11. Insisto em que, com frequência, devemos voltar a considerar a conduta dos Apóstolos e dos nossos primeiros irmãos na fé. Eram poucos, careciam de meios humanos, não contavam nas suas fileiras, assim sucedeu pelo menos durante muito tempo, com grandes pensadores ou pessoas de prestígio público. Viviam num ambiente social de indiferentismo, de carência de valores, semelhante, em muitos aspetos, ao que agora temos de enfrentar. No entanto, não se amedrontaram. «Tiveram uma conversa maravilhosa com todas as pessoas que encontraram, que procuraram, nas suas viagens e peregrinações. Não haveria Igreja, se os Apóstolos não tivessem mantido esse diálogo sobrenatural com todas aquelas almas» [16]. Mulheres e homens, seus contemporâneos, experimentaram uma profunda transformação ao ser tocados pela graça divina. Não aderiram simplesmente a uma nova religião, mais perfeita do que a que eles já conheciam, mas, pela fé, descobriram Jesus Cristo e enamoraram-se d’Ele, do Deus-Homem, que se tinha oferecido em sacrifício por eles e tinha ressuscitado para lhes abrir as portas do Céu. Este facto inaudito penetrou com enorme força nas almas daqueles primeiros, conferindo-lhes uma fortaleza à prova de qualquer sofrimento. «Ninguém acreditou em Sócrates até morrer pela sua doutrina», escrevia com simplicidade S. Justino em meados do século II, «mas por Cristo, até os artesãos e os ignorantes desprezaram não só a opinião do mundo, mas também o medo da morte» [17].
Num
mundo que desejava ardentemente a salvação, sem saber onde encontrá-la, a
doutrina cristã irrompeu como uma luz acesa no meio da escuridão. Aqueles
primeiros souberam, com o seu comportamento, fazer brilhar diante dos seus
concidadãos essa claridade salvadora e converteram-se em mensageiros de Cristo,
simplesmente, com naturalidade, sem ostentações estridentes, com a coerência
entre a sua fé e as suas obras. «Nós não dizemos coisas grandes, mas fazemo-las»
[18], escreveu um deles. E mudaram o mundo pagão.
Na
Carta apostólica que dirigiu a toda a Igreja, na preparação para o grande
jubileu do ano 2000, o beato João Paulo II explicava que «em Cristo a religião
já não é um “buscar Deus às apalpadelas” (cfr. Act 17, 27), mas uma resposta de
fé a Deus, que se revela: resposta em que o homem fala a Deus como o seu
Criador e Pai; resposta tornada possível por aquele único Homem, que é ao mesmo
tempo o Verbo consubstancial com o Pai, e por quem Deus fala a cada homem e
cada homem é capaz de responder a Deus» [19].
Copyright © Prælatura Sanctæ Crucis et
Operis Dei
Nota: Publicação devidamente
autorizada
____________________
Notas:
[19]
Beato João Paulo II, Carta Apost. Tértio Millénnio adveniénte, 10-XI-1994, n.
6.
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