
Questão 114: Do ataque dos demónios.
Art. 4 — Se os demónios podem seduzir os homens com milagres verdadeiros.
(Supra. q. 110. a. 4, ad. 2,
IIª IIae, q. 178 a. 1, ad. 2, a. 2, II Sent., dist. VII, q. 3, a. 1, De Pot.,
q. 6, a. 5, In Matth., cap. XXIV, II Thess., cap. II, lect. II).
O
quarto discute-se assim. — Parece que os demónios não podem seduzir os homens
com milagres verdadeiros.
1. — Pois, os demónios terão especial influência nas obras do Anticristo. Mas diz o Apóstolo: A vinda dele é por obra de Satanás com todo o poder, e com sinais e prodígios mentirosos. Logo, com maior razão, em outros tempos, os fatos demoníacos maravilhosos não passarão de mentiras.
2.
Demais. — Os verdadeiros milagres realizam-se com alguma imutação nos corpos.
Ora, os demónios não podem mudar a natureza de um corpo em outro: pois, diz
Agostinho: Por nenhuma razão acreditarei que o corpo humano possa vir a ser
verdadeiramente convertido em corpo de animal, por arte ou poder dos demónios.
Logo, estes não podem fazer verdadeiros milagres.
3.
Demais. — O argumento que pode referir-se a dois termos opostos não tem
eficácia. Se, pois, milagres verdadeiros pudessem ser feitos pelos demónios
para persuadir à falsidade, não poderiam ser eficazes para confirmar a verdade
da fé. O que é inadmissível, conforme à Escritura: Cooperando com eles o
Senhor, e confirmando a sua pregação com os milagres que a acompanhavam.
Mas,
em contrário, diz Agostinho: pelas artes mágicas se fazem milagres muito
semelhantes aos feitos pelos servos de Deus.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Como diz Agostinho, as obras do Anticristo
podem chamar-se sinais de mentira, quer porque há-de enganar com fantasmagorias
os sentidos mortais, de modo a parecer realizar o que não realiza, quer porque,
sendo os prodígios verdadeiros, arrastarão porém ao engano os que neles crerem.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — Como já se disse antes, a matéria corpórea não obedece à vontade
dos anjos bons ou maus, de modo que os demónios possam pela sua virtude
transmutar a matéria de uma forma para outra. Mas podem aplicar certos germes
existentes nos elementos do mundo, para realizar tais efeitos, como diz
Agostinho. Por onde deve dizer-se, que todas as transmutações das coisas corpóreas,
que podem ser feitas por algumas virtudes naturais, entre as quais estão os
referidos germes, podem ser feitas por operação dos demónios, com aplicação
desses germes, assim quando certas coisas são transmutadas em serpentes ou rãs,
seres que podem ser gerados por putrefação. Porém as transmutações das coisas
corpóreas, que não podem ser feitas por virtude da natureza, de nenhum modo
podem ser realizadas por operação dos demónios, na verdade da expressão. E se
às vezes algo de tal parece ser feito, por operação dos demónios, isso não se
dá real, mas só aparentemente, o que pode acontecer de duplo modo. De um,
interiormente, assim o demónio pode mudar a fantasia do homem e mesmo os
sentidos corpóreos, de maneira que uma coisa pareça diversa do que é, como já
se disse. E isto também se pode considerar como feito às vezes por virtude de
certos agentes corpóreos. De outro modo, exteriormente. Pois assim como o demónio
pode formar, do ar, um corpo de qualquer forma ou figura, de modo que,
assumindo-o, apareça visivelmente, pela mesma razão pode revestir qualquer
coisa de uma forma corpórea, de modo que seja visto, na figura desta. E é o que
diz Santo Agostinho: a fantasia do homem, mesmo quando este pensa ou sonha,
varia conforme os inumeráveis génios das causas e, como corporificada na imagem
de algum animal, aparece aos outros sentidos entorpecidos. O que significa, não
que a virtude fantástica do homem, ou uma espécie da mesma, corporificada e com
ela numericamente idêntica, seja manifestada aos sentidos de outrem, mas que o demónio,
que forma uma certa espécie, na fantasia de um homem, também pode apresentar
outra espécie semelhante aos sentidos de outro homem.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — Como diz Agostinho, quando os magos fazem as mesmas causas que os
santos, fazem-nas com fim e por direito diverso. Pois aqueles as fazem,
buscando a glória própria, estes, a de Deus. Aqueles, por um como que comércio
privado, estes porém por pública ordem e mandado de Deus, a quem estão sujeitas
todas as criaturas.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama
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