28/11/2012

CULTIVAR A FÉ 8


Uma pedagogia da fé na família - a propósito de alguns ensinamentos de S. Josemaria…/4

A família nos planos de Deus.

Aqui fala o pastor, não o pedagogo, e fala com a segurança de uma vida interior santa e de uma vastíssima experiência de almas. E, no entanto, a sua intuição concorda com as investigações da psicologia infantil que marcou a pedagogia do século XX. Baldwin atribuía à imitação dos pais a formação do próprio eu. Bovet formulou a noção de “respeito” como atitude de submissão e de afecto que se dá principalmente em relação aos pais e que permite à criança a assimilação das orientações morais. Depois foi Piaget que demonstrou a dependência afectiva dos pais na aprendizagem dos valores [i].

A criança capta o que se lhe oferece através do inimitável laço afectivo com os pais. É experiência comum. Como é também conhecida a escassa eficácia das instituições alternativas à família, mesmo que estejam motivadas pelas melhores intenções. Há que erguer um louvor a tantos institutos de beneficência que, com caridade cristã, educaram, também na fé, a crianças sem pais; nesses ambientes Deus suscitou inclusive grandes santos. Mas, em geral, são precisamente eles os que demonstram como são imprescindíveis uns pais cristãos. Mais ainda, a multisecular história da educação cristã é testemunho bem fiável de que dificilmente germina a semente da vida sobrenatural se não encontra a colaboração dos pais. Pelo contrário, a sinergia família-escola (ou família e educadores cristãos em geral) é de uma eficácia globalizante. Aqui está outra intuição pastoral de S. Josemaria que hoje é prática difundida em todo o mundo e que representa uma novidade no campo educativo: a promoção de centros educativos que se coloquem em continuidade com a acção formativa dos pais e nos quais continuam a exercer o papel de principais educadores.

Aprofundando e aplicando o princípio do primado educativo dos pais, S. Josemaria dava-lhes uma indicação aparentemente metodológica: tornarem-se amigos dos seus filhos, quer dizer, estabelecer com eles uma relação de confidência, de confiança, de verdadeira participação. O pedagogo Víctor García Hoz, que conhecia S. Josemaria Escrivá desde os anos trinta, pôs em evidência a importância deste conselho, recordando que, ao fim e ao cabo, qualquer educação verdadeira se baseia na relação de amizade entre educador e educando
[ii]. Disse “aparentemente metodológica”, porque a amizade e o amor cristão são caridade e esta não se reduz a técnicas, mas constitui a própria substanciada vida nova em Cristo.

michele dolz, publicado em Romana, n. 32 (2001), 2011.09.12

Nota: Revisão gráfica por ama.



[i] Uma excelente reflexão filosófica sobre o amor como alma da educação, amplamente inspirada nos ensinamentos de S. Josemaria Escrivá, desenvolve-a C. Cardona em Ética del quehacer educativo, Rialp, Madrid 1990
[ii] Cfr. V. García Hoz, La pedagogia in Mons. Escrivá de Balaguer, em “Studi Cattolici” 182-183 (1976), pp. 260-266. Cfr. também T. Alvira, ¿Como ayudar a nuestros hijos?, Palabra, Madrid 1983.

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