fosse uma filha, e
do rico que, apesar dos seus numerosos rebanhos, tinha inveja dele e acabou por
lhe roubar a ovelha (271). A inveja pode levar aos piores crimes (272). «Foi
pela inveja do demónio que a morte entrou no mundo» (Sb 2, 24).
«Combatemo-nos
uns aos outros e é a inveja que nos arma uns contra os outros [...]. Se todos
se encarniçam assim a abalar o corpo de Cristo, onde chegaremos nós? Estamos a
aniquilar o corpo de Cristo. [...] Declaramo-nos membros dum mesmo organismo e
devoramo-nos como feras» (273).
2539.
A inveja é um vício capital. Designa a tristeza que se sente perante o bem
alheio e o desejo imoderado de se apropriar dele, mesmo indevidamente. Se
desejar ao próximo um mal grave, é pecado mortal:
Santo
Agostinho via na inveja «o pecado diabólico por excelência» (274).
«Da
inveja nascem o ódio, a maledicência, a calúnia, a alegria causada pelo mal do
próximo e o desgosto causado pela sua prosperidade» (275).
2540.
A inveja representa uma das formas da tristeza e, portanto, uma recusa da
caridade; o baptizado lutará contra ela, opondo-lhe a benevolência. Muitas
vezes, a inveja nasce do orgulho; o baptizado exercitar-se-á a viver na
humildade:
«Quereríeis
ver Deus glorificado por vós? Pois bem, alegrai-vos com os progressos do vosso
irmão e, assim, será por vós que Deus é glorificado. Deus será louvado,
dir-se-á, pelo facto de o seu servo ter sabido vencer a inveja, pondo a sua
alegria nos méritos dos outros» (276).
II. Os desejos do Espírito
2541.
A economia da lei e da graça desvia o coração dos homens da cobiça e da inveja;
inicia-o no desejo do sumo bem; e instrui-o nos desejos do Espírito Santo que
sacia o coração do homem.
O
Deus das promessas desde sempre pôs o homem de prevenção contra a sedução
daquilo que, desde as origens, aparece como «bom para comer, [...] de atraente
aspecto e precioso para esclarecer a inteligência» (Gn 3, 6).
2542.
A Lei, confiada a Israel, nunca foi suficiente para justificar aqueles que lhe
estavam sujeitos; chegou até a tornar-se instrumento de «concupiscência» (277).
A inadequação entre o querer e o fazer (278) manifesta o conflito entre a Lei
de Deus, que é a «lei da razão», e uma outra lei «que me retém cativo na lei do
pecado, que se encontra nos meus membros» (Rm 7, 23).
2543.
«Agora, foi sem a Lei que se manifestou a justiça de Deus, testemunhada pela
Lei e pelos Profetas: a justiça que vem para todos os crentes, mediante a fé em
Jesus Cristo» (Rm 3, 21-22). E assim, os fiéis de Cristo «crucificaram a carne
com as suas paixões e desejos» (Gl 5, 24); são conduzidos pelo Espírito (279) e
seguem os desejos do Espírito (280).
III. A pobreza de coração
2544.
Jesus impõe aos seus discípulos que O prefiram a tudo e a todos e propõe-lhes
que renunciem a todos os seus bens (281) por causa d'Ele e do Evangelho (282).
Pouco antes da sua paixão, deu-lhes o exemplo da pobre viúva de Jerusalém que,
da sua penúria, deu tudo o que tinha para viver (283). O preceito do desapego
das riquezas é obrigatório para entrar no Reino dos céus.
2545.
Todos os fiéis de Cristo devem «ordenar rectamente os próprios afectos, para
não serem impedidos de avançar na perfeição da caridade pelo uso das coisas
terrenas e pelo apego às riquezas, em oposição ao espírito de pobreza
evangélica» (284).
2546.
«Bem-aventurados os pobres em espírito» (Mt 5, 3). As bem-aventuranças revelam
uma ordem de felicidade e de graça, de beleza e de paz. Jesus celebra a alegria
dos pobres, aos quais o Reino pertence desde já (285):
«O
Verbo chama "pobreza em espírito" à humildade voluntária do espírito
humano e à sua renúncia; e o Apóstolo dá-nos como exemplo a pobreza de Deus,
quando diz: «Ele fez-Se pobre por nós (2 Cor 8, 9)» (286).
2547.
O Senhor lamenta-Se dos ricos, porque eles encontram a sua consolação na
abundância de bens (287). «O orgulhoso procura o poder terreno, ao passo que o
pobre em espírito procura o Reino dos céus» (288). O abandono à providência do
Pai do céu liberta da preocupação pelo amanhã. A confiança em Deus dispõe para
a bem-aventurança dos pobres (289). Eles verão a Deus.
IV. «Quero ver a Deus»
2548.
O desejo da verdadeira felicidade liberta o homem do apego imoderado aos bens
deste mundo, e terá a sua plenitude na visão beatífica de Deus. «A promessa de
ver a Deus ultrapassa toda a bem-aventurança. [...] Na Escritura, ver é
possuir. [...] Por isso aquele que vê a Deus obteve todos os bens que se possam
imaginar» (290).
2549.
Resta ao povo santo lutar, com a graça do Alto, para alcançar os bens que Deus
promete. Para possuir e contemplar a Deus, os fiéis de Cristo mortificam os
seus maus desejos e, com a graça do mesmo Deus, triunfam das seduções do prazer
e do poder.
2550.
Neste caminho da perfeição, o Espírito e a Esposa chamam quem os escuta (291) à
comunhão perfeita com Deus:
«Ali
será a verdadeira glória; ninguém ali será louvado por engano ou por lisonja;
as verdadeiras honras não serão nem recusadas aos que as merecem, nem dadas aos
indignos delas; aliás, não haverá ali indigno que as pretenda, pois só os
dignos lá serão admitidos. Ali reinará a verdadeira paz; ninguém terá oposição,
nem de si mesmo nem dos outros. O próprio Deus será a recompensa da virtude,
Ele que a deu e Se lhe prometeu como recompensa, a maior e melhor que possa
existir: [...] "Eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo" (Lv 26,
12) [...] É também este o sentido das palavras do Apóstolo: "Para que Deus
seja tudo em todos" (I Cor 15, 28). Ele mesmo será o fim dos nossos
desejos, Ele que nós havemos de contemplar sem fim, de amar sem saciedade, de
louvar sem cansaço. É este dom, este afecto, esta ocupação serão, sem dúvida,
comuns a todos como a vida eterna» (292).
Resumindo:
2551.
«Onde estiver o teu tesouro, aí estará
também o teu coração» (Mt 6, 21).
2552.
O décimo mandamento proíbe a cupidez
desregrada, nascida da paixão imoderada das riquezas e seu poder.
2553.
Inveja é a tristeza que se experimenta
perante o bem alheio e o desejo imoderado de se apropriar dele. É um vício
capital.
2554.
O baptizado combate a inveja pela
benevolência, pela humildade e pelo abandono à providência divina.
2555.
Os fiéis de Cristo «crucificaram a carne
com as suas paixões e desejos» (Gl 5, 24); são conduzidos pelo Espírito e
seguem os seus desejos.
2556.
O desapego das riquezas é necessário para
entrar no Reino dos céus. «Bem-aventurados os pobres em espírito» (Mt 5, 3).
2557. O homem de desejo diz:
«Quero ver a Deus», sede de Deus é saciada pela água da vida eterna
(293).
__________________
Notas
253.
Cf. 1 Jo 2, 16 (Vulgata).
254.
Cf. Gl 5, 16.17.24; Ef 2, 3.
255.
Cf. Gn 3, 11.
256.
Cf. Concílio de Trento, Sess. 5ª, Decretum de peccato originali, can. 5: DS
1515.
257.
João Paulo II, Enc. Dominum et vivificantem, 55: AAS 78 (1986) 877-878.
258.
Hermas, Pastor 27, 1 (mandatum 2. 1): SC 53, 146 (Funk 1, 70).
259. Cf. 1 Ts 4, 3-9: 2 Tm 2,
22.
260. Cf. 1Ts 4, 7; Cl 3, 5; Ef
4, 19.
261.
Cf. Tt 1, 15; 1 Tm 1, 3-4; 2 Tm 2, 23-26.
26.
Santo Agostinho, De fide et symbolo, 10, 25: CSEL 25, 32 (PL 40, 196).
263. Cf. 1 Cor 13, 12; l Jo 3.
2.
264. Cf. Rm 12, 2; Cl 1, 10.
265.
Santo Agostinho, Confissões, 6, 11, 20: CCL 27. 87 (PL 32, 729-730).
266.
II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et spes, 58: AAS 58 (1966) 1079.
267. Cf. Mq 2, 2.
268. Cf. Sb 14, 12.
269. Cat Rom 3, 10, 13, p. 518.
270. Cat Rom 3, 10, 23, p. 523.
271. Cf. 2 Sm 12, 1-4.
272.
Cf. Gn 4, 3-8; 1 Rs 21, 1-29.
273.
São João Crisóstomo, In epistulam II ad Corinthios, homilia 27, 3-4: PG 61,
588.
274.
Santo Agostinho, De disciplina christiana, 7, 7: CCL 46, 214 (PL 40, 673); ID.,
Epistula 108, 3, 8: CSEL 34, 620 (PL 33, 410).
275.
São Gregório Magno, Moralia in Job, 31, 45, 88: CCL 143b, 1610 (PL 76, 621).
276.
São João Crisóstomo, In epistulam as Romanos, homilia 7, 5: PG 60, 448.
277. Cf. Rm 7, 7.
278. Cf. Rm 7, 15.
279. Cf. Rm 8, 14.
280. Cf. Rm 8, 27.
281. Cf. Lc 14, 33.
282. Cf. Mc 8, 35.
283.
Cf. Lc 21, 4.
284.
II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium, 42: AAS 57 (1965) 49.
285. Cf. Lc 6, 20.
286.
São Gregório de Nissa, De beatitudinibus, oratio 1: Gregorii Nysenni opera, ed.
W. Jaeger, v. 7/2 (Leiden 1992) p. 83 (PG 44, 1200).
287.
Cf. Lc 6, 24.
288.
Santo Agostinho, De sermone Domini in monte, 1, 1, 3: CCL 35, 4 (PL 34, 1232).
289.
Cf. Mt 6, 25-34.
290.
São Gregório de Nissa, De beatitudinibus, oratio 6: Gregorii Nysenni opera, ed.
W. Jaeger. v. 7/2 (Leiden 1992) p. 138 (PG 44, 1265).
291.
Cf. Ap 22, 17.
292.
Santo Agostinho, De civitate Dei, 22, 30: CSEL 40/2, 665-666 (PL 41, 801-802).
293.
Cf. Jo 4, 14.
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