Questão 115: Da acção da criatura corpórea.
Art. 5 — Se os corpos celestes podem causar impressões sobre os demónios.
(De
Pot., q. 6: a. 10).
O
quinto discute-se assim. — Parece que os corpos celestes podem causar
impressões sobre os demónios.
1. — Pois, os demónios, em dependência de certos crescentes da lua, Vexam os homens, que por isso se chamam lunáticos, como se lê na Escritura. Ora, tal não se daria se os demónios não estivessem sujeitos aos corpos celestes. Logo, eles estão-no.
2.
Demais. — Os nigromantes observam certas constelações para invocar os demónios.
Ora, estes não seriam invocados, por meio dos corpos celestes, se a eles não
estivessem sujeitos. Logo, estão sujeitos às ações de tais corpos.
3.
Demais. — Os corpos celestes têm maior virtude que os inferiores. Ora, os demónios
são afastados por certos corpos inferiores, como ervas, pedras e animais, por
certos sons determinados, e por vezes, figurações e fingimentos, como diz
Porfírio, citado por Agostinho. Logo, com maior razão, estão sujeitos à acção
dos corpos celestes.
Mas,
em contrário, os demónios são superiores, na ordem da natureza, aos corpos
celestes. Pois, o agente é superior ao paciente, como diz Agostinho. Logo, os demónios
não estão sujeitos à acção dos corpos celestes.
Sobre os demónios há tríplice opinião. — A primeira é a dos Peripatéticos,
que ensinam a não existência deles, e o que a arte nigromântica lhes atribui
faz-se por virtude dos corpos celestes. E neste sentido é que Agostinho cita o
dito de Porfírio: na terra são fabricadas pelos homens, potestades aptas a
obedecerem aos vários efeitos dos astros. Mas esta opinião é manifestamente
falsa. Pois, a experiência ensina que, por meio dos demónios, são feitas muitas
coisas, para o que de nenhum modo bastaria a virtude dos corpos celestes.
Assim, o falarem os possessos língua que desconhecem, citarem versos e passos
de autores que nunca conheceram, fazerem os nigromantes com que estátuas falem
e se movam, e coisas semelhantes.
Isto
levou os Platónicos a dizer que os demónios são animais de corpo aéreo e
espírito passivo, conforme Apuleio, citado por Agostinho. E esta é a segunda
opinião, de acordo com a qual os demónios estão sujeitos aos corpos celestes,
do mesmo modo pelo qual, como já se estabeleceu, o estão os homens. Mas, pelo
que ficou exposto, esta opinião é evidentemente falsa. Pois, como já dissemos,
os demónios são substâncias intelectuais não unidas a corpos. — Por onde é
claro que não estão sujeitos à acção dos corpos celestes, nem em si mesmos, nem
acidental, nem directa, nem indirectamente.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Por duas razões é que os demónios podem vexar
os homens, conforme alguns crescentes da lua. — Primeira, para infamarem uma
criatura de Deus, como o é a lua, segundo dizem Jerónimo e Crisóstomo. — A
segunda está em que, podendo operar só mediante as virtudes naturais, como
antes se disse, consideram, nas suas obras, as aptidões dos corpos para os
efeitos intencionados. Ora, é manifesto que o cérebro é a mais húmida de todas
as partes do corpo, como diz Aristóteles, e por isso está sujeito em máximo
grau à acção da lua, que tem a propriedade de mover o humor. E como no cérebro
é que têm o seu complemento as virtudes animais, por isso os demónios, conforme
certos crescentes da lua, perturbam a fantasia do homem, quando descobrem que o
cérebro está disposto para isso.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — Os demónios invocados sob certas constelações, acodem por duas
razões. — Primeira, para fazerem os homens erradamente crer que há, nas
estrelas, algum nome. — Segunda, porque vêm que, sob certas constelações, a
matéria corpórea está mais disposta aos efeitos para os quais foram invocados.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — Como diz Agostinho, os demónios são aliciados por vários géneros
de pedras, ervas, vegetais, animais, versos e ritos, não como os animais, pelos
alimentos, mas como os espíritos, pelos sinais, a saber, enquanto tais coisas
lhes são exibidas como sinal da honra divina, que para si desejam.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama
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