Encíclica
FIDES ET
RATIO
DO SUMO PONTÍFICE JOÃO PAULO II
AOS BISPOS DA IGREJA CATÓLICA,
DO SUMO PONTÍFICE JOÃO PAULO II
AOS BISPOS DA IGREJA CATÓLICA,
SOBRE AS RELAÇÕES
ENTRE FÉ E RAZÃO
ENTRE FÉ E RAZÃO
CAPÍTULO II
CREDO UT INTELLEGAM
…/3
18. Podemos, pois, dizer que Israel, com a sua
reflexão, soube abrir à razão o caminho para o mistério. Na revelação de Deus,
pôde sondar em profundidade aquilo que a razão estava procurando alcançar sem o
conseguir. A partir desta forma mais profunda de conhecimento, o Povo Eleito
compreendeu que a razão deve respeitar algumas regras fundamentais, para
manifestar do melhor modo possível a própria natureza. A primeira regra é terem
conta que o conhecimento do homem é um caminho que não permite descanso, a
segunda nasce da consciência de que não se pode percorrer tal caminho com o orgulho
de quem pensa que tudo seja fruto de conquista pessoal, a terceira regra
funda-se no «temor de Deus», de quem a razão deve reconhecer tanto a
transcendência soberana como o amor solícito no governo do mundo.
Quando o homem se afasta destas regras, corre o risco
de falimento e acaba por encontrar-se na condição do «insensato». Segundo a
Bíblia, nesta insensatez encerra-se uma ameaça à vida. É que o insensato
ilude-se pensando que conhece muitas coisas, mas, de facto, não é capaz de
fixar o olhar nas realidades essenciais. E isto impede-lhe de pôr ordem na sua
mente (cf. Prov 1, 7) e de assumir uma atitude
correcta para consigo mesmo e o ambiente circundante. Quando, depois, chega a
afirmar que «Deus não existe» (cf. Sal 1413, 1),
isso revela, com absoluta clareza, quanto seja deficiente o seu conhecimento e
quão distante esteja ele da verdade plena a respeito das coisas, da sua origem e
do seu destino.
19. Encontramos, no livro da Sabedoria, alguns textos
importantes, que iluminam ainda melhor este assunto. Lá, o autor sagrado fala
de Deus que Se dá a conhecer também através da natureza. Para os antigos, o
estudo das ciências naturais coincidia, em grande parte, com o saber
filosófico. Depois de ter afirmado que o homem, com a sua inteligência, é capaz
de «conhecer a constituição do universo e a força dos elementos (…), o ciclo
dos anos e a posição dos astros, a natureza dos animais mansos e os instintos
dos animais ferozes» (Sab 7,17.19-20), por outras
palavras, que o homem é capaz de filosofar, o texto sagrado dá um passo em
frente muito significativo. Retomando o pensamento da filosofia grega, à qual
parece referir-se neste contexto, o autor afirma que, raciocinando precisamente
sobre a natureza, pode chegar-se ao Criador: «Pela grandeza e beleza das
criaturas, pode, por analogia, chegar-se ao conhecimento do seu Autor» (Sab13,
5). Reconhece-se, assim, um primeiro nível da revelação divina,
constituído pelo maravilhoso «livro da natureza», lendo-o com os meios próprios
da razão humana, pode chegar-se ao conhecimento do Criador. Se o homem, com a
sua inteligência, não chega a reconhecer Deus como criador de tudo, isso fica a
dever-se não tanto à falta de um meio adequado, como sobretudo ao obstáculo
interposto pela sua vontade livre e pelo seu pecado.
20. Nesta perspectiva, a razão é valorizada, mas não superexaltada.
O que ela alcança pode ser verdade, mas só adquire pleno significado se o seu
conteúdo for situado num horizonte mais amplo, o da fé: «O Senhor é quem dirige
os passos do homem, como poderá o homem compreender o seu próprio destino?» (Prov 20,
24). A fé, segundo o Antigo Testamento, liberta a razão, na medida em que
lhe permite alcançar coerentemente o seu objecto de conhecimento e situá-lo
naquela ordem suprema onde tudo adquire sentido. Em resumo, pela razão o homem
alcança a verdade, porque, iluminado pela fé, descobre o sentido profundo de
tudo e, particularmente, da própria existência. Justamente, pois, o autor
sagrado coloca o início do verdadeiro conhecimento no temor de Deus: «O temor
do Senhor é o princípio da sabedoria» (Prov 1, 7, cf. Sir 1,
14).
2. « Adquire a sabedoria, adquire a
inteligência » (Prov 4, 5)
21. Segundo o Antigo Testamento, o conhecimento não se
baseia apenas numa atenta observação do homem, do mundo e da história, mas
supõe como indispensável também uma relação com a fé e os conteúdos da
Revelação. Aqui se concentram os desafios que o Povo Eleito teve de enfrentar e
a que deu resposta. Ao reflectir sobre esta sua condição, o homem bíblico descobriu
que não se podia compreender senão como «serem relação»: relação consigo mesmo,
como povo, com o mundo e com Deus. Esta abertura ao mistério, que provinha da
Revelação, acabou por ser, para ele, a fonte dum verdadeiro conhecimento, que
permitiu à sua razão aventurar-se em espaços infinitos, recebendo inesperadas possibilidades
de compreensão.
Segundo o autor sagrado, o esforço da investigação não
estava isento da fadiga causada pelo embate nas limitações da razão. Sente-se
isso mesmo, por exemplo, nas palavras com que o livro dos Provérbios denuncia o
cansaço provado ao tentar compreender os misteriosos desígnios de Deus (cf.
30, 1-6). Todavia, apesar da fadiga, o crente não desiste. E a força para
continuar o seu caminho rumo à verdade provém da certeza de que Deus o criou
como um «explorador» (cf. Coel1, 13), cuja missão é não
deixar nada sem tentar, não obstante a contínua chantagem da dúvida. Apoiando-se
em Deus, o crente permanece, em todo o lado e sempre, inclinado para o que é
belo, bom e verdadeiro.
22. S. Paulo, no primeiro capítulo da carta aos
Romanos,ajuda-nos a avaliar melhor quanto seja incisiva a reflexão dos Livros
Sapienciais. Desenvolvendo com linguagem popular uma argumentação filosófica, o
Apóstolo exprime uma verdade profunda: através da criação, os «olhos da mente»
podem chegar ao conhecimento de Deus. Efectivamente, através das criaturas, Ele
faz intuir à razão o seu «poder» e a sua «divindade» (cf. Rom 1,
20). Deste modo, é atribuída à razão humana uma capacidade tal que parece
quase superar os seus próprios limites naturais: não só ultrapassa o âmbito do
conhecimento sensorial, visto que lhe é possível reflectir criticamente sobre o
mesmo, mas, raciocinando a partir dos dados dos sentidos, pode chegar também à
causa que está na origem de toda a realidade sensível. Em terminologia
filosófica, podemos dizer que, neste significativo texto paulino, está afirmada
a capacidade metafísica do homem.
Segundo o Apóstolo, no projecto originário da criação estava
prevista a capacidade de a razão ultrapassar comodamente o dado sensível para
alcançar a origem mesma de tudo: o Criador. Como resultado da desobediência com
que o homem escolheu colocar-se em plena e absoluta autonomia relativamente
Àquele que otinha criado, perdeu tal facilidade de acesso a Deus criador.
O livro do Génesis descreve de maneira figurada esta
condição do homem, quando narra que Deus o colocou no jardim do Éden, tendono
centro «a árvore da ciência do bem e do mal» (2, 17). O símbolo é
claro: o homem não era capaz dediscernir e decidir, por si só, aquilo que era
bem e o que era mal, mas devia apelar-se a um princípio superior. A cegueira do
orgulho iludiu os nossos primeiros pais de que eram soberanos e autónomos, podendo
prescindir do conhecimento vindo de Deus. Nesta desobediência original, eles implicaram
todo o homem e mulher, causando à razão traumas sérios que haveriam de
dificultar-lhe, daí em diante, o caminho para a verdade plena. Agora a
capacidade humana de conhecer a verdade aparece ofuscada pela aversão contra
Aquele que é fonte e origem da verdade. O próprio apóstolo S. Paulo nos revela
como, por causa do pecado, os pensamentos dos homens se tornaram «vãos» e os
seus arrazoados tortuosos e falsos (cf. Rom1, 21-22). Os
olhos da mente deixaram de ser capazes de ver claramente: a razão foi
progressivamente ficando prisioneira de sim esma. A vinda de Cristo foi o
acontecimento de salvação que redimiu a razão da sua fraqueza, libertando-a dos
grilhõesonde ela mesma se tinha algemado.
23. Deste modo, a relação do cristão com a filosofia requer
um discernimento radical. No Novo Testamento, especialmente nas cartas de S.
Paulo, aparece claramente este dado: a contraposição entre «a sabedoria deste
mundo» e a sabedoria de Deus revelada em Jesus Cristo. A profundidade da
sabedoria revelada rompe o círculo dos nossos esquemas de reflexão habituais,
que não são minimamente capazes de exprimi-la de forma adequada.
O início da primeira carta aos Coríntios apresenta radicalmente
este dilema. O Filho de Deus crucificado é o acontecimento histórico contra o
qual se desfaz toda a tentativa da mente para construir, sobre razões puramente
humanas, uma justificação suficiente do sentido da existência. O verdadeiro
ponto nodal, que desafia qualquer filosofia, é a morte de Jesus Cristo na cruz.
Aqui, de facto, qualquer tentativa de reduzir o plano salvífico do Pai a mera
lógica humana está destinada à falência. «Onde está o sábio? Onde está o
erudito? Onde está o investigador deste século? Porventura, Deus não considerou
louca a sabedoria deste mundo?» (1 Cor 1, 20) — interroga-se
enfaticamente o Apóstolo. Para aquilo que Deus quer realizar, não basta a
simples sabedoria do homem sábio, requer-se um passo decisivo que leve ao
acolhimento duma novidade radical: «O que é louco segundo o mundo é que Deus
escolheu para confundir os sábios (…). O que é vil e desprezível no mundo, é
que Deus escolheu, como também aquelas coisas que nada são, para destruir as
que são» (1 Cor1, 27-28). A sabedoria do homem recusa ver na
própria fragilidade o pressuposto da sua força, mas S. Paulo não hesita em
afirmar: «Quando me sinto fraco, então é que sou forte» (2 Cor 12,
10). O homem não consegue compreender como possa a morte ser fonte de
vida e de amor, mas Deus, para revelar o mistério do seu desígnio salvador,
escolheu precisamente o que a razão considera «loucura» e «escândalo». Usando a
linguagem dos filósofos do seu tempo, Paulo chega ao clímax da sua doutrina e
do paradoxo que quer exprimir: «Deus escolheu, no mundo, aquelas coisas que
nada são, para destruir as que são» (cf. 1 Cor 1, 28).
Para exprimir o carácter gratuito do amor revelado na cruz de Cristo, o Apóstolo
não tem medo de usar a linguagem mais radical que os filósofos empregavam nas
suas reflexões a respeito de Deus. A razão não pode esgotar o mistério de amor que
a Cruz representa, mas a Cruz pode dar à razão a resposta última que esta
procura. S. Paulo coloca, não a sabedoria das palavras, mas a Palavra da Sabedoria
como critério, simultaneamente, de verdade e de salvação.
Por conseguinte, a sabedoria da Cruz supera qualquer
limite cultural que se lhe queira impor, obrigando a abrir-se à universalidade
da verdade de que é portadora. Como é grande o desafio lançado à nossa razão e
como são enormes as vantagens que terá, se ela se render! A filosofia, que por
si mesma já é capaz de reconhecer a necessidade do homem se transcender
continuamente na busca da verdade, pode, ajudada pela fé, abrir-se para, na
«loucura» da Cruz, acolher como genuína a crítica a quantos se iludem de
possuir a verdade, encalhando-a nas sirtes dum sistema próprio. A relação entre
a fé e a filosofia encontra, na pregação de Cristo crucificado e ressuscitado,
o escolho contra o qual pode naufragar, mas também para além do qual pode
desembocar no oceano ilimitado da verdade. Aqui é evidente a fronteira entre a razão
e a fé, mas torna-se claro também o espaço onde as duas se podem encontrar.
CAPÍTULO III
INTELLEGO UT CREDAM
1. Caminhar à procura da verdade
24. Nos Actos dos Apóstolos, o evangelista Lucas narra
a chegada de Paulo a Atenas, numa das suas viagens missionárias. A cidade dos filósofos
estava cheia de estátuas, que representavam vários ídolos, e chamou-lhe a
atenção um altar, que Paulo prontamente aproveitou como motivo e base comum
para iniciar o anúncio do querigma: «Atenienses — disse ele —, vejo que sois,
em tudo, os mais religiosos dos homens. Percorrendo a vossa cidade e examinando
os vossos monumentos sagrados, até encontrei um altarcom esta inscrição:
"Ao Deus desconhecido". Pois bem! O que venerais sem conhecer, é que
eu vos anuncio» (Act17, 22-23). Partindo daqui, S. Paulo
fala-lhes de Deus enquanto criador, como Aquele que tudo transcende e a tudo dá
vida. Depois continua o seu discurso, dizendo: «Fez a partir de um só homem,
todo o género humano, para habitar em toda a face da Terra, e fixou a sequência
dos tempos e os limites para a sua habitação, a fim de que os homens procurem a
Deus e se esforcem por encontrá-Lo, mesmotacteando, embora não Se encontre
longe de cada um de nós» (Act 17, 26-27).
O Apóstolo põe em destaque uma verdade que a Igreja
sem preguardou no seu tesouro: no mais fundo do coração do homem, foi semeado o
desejo e a nostalgia de Deus. Recorda-o a liturgia de Sexta-feira Santa,
quando, convidando a rezar pelos que não crêem, diz: «Deus eterno e omnipotente,
criastes os homens para que Vos procurem, de modo que só em Vós descansa o seu
coração». [i] Existe, portanto, um caminho que o homem, se quiser,
pode percorrer, o seu ponto de partida está na capacidade de a razão superar o
contingente para se estender até ao infinito.
De vários modos e em tempos diversos, o homem
demonstrou que conseguia dar voz a este seu desejo íntimo. A literatura, a
música, a pintura, a escultura, a arquitectura e outras realizações da sua
inteligência criadora tornaram-se canais de que ele se serviu para exprimir
esta sua ansiosa procura. Mas foi sobretudo a filosofia que, de modo peculiar,
recolheu este movimento, exprimindo, com os meios e segundo as modalidades
científicas que lhe são próprias, este desejo universal do homem.
25. «Todos os homens desejam saber», [ii] e o objecto próprio deste desejo é a verdade. A
própria vida quotidiana demonstra o interesse que tem cada um em descobrir,
para além do que ouve, a realidade das coisas. Em toda a criação visível, o
homem é o único ser que é capaz não só de saber, mas também de saber que sabe,
e por isso se interessa pela verdade real daquilo que vê. Ninguém pode sinceramente
ficar indiferente quanto à verdade do seu saber. Se descobre que é falso,
rejeita-o, se, pelo contrário, consegue certificar-se da sua verdade, sente-se
satisfeito. É a lição que nos dá Santo Agostinho, quando escreve: «Encontrei
muitos com desejos de enganar outros, mas não encontrei ninguém que quisesse
ser enganado». [iii] Considera-se, justamente, que uma pessoa alcançou a
idade adulta, quando consegue discernir, por seus próprios meios, entre aquilo
que é verdadeiro e o que é falso, formando um juízo pessoal sobre a realidade
objectiva das coisas. Está aqui o motivo de muitas pesquisas, particularmente
no campo das ciências, que levaram, nos últimos séculos, a resultados tão significativos,
favorecendo realmente o progresso da humanidade inteira.
E a pesquisa é tão importante no campo teórico, como
no âmbito prático: ao referir-me a este, desejo aludir à procura da verdade a
respeito do bem que se deve realizar. Com efeito, graças precisamente ao agir
ético, a pessoa, se actuar segundo a sua livre e recta vontade, entra pela
estrada da felicidade e encaminha-se para a perfeição. Também neste caso, está
em questão a verdade. Reafirmei esta convicção na carta encíclica Veritatis
splendor: «Não há moral semliberdade (…). Se existe o direito de ser
respeitado no próprio caminho em busca da verdade, há ainda antes a obrigação moral
grave para cada um de procurar a verdade e de aderir a ela, uma vez conhecida».
[iv]
Por isso, é necessário que os valores escolhidos e procurados
na vida sejam verdadeiros, porque só estes é que podem aperfeiçoar a pessoa,
realizando a sua natureza. Não é fechando-se em si mesmo que o homem encontra
esta verdade dos valores, mas abrindo-se para a receber mesmo de dimensões que
o transcendem. Esta é uma condição necessária para que cada um se torne ele
mesmo e cresça como pessoa adulta e madura.
26. Ao princípio, a verdade apresenta-se ao homem sob forma
interrogativa: A vida tem um sentido? Para onde se dirige? Àprimeira
vista, a existência pessoal poderia aparecer radicalmente sem sentido. Não é
preciso recorrer aos filósofos do absurdo, nem às perguntas provocatórias que
se encontram no livro de Job para duvidar do sentido da vida. A experiência quotidiana
do sofrimento, pessoal e alheio, e a observação de muitos factos, que à luz da
razão se revelam inexplicáveis, bastam para tornar iniludível um problema tão
dramático como é a questão do sentido da vida. [v] A isto se deve acrescentar que a primeira verdade
absolutamente certa da nossa existência, para além do facto de existirmos, é a
inevitabilidade da morte. Perante um dado tão desconcertante como este,
impõe-se a busca de uma resposta exaustiva. Cada um quer, e deve, conhecer a verdade
sobre o seu fim. Quer saber se a morte será o termo definitivo da sua existência,
ou se algo permanece para além da morte, se pode esperar uma vida posterior, ou
não. É significativo que o pensamento filosófico tenha recebido, da morte de
Sócrates, uma orientação decisiva que o marcou durante mais de dois milénios.
Certamente não é por acaso que os filósofos, perante a realidade da morte,
sempre voltam a pôr-se este problema, associado à questão do sentido da vida e
da imortalidade.
27. A tais questões, não ninguém se pode esquivar— nem
o filósofo, nem o homem comum. E, da resposta que se lhes der, deriva uma
orientação decisiva da investigação: a possibilidade, ou não, de alcançar uma
verdade universal. Por si mesma qualquer verdade, mesmo parcial, se realmente é
verdade, apresenta-se como universal e absoluta. Aquilo que é verdadeiro deve
ser verdadeiro sempre e para todos. Contudo, para além desta universalidade, o
homem procura um absoluto que seja capaz de dar resposta e sentido a toda a sua
pesquisa: algo de definitivo, que sirva de fundamento a tudo o mais. Por outras
palavras, procura uma explicação definitiva, um valor supremo, para além do
qual não existam, nem possam existir, ulteriores perguntas ou apelos. As
hipóteses podem seduzir, mas não saciam. Para todos, chega o momento em que, admitam-no
ou não, há necessidade de ancorar a existência a uma verdade reconhecida como
definitiva, que forneça uma certeza livre de qualquer dúvida.
Os filósofos procuraram, ao longo dos séculos,
descobrir e exprimir tal verdade, criando um sistema ou uma escola de
pensamento. Mas, para além dos sistemas filosóficos, existem outras expressões nas
quais o homem procura formular a sua «filosofia»: trata-se de convicções ou
experiências pessoais, tradições familiares e culturais, ou itinerários
existenciais vividos sob a autoridade de um mestre. A cada uma destas
manifestações, subjaz sempre vivo o desejo de alcançar a certeza da verdade e
do seu valor absoluto.
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