Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Jo 18, 1-18
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Evangelho: Jo 18, 1-18
1 Tendo Jesus dito estas palavras, saiu com os
Seus discípulos para o outro lado da torrente do Cédron, onde havia um horto,
em que entrou com os Seus discípulos. 2 Ora Judas, o traidor, conhecia bem este
lugar, porque Jesus tinha ido lá muitas vezes com os Seus discípulos. 3 Tendo,
pois, Judas tomado a coorte e guardas fornecidos pelos pontífices e fariseus,
foi lá com lanternas, archotes e armas. 4 Jesus, que sabia tudo que estava para
Lhe acontecer, adiantou-Se e disse-lhes: «A quem buscais?». 5 Responderam-Lhe:
«A Jesus de Nazaré». Jesus disse-lhes: «Sou Eu». Judas, que O entregava, estava
lá com eles. 6 Quando, pois, Jesus lhes disse: «Sou Eu», recuaram e caíram por
terra. 7 Perguntou-lhes novamente: «A quem buscais?». Eles disseram: «A Jesus
de Nazaré». 8 Jesus respondeu: «Já vos disse que sou Eu; se é, pois, a Mim que
buscais, deixai ir estes». 9 Deste modo se cumpriu a palavra que tinha dito:
«Não perdi nenhum dos que Me deste». 10 Simão Pedro, que tinha uma espada,
puxou dela e feriu um servo do Sumo-sacerdote, tendo-lhe cortado a orelha
direita. Este servo chamava-se Malco.11 Porém, Jesus disse a Pedro: «Mete a tua
espada na bainha. Não hei-de beber o cálice que o Pai Me deu?». 12 Então, a
coorte, o tribuno e os guardas dos judeus prenderam Jesus e O manietaram. 13
Primeiramente levaram-n'O a casa de Anás, por ser sogro de Caifás, que era o
Sumo-sacerdote daquele ano. 14 Caifás era aquele que tinha dado aos judeus este
conselho: «Convém que um só homem morra pelo povo». 15 Simão Pedro e um outro
discípulo seguiam Jesus. Este discípulo, que era conhecido do pontífice, entrou
com Jesus no pátio do pontífice. 16 Pedro ficou de fora, à porta. Saiu então o
outro discípulo que era conhecido do Sumo-sacerdote, falou à porteira e fez entrar
Pedro. 17 Então a porteira disse a Pedro: «Não és tu também dos discípulos
deste homem?». Ele respondeu: «Não sou». 18 Os servos e os guardas acenderam
uma fogueira e aqueciam-se ao lume, porque estava frio. Pedro encontrava-se
também entre eles e aquecia-se.
CARTA ENCÍCLICA
E SUPREMI APOSTOLATUS
Aos veneráveis Irmãos
Patriarcas, Primazes, Arcebispos, Bispos e outros Ordinários em paz e comunhão
com a Sé Apostólica.
PIO X, PAPA
Veneráveis Irmãos,
Saudação e Bênção Apostólica.
Sua
elevação ao Pontificado.
1.
No momento de vos dirigir pela primeira vez a palavra do alto desta cátedra
apostólica a que fomos elevado por um impenetrável conselho de Deus, inútil é
lembrar-vos com que lágrimas e com que ardentes preces Nos esforçamos por
desviar de nós o múnus tão pesado do Pontificado supremo. Mau grado a
desproporção absoluta dos méritos, parece-nos podermo-nos apropriar das queixas
de S. Anselmo quando, a despeito das suas oposições e das suas repugnâncias, se
viu forçado a aceitar a honra do episcopado. Os testemunhos de tristeza que ele
então deu, Nós podemos produzi-los por Nossa vez, para mostrarmos em que
disposições de alma e de vontade aceitamos a missão tão temível de pastor do
rebanho de Jesus Cristo. As lágrimas dos meus olhos me são testemunhas,
escrevia ele (Ep. 1.III,1), assim como os gritos e, por assim dizer,
os rugidos que meu coração soltava na sua angústia profunda. Eles foram tais
que não me lembro de haver deixado escapar semelhantes em nenhuma dor antes do
dia em que essa calamidade do arcebispado de Cantuária veio desabar sobre mim.
Não puderam ignorá-lo aqueles que, naquele dia, viram de perto o meu rosto.
Mais semelhante a um cadáver do que a um homem vivo, eu estava pálido de
consternação e de dor. A essa eleição, ou, antes, a essa violência, resisti até
agora, digo-o em verdade, tanto quanto me foi possível. Mas agora, a gosto ou a
contragosto, eis-me forçado a reconhecer cada vez mais claramente que os
desígnios de Deus são contrários aos meus esforços, de tal sorte que nenhum
meio me resta de lhes escapar. Vencido menos pela violência dos homens do que
pela violência de Deus, contra quem prudência alguma poderia prevalecer, depois
de fazer todos os esforços em meu poder para que esse cálice se afaste de mim
sem que eu o beba, não vejo outra determinação a tomar senão a de renunciar ao
meu senso próprio, à minha vontade, e entregar-me inteiramente ao juízo e a
vontade de Deus.
Leão XIII
2.
Certamente, a Nós também não faltavam numerosos e sérios motivos para Nos
furtarmos ao fardo. Sem contar que, em razão da Nossa pequenez, a nenhum título
podíamos considerar-Nos digno das honras do Pontificado, como não Nos sentirmos
profundamente comovido vendo-Nos escolhido para suceder àquele que, durante vinte
e seis anos, ou pouco falta, em que governou a Igreja com sabedoria consumada,
deu mostras de tal vigor de espírito e de tão insignes virtudes, que se impôs à
admiração dos próprios adversários e, pelo brilho das obras, imortalizou a sua
memória?
Situação calamitosa do
mundo.
3.
Além disto, e para passar em silêncio muitas outras razões, Nós
experimentávamos uma espécie de terror em considerar as condições funestas da
humanidade na hora presente. Pode-se ignorar a doença profunda e tão grave que,
neste momento muito mais do que no passado, trabalha a sociedade humana, e que,
agravando-se dia a dia e corroendo-a até à medula, arrasta-a à sua ruína? Essa
doença, Veneráveis Irmãos, vós a conheceis, e é, para com Deus, o abandono e a
apostasia; e, sem dúvida, nada há que leve mais seguramente à ruína, consoante
essa palavra do profeta: Eis que os que se afastam de vós perecerão (Sl
72,27). A tamanho mal Nós compreendíamos que, em virtude do múnus
pontifical a Nós confiado, competia-nos dar remédio; achávamos que a Nós se
dirigia esta ordem de Deus: Eis que hoje te estabeleci sobre as nações e os
reinos para arrancares e para destruíres, para edificares e para plantares (Jer
1,10); mas, plenamente cônscio da
Nossa fraqueza, Nós temíamos assumir uma obra eriçada de tantas dificuldades, e
que, no entanto, não admite delongas.
Restaurar tudo em Cristo.
Contudo,
já que a Deus aprouve elevar a Nossa baixeza até esta plenitude de poder, Nós
haurimos coragem n’Aquele que nos conforta; e, pondo mãos a obra, sustentado
pela força divina, declaramos que o nosso fito único, no exercício do Sumo
Pontificado, é restaurar tudo em Cristo (Ef 1,10) a fim de que
Cristo seja tudo e em tudo (Col 3,14).
4. Haverá, sem dúvida, quem, aplicando às
coisas divinas a curta medida das coisas humanas, procure perscrutar os nossos
pensamentos íntimos e torcê-los às suas vistas terrenas e aos seus interesses
de partido. Para cortar com essas vãs tentativas, em toda verdade afirmamos que
não queremos ser, e que, com o socorro divino, não havemos de ser, no meio das
sociedades humanas, outra coisa senão o ministro de Deus que nos revestiu da
sua autoridade. Os interesses D’Ele são os Nossos interesses; consagrar-lhes as
Nossas forças e a Nossa vida, tal é a nossa resolução inabalável. E é por isto
que, se Nos pedirem um lema que traduza o próprio fundo de Nossa alma, jamais
daremos outro senão este: restaurar todas as coisas em Cristo.
5. Querendo, pois, empreender e prosseguir
esta grande obra, Veneráveis Irmãos, o que redobra o Nosso ardor é a certeza de
que Nos sereis nisso valorosos auxiliares. Se duvidássemos disto, pareceríamos
ter-vos, bem erradamente aliás, por mal informados ou indiferentes, em face da
guerra ímpia que foi suscitada e que em quase toda a parte vai prosseguindo
contra Deus. Nos nossos dias, sobejamente verdadeiro é que as nações fremiram e
os povos meditaram projetos insensatos (Sl 2,1) contra o seu
Criador; e quase comum se tornou este grito dos seus inimigos: Retirai-vos de
nós (Job 21,14). Daí, na maioria, uma rejeição completa de todo o
respeito de Deus. Daí hábitos de vida, tanto privada como publica, em que
nenhuma conta se faz da soberania de Deus. Bem mais, não há esforço nem
artifício que se não ponha por obra para abolir inteiramente a lembrança d’Ele,
e até a sua noção.
Audácia dos maus. “o homem
usurpou o lugar do criador”
6. Quem pesa estas coisas tem direito de temer
que uma tal perversão dos espíritos seja o começo dos males anunciados para o
fim dos tempos, e como que a sua tomada de contacto com a terra, e que
verdadeiramente o filho de perdição de que fala o Apóstolo (2 Tess 2,3)
já tenha feito o seu advento entre nós, tamanha é a audácia e tamanha a sanha
com que por toda parte se lança o ataque à religião, com que se investe contra
os dogmas da fé, com que se tende obstinadamente a aniquilar toda a relação do
homem com a Divindade! Em compensação, e é este, no dizer do mesmo Apóstolo, o
carácter próprio do Anticristo, com uma temeridade sem nome o homem usurpou o
lugar do Criador, elevando-se acima de tudo o que traz o nome de Deus. E isso a
tal ponto que, impotente para extinguir completamente em si a noção de Deus,
ele sacode entretanto o jugo da sua majestade, e dedica a si mesmo o mundo
visível à guisa de templo, onde pretende receber as adorações dos seus
semelhantes. Senta-se no templo de Deus, onde se mostra como se fosse o próprio
Deus (2 Tess 2,2).
Vitória certa de Deus.
7. Qual venha a ser o desfecho desse combate
travado contra Deus por uns fracos mortais, nenhum espírito sensato pode pô-lo
em dúvida. Certamente, ao homem que quer abusar da sua liberdade lícito é
violar os direitos e a autoridade suprema do Criador; mas ao Criador fica
sempre a vitória. E ainda não é dizer o bastante: a ruína paira mais de perto
sobre o homem justamente quando mais audacioso ele se ergue na esperança do
triunfo. É o de que o próprio Deus nos adverte nas Sagradas Escrituras. Dizem
elas que Ele fecha os olhos sobre os pecados dos homens (Sab 11,24),
como que esquecido do seu poder e da sua majestade; mas em breve, após essa
aparência de recuo, acordando como um homem cuja força a embriaguez aumentou (Sl
77,65), Ele quebra a cabeça dos seus inimigos (Sl 67,22), afim
de que todos saibam que o Rei de toda a terra é Deus (Sl 46,8), e
afim de que os povos compreendam que não passam de homens (Sl 9,20).
Deus exige nossa
colaboração.
8.
Tudo isso, Veneráveis Irmãos, com fé certa sustentamos e esperamos. Mas esta
confiança não nos dispensa, naquilo que de nós depende, de apressarmos a obra
divina, não somente por uma oração perseverante: Levantai-vos, Senhor, e não
permitais que o homem se prevaleça da sua força (Sl 9,19), mais
ainda, e é o que mais importa, pela palavra e pelas obras, em plena luz,
afirmando e reivindicando para Deus a plenitude do seu domínio sobre os homens
e sobre toda criatura, de sorte que os seus direitos e o seu poder de mandar
sejam reconhecidos por todos com veneração, e praticamente respeitados.
O partido de Deus.
9.
Cumprir esses deveres não é apenas obedecer às leis da natureza, é trabalhar
também para vantagem do género humano. De feito, Veneráveis Irmãos, quem
poderia deixar de sentir a sua alma presa de temor e de tristeza em vendo a
maioria dos homens, enquanto, por outro lado, se exaltam, e com justa razão, os
progressos da civilização, vendo-os desencadear-se com tal encarniçamento uns
contra os outros, que se diria um combate de todos contra todos? Sem dúvida, o
desejo da paz está em todos os corações, e não há ninguém que não a chame por
todos os seus anseios. Mas essa paz, insensato de quem a busca fora de Deus;
porquanto expulsar a Deus é banir a justiça; e, afastada a justiça, toda a
esperança de paz torna-se uma quimera. A paz é obra da justiça (Is 32,17).
Pessoas há, e, não o ignoramos, em grande número, as quais, impelidas pelo amor
da paz, isto é, da tranquilidade da ordem, se associam e se agrupam para formarem
o que elas chamam de partido da ordem. Ai! Vãs esperanças, trabalho perdido! De
partidos de ordem capazes de restabelecer a tranquilidade no meio da
perturbação das coisas, só há um: o partido de Deus. É, pois, este que nos
cumpre promover; é a ele que nos cumpre trazer o maior número de adeptos possível,
por menos que tenhamos a peito a segurança publica.
10.
Todavia, Veneráveis Irmãos, essa volta das nações ao respeito da majestade e da
soberania divina, por mais esforços, aliás, que façamos para realizá-lo, não
advirá senão por Jesus Cristo. De feito, o Apóstolo adverte-nos que ninguém
pode lançar outro fundamento senão aquele que foi lançado e que é o Cristo
Jesus (I Cor 3,11). Só a Ele foi que o Pai santificou e enviou a
este mundo (Jo 10, 36), esplendor do Pai e figura da sua substância (Heb
1,3), verdadeiro Deus e verdadeiro homem sem o qual ninguém pode conhecer
a Deus como convém, pois ninguém conhece o Pai a não ser o Filho e aquele a
quem o Filho quiser revelá-lo (Mt 11,27).
Reconduzir os homens ao
império de Cristo.
11.
Donde se segue que restaurar tudo em Cristo e reconduzir os homens à obediência
divina são uma só e mesma coisa. E é por isto que o fito para o qual devem
convergir todos os nossos esforços é reconduzir o gênero humano ao império de
Cristo. Feito isto, o homem achar-se-á, por isso mesmo, reconduzido a Deus. Mas
– queremos dizer – não um Deus inerte e descuidoso das coisas humanas, como nos
seus loucos devaneios o forjaram os materialistas, senão um Deus vivo e
verdadeiro, em três pessoas na unidade de natureza, autor do mundo, estendendo
a todas as coisas a sua infinita Providência, enfim legislador justíssimo que
pune os culpados e assegura às virtudes a sua recompensa.
A via é a Igreja.
12. Ora, onde está a via que nos dá acesso a
Jesus Cristo? Está debaixo dos nossos olhos: é a Igreja. Diz-no-lo com razão
São João Crisóstomo: a Igreja é a tua esperança, a Igreja é a tua salvação, a
Igreja é o teu refúgio (Hom. de capto Eutropio, n. 6).
13. Foi para isso que Cristo a estabeleceu,
depois de adquiri-la ao preço do seu sangue; foi para isso que Ele lhe confiou
a sua doutrina e os preceitos da sua lei, prodigalizando-lhe ao mesmo tempo os
tesouros da graça divina para a santificação e salvação dos homens.
14.
Vedes, pois, Veneráveis Irmãos, que obra nos é confiada, a Nós e a vós.
Trata-se de reconduzir as sociedades humanas, desgarradas longe da sabedoria de
Cristo, reconduzi-las à obediência da Igreja; a Igreja, por seu turno,
submetê-las-á a Cristo, e Cristo a Deus. E, se pela graça divina Nos for dado
realizar esta obra, teremos a alegria de ver a iniquidade ceder lugar à
justiça, e folgaremos de ouvir uma grande voz dizendo do alto dos céus: Agora é
a salvação, e a virtude, e o reino de nosso Deus e o poder de seu Cristo (Apoc.
12,10).
15.
Todavia, para que o resultado corresponda aos Nossos votos, mister se faz, por
todos os meios e à custa de todos os esforços, desarraigar inteiramente essa
detestável e monstruosa iniquidade própria do tempo em que vivemos e pela qual
o homem se substitui a Deus. Restabelecer na sua antiga dignidade as leis
santíssimas e os conselhos do Evangelho; proclamar bem alto as verdades
ensinadas pela Igreja sobre a santidade do matrimônio, sobre a educação da
infância, sobre a posse e o uso dos bens temporais, sobre os deveres dos que
administram a coisa pública; restabelecer, enfim, o justo equilíbrio entre as
diversas classes da sociedade segundo as leis e as instituições cristãs.
16.
Tais são os princípios que, para obedecer à divina vontade, Nós Nos propomos
aplicar durante todo o curso do Nosso Pontificado e com toda a energia de Nossa
alma.
17.
O vosso papel, Veneráveis Irmãos, será secundar-Nos pela vossa santidade, pela
vossa ciência, pela vossa experiência, e sobretudo pelo vosso zelo da glória de
Deus, não visando a nada mais do que a formar em todos, Jesus Cristo (Gal
4,19).
OS MEIOS:
1)
Formar Cristo nos Sacerdotes.
18.
Que meios importa empregar para atingir um fim tão elevado? Parece supérfluo
indicá-los, tanto eles se apresentam à mente por si mesmos. Sejam os vossos
primeiros cuidados formar Cristo naqueles que, pelo dever da sua vocação, são
destinados a formá-lo nos outros. Queremos falar dos sacerdotes, Veneráveis
Irmãos. Porquanto todos aqueles que são honrados com o sacerdócio devem saber que
tem, entre os povos com que convivem, a mesma missão que Paulo testava haver
recebido, quando pronunciava estas ternas palavras: Meus filhinhos, a quem eu
gero de novo, até que Cristo se forme em vós (Gal 4). Ora, como
poderão eles cumprir um tal dever, se eles próprios não forem primeiramente
revestidos de Cristo? e revestidos até poderem dizer com o Apóstolo: Vivo, já
não eu, mas Cristo vive em mim (Gal 2,20). Para mim Cristo é a minha
vida (Fil 1,21). Por isto, embora todos os fiéis devam aspirar ao estado
de homem perfeito, à medida da idade da plenitude de Cristo (Ef 4,3),
essa obrigação incumbe principalmente àquele que exerce o ministério
sacerdotal. Por isto é ele chamado ‘outro Cristo’; não somente porque participa
do poder de Jesus Cristo, mas porque deve imitar-Lhe as obras e, destarte,
reproduzir-Lhe a imagem em si mesmo.
Cuidados dos seminaristas.
19. Se assim é, Veneráveis Irmãos, quão grande
não deve ser a vossa solicitude para formar o clero na santidade! Não há
negócio que não deva ceder o passo a este. E a consequência é que o melhor e o
principal do vosso zelo deve aplicar-se aos vossos Seminários, para introduzir
neles uma tal ordem e lhes assegurar um tal governo, que neles se veja
florescerem lado a lado a integridade do ensino e a santidade dos costumes.
Fazei do Seminário as delícias do vosso coração, e não descureis coisa alguma
daquilo que, na sua alta sabedoria, o Concílio de Trento prescreveu para
garantir a prosperidade dessa instituição. Quando chegar o tempo de promover às
Sagradas Ordens os jovens candidatos, ah! Não vos esqueçais daquilo que São
Paulo escrevia a Timóteo: Não imponhas precipitadamente as mãos a ninguém (I
Tim. 5,22); bem vos persuadindo de que, as mais das vezes, tais quais
forem aqueles que admitirdes ao sacerdócio, tais serão também, depois, os fiéis
confiados à solicitude deles. Não olheis, pois, a nenhum interesse particular,
seja de que natureza for; mas tende unicamente em mira Deus, a Igreja, a
felicidade eterna das almas, a fim de, como nos adverte o Apóstolo, evitardes
participar dos pecados de outrem (Ibid.).
Cuidados dos novos
Sacerdotes.
20.
Alias, nem por isto escapem às solicitudes do vosso zelo os novos padres que
saem do Seminário. Estreitai-os, recomendam-vo-lo do mais profundo de Nossa alma,
estreitai-os com frequência ao vosso coração, que deve arder de um fogo
celeste; aquecei-os, inflamai-os, afim de que eles, não mais aspirem senão a
Deus e à conquista das almas. Quanto a Nós, Veneráveis Irmãos, velaremos com o
maior cuidado por que os membros do clero não se deixem surpreender pelas
manobras insidiosas, de uma certa ciência nova que se enfeita com a mascara da
verdade e onde se não respira o perfume de Jesus Cristo; ciência mendaz que,
com o favor de argumentos falazes e pérfidos, se esforça por abrir caminho aos
erros do racionalismo ou do semi-racionalismo, e contra a qual o Apóstolo já
advertia ao seu caro Timóteo premunir-se, quando lhe escrevia: Guarda o
depósito, evitando as novidades profanas na linguagem, tanto quanto as objeções
de uma ciência falsa, cujos partidários com todas as suas promessas faliram na
fé (I Tim 6,20ss). Não quer isto dizer que não julguemos dignos de
elogios esses padres novos que se consagram a úteis estudos em todos os ramos
da ciência, e assim se preparam para defender melhor a verdade e para refutar
mais vitoriosamente as calúnias dos inimigos da fé. Não podemos, todavia,
dissimulá-lo, e declaramo-lo, mesmo muito abertamente: as Nossas preferências
são e serão sempre por aqueles que, sem descurarem as ciências eclesiásticas e
profanas, se votam mais particularmente ao bem das almas no exercício dos
diversos ministérios que ficam bem ao padre animado de zelo pela honra divina.
2) Necessidade do Ensino
Religioso.
21.
É para o Nosso coração uma grande tristeza e uma contínua dor (Rom. 9,2) verificar
que se pode aplicar aos nossos dias esta queixa de Jeremias: As crianças
pediram pão, e não havia ninguém para lhes partir esse pão (Jer. 4,4).
Efectivamente, não falta no clero quem, cedendo a gostos pessoais, despenda a
sua actividade em coisas de uma utilidade mais aparente do que real; ao passo
que menos numerosos são talvez os que, a exemplo de Cristo, tomem para si
mesmos as palavras do Profeta: O Espírito do Senhor deu-me a unção, enviou-me a
evangelizar os pobres, a curar os que têm o coração partido, a anunciar os
cativos a libertação, e a luz aos cegos (Lc 4,18-19). E, no entanto,
visto que o homem tem por guia a razão e a liberdade, a ninguém escapa que o
principal meio de restituir a Deus o seu império sobre as almas é o ensino
religioso. Quantos que são hostis a Jesus Cristo, que horrorizam a Igreja e o
Evangelho, bem mais por ignorância do que por malícia, e dos quais se poderia
dizer: Blasfemam tudo o que ignoram (Jud. 10)! Estado de alma que
verificamos não sómente no povo e no seio das classes mais humildes, as quais a
sua própria condição torna mais acessíveis ao erro, mas até nas classes
elevadas, e naqueles mesmos que possuem, aliás, uma instrução pouco comum. Daí,
em muitos, o deperecimento da fé; pois não se deve admitir que sejam os
progressos da ciência que a sufoquem; é, muito antes, a ignorância; de tal
sorte que, onde quer que a ignorância é maior, aí também a incredulidade faz
maiores devastações. Foi por isto que Cristo deu aos apóstolos este preceito:
Ide e ensinai todas as nações (Mt 28,19).
3) A Caridade Cristã.
22.
Mas, para que esse zelo em ensinar produza os frutos que dele se esperam e
sirva para formar Cristo em todos, nada mais eficaz do que a caridade; gravemos
isto fortemente na nossa memória, ó Veneráveis Irmãos, pois o Senhor não está
na comoção (III Rs 19,11). Debalde esperaríamos atrair as almas a
Deus por um zelo impregnado de azedume; exprobrar duramente os erros, e
repreender os vícios com aspereza, muitíssimas vezes causa mais dano do que proveito.
Verdade é que o Apóstolo, exortando Timóteo, lhe dizia: Acusa, suplica,
repreende, mas acrescentava: com toda paciência (II Tim 4,2). Nada
mais conforme aos exemplos que Jesus Cristo nos deixou. É Ele quem nos dirige
este convite: Vinde a mim vós todos que sofreis e que gemeis sob o fardo, e eu
vos aliviarei (Mt 11,28). E, no seu pensamento, esses enfermos e
esses oprimidos outros não eram senão os escravos do erro e do pecado. De
feito, que mansidão nesse divino Mestre! Que ternura, que compaixão para com
todos os infelizes! O seu divino Coração é-nos admiravelmente pintado por
Isaías nestes termos: Pousarei sobre ele o meu espírito; ele não contestará nem
elevará a voz: jamais acabará de quebrar o caniço meio partido, nem extinguirá
a mecha que ainda fumega (Is 42,1ss). Essa caridade paciente e
benigna (I Cor 13,4) deverá ir ao encontro daqueles mesmos que são
nossos adversários e nossos perseguidores. Eles nos maldizem, assim o
proclamava São Paulo, e nós bendizemos; perseguem-nos, e nós suportamos;
blasfemam-nos, e nós oramos (I Cor. 4,12,ss). Talvez que, afinal de
contas, eles se mostrem piores do que são realmente. O contacto com os outros,
os preconceitos, a influência das doutrinas e dos exemplos, enfim o respeito
humano, conselheiro funesto, inscreveram-nos no partido da impiedade; mas, no
fundo, a vontade deles não é tão depravada como eles se comprazem em fazer
crer. Porque então não haveríamos de esperar que a chama da caridade dissipe
enfim as trevas da alma deles, e faça reinar nelas, com a luz, a paz de Deus?
Mais de uma vez o fruto do nosso trabalho talvez se faça esperar; mas a
caridade não se cansa, persuadida de que Deus mede a suas recompensas não pelos
resultados, mas pela boa vontade.
Todos os fiéis devem colaborar.
23.
Entretanto, Veneráveis Irmãos, absolutamente não é Nosso pensamento que, nessa
obra tão árdua da renovação dos povos por Cristo, vós e o vosso clero fiqueis
sem auxiliares. Sabemos que Deus recomendou a cada um o cuidado do seu próximo (Ecli
17,12). Não são, pois, sómente os homens revestidos do sacerdócio, mas
sim todos os fiéis sem exceção, que devem dedicar-se aos interesses de Deus e
das almas: certamente, não cada um ao sabor das suas vistas e das suas
tendências, mas sempre sob a direção e segundo a vontade dos Bispos, pois o
direito de mandar, de ensinar, de dirigir não pertence a ninguém mais na Igreja
senão a vós, estabelecidos pelo Espírito Santo para regerdes a Igreja de Deus (At
20,28).
a) Nas associações.
24. Associar-se entre católicos com intuitos
diversos, mas sempre para o bem da religião, é coisa que, de há longo tempo,
tem merecido a aprovação e as bênçãos dos Nossos predecessores. Nós também não
hesitamos em louvar tão pela obra, e vivamente desejamos que ela se difunda e
floresça por toda parte, nas cidades como nos campos. Mas, ao mesmo tempo,
entendemos que essas associações tenham por primeiro e principal objeto fazer
que os que nelas se alistam cumpram fielmente os deveres da vida cristã. Pouco
importa, em verdade, agitar sutilmente múltiplas questões e dissertar com eloquência
sobre direitos e deveres, se tudo isso não redunda na ação. A ação, eis o que
reclamam os tempos presentes; mas uma ação que se aplique sem reserva à
observância integral e escrupulosa das leis divinas e das prescrições da
Igreja, à profissão aberta e ousada da religião, ao exercício da caridade sob
todas as suas formas, sem preocupação alguma de si mesmo nem das suas vantagens
terrenas. Esplêndidos exemplos deste gênero dados por tantos soldados de Cristo
mais depressa abalarão e arrastarão as almas, do que a multiplicidade das
palavras e do que a sutileza das discussões; e ver-se-ão, sem dúvida, multidões
de homens, calcando aos pés o respeito humano, desprendendo-se de todo
preconceito e de toda hesitação, aderir a Cristo e promover, por seu turno, o
conhecimento e o amor de Cristo, penhor da verdadeira e sólida felicidade.
b) Pelo fervor da vida
cristã.
25.
Certamente, no dia em que, em cada cidade, em cada aldeia, a lei do Senhor for
cuidadosamente guardada, as coisas santas forem cercadas de respeito, os
sacramentos frequentados, em suma, tudo o que constitui a vida cristã for
reposto em honra, nada mais faltará, Veneráveis Irmãos, para que Nós
contemplemos a restauração de todas as coisas em Cristo. E não se creia que
tudo isso se refere somente à aquisição dos bens eternos; os interesses
temporais e a prosperidade pública também se ressentirão mui felizmente disso.
Porquanto, uma vez obtidos esses resultados, os nobres e os ricos saberão ser
justos e caridosos para com os pequenos, e estes suportarão na paz e na
paciência as privações da sua pouca afortunada condição; os cidadãos obedecerão
não mais ao arbítrio, porém às leis; todos considerarão como um dever o
respeito e o amor para com os que governam, e cujo poder só vem de Deus (Rom
13,1).
A Igreja deve ser livre
26. Há mais. Assim sendo, a todos será
manifesto que a Igreja, tal como foi instituída por Jesus Cristo, deve gozar de
plena e inteira liberdade, e não ser submetida a nenhuma dominação humana; e
que Nós mesmos, reivindicando essa liberdade, não somente salvaguardamos os
direitos sagrados da religião, mas provemos também ao bem comum e à segurança
dos povos: a piedade é útil a tudo (I Tim 4,8), e, onde quer que ela
reine, o povo está verdadeiramente assente na plenitude da paz (Is 32,18).
Conclusão
27.
Que Deus, rico em misericórdia (Ef 2,4), apresse, na sua bondade,
essa renovação do gênero humano em Jesus Cristo, visto não ser isso obra nem
daquele que quer, nem daquele que corre, mas do Deus das misericórdias (Rom
9,16). E nós todos, Veneráveis Irmãos, peçamos-lhe esta graça em espírito
de humildade (Dan 3,39), por uma oração instante e contínua, apoiada
nos méritos de Jesus Cristo. Recorramos também à intercessão poderosíssima da
divina Mãe. E, para mais largamente obtê-la, tomando ensejo deste dia em que
vos dirigimos estas Letras, e que foi instituído para solenizar O santo
Rosário, confirmamos todas as ordenações pelas quais o Nosso predecessor consagrou
o mês de outubro à augusta Virgem, e prescreveu em todas as igrejas a recitação
pública do Rosário. Exortamos-vos, além disso, a tomardes também por intercessores
o puríssimo Esposo de Maria, padroeiro da Igreja Católica, e os príncipes dos
apóstolos, São Pedro e São Paulo.
28.
Para que todas estas coisas se realizem segundo os Nossos desejos, e para que
todos os vossos trabalhos sejam coroados de êxito, Nós imploramos sobre vós, em
grande abundância, os dons da graça divina. E, como testemunho da terna
caridade em que vos abraçamos, a vós e a todos os fiéis pela Divina Providência
confiados aos vossos cuidados, Nós vos concedemos em Deus, com abundância de
coração, Veneráveis Irmãos, bem como ao vosso clero e ao vosso povo, a Bênção
Apostólica.
Dado em Roma, junto de São Pedro, a 4
de Outubro do ano de 1903, primeiro do Nosso Pontificado.
PIO X, PAPA
Nota:
revisão da tradução portuguesa por ama.
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