Questão 113: Da guarda dos bons anjos.
Art. 2 — Se cada homem é guardado por um anjo.
O
segundo discute-se assim. — Parece que cada homem não é guardado por um anjo.
1. — Pois este tem maior virtude que o homem. Ora, basta um homem para guardar muitos outros. Logo, com maior razão um anjo pode guardar muitos homens.
2.
Demais. — Os seres inferiores são dependentes de Deus, por meio dos superiores,
que se servem dos médios, como diz Dionísio. Ora, sendo todos os anjos
desiguais, como já se disse, há só um anjo sem intermediário, em relação aos
homens. Logo, é só um o que guarda imediatamente todos os homens.
3.
Demais. — Os anjos maiores são delegados para maiores ofícios. Ora, não é maior
ofício guardar antes um homem, do que outro, sendo todos os homens iguais por
natureza. Ora, como, entre todos os anjos, um é maior que outro, como diz
Dionísio, resulta que homens diversos não são guardados por anjos diversos.
Mas,
em contrário, Jerónimo, expondo aquilo da Escritura — os seus anjos nos céus —
diz: Deve ser grande a dignidade das almas, para que cada uma tenha desde o
princípio do nascimento, um anjo delegado para sua guarda.
Para cada homem é delegado um anjo da guarda. E a razão é que a guarda dos
anjos é uma execução da divina Providência, em relação aos homens. Ora, a
Providência de Deus procede, de um modo, com os homens e, de outro, com as
outras criaturas corruptíveis, porque aqueles e estas se relacionam
diferentemente com a incorruptibilidade. Pois, os homens são incorruptíveis,
não só quanto à espécie comum, mas também quanto às formas próprias de cada um,
que são as almas racionais, o que não se pode dizer dos outros seres
corruptíveis. Ora, é manifesto que a Providência de Deus visa, principalmente,
os seres que permanecem perpetuamente, quanto aos transitórios porém a
Providência com eles se ocupa só para ordená-los para os seres perpétuos. Assim
pois a Providência de Deus está para cada homem como está para cada género ou
espécie dos seres corruptíveis. Ora, segundo Gregório, ordens diversas são delegadas
para os diversos géneros de coisas, assim, as Potestades, para afastar os demónios,
as Virtudes, para fazer milagres, em relação às coisas corpóreas. E é provável
que às diversas espécies das coisas sejam prepostos diversos anjos duma mesma
ordem. E por isso também é racional, que a homens diferentes sejam delegados,
como guardas, anjos diferentes.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Um guarda a um homem pode ser dado de dois
modos. Como homem singular e, assim, a um mesmo homem é necessário um guarda e,
às vezes, vários são delegados para a guarda de um só. De outro modo, como
parte de um colégio e, então, a todo o colégio é preposto um só homem, como
guarda, ao qual pertence tomar providência sobre o que diz respeito a cada
homem, em dependência de todo o colégio, assim, sobre as obras exteriores, em
relação às quais uns são edificados e outros escandalizados. Os anjos porém
são delegados como guardas dos homens, mesmo quanto ao que é invisível e
oculto, que diz respeito à salvação de cada um em si mesmo. Donde, a cada
homem é delegado, como guarda, um anjo.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — Como já se disse, todos os anjos da primeira hierarquia, quanto a
certas coisas, são iluminados por Deus imediatamente, mas só os superiores são
assim iluminados, quanto a outras coisas, que revelam aos inferiores. E o mesmo
se deve dizer em relação às ordens inferiores. Pois, qualquer anjo ínfimo é
iluminado, quanto a certas coisas, por algum dos supremos, e quanto a outras,
por aquele que lhe é imediatamente superior. E, assim, é possível que um anjo,
iluminando imediatamente o homem, seja também superior a outros anjos, que
ilumina.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — Embora os homens sejam iguais, por natureza, contudo existe a
desigualdade neles por serem ordenados pela divina Providência uns para coisas
maiores e outros, para menores, conforme aquilo da Escritura: O Senhor
distingui-os pela grandeza da sua sabedoria: a uns abençoou e exaltou, a outros
amaldiçoou e humilhou. E, assim, maior ofício é guardar antes um homem, que
outro.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama
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