Na oração, imaginava-se a si mesmo como um dos Apóstolos, desejando reparar pela sua fuga no momento da Cruz. Para reparar pelas deserções que tinham aumentado tanto os sofrimentos de Jesus, desejava que os doentes fossem amados da mesma maneira que uma mãe ama com ternura o seu filho, e que nunca os deixassem sós.
«Como
sempre, quando um meu filho se encontra doente, digo àqueles que vivem ao seu
lado que devem cuidar dele de tal maneira que não sinta falta dos cuidados da
sua mãe que está longe e que, naqueles momentos, devemos ser como uma mãe para
esse meu filho, cuidando-o como a sua mãe o faria». E noutro momento, «Embora
sejamos pobres, nunca devemos poupar nada no cuidado dos nossos irmãos doentes.
Se fosse necessário, roubaríamos um pedacinho de Céu para eles e o Senhor
perdoar-nos-ia» [i].
«Criança.
— Doente. — Ao escrever estas palavras, não sentis a tentação de as pôr com
maiúscula? É que, para uma alma enamorada, as crianças e os doentes são Ele» [ii].
Os doentes são um tesouro, costumava dizer, porque ao viver o ascetismo
sorridente, que era tão apreciado por S. Josemaria, o doente pode converter a
sua doença em oração.
Converte-se
num tesouro também para outros porque, ao cuidá-lo, praticam a virtude da
caridade e enriquecem-se, desde que o cuidado que prestam seja o melhor que
podem oferecer. A doença é um tesouro para a Igreja porque cada pessoa doente
participa na Paixão de Nosso Senhor na Cruz [iii].
O
doente em estado grave, ao aproximar-se do momento do encontro pessoal com
Deus, dirige-se para esse instante de uma maneira especial. Esse encontro tem
um efeito de purificação profunda e, ao mesmo tempo, de paz.
«“Este
homem está a morrer. Já não há nada a fazer [...]” — Foi há anos, num hospital
de Madrid. Depois de se confessar, quando o sacerdote lhe dava a beijar o seu
crucifixo, aquele cigano dizia aos gritos, sem que conseguissem calá-lo: — Com
esta minha boca imunda não posso beijar o Senhor! — Mas, tu vais dar-Lhe, já a
seguir um grande abraço e um grande beijo, no Céu!’ [...] Viste uma maneira
mais formosamente tremenda de manifestar a contrição?» [iv].
Este
episódio da vida do Fundador mostra fielmente a sua atitude frente à morte e à
dor. O valor purificador do sofrimento do cigano adquire uma dimensão ilimitada
e, juntamente com a graça do sacramento da Penitência, a morte perde o espectro
do temor. Converte-se, pelo contrário, na oportunidade que a fé de todo o homem
espera: a de poder contemplar a Deus cara a cara, não como Juiz, mas como Pai
amoroso que nos espera para nos abraçar.
p. binetti, 2012.09.07
[i] Cfr.
G. HERRANZ, "Sem medo à vida e sem medo à morte. Palavras de Monsenhor Josemaría
Escrivá de Balaguer y Albás a médicos e doentes", em AA.VV., Em memória de
Mons. Josemaría Escrivá de Balaguer, cit., p. 164.
[ii] Caminho,
419.
[iii] Cfr.
P. URBANO, El hombre de Villa Tevere, Barcelona 1994, p. 235.
[iv] Via-sacra,
III, 4.
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