43.
Inseparavelmente do trato com o Senhor, necessitamos da mortificação, que se
eleva a Deus como «a oração dos sentidos». Há pessoas que se assustam com a
palavra “expiação”, imaginando sabe-se lá que penas insuportáveis. Nada mais
distante da realidade. Normalmente Deus pede-nos um espírito de penitência, que
se manifesta no cumprimento bem acabado dos próprios deveres de estado e das
circunstâncias de cada um; realizado perseverantemente com alegria, ainda que
custe, mas sem descontinuidade, com fidelidade heróica nas pequenas coisas.
S.
Josemaria, que foi tão generoso nas grandes penitências a que o Senhor o
convidava, pois faziam parte da sua missão fundacional, atribuía também
extraordinária importância à expiação pequena, mas repleta de amor. Assim o
expõe numas breves notas de 1930, sobre o modo de fazer o exame de consciência.
«Expiação: como recebi, neste dia, as contradições vindas da mão de Deus? As
que me proporcionaram, com seu caráter, os meus companheiros? As da minha
miséria? Soube oferecer ao Senhor, como expiação, a mesma dor, que sinto, por
tê-lo ofendido tantas vezes!? Ofereci-Lhe a vergonha dos meus rubores e
humilhações interiores, ao considerar o pouco que avanço no caminho das
virtudes?» 81
O
mundo tem hoje especial necessidade, e tê-la-á sempre, de almas que amem o
sacrifício abraçado voluntariamente por amor de Deus. Em qualquer momento,
também se ergue como arma capaz de vencer a luta contra o hedonismo, que tantas
vítimas causa entre os cristãos e entre os não cristãos: contra o excessivo
comodismo do corpo e dos sentidos. Consideremos que, para espezinhar o apego
desordenado ao próprio eu, o remédio está no oferecimento submisso, verdadeiro
holocausto, dos nossos sentidos internos e externos, das nossas potências, da
nossa alma e do nosso corpo, realizado em estreita união com Jesus Cristo.
Havemos
de «oferecer a nossa vida, a nossa dedicação sem reservas e sem regateios, em
expiação pelos nossos pecados, pelos pecados de todos os homens, nossos irmãos;
pelos pecados cometidos em todos os tempos, e pelos que se cometerão até ao fim
dos séculos: sobretudo pelos católicos, pelos escolhidos de Deus, que não sabem
corresponder, que atraiçoaram o amor de predileção que o Senhor lhes teve» 82;
acrescentando uma faceta que o nosso Padre cuidou sempre: ganhar essa luta com
esperançoso otimismo, com a segurança de que o Senhor nos fará vencedores, pela
fé, pela confiança n’Ele, e pela caridade com Deus e com as almas.
Copyright © Prælatura Sanctæ Crucis et
Operis Dei
Nota: Publicação devidamente
autorizada
____________________
Notas:
81
S. Josemaria, 28-VII-1930, Apuntes íntimos, n. 75.
82
S. Josemaria, Carta 9-I-1932, n. 83.
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