Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Jo 8, 21-41
21
Jesus disse-lhes mais: «Eu retiro-Me: vós Me buscareis, e morrereis no vosso
pecado. Para onde Eu vou, vós não podeis ir». 22 Diziam, pois, os judeus: «Será
que Ele Se mate a Si mesmo, pois diz: Para onde Eu vou, vós não podeis ir?». 23
Ele disse-lhes: «Vós sois cá de baixo, Eu sou lá de cima. Vós sois deste mundo,
Eu não sou deste mundo. 24 Por isso Eu vos disse que morreríeis nos vossos
pecados; sim, se não crerdes que “Eu sou”, morrereis nos vossos pecados». 25
Disseram-Lhe então eles: «Quem és Tu?». Jesus respondeu-lhes: «É exactamente
isso que Eu vos estou a dizer. 26 Muitas coisas tenho a dizer e a julgar a
vosso respeito, mas O que Me enviou é verdadeiro e o que ouvi d'Ele é o que
digo ao mundo». 27 Eles não compreenderam que Jesus lhes falava do Pai.28 Jesus
disse-lhes mais: «Quando tiverdes levantado o Filho do Homem, então conhecereis
que “Eu sou” e que nada faço por Mim mesmo, mas que, como o Pai Me ensinou,
assim falo. 29 O que Me enviou está comigo, não Me deixou só, porque Eu faço
sempre aquilo que é do Seu agrado». 30 Dizendo estas coisas, muitos acreditaram
n'Ele. 31 Jesus disse então aos judeus que creram n'Ele: «Se vós permanecerdes
na Minha palavra sereis verdadeiramente Meus discípulos, 32 conhecereis a
verdade e a verdade vos fará livres». 33 Eles responderam-Lhe: «Nós somos descendentes
de Abraão e nunca fomos escravosde ninguém; como dizes Tu: Sereis livres?». 34
Jesus respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que
comete pecado é escravo do pecado. 35 Ora o escravo não fica para sempre na
casa, mas o filho é que fica nela para sempre. 36 Por isso, se o Filho vos
livrar, sereis verdadeiramente livres. 37 Bem sei que sois descendentes de
Abraão, mas procurais matar-Me porque a Minha palavra não penetra em vós. 38 Eu
digo o que vi em Meu Pai; e vós fazeis o que ouvistes do vosso pai». 39 Eles
replicaram: «O nosso pai é Abraão». Jesus disse-lhes: «Se sois filhos de
Abraão, fazei as obras de Abraão. 40 Mas agora procurais matar-Me, a Mim, que
vos disse a verdade que ouvi de Deus. Abraão nunca fez isto. 41 Vós fazeis as
obras do vosso pai». Eles disseram-Lhe: «Nós não somos filhos da prostituição,
temos um pai que é Deus».
CARTA ENCÍCLICA
MEDIACTOR DEI
DO SUMO PONTÍFICE
PAPA PIO XII
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS PATRIARCAS, PRIMAZES,
ARCEBISPOS E BISPOS
E OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
SOBRE A SAGRADA LITURGIA
…/3
IV. Progresso e
desenvolvimento da liturgia
44.
A hierarquia eclesiástica tem usado sempre desse seu direito em matéria
litúrgica, preparando e ordenando o culto divino e enriquecendo-o sempre de
novo esplendor e decoro para glória de Deus e vantagem dos féis. Não duvidou,
além disto – salva a substância do sacrifício eucarístico e dos sacramentos –
em mudar aquilo que não julgava adaptado, em acrescentar o que parecia
contribuir melhor para a glória de Jesus Cristo e da augusta Trindade, para
instrução e estímulo salutar do povo cristão. [1]
45.
A sagrada liturgia, com efeito, consta de elementos humanos e de elementos
divinos. Esses, tendo sido instituídos pelo divino Redentor, não podem,
evidentemente, ser mudados pelos homens, aqueles, ao contrário, podem sofrer
várias modificações, aprovadas pela hierarquia sagrada, assistida do Espírito
Santo, segundo as exigências dos tempos, das coisas e das almas. Disso se
origina a estupenda variedade dos ritos orientais e ocidentais, o desenvolvimento
progressivo de hábitos particulares religiosos e práticas de piedade
inicialmente apenas acenadas, disso advém que muitas vezes são repristinadas e
renovadas pias instituições obliteradas pelo tempo. Tudo isso testemunha a vida
da intemerata esposa de Jesus Cristo durante tantos séculos, exprime a
linguagem usada por ela para manifestar ao Esposo divino a fé e o amor
inexauríveis dela e das gentes que lhe foram confiadas, demonstra a sua sábia
pedagogia para estimular e incrementar nos crentes "o sentido de
Cristo".
46.
Em verdade, não poucas são as causas pelas quais se explica e desenvolve o
progresso da sagrada liturgia durante a longa e gloriosa história da Igreja.
Assim,
por exemplo, uma formação mais certa e ampla da doutrina católica sobre a
encarnação do Verbo de Deus, sobre os sacramentos, sobre o sacrifício
eucarístico, e sobre a virgem Maria Mãe de Deus, contribuiu para a adopção de
novos ritos, por meio dos quais a luz, mais esplendidamente brilhante na
declaração do magistério eclesiástico, veio a reflectir melhor e mais
claramente nas acções litúrgicas para unir-se com maior facilidade à mente e ao
coração do povo cristão
47.
O ulterior desenvolvimento da disciplina eclesiástica na administração dos
sacramentos, por exemplo, do sacramento da penitência, a instituição e depois o
desaparecimento do catecumenato, a comunhão eucarística sob uma só espécie na
Igreja latina, contribuíram não pouco para a modificação dos antigos ritos e a
gradual adopção de novos e mais condizentes com as disposições disciplinares
mudadas.
48.
Para essa evolução e para essas mudanças contribuíram notavelmente as
iniciativas e as práticas piedosas não estritamente ligadas à sagrada liturgia,
nascidas em épocas sucessivas por admirável disposição de Deus e assim
difundidas no povo, como, por exemplo, o culto mais amplo e mais fervoroso da
divina eucaristia, da acerbíssima Paixão do nosso Redentor, do Sacratíssimo
Coração de Jesus, da Virgem Mãe de Deus e do seu puríssimo esposo.
48.
Entre as circunstâncias exteriores, tiveram a sua parte as peregrinações
públicas de devoção aos sepulcros dos mártires, a observância de jejuns
particulares instituídos para o mesmo fim, as procissões estacionais de
penitência que se celebravam nesta excelsa cidade e às quais, não raro,
comparecia o próprio sumo-pontífice.
50.
Também facilmente se compreende como o progresso das belas artes, especialmente
da arquitectura, da pintura e da música tenham influído não pouco sobre a
determinação e a diversa conformação dos elementos exteriores da sagrada
liturgia.
51.
A Igreja serviu-se do seu mesmo direito em matéria litúrgica para tutelar a
santidade do culto contra os abusos temerariamente introduzidos por indivíduos
e por Igrejas particulares. Assim aconteceu que nosso predecessor de imortal
memória, Sixto V, vendo multiplicar-se os usos e costumes deste género durante
o século XVI e as iniciativas privadas porem em perigo a integridade da fé e da
piedade, com grande vantagem dos hereges e da propaganda do seu erro, instituiu
em 1588, para defender os legítimos ritos da Igreja e impedir as infiltrações
espúrias, a Congregação dos ritos, [2]
órgão a que compete ainda hoje ordenar e prescrever, com cuidado vigilante,
tudo o que diz respeito à sagrada liturgia. [3]
V. Tal progresso não pode
ser deixado ao arbítrio dos particulares
52.
Por isso, somente o sumo-pontífice tem o direito de reconhecer e estabelecer
quaisquer praxes do culto, de introduzir e aprovar novos ritos, e mudar aqueles
que julgar devem ser mudados, [4]
os bispos têm o direito e o dever de vigiar diligentemente para que as prescrições
dos sagrados cânones relativamente ao culto divino sejam pontualmente
observadas. [5]
Não é possível deixar ao arbítrio dos particulares, ainda que sejam membros do
clero, as coisas santas e venerandas relativas à vida religiosa da comunidade
cristã, ao exercício do sacerdócio de Jesus Cristo e ao culto divino, à honra
que se deve à Santíssima Trindade, ao Verbo Encarnado, à sua augusta Mãe e aos
outros santos, e à salvação dos homens, pelo mesmo motivo a ninguém é permitido
regular neste campo acções externas que têm nexo íntimo com a disciplina
eclesiástica, com a ordem, a unidade, a concórdia do corpo místico e, não raro,
com a própria integridade da fé católica. Certamente, a Igreja é um organismo
vivo e, por isso, ainda no que diz respeito à sagrada liturgia, firme a
integridade do seu ensinamento, cresce e se desenvolve, adaptando-se e
conformando-se às circunstâncias e às exigências que se verificam no correr dos
tempos, deve-se, todavia, reprovar severamente a temerária audácia daqueles que
introduzem de propósito novos costumes litúrgicos ou fazem reviver ritos já
caídos em desuso e que não concordam com as leis e as rubricas vigentes. Assim,
não sem grande pesar, sabemos que isso acontece não somente em coisas de pouca
monta, mas ainda de gravíssima importância, não falta, com efeito, quem use a
língua vulgar na celebração do sacrifício eucarístico, quem transfira para
outros tempos festas fixadas já por razões ponderáveis, quem exclua dos
legítimos livros da oração pública os escritos sagrados do Antigo Testamento,
reputando-os pouco adaptados e pouco oportunos para os nossos tempos.
53.
O uso da língua latina vigente em grande parte da Igreja, é um caro e nobre
sinal de unidade e um eficaz remédio contra toda corruptela da pura doutrina.
Em muitos ritos o uso da língua vulgar pode ser assaz útil para o povo, mas
somente a Sé Apostólica tem o poder de concedê-lo, e por isso, neste campo,
nada é lícito fazer sem o seu juízo e a sua aprovação, porque, como havíamos
dito, a regulamentação da sagrada liturgia é de sua exclusiva competência.
54.
Do mesmo modo se devem julgar os esforços de alguns para revigorar certos
antigos ritos e cerimónias. A liturgia da época antiga é, sem dúvida, digna de
veneração, mas o uso antigo não é, por motivo somente de sua antiguidade, o
melhor, seja em si mesmo, seja em relação aos tempos posteriores e às novas
condições verificadas. Os ritos litúrgicos mais recentes também são
respeitáveis, pois que foram estabelecidos por influxo do Espírito Santo que
está com a Igreja até à consumação dos séculos, [6] e
são meios dos quais se serve a ínclita esposa de Jesus Cristo para estimular e
conseguir a santidade dos homens.
55.
É certamente coisa sábia e muito louvável retornar com a inteligência e com a
alma às fontes da sagrada liturgia, porque o seu estudo, reportando-se às
origens, auxilia não pouco a compreender o significado das festas e a penetrar
com maior profundidade e agudeza o sentido das cerimónias, mas não é certamente
coisa tão sábia e louvável reduzir tudo e de qualquer modo ao antigo. Assim,
para dar um exemplo, está fora do caminho quem quer restituir ao altar a antiga
forma de mesa, quem quer eliminar dos paramentos litúrgicos a cor negra, quem
quer excluir dos templos as imagens e as estátuas sagradas, quem quer suprimir
na representação do Redentor crucificado as dores acérrimas por ele sofridas,
quem repudia e reprova o canto polifónico, ainda quando conforme às normas
emanadas da Santa Sé.
56.
Como, em verdade, nenhum católico fiel pode rejeitar as fórmulas da doutrina
cristã compostas e decretadas com grande vantagem em época mais recente da
Igreja, inspirada e dirigida pelo Espírito Santo, para voltar às antigas
fórmulas dos primeiros concílios, ou repudiar as leis vigentes para voltar às
prescrições das antigas fontes do direito canónico, assim, quando se trata da
sagrada liturgia, não estaria animado de zelo recto e inteligente aquele que
quisesse voltar aos antigos ritos e usos, recusando as recentes normas
introduzidas por disposição da Divina Providência e por mudança de
circunstâncias.
57.
Este modo de pensar e de proceder, com efeito, faz reviver o excessivo e insano
arqueologismo suscitado pelo ilegítimo concílio de Pistóia, e se esforça em
revigorar os múltiplos erros que foram as bases daquele conciliábulo e os que
se lhe seguiram com grande dano das almas, e que a Igreja – guarda vigilante do
"depósito da fé" confiado pelo seu divino Fundador – condenou com
todo o direito. [7]
De facto, deploráveis propósitos e iniciativas tendem a paralisar a acção
santificadora com a qual a sagrada liturgia orienta salutarmente ao Pai celeste,
os filhos de adopção.
58.
Tudo, pois, seja feito em indispensável união com a hierarquia eclesiástica.
Ninguém se arrogue o direito de ser lei para si mesmo e de impô-la aos outros
por sua vontade. Somente o sumo-pontífice, na qualidade de sucessor de Pedro,
ao qual o divino Redentor confiou o rebanho universal, [8] e
juntamente os bispos, que sob a dependência da Sé Apostólica "o Espírito
Santo colocou para reger a Igreja de Deus", [9]
têm o direito e o dever de governar o povo cristão. Por isso, veneráveis
irmãos, toda vez que defendeis a vossa autoridade – oportunamente, ainda que
com severidade salutar não somente cumpris o vosso dever, mas defendeis a
própria vontade do Fundador da Igreja.
SEGUNDA
PARTE
O
CULTO EUCARÍSTICO
I. Natureza do sacrifício
eucarístico
59.
O mistério da santíssima eucaristia, instituída pelo sumo-sacerdote Jesus
Cristo e, por vontade sua, perpetuamente renovada pelos seus ministros, é como
a súmula e o centro da religião cristã. Em se tratando do ápice da sagrada
liturgia, julgamos oportuno, veneráveis irmãos, deter-nos um pouco, chamando a
vossa atenção para esta importantíssima temática.
60.
O Cristo Senhor, "sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedeque" [10]
"tendo amado os seus que estavam no mundo", [11]
"na última ceia, na noite em que foi traído, para deixar à Igreja, sua
esposa dilecta, um sacrifício visível, como exige a natureza dos homens, o qual
representasse o sacrifício cruento que devia cumprir-se na cruz uma só vez, e
para que a sua lembrança permanecesse até o fim dos séculos e nos fosse
aplicada sua salutar virtude em remissão dos nossos pecados cotidianos... ofereceu
a Deus Pai o seu corpo e o seu sangue sob as espécies de pão e de vinho e
deu-os aos apóstolos então constituídos sacerdotes do Novo Testamento, para que
sob essas mesmas espécies o recebessem, e ordenou a eles e aos seus sucessores
no sacerdócio, que o oferecessem". [12]
61.
O augusto sacrifício do altar não é, pois, uma pura e simples comemoração da
paixão e morte de Jesus Cristo, mas é um verdadeiro e próprio sacrifício, no
qual, imolando-se incruentamente, o Sumo-Sacerdote faz aquilo que fez uma vez
sobre a cruz, oferecendo-se todo ao Pai, vítima agradabilíssima. "Uma... e
idêntica é a vítima: aquele mesmo, que agora oferece pelo ministério dos
sacerdotes, se ofereceu então sobre a cruz, é diferente apenas, o modo de fazer
a oferta". [13]
62.
Idêntico, pois, é o sacerdote, Jesus Cristo, cuja sagrada pessoa é representada
pelo seu ministro. Este, pela consagração sacerdotal recebida, assemelha-se ao
Sumo-Sacerdote e tem o poder de agir em virtude e na pessoa do próprio Cristo, [14]
por isso, com sua acção sacerdotal, de certo modo, "empresta a Cristo a
sua língua, e lhe oferece a sua mão". [15]
63.
Também idêntica é a vítima, isto é, o Divino Redentor, segundo a sua humana
natureza e na realidade do seu corpo e do seu sangue. Diferente, porém, é o
modo pelo qual Cristo é oferecido. Na cruz, com efeito, ele ofereceu-se todo a
Deus com os seus sofrimentos, e a imolação da vítima foi realizada por meio de
morte cruenta livremente sofrida, no altar, ao invés, por causa do estado
glorioso de sua natureza humana, "a morte não tem mais domínio sobre
ele" [16]
e, por conseguinte, não é possível a efusão do sangue, mas a divina sabedoria
encontrou o modo admirável de tornar manifesto o sacrifício de nosso Redentor
com sinais exteriores que são símbolos de morte. Já que, por meio da
transubstanciação do pão no corpo e do vinho no sangue de Cristo, têm-se
realmente presentes o seu corpo e o seu sangue, as espécies eucarísticas, sob
as quais está presente, simbolizam a cruenta separação do corpo e do sangue.
Assim o memorial da sua morte real sobre o Calvário repete-se sempre no
sacrifício do altar, porque, por meio de símbolos distintos, se significa e
demonstra que Jesus Cristo se encontra em estado de vítima.
64.
Idênticos, finalmente, são os fins, dos quais o primeiro é a glorificação de
Deus. Do nascimento à morte, Jesus Cristo foi abrasado pelo zelo da glória
divina e, da cruz, a oferenda do sangue chegou ao céu em odor de suavidade. E
porque este cântico não havia de cessar, no sacrifício eucarístico os membros
se unem à Cabeça divina e com ela, com os anjos e os arcanjos, cantam a Deus
louvores perenes, [17]
dando ao Pai onipotente toda honra e glória. [18]
65.
O segundo fim é a acção de graças a Deus. O divino Redentor somente, como Filho
de predileção do Eterno Pai de quem conhecia o imenso amor, pôde entoar-lhe um
digno cântico de acção de graças. A isso visou e isso desejou "rendendo
graças" [19]
na última ceia, e não cessou de fazê-lo na cruz, não cessa de realizá-lo no
augusto sacrifício do altar, cujo significado é justamente a acção de graças ou
eucaristia, e porque isso é "verdadeiramente digno e justo e
salutar". [20]
66.
O terceiro fim é a expiação e a propiciação. Certamente ninguém, fora Cristo,
podia dar a Deus onipotente satisfação adequada pelas culpas do género humano,
ele, pois, quis imolar-se na cruz, "propiciação pelos nossos pecados, e
não somente pelos nossos, mas ainda pelos de todo o mundo". [21]
Nos altares se oferece igualmente cada dia pela nossa redenção, a fim de que,
libertados da eterna condenação, sejamos acolhidos no rebanho dos eleitos. E
isso não somente por nós que estamos nesta vida mortal, mas ainda "por
todos aqueles que repousam em Cristo, os quais nos precederam com o sinal da
fé, e dormem o sono da paz", [22]
pois, quer vivamos, quer morramos, "não nos separamos do único
Cristo". [23]
67.
O quarto fim é a impetração. Filho pródigo, o homem malbaratou e dissipou todos
os bens recebidos do Pai celeste, por isso está reduzido à suprema miséria e
inanição, da cruz, porém, Cristo, "tendo em alta voz e com lágrimas
oferecido orações e súplicas... foi ouvido pela sua piedade", [24] e
nos sagrados altares exercita a mesma mediação eficaz, a fim de que sejamos
cumulados de toda bênção e graça.
68.
Compreende-se, portanto, facilmente, porque o sacrossanto Concílio de Trento
afirma que com o sacrifício eucarístico nos é aplicada a salutar virtude da
cruz para a remissão dos nossos pecados quotidianos. [25]
69.
Também o apóstolo das gentes, proclamando a superabundante plenitude e
perfeição do sacrifício da cruz, declarou que Cristo com uma só oblação, tornou,
para sempre perfeitos, os santificados. [26]
Os infinitos e imensos méritos desse sacrifício, com efeito, não têm limites:
estendem-se à universalidade dos homens de todo lugar e de todo tempo, porque,
nele, o sacerdote e a vítima é Deus Homem, porque a sua imolação como a sua
obediência à vontade do Eterno Pai foi perfeitíssima, e porque foi como Cabeça
do género humano, que ele quis morrer. "Considera como foi tratado o nosso
resgate: Cristo pende do madeiro, vê a que preço comprou, derramou o seu
sangue, comprou com o seu sangue, com o sangue do Cordeiro imaculado, com o
sangue do unigênito Filho de Deus... Quem compra é Cristo, o preço é o sangue,
a aquisição é todo o mundo". [27]
70.
Esse resgate, porém, não teve logo o seu pleno efeito: é necessário que, depois
de haver resgatado o mundo com o elevadíssimo preço de si mesmo, Cristo entre
na real e efectiva posse das almas. Consequentemente, a fim de que, com o
beneplácito de Deus, se cumpra para todos os indivíduos e para todas as
gerações até o fim dos séculos, a sua redenção e salvação, é absolutamente
necessário que cada um tenha vital contacto com o sacrifício da cruz, e assim
os méritos que dele derivam lhe sejam transmitidos e aplicados. Pode dizer-se
que Cristo construiu no Calvário uma piscina de purificação e de salvação e a
encheu com o sangue por ele derramado, mas se os homens não mergulham nas suas
ondas e aí não lavam as manchas de sua iniquidade, não podem certamente ser
purificados e salvos.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
[1]
Cf.
Const. Divini cultus, de 20 de Dezembro do ano 1928.
[2] Const. Immensa, do
dia 22 de janeiro de 1588.
[3] Cf. CIC, cân. 253.
[4] Cf. CIC, cân.1257.
[5] Cf. CIC, cân.1261.
[6] Cf. Mt 28,20.
[7] Cf. Pio VI, Const.
Auctorem fidei, do dia 28 de agosto de 1794, nn. XXXI, XXXIV, XXXIX, LXII, LXVI, LXIX-LXXIV
[16] Rm 6,9.
[17] Cf . Missal Rom.,
Prefácio.
[18] Cf. Ibidem, Cânon.
[19] Mc 14,23.
[20] Missal Rom.,
Prefácio.
[21] 1
Jo 2,2.
[22] Missal Rom., Cânon.
[23] S. Agostinho, De
Trinit., 1. XIII, c. 19.
[26] Cf. Hb 10,14.
[27] S. Agostinho, Enarr.
in Ps,147, n.16.
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