2.
Estas considerações não são novas. Por mais paradoxal que possa parecer, já
desde a conclusão do Concílio Vaticano II se entrevia o perigo de que, em
amplos setores da Igreja, o entusiasmo gerado por aquela Assembleia pudesse
ficar em meras palavras, sem afetar profundamente a vida dos fiéis; ou que, por
causa das interpretações e aplicações erradas dos ensinamentos do Concílio, o
genuíno espírito cristão acabasse, erroneamente, por se tornar semelhante ao
espírito do mundo, em vez de elevar o mundo à ordem sobrenatural.
Todos
os que vivemos aqueles tempos, recordamos a dor com que Paulo VI, uma vez
finalizado o Concílio, se lamentava com frequência ante a grande crise de fé,
de disciplina, de liturgia, de obediência, que se abatia sobre esses setores da
Igreja. S. Josemaria fazia eco dessa preocupação do Santo Padre e, numa carta
dirigida aos seus filhos, escrita pouco antes da clausura do Concílio,
manifestava-nos: «conheceis o amor com que segui durante estes anos o trabalho
do Concílio, cooperando com a minha oração e, em mais de uma ocasião, com o meu
trabalho pessoal. Sabeis também o meu desejo de ser e de que sejais fiéis às
decisões da hierarquia da Igreja até nos menores detalhes, atuando não como
súbditos de uma autoridade, mas com piedade de filhos, com o carinho de quem se
sente e é membro do Corpo de Cristo.
Não
vos ocultei tão pouco a minha dor ante a conduta dos que não viveram o Concílio
como um acto solene da vida da Igreja e uma manifestação do atuar sobrenatural
do Espírito Santo, mas como uma oportunidade de afirmação pessoal, para dar
rédea solta às suas opiniões ou, pior ainda, para causar dano à Igreja.
O
Concílio está a terminar: anunciou-se repetidas vezes que esta será a última
sessão. Quando a carta que agora vos escrevo chegar às vossas mãos, ter-se-á
iniciado já o período pós-conciliar, e o meu coração treme ao pensar que possa
ser ocasião para novas feridas no corpo da Igreja.
Os
anos que se seguem a um Concílio são sempre anos importantes, que exigem
docilidade para aplicar as decisões adotadas, que exigem também firmeza na fé,
espírito sobrenatural, amor a Deus e à Igreja de Deus, fidelidade ao Romano
Pontífice» [2].
Não
havia o menor sinal de pessimismo em S. Josemaria, ao falar assim; queria
salientar que, então e em todas as circunstâncias, fazem falta mulheres e
homens de fé.
Copyright © Prælatura Sanctæ Crucis et
Operis Dei
Nota: Publicação devidamente
autorizada
____________________
Notas:
[2]
S. Josemaria, Carta 24-X-1965, n. 4.
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