Uma pedagogia da fé na família
- a propósito de alguns ensinamentos de S. Josemaria …/8
Educação para a santidade.
O primado da graça.
Como era um óptimo teólogo, S. Josemaria não caiu nunca no engano mais clássico do educador cristão: tentar obter do educando com meios humanos o que só pode ser alcançado com a ajuda da graça de Deus. Pelo contrário, desenvolveu uma constante catequese sobre a necessidade de recorrer sempre às fontes da graça, aos sacramentos, e propôs a luta ascética pessoal como correspondência à graça.
Utilizando a terminologia de muitos Padres [i], falava de divinização do cristão, como uma realidade de facto e como um objectivo. Levava absolutamente a sério, como pertencentes à vida cristã, as expressões de S. João sobre a comunhão (koinonía) entre Cristo e o fiel, que tem como protótipo a comunhão entre Cristo e o Pai. Por exemplo, ensinava a recitar frequentemente e a meditar as palavras de Jesus: “que todos sejam um, como Tu, Pai, em mim e eu em Ti, que assim eles estejam em nós” [ii]. E também: “Se algum me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará e viremos a ele e faremos morada nele” [iii]. Frase que comentava assim: “o coração sente então a necessidade de distinguir e adorar cada uma das pessoas divinas. De certo modo, é uma descoberta que a alma faz na vida sobrenatural, como as de uma criancinha que vai abrindo os olhos à existência. E entretém-se amorosamente com o Pai e com o Filho e com o Espírito Santo; e submete-se facilmente à actividade do Paráclito vivificador, que se nos entrega sem o merecermos; os dons e as virtudes sobrenaturais!” [iv].
Basta um olhar aos escritos de S. Josemaria Escrivá para dar-se conta da profusão com que volta ao tema da inabitação da Santíssima Trindade na alma, do qual faz derivar o programa prático da vida cristã: vida de “filhos no Filho” [v], quer dizer filhos de Deus in Christo, segundo a expressão recorrente em S. Paulo, pelo envio do Espírito Santo [vi]. S. Paulo, com efeito, desenvolveu o conceito da presença do Espírito na alma, de algum modo pré-anunciada, como foi dito [vii]], por la shekinah de Deus no Templo: “Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? (…). O templo de Deus é santo, e esse templo sois vós” [viii].
S. Josemaria formula toda a formação cristã como uma ajuda para que a inabitação e a divinização – e, portanto, a consciência de ser filhos de Deus em Cristo – se traduzam na oração e no recurso oportuno e consciente aos sacramentos. Para ele, conduzir à oração e aos sacramentos era realmente educar.
“Se abandonarmos os Sacramentos, desaparece a verdadeira vida cristã. Contudo, não se nos oculta que particularmente nesta época não falta quem pareça esquecer, e até chegue a desprezar, esta corrente redentora da graça de Cristo. É doloroso falar desta chaga da sociedade que se chama cristã, mas torna-se necessário, para que nas nossas almas se afinque o desejo de recorrermos com mais gratidão e amor a essas fontes de santificação” [ix].
michele dolz, publicado em Romana, n. 32 (2001), 2011.09.12
Nota:
Revisão gráfica por ama.
[i] Cfr., por exemplo, J. Grosso, La divinisation du chrétien d’après les Pères
Grecs, Gabalda, Paris 1938; cfr. também o artigo Divinisation, no Dictionnaire
de Spiritualité, Beauchesne, Paris.
[vii] Cfr. L.
Bouyer, La Bible et l’Évangile, Du Cerf, Paris 1952; Idem,Mysterion. Du mystère à la mystique, Oeil, Paris 1986.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.