08/12/2012

Tratado da bem-aventurança 04


Questão 1: Do fim último do homem.

Art. 4 — Se há um fim último da vida humana, ou se, nos fins, se deve proceder ao infinito.




(II Metaph., lect. IV, I Ethic., lect II).

O quarto discute-se assim. — Parece que não há nenhum fim último da vida humana, mas que em relação aos fins, se deve proceder ao infinito.


1. — Pois, o bem é, por essência, difusivo de si, como se vê claramente em Dionísio. Se portanto, o que procede de um bem é, por sua vez, bem, necessário é seja um difusivo do outro, e então a procedência vai ao infinito. Ora, o bem exerce o papel de fim. Logo, procede-se, quanto aos fins, ao infinito.

2. Demais. — O racional pode multiplicar-se ao infinito. Assim, as quantidades matemáticas aumentam ao infinito, as espécies de números são infinitas porque, dado qualquer número, a razão pode pensar um maior. Ora, o desejo do fim resulta da apreensão da razão.

3. Demais. — O bem e o fim é o objecto da vontade. Ora, esta pode reflectir infinitas vezes sobre si mesma, pois, posso querer alguma coisa, e querer que a queira, e assim ao infinito. Logo, em relação aos fins da vontade humana, procede-se ao infinito, sem nenhum fim último.

Mas, em contrário, diz o Filósofo, os que a levam ao infinito aniquilam a natureza do bem. Ora, este desempenha o papel de fim. Logo, vai contra a essência do fim proceder-se ao infinito, e é portanto necessário admitir-se um último fim.

Propriamente falando é impossível, em relação aos fins, proceder-se ao infinito, por qualquer lado que seja. — Pois, em coisas que constituem por si mesmas uma ordem mútua, necessariamente, removida a primeira, removidas serão as que dela dependem. Donde, como o prova o Filósofo, não é possível, nas causas motoras, proceder ao infinito, pois então deixaria de existir o primeiro motor, e subtraído este, os outros, que só movem enquanto movidos por ele, não podem mover. — Ora, há dupla ordem de fins: a da intenção e a da execução, e em ambas é necessário haver algo de primordial. Pois, o primordial, na ordem da intenção, é como o princípio motor do apetite, eliminado o qual, o apetite por nada seria movido. E quanto à execução, é primordial o princípio que faz a operação começar, subtraído o qual, nada começaria a operar nada. Ora, o princípio da intenção é o último fim, e o da execução é o primeiro dos meios conducentes ao fim. Donde, por nenhum lado é possível proceder ao infinito, pois, sem último fim nada seria desejado, nenhuma acção terminaria e nem mesmo descansaria a intenção do agente. E se não houvesse nenhum meio primeiro, conducente ao fim, ninguém começaria a fazer nada e nem terminaria o conselho, que procederia ao infinito.

Porém, nada impede que coisas sem nenhuma ordem mútua, por si mesmas, mas só por acidente conjugadas, sejam infinitas, pois, causas acidentais são indeterminadas. E é deste modo que os fins, e os meios a eles conducentes, podem ter infinidade acidental.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — É da essência do bem ser difusivo de si, mas não, proceder de outro. Donde, tendo ele a natureza de fim, e sendo o primeiro bem o último fim, a objeção não prova que não o seja, mas que, suposto o primeiro fim, se pode proceder ao infinito, inferiormente, em relação aos meios. E tal se daria, levando-se em conta só a virtude infinita do primeiro bem. Mas a difusão deste sendo segundo o intelecto, pela qual influi nos causados, segundo uma certa forma, há uma certa forma, há um certo modo inerente ao efluxo dos bens, do primeiro bem, de cuja virtude difusiva eles participam. Donde, a difusão deles não procede ao infinito, mas, como diz a Escritura (Sb 9), Deus dispôs todas as coisas em número, peso e medida.

RESPOSTA À SEGUNDA. — No que é por si, a razão parte de princípios naturalmente conhecidos e avança para um certo termo. Donde, como o prova o Filósofo, nas demonstrações não há processo ao infinito, porque nelas se atende a uma ordem de coisas mutuamente conexas por si mesmas e não, por acidente. Onde porém a conexão é acidental nada impede a razão proceder ao infinito. Ora, é acidental, à quantidade ou ao número preexistente, como tal, que se lhe acrescente uma quantidade ou unidade. Donde, em tal caso, nada impede proceder-se ao infinito.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Essa multiplicação dos actos da vontade reflexa sobre si mesma é acidental em relação à ordem dos fins. E evidencia-o o facto de refletir a vontade sobre si mesma, indiferentemente, uma ou várias vezes, em relação ao mesmo acto.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.

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