Uma pedagogia da fé na família - a propósito de alguns ensinamentos de S.
Josemaria
Que os pais são os principais educadores dos seus próprios filhos é um princípio recorrente no Magistério da Igreja desde a Divini illius Magistri de Pio XI (1929) até aos documentos de João Paulo II. O Concílio Vaticano II resume assim esta posição doutrinal. “Dado que os pais dão a vida aos filhos estão gravemente obrigados à educação da prole e, portanto, eles são os primeiros e principais educadores. Este dever da educação familiar é de tanta transcendência que, quando falte, dificilmente pode suprir-se. É, pois, obrigação dos pais formar um ambiente familiar animado pelo amor, pela piedade com Deus e os homens, e que favoreça a educação íntegra e social dos filhos” [i].
Veremos nestas páginas como S. Josemaria Escrivá aprofundou nesta verdade e a ensinou em relação com o chamamento baptismal à santidade e ao apostolado. Limitar-me-ei a citar alguns textos muito sumariamente, mas, espero, de modo suficientemente claro para que possam servir de base a novos estudos [ii].
A família nos planos de Deus.
No antigo povo de Israel, a família era, de maneira evidentíssima, a pedra angular da sociedade. Nos povos semíticos a família contava mais do que o indivíduo, e as famílias agregavam-se por sua vez em clãs ou tribos, estrutura social que acentua enormemente o papel da tradição e que tende à estabilidade e à continuidade. O modelo patriarcal é ainda mais confirmado no povo escolhido pelo empenho de fidelidade a JHWH: “teme o Senhor teu Deus. Guardando todos os mandamentos e preceitos que te manda, tu, os teus filhos e os teus netos, enquanto vivais (…). As palavras que hoje te digo ficarão na tua memória, e repeti-las-ás aos teus filhos e falarás delas estando em casa e quando estiveres em viagem, quer deitado quer levantado” [iii].
O pai israelita no povo da Antiga Aliança sente portanto o dever moral de transmitir aos seus o depósito que Deus lhe confiou, obrigação que dá sentido à sua missão de chefe da família e de cujo cumprimento depende a prosperidade e a própria felicidade do núcleo familiar [iv]; donde brota um laço estreitíssimo entre os membros: “somos osso e carne tua” [v]. Uma unidade de destino que leva a resultados paradoxais, como por exemplo o castigo de uma família completa por culpa do pai [vi].
A família é a “casa do pai” e Deus é “o Deus dos nossos pais”. A missão do pai reveste-se de características religiosas. O pai leva a cabo um papel quase sacerdotal [vii]. A Família não é só uma unidade social mas um grupo religioso, que celebra as festas com verdadeira atitude litúrgica na própria casa como sede própria. Por outras palavras, a religião de JHWH, sob o ponto de vista social, não se baseia no trabalho de pregadores carismáticos e nem sequer especificamente da casta sacerdotal, mas no núcleo familiar. E mesmo que não tenham faltado os profetas e os condutores do povo, a religião transmitiu-se na família.
michele dolz, publicado em Romana, n. 32 (2001), 2011.09.12
Nota:
Revisão gráfica por ama.
[i] Concílio Vaticano II, Decl. Gravissimum
educationis, n. 3, Cfr. também Const.
dogm. Lumen gentium, n. 11 e Const. past. Gaudium et spes, n. 52; e no Magistério pos-conciliar, João Paulo II, Ex. apost. Catechesi tradendae, 16-X-1979. nn. 68-69; Ex. apost. Familiaris consortio, 22-XI-1981, n. 21; e Carta às famílias , 2 II-1944, n. 16. Neste
último texto o Papa explica que a educação dos filhos é prossecução e desenvolvimento
do amor conjugal, e uma participação do amor paternal e maternal de Deus. Cfr.
também mensagem aos participantes da XII Assembleia plenária do Pontifício Conselho para a Família, 29-IX-1995, sobre o tema A transmissão da fé na família.
[ii] Sobre o alto conceito que S. Josemaria tinha da educação como actividade
humana e como expressão apostólica, ver F. Ponz Piedrafita, A educação e a
actividade educativa nos ensinamentos de Mons. Josemaria Escrivá de Balaguer,
Eunsa, Pamplona 1976.
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