A família nos planos de Deus.
Aqui fala o pastor, não o pedagogo, e fala com a segurança de uma vida interior
santa e de uma vastíssima experiência de almas. E, no entanto, a sua intuição
concorda com as investigações da psicologia infantil que marcou a pedagogia do
século XX. Baldwin atribuía à imitação dos pais a formação do próprio eu. Bovet
formulou a noção de “respeito” como atitude de submissão e de afecto que se dá
principalmente em relação aos pais e que permite à criança a assimilação das
orientações morais. Depois foi Piaget que demonstrou a dependência afectiva dos
pais na aprendizagem dos valores [i].
A criança capta o que se lhe oferece através do inimitável laço afectivo com os pais. É experiência comum. Como é também conhecida a escassa eficácia das instituições alternativas à família, mesmo que estejam motivadas pelas melhores intenções. Há que erguer um louvor a tantos institutos de beneficência que, com caridade cristã, educaram, também na fé, a crianças sem pais; nesses ambientes Deus suscitou inclusive grandes santos. Mas, em geral, são precisamente eles os que demonstram como são imprescindíveis uns pais cristãos. Mais ainda, a multisecular história da educação cristã é testemunho bem fiável de que dificilmente germina a semente da vida sobrenatural se não encontra a colaboração dos pais. Pelo contrário, a sinergia família-escola (ou família e educadores cristãos em geral) é de uma eficácia globalizante. Aqui está outra intuição pastoral de S. Josemaria que hoje é prática difundida em todo o mundo e que representa uma novidade no campo educativo: a promoção de centros educativos que se coloquem em continuidade com a acção formativa dos pais e nos quais continuam a exercer o papel de principais educadores.
Aprofundando e aplicando o princípio do primado educativo dos pais, S. Josemaria dava-lhes uma indicação aparentemente metodológica: tornarem-se amigos dos seus filhos, quer dizer, estabelecer com eles uma relação de confidência, de confiança, de verdadeira participação. O pedagogo Víctor García Hoz, que conhecia S. Josemaria Escrivá desde os anos trinta, pôs em evidência a importância deste conselho, recordando que, ao fim e ao cabo, qualquer educação verdadeira se baseia na relação de amizade entre educador e educando [ii]. Disse “aparentemente metodológica”, porque a amizade e o amor cristão são caridade e esta não se reduz a técnicas, mas constitui a própria substanciada vida nova em Cristo.
michele dolz, publicado em Romana, n. 32 (2001), 2011.09.12
Nota:
Revisão gráfica por ama.
[i] Uma excelente reflexão filosófica sobre o amor como alma da educação,
amplamente inspirada nos ensinamentos de S. Josemaria Escrivá, desenvolve-a C.
Cardona em Ética del quehacer educativo, Rialp, Madrid 1990
[ii] Cfr. V. García Hoz, La pedagogia
in Mons. Escrivá de Balaguer, em “Studi Cattolici” 182-183 (1976), pp. 260-266.
Cfr. também T. Alvira, ¿Como
ayudar a nuestros hijos?, Palabra,
Madrid 1983.
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