Harmonia entre fé e razão
19. Os que nos sabemos filhos de Deus, havemos de propagar que «não há motivo para existir concorrência entre a razão e a fé: uma implica a outra, e cada qual tem o seu espaço próprio de realização. (…) Deus e o homem estão colocados, cada um no seu respectivo mundo, numa relação única. Em Deus reside a origem de tudo, n’Ele se encerra a plenitude do mistério e isto constitui a sua glória; ao homem, pelo contrário, compete o dever de investigar a verdade com a razão, e nisto está a sua nobreza» [31].
Mantém
plena actualidade o horizonte que S. Josemaria descrevia: «sobre a base firme
dum profundo conhecimento científico, havemos de mostrar que não há oposição
alguma entre a fé e a razão» [32]; antes, pelo contrário, deve
existir uma plena sintonia, porque os dois âmbitos do conhecimento procedem de
Deus, do Logos criador que, além disso, se fez homem.
Na
Carta Apostólica Novo Millénnio ineúnte, João Paulo II escreveu: «Para a
eficácia do testemunho cristão, especialmente nestes âmbitos delicados e
controversos, é importante fazer um grande esforço para explicar adequadamente
os motivos da posição da Igreja, sublinhando sobretudo que não se trata de
impor aos não crentes uma perspectiva de fé, mas de interpretar e defender
valores radicados na própria natureza do ser humano. A caridade tomará então necessariamente
a forma de serviço à cultura, à política, à economia, à família, para que em
toda a parte sejam respeitados os princípios fundamentais de que depende o
destino do ser humano e o futuro da civilização» [33]. Para esta
tarefa, necessita-se do dom de línguas, que se alcança quando se invoca com fé
o Espírito Santo e se empregam os meios humanos.
De
todos é conhecida a plena liberdade, que dentro da doutrina católica, a Igreja
reconhece aos seus filhos na própria actuação profissional e enquanto cidadãos
iguais aos outros cidadãos. A sensibilidade para os problemas humanos, o
sentido sobrenatural para julgá-los e resolvê-los cristãmente, de acordo com a
reta consciência bem formada, deve estimular a responsabilidade apostólica
pessoal para trazer para o debate científico uma visão mais humana e sempre
cristã. Por isso, convém abordar com rectidão e seriedade os trabalhos que têm
especial relevância doutrinal e ética, nas áreas científicas e humanistas
próprias de cada um. A crise moral pela qual passa a sociedade, e a necessidade
perene de evangelizar, tornam ainda mais urgente que os investigadores cristãos
não abandonem este trabalho e desenvolvam com constância e profundidade esses
temas, para ajudar a resolver correctamente os problemas atuais.
Copyright © Prælatura Sanctæ Crucis et
Operis Dei
Nota: Publicação devidamente
autorizada
____________________
Notas:
[31]
Beato João Paulo II, Carta Enc. Fides
et ratio, 14-IX-1998, n. 17.
[32]
S. Josemaria, Carta 9-I-1951, n. 12.
[33]
Beato João Paulo II, Carta Apost. Novo millénnio ineúnte, 6-I-2001, n. 51.
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